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II. A tradução da primeira parte

2.4. Os fragmentos portugueses confrontados com as cópias castelhanas

2.4.4. Fragmento 32

O último fragmento da primeira parte, pela matéria que compreende, é confrontado com o corpus de manuscritos utilizado para a análise dos fragmentos 29 e 30, ou seja, A, B e D. Tal como nos casos anteriores, sobretudo em 29, denota-se a maior proximidade com A contra B e D: nos 192 loci critici, A coincide 125 vezes com 32, enquanto B coincide 101 e D, 109. Neste caso, a estatística dá conta da real proximidade dos textos, uma vez que não se detetam nem concordâncias de 32 com B e D contra A, nem tampouco de 32 apenas com B ou D.

No entanto, deve notar-se que grande parte das diferenças entre os testemunhos castelhanos e a tradução prende-se com leituras diversas de topónimos, o que pode revelar erros de leitura independentes da proximidade ou afastamento entre manuscritos. Por outro lado, os fragmentos anteriormente analisados permitem uma leitura mais ponderada da relação entre 32 e A, uma vez que, e tendo em mente que os fragmentos são parte de um mesmo códice, os outros testemunhos dão conta de que a tradução portuguesa não poderá vir diretamente de A.

Finalmente, este é o fragmento que apresenta maior liberdade de redação por parte do tradutor, sendo visível o recurso ao resumo e à reformulação de estruturas sintáticas castelhanas.

32 = A ≠ B e D

1) ataa fonte que se chama Dam. E desta fonte e doutra que ha nome Jor (rI, 15-16)

A. fasta la fuente que dizen Dan, e d’esta fuente e d’otra que á nombre Jor B. fasta la fuente y de otra que ha nonbre Roz

D. fasta la fuente e de otrosy ha nonbre Jor

A General Estoria em Portugal

A. e otrosí fizieron a los de Cariataím B. E otro sy fizjeron a los de Cariarin D. Et otrosi fezieron a los de Cariatyn

3) correos que som em a serra de Seyr (rII, 18)

A. correos, que son en las sierras de Seír B. correos que son en las tierras de Seyr D. correos que son en las tierras de Seyr

4) Senaar em Adima, Semeber em Seboyn. A çidade de Segoor (vI, 22-23)

A. Sennaar en Adama, Semeber en Seboín <...> La cibdad de Segor B. Senaad en Adama, Senbor en Soboy. La cibdad de Seger

D. Señacar en Adama, Senbor en Soboyn. La cibdat de Segor

5) daquellas çinquo çidades de Sodoma (vII, 37)

A. d’aquellas cinco cibdades de SODOMA B. de aquellas çinco vjllas de Sodoma D. de aquellas cinco villas de Sodoma

Repare-se que apenas A e 32 contêm a informação integral que, possivelmente por salto, estaria já omissa no antígrafo de B e D, dado que o erro é idêntico nos dois testemunhos.

6) Gaados rroupas e todo o que hi acharom de comer et leuarom muytas molheres e homeens catiuos, Antre os quaaes leuauam preso a Loth, sobrinho de Abraham, com quanto tynha que beera em ajuda dos de Sodoma porque eram seus bezinhos (vII, 44- 48)

Mariana Soares da Cunha Leite

A. ganados e ropas e todo lo que fallaron ý de comer, e troxeron muchos omnes e mugeres cativos. E entre aquellos levavan ý preso a Lot, sobrino de Abraham, con cuanto avié, que viniera en ayuda de los de Sodoma, porque eran sus vezinos

B. y lleuaron quanto y abje a Lothy que vinjera en ayuda de los de Sodoma porque eran sus vezinos

D. et leuaron quanto y auje [a Loth] que vinjera en ayuda de los de Sodoma porque eran sus vezinos

32 = A e B ≠ D

Como se fez notar para os exemplos dos fragmentos 29 e 30, as situações em que apenas um dos testemunhos castelhanos discorda prende-se com saltos – como aqui, em D – ou com erros, como se verá no elenco seguinte.

1) fazia em as estrellas quis elle fazer semelhança dello (rII, 1-2)

A. fazié en las estrellas quiso él fazer semejança d’ello B. fazje en las estrellas quiso el fazer semejança dello D. fazie en las estrellas quiso el saber semelança

32 = A e D ≠ B

1) nosso señor o liurara do fogo dos Caldeus (rI, 42-43)

A. Nuestro Señor le sacara a él del fuego de los Caldeos B. nuestro señor le sacara a el del fecho de los Caldeos D. nuestro señor le sacara a el del fuego delos Caldeos

2) E a este quinto <…> as çidades nem Moysem nem Josepho nem outro (vI, 31-33)

A. E a este quinto [rey d’aquell]as cibdades nin Moisén nin Josefo nin otro B. E a este quinto [rrey de aquell]as çibdades njn otro

A General Estoria em Portugal

D. Et a este quinto [Rey de aquell]as cibdades njn Moysen njn Josepho njn otro

3) a que despois chamarom Cades (vII, 21)

A. a que después dixieron Cades B. a que despues dixieron Edes D. a que despues dixieron Cades

Outras especificidades: opções de tradução e saltos

1) que quer tanto dizer como mandamento (rII, 7)

A. que quiere dezir tanto como cincuaenteno B. que quiere dezir tanto como cinquenteno D. que quiere dezir tanto como cinquenteno

Há que sublinhar as opções lexicais do tradutor, que prefere o termo «esbulho» a uma tradução por «dízimo», mais próxima do latim e das versões castelhanas.

