• Nenhum resultado encontrado

II. A tradução da primeira parte

2.4. Os fragmentos portugueses confrontados com as cópias castelhanas

2.4.3. Fragmento 31

O fragmento 31 é o que maior complexidade apresenta, uma vez que, pertencendo ao décimo primeiro livro da primeira parte, requer o confronto com dois manuscritos – G e H – de classificação instável. Uma vez que o testemunho D não comporta esta parte, foram trazidos à colação A, B, G e H. Muito embora H já seja datado de meados do século XIV, e provavelmente os fragmentos de que dispomos sejam do reinado de D. João I, optou-se por recorrer a este testemunho de forma a avaliar se a tradução pertence à mesma família de manuscritos que este testemunho mais tardio. Novamente nota-se a proximidade com A, embora existam lições apenas existentes nos outros testemunhos, o que novamente exclui a hipótese de uma tradução direta de A: dos 206 loci critici avaliados, 31 concorda por 127 vezes com A, 122 vezes com B, 128 vezes com G e com H, 123.

Não foram encontradas ocorrências em que B e G concordassem com as lições de A e H, nem tão-pouco de B e H ou G e H contra A e G ou A e B, respetivamente. Com efeito, detetam-se sempre três lições iguais a 31 contra uma divergente ou o inverso, apenas um testemunho apresentar a mesma matéria que a tradução portuguesa contra os outros 3. Se as três lições iguais a 31 dão conta de uma leitura errónea por parte do manuscrito divergente, o inverso permitiria estabelecer aproximações caso houvesse alguma segurança no que à relação entre testemunhos desta parte diz respeito. Seja como for, dá-se conta desses casos que fazem com que 31 oscile entre A, B e G.

31 = A, G e H ≠ B

A generalidade das divergências de todos os testemunhos contra B prende-se com leituras erradas exclusivas deste manuscrito.

1) morressem mas aas femeas que lhes nom fezessem (rI, 3-4)

A. muriessen mas a las niñas que les no fiziessen B. muriesen y a las njñas que las non fizjesen

Mariana Soares da Cunha Leite

G. muriessen mas a las njñas que les non fiziessen H. muriesen mas a las njñas que les non fiziesen

2) que tynham emsynados de (vI, 20-21)

A. que tenién enseñados los sacerdotes B. que tenjan bezados los saçerdotes G. que tenjen ensenyados los sacerdotes H. que tenjen enseñados los sacerdotes

3) o achamos em seus escriptos (vII, 19)

A. lo fallamos en sus escritos B. lo fallamos en los escritos G. lo fallamos en sus escritos H. lo fallamos en sus escriptos

4) daquelle seu deus que dissemos que eles chamauan Serafin e que por esso chamaron outro <…> y aaquelle touro Serafin. Outros dizen (vII, 45-47)

A. d’aquel su dios a que dixiemos que dizién ellos Serafín, e que llamaron por ende a aquel toro otrossí Serafín. Otros dizen

B. de aquel su dios a quien dixjmos que dezjan ellos Serafin. Otros dizen

G. de aquel su dios que dixemos que dezian ellos Serafin e que llamaron por ende aquel toro otrosi Serafin. Otros dizen

H. de aquel su dios a que dixiemos que dezian ellos Seraphin e que llamaron por ende a aquel toro Seraphin. Otros dizen

A General Estoria em Portugal

Tal como para a situação anterior, G diverge por erros exclusivos, provavelmente provenientes de uma má leitura do antígrafo. Existe porém uma ocorrência em que também B diverge dos outros testemunhos por omissão de palavras (caso 3).

1) os foy quebrantando e abaixando et se descobrio a ello nem soube (rI, 5-6)

A. los fue quebrantando e abaxando e se descubrió a ello nin sopo B. y les fue quebrantando y abaxando y se descubrio a ello njn sopo G. los fue quebrantado e se descubrio a ello njn sopo

H. los fue quebrantando e abaxando e se descubrio a ello njn sopo

2) E quando o queriam matar que o leuauam (rII, 23)

A. E cuandol querién matar que le levavan B. E quando le querian matar que le lleuauan G. E quando le querian matar que lo lauauan H. E quando lo querian matar que lo lleuauan

3) e soamergiam no ally e ally o afogauam (rII, 25-26)

