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SUMÁRIO

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.1.3 Fortificações Catarinenses

Apesar de a maioria das fortificações brasileiras tombadas situarem-se no Nordeste e Sudeste do país – regiões que eram consideradas de maior importância no início da colonização – é no Sul do Brasil que se situa um dos mais expressivos conjuntos de fortificações.

Existiram em Santa Catarina aproximadamente trinta e nove fortificações, que variavam de entrincheiramentos a fortalezas, distribuídas em três regiões da costa (vide figura 19). No sul existiu a Bateria de Laguna, hoje em ruínas, e a já desaparecida Bateria de Imbituba. No norte, na cidade de São Francisco do Sul, das três fortificações identificadas, resta apenas o Forte Marechal Luz (que está aberto à visitação pública). Nas baías da Ilha de Santa Catarina está a maior concentração de fortificações. São trinta e duas registradas: a Fortaleza de Nossa Senhora de Araçatuba, pertencente à Palhoça, em ruínas; a Fortaleza de Santa Cruz de Anhatomirim, pertencente à Governador Celso Ramos, restaurada e aberta à visitação; os vestígios do Forte de São João na parte continental de Florianópolis; e as outras vinte e nove distribuídas pela Ilha de Santa Catarina, das quais restam apenas seis fortificações e os vestígios de duas, tendo as demais desaparecido (FORTALEZAS.ORG, 2012).

O Sul do país passou a ter importância em decorrência das disputas pela região do Prata. A Ilha de Santa Catarina era um ponto estratégico utilizado nestas disputas, pois, assim como o Rio de Janeiro estava na metade da distância da costa brasileira21, a Ilha estava na metade da distância entre o Rio de Janeiro e a Região do Prata, sendo o último porto seguro no qual os navios paravam para descanso, abastecimento (água e comida) e reparos. Portanto, tornava-se necessário o seu guarnecimento.

Em 1737 Gomes Freire de Andrade (o Conde de Bobadela), governador da Capitania de São Paulo, sugere que seja criado um governo para a costa sul, devido às disputas entre Portugal e Espanha quanto à posse da região do Prata, das terras de São Pedro do Rio Grande e da Colônia de Sacramento. Em 1738 é criada a Capitania de Santa Catarina, vinculada ao Rio de Janeiro. No mesmo ano, a Vila de

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Esta localização foi um dos motivos pelo qual o Rio de Janeiro se tornou a capital do Brasil, estando na metade do comprimento da Costa referente à posse portuguesa da época.

Nossa Senhora do Desterro22 é elevada a Vila Capital da Capitania; posição similar à que ocupa até hoje a cidade de Florianópolis, Capital do Estado de Santa Catarina (CALDAS, 1992).

Figura 19 - Esquema com a distribuição das fortificações no Brasil, Litoral Catarinense e Ilha de Santa Catarina ( laranja existente, branca desaparecida)

Fortaleza de Santa Cruz

Fonte: Acervo pessoal, 2013. Mapas adaptados de fortalezas.org.

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de Freguesia, em 1715, passou a Vila em 1726 (CALDAS, 1992) Forte Marechal Luz

(Norte) (Região Central) Bateria de Laguna (Sul) Fo rtific açõ es n o B rasil R eg ião cen tr al d a Ilh a d e S an ta C atar in a Fo rtific açõ es d a reg ião I lh a d e San ta C atar in a L ito ral C atar in en se

Em decorrência das guerras do Sul, na segunda metade do século XVIII, Portugal percebeu que o sistema antiquado de fortificações - sob a responsabilidade de particulares - era inviável, e encaminhou um grande efetivo de tropas de Portugal ao Brasil para defender as posses do Sul (CASTRO, 2009). As tropas chegavam à Ilha de Santa Catarina por mar, desembarcavam, abasteciam-se e seguiam por terra para o Rio Grande (CALDAS, 1992).