2) como dissemos <…> abraham deu todo o esbulho que ally gaanhar<...> (rII, 50-51)

A. como dixiemos, [diol] Abraham los diezmos de toda la prea e la ganancia que allí fiziera

B. como dixjemos [diole] Abraham los diezmos de toda la tierra y la ganançia que allj fiziera

D. como diximos diol Abrahan los diezmos de toda la parte e la ganançia que alli feziera

Do mesmo modo que anteriormente, preferiu-se o termo «vontade» para traduzir «sabor».

Mariana Soares da Cunha Leite

A. avién ya todos los omnes grand sabor B. avjen todos los ombres ya grant sabor D. aujen todos los omnes ya grand sabor

4) outro nome proprio lhe chamem proprio se nom el rrey (vI, 34)

A. otro nombre proprio le digan si non el rey B. otro nonbre propio le digan sy non el Rey D. otro nonbre propio le digan si non el Rey

Não foi encontrada nenhuma ocorrência do termo «diezuno» nos corpora de espanhol consultados: o Corpus del Español e o Nuevo Tesoro Lexicográfico del

Español da Real Academia Española. A lição de B será certamente erro do copista, já

que se devesse coincidir com a numeração do fragmento português preferiria o termo «onceno».

5) como diz Josepho em o XIº capitulo do primeiro liuro (vI, 42)

A. como dize Josefo en el dezeno capítulo del primero libro B. como dize Josefo en el diezuno capitulo del primero libro D. como dize Josepho en el x capitulo del primero libro

6) e leua preso a Lot (vI, 53)

A. e levava preso a Lot B. y lleuauan preso a Loth D. e leuaua presso a Loth

A substituição sistemática do termo «cabeça» por «monarco» na tradução manifesta um dado interessante: a palavra «monarca» ainda não se havia instalado em

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português. Curiosamente, na versão do manuscrito F, conserva-se o termo castelhano «monarco»441.

7) ao prinçipe de Siria que era cabeça do reynado dos siriãaos. E cabeça aqui quer dizer como huum soo prinçipe mayor de todo o señorio (rII, 6-8)

A. al príncep de Assiria, que era monarco del regnado de los assirianos. E monarco quier dezir uno solo príncep mayor de tod el señorío

B. al prinçipe de Asiria que era monarco del reyno de los asirianos, y monarco quiere dezjr vno solo prinçipe mayor de todo el señorio

D. al prinçipe de Asiria que era monarco del reyno de los asirianos, et monarco quiere dezir vno solo principe mayor de todo el senõrio

Este caso, 8 pode considerar-se uma síntese da versão castelhana a que o tradutor acedeu, ao contrário das ocorrências seguintes, onde houve saltos do copista português.

8) Este Codolaomor com aquelles tres reys forom quatro e forom sobre os outros çinquo reyes. E jndo Codolaomor muy poderoso com aquelles tres reys com grandes hostes emtrarom pella terra dos outros çinquo reys (vII, 9-13)

A. E este Codolaomor con aquellos tres reyes fiziéronse cuatro con él fueron sobre aquellos otros cinco Reyes; e yendo Codolaomor e aquellos reyes con él apoderados d’aquella guisa con grandes señas huestes entraron a los otros por tierra

B. E este Cadolaomor con aquellos tres reyes fizieronse quatro con el y fueron sobre aquellos otros çinco rreyes. E yendo Cadolaomor y aquellos rreyes con el apoderados de aquella guisa con grandes sendas huestes entraron

441 Veja-se para isso o Corpus do português, disponível online, que deteta duas ocorrências do termo «monarco» para o período entre os séculos XIV e XVI – precisamente, nesta passagem da tradução da GE preservada em F, sendo que a possível variante «monarca» apenas surge, com treze ocorrências, em textos

Mariana Soares da Cunha Leite

D. Et este Cadalaomor con aquellos tres reys fisienrose quatro con el e fueron sobre aquellos otros cinco Reys. E yendo Cadalaomor e aquellos reys con el apoderados de aquella guisa con grandes señas huestes entraron señas huestes tierra

9) asijnadamente estas: Raphayn. E matarom muytos dos poboos (vII, 14-15)

A. señaladamientre éstas: Rafaím, que era en una tierra a que dizen Astarond Carnaím; e mataron muchos de los pueblos

B. señaladamente estas: Raphayn, que era en vna tierra que dizen Astaronius Carnay, y mataron muchos de los pueblos

D. Raphayn que era en vna tierra que dizen Astarond Carnay et