A. e somurgujávanle allí e allí le afogavan B. E somurgujauanle allj

G. E ssomorguiauan le assi e alli lo afogauan H. e somurgauan lo alli e alli lo afogauan

4) que o guardauam et lhe pr<...>gunt<...>am q<...>do (rII, 52)

A. quel guardavan e gelo demandavan cuandol B. que le guardauan y gelo demandauan quando G. quel guardauan quandol

H. quel guardauan e gelo demandauan quando

Mariana Soares da Cunha Leite

A. después a tiempo esto por Germánico César B. despues a tiempo esto por que Germanjco Cesar G. despues a tiempo esto por Julio Cesar

H. despues a tiempo esto por Germanico Çesar

31 = B ≠ A, G e H

As três concordâncias de B com 31 não nos permitem avançar grandes hipóteses. Nota-se contudo que as lições diferentes das demais não colidem com o sentido lógico das frases.

1) por quebrantados de todo em todo (rI, 27)

A. por quebrantados ya de tod en todo B. por quebrantados de todo en todo G. por quebrantados ya de todo en todo H. por quebrantados ya de todo en todo

2) nom o auiam os egipçiãaos de leixar beer (rII, 21)

A. non le avién los egipcianos a dexar venir B. non le avjan los egipçianos a dexar ber G. non le aujan los egipcianos a dexar venjr H. non le aujan los egipçianos a dexar benjr

3) dia que este touro sabya e pareçia (vI, 41)

A. día que este toro salié e parecié B. dia que este toro sabia y paresçia G. dia que este toro sallie e parescie H. dia que este toro salie e pareçie

A General Estoria em Portugal

31 = B, G e H ≠ A

As duas oposições de 31, B, G e H a A são quase insipientes: trata-se do tempo verbal e da omissão do nome do boi Ápis.

1) a quem os do Egipto adorauam (rII, 1)

A. a quien los de Egipto aoran B. a quien los de Egipto adorauan G. a quien los de Egipto aorauan H. a quien los de Egipto aorauan

2) a que chamauam<…> boy. E o que os outros (vII, 16-17)

A. a que llamavan el buey Apis. E lo que los otros B. a que llamauan el buey. E lo que los otros G. a que llamauan el buey. E los que los otros H. a que llamauan el buey E lo que los otros

31 = G ≠ A, B e H

Esta ocorrência interessa pela coincidência de correção de uma lacuna de A que certamente passou ao antígrafo de B e H.

1) em que aquelle tempo os egipçiãaos cairom por aquelle feito (rI, 42-43)

A. en que aquel tiempo los egipcianos <...> por aquel fecho B. en que aquel tiempo los egipçianos por aquel fecho G. en que aquel tiempo los egipcianos cayen por aquel fecho H. en aquel tiempo por los egipcianos por aquel fecho

Mariana Soares da Cunha Leite

Também esta situação é peculiar pelo facto de tanto 31 como G oferecerem uma lição errónea, «dally»/ «de allj», quando em todos os outros testemunhos se redige «del Nilo».

2). o hordenou nosso senhor Deus verdadeiro por razom que dally lhes naçia este erro (rII, 36-37)

A. lo ordenó el Dios verdadero, que del Nilo les salié aquella vanidad por razón que d’allí les nacié este yerro

B. ordeno el Dios berdadero que del Njlo salia aquella vanjdad por rrazon que de allj les nasçia este yerro

G. lo ordeno el Dios verdadero por razon que dalli les nascie este yerro

H. lo ordeno el Dios berdadero que del Njlo les salie aquella vanidat por razon que de alli les nasçie este yerro

Outras especificidades: opções de tradução e saltos em 31

Assinale-se aqui a sintetização que a versão portuguesa apresenta, em contraste com as castelhanas.

1) nom cometesse pellos desfazer e minguar em elles. Ally o mandou fazer aos egipçiãaos que para esto posera sobrelles em Jerssem (rI, 7-9)

A. no metiesse por menguarlos más e desfazerlos, e assí lo mandava fazer a sos egipcianos que pusiera por adelantados sobr’ellos por toda Jersén.

B. non metiese para amenguarlos mas y desfazerlos. E asy lo mandaua fazer a sus egipçianos que posiera por alcaldes y por adelantados sobre ellos por toda Jerse G. non metiesse por menguarlos mas e desfazer los. E assi lo mandaua fazer a sus egipcianos que posiera por adelantados sobrellos por toda Jerssen

H. non metiese por menguarlos mas e desfazerlos. E asi los mandaua fazer a sus egipcianos que pusiera por adelantados sobrellos por toda Jersen

A General Estoria em Portugal

Já esta situação afigura-se mais como um salto do mesmo ao mesmo, e não uma reescrita mais breve intencional.