Neste ínterim, o Brigadeiro José da Silva Paes, um dos melhores engenheiros da corte, é enviado ao Brasil para verificar os sistemas defensivos e construir novas fortificações. Esteve no Rio de Janeiro como governador temporário, governou e fundou o Rio Grande do Sul e, em Santa Catarina, foi responsável pela criação do Regimento de Infantaria de Linha23 e pela fortificação da Ilha de Santa Catarina. A necessidade de mão de obra, tanto para o campo militar, quanto para realização de serviços básicos - como a agricultura, confecção de uniformes, construção etc.-, ocasionou um grande afluxo populacional, com apoio de Portugal (TAVARES, 2000).

Segundo Veiga (2010), com a vinda dos imigrantes açorianos, a partir de 1748, deu-se o avanço do núcleo urbano inicial da Ilha para norte e sul do triângulo central, em direção às praias, às novas chácaras e às fortificações. Ao cortar novos caminhos, ultrapassando obstáculos naturais, também surgiram novas freguesias que, segundo Várzea (1985), irradiaram-se da vila central para os extremos da Ilha, exceto por Ratones, Santo Antônio e Lagoa, que já possuíam choupanas e casas remanescentes da época em que Francisco Dias Velho explorou estas terras, no séc. XVII.

Mesmo com a recomendação de gastar o mínimo possível na defesa da Ilha, Paes optou pela construção de mais de uma fortaleza para a defesa das Baías Norte e Sul. Ao Norte foram construídas as Fortalezas de São José da Ponta Grossa, Santo Antônio de Ratones e Santa Cruz de Anhatomirim (vide figura20). Na Barra Sul foi construída a Fortaleza de Nossa Senhora de Araçatuba que, de acordo com Teixeira (2010), completa o sistema defensivo inicial, consolidando a ocupação do sul da Colônia e formando uma importante “base estratégica para a manutenção do domínio português sobre a Colônia do Sacramento e do Rio Grande de São Pedro, nos limites meridionais do Brasil” (Ibid, p.58).

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Regimento que posteriormente ficaria conhecido como Barriga Verde, devido ao colete do uniforme. O apelido dado ao regimento permanece até hoje, porém, referenciando não um regimento militar, mas, toda a população catarinense.

Figura 20 - Localização aproximada das Fortalezas da Triangulação da Ilha de Santa Catarina

Fonte: Acervo Pessoal 2012

Conforme Tonera (2008, p.41):

As fortificações catarinenses, assim como em várias partes do Brasil e do mundo agregam em torno de si uma enorme carga de informações e conhecimento, poderíamos dizer adormecida. Foram núcleos geradores de nossas principais cidades, palco de acontecimentos históricos memoráveis, suporte de técnicas centenárias ([...] indiretamente, por exemplo, no campo dos armamentos e das embarcações), espaços de relações sociais, religiosas, militares e políticas que contribuíram para a formação de nossa identidade cultural. Acredita-se que as fortificações não só contribuíram no passado para a formação de nossa identidade cultural, como também ainda o fazem. Estes monumentos - que outrora representavam uma preocupação local em resguardar as terras do Brasil, das quais a Coroa Portuguesa só queria lucrar através da exploração de madeira e, principalmente, dos minérios - tiveram suas guardas compostas por camponeses treinados e/ou militares inválidos que resistiam bravamente guardando suas vilas, dentro de suas possibilidades, mesmo sem honrarias e com verbas deficitárias. Estas fortalezas presenciaram o cotidiano de capitães em cadeira de rodas, soldados cegos e uma gama

de pessoas que defendiam o país lidando com suas restrições – vide figura 21(CALDAS, 1992).

Figura 21 - Comandantes de alguns fortes de Salvador. Ilustração publicada na revista Semana Ilustrada de 06/11/1864, ano IV, no204.

Fonte:http://memoria.bn.br/DocReader/hotpage/hotpageBN.aspx?bib=702951& pagfis=1609&pesq=&url=http://memoria.bn.br/docreader. Acesso em: abr 2013

Por meio destas fortificações, é possível demonstrar parte de nossa história e o que de fato representam para os catarinenses. Acredita-se que deveriam estar acessíveis à população, incluindo as pessoas com restrições similares aos dos homens que guardaram estes monumentos legados às futuras gerações. Nada melhor do que difundir esse conhecimento a partir de visitas à sua arquitetura, adaptando essas fortalezas às necessidades dos usuários, respeitando o fato de serem exemplos de nosso patrimônio cultural.