2) minino que auia de naçer em aquella sazom. E ajnda dizem alguuns que por consselho daquelle sabedor (rI, 13-15)

A. niño que avié de nacer en el pueblo de los ebreos en aquella sazón que quebrantarié a Egipto, e aun dizen algunos que otrossí por consejo d’aquel sabio B. njño que avja a nasçer en el pueblo de los ebreos en aquella sazon que quebrantarie a Egipto. E avn dizen algunos que otrosy por consejo de aquel sabio G. njño que hauie de nascer en el pueblo de los ebreos en aquella sazon que quebrantarie a Egipto. E aun dizen algunos que otrossi por conseio daquel sabio H. njño que auian de nasçer enel pueblo de los ebreos en aquella sazon que quebrantarien a Egipto E avn dizen algunos que otrossi por conseio de aquel sabio

Curiosamente, nesta ocorrência, reforça-se o sofrimento dos hebreus, amplificando o texto com o termo «trabalhos»:

3) quebrantados mais que por todo<…>s trabalhos e lazeiras que ja passarom (rI, 21- 22)

A. quebrantados más que por todas las otras lazerias que avién levadas B. quebrantados mas que por todas las otras lazerias que avjan lleuadas G. quebrantados mas que por todas las otras lazerias que hauian leuadas H. quebrantados mas que por las otras lazerias que aujan leuadas

4) a maneira de cornos de baca (rII, 16)

A. a manera de los cuernos de la luna B. a manera de los cuernos de la luna G. a manera de los cuernos de la luna H. a manera de los cuernos de la luna

Mariana Soares da Cunha Leite

Embora, tal como o foi para o caso do fragmento 29, estejamos perante dois casos complexos provocados pelos estragos do suporte, deve assinalar-se que para o espaço das lacunas dos exemplos seguintes, dificilmente caberia o texto das traduções caso este fosse estritamente fiel aos testemunhos castelhanos.

5) <...>apauam sse as cabeças e yam cho<…> toda a terra que o achassem e que o <… >ssem em logar daquelle e sempre chorauam ataa que o achauam. Porem diz que nunca o achauam senom tarde (rII, 28-32)

A. rayénse las cabeças, e ivan llorando buscar otro por los yermos e por la ribera del Nilo fasta quel fallassen e quel pusiessen en logar d’aquel. E siempre lloravan fasta quel oviessen fallado, e peró diz que nuncal fallavan tarde

B. rrayense las cabeças y yuan llorando buscar otro por toda la tierra por los yermos y por la rribera del Njlo fasta que lo fallasen en logar de aquel y syenpre llorauan fasta que lo avjan fallado. En pero dize que nunca le fallauan o tarde

G. rayensse las cabeças e yuan lorando buscar otro por toda la tierra por los yermos e por la ribera del Njlo fasta quel fallassen e quel pusiessen en logar daquel e siempre llorauan fasta quel ouiessen fallado. E Pedro diz que nunca lo fallauan sino tarde H. rayense las cabeças e yuan llorando buscar otro por toda la tierra por los yermos e por la ribera del Njlo fasta que lo fallasen e que lo pusiesen en logar de aquel e sienpre llorauan fasta que lo ouiesen fallado. E pero diz que nunca lo fallauan tarde

6). <…> lhe mouia e dançaua<…> elles e dançauam e auynham sse elle e <…> E assy andauam com elle e elle (vII, 31-33)

A. se movié él e sotava e dançava ques movién ellos, e dançavan e sotavan, e abiniénse él e ellos muy bien, e assí andavan con él e él

B. se mouja el otrosy y sotaua y dançaua que se moujan ellos y dançauan y sotauan y abenjanse el y ellos muy bien y asy andauan con el y el

G. se mouje el e sonaua e dançaua ques moujen ellos e dançauan e sonauan e abinjense el e ellos muy bien. E assi andauan con el e mouja el e socaua e dançaua e socauan. E abenjense el e ellos muy bien e afiandauan con el e el

Mariana Soares da Cunha Leite

No documento A General Estória de Afonso X em Portugal (páginas 179-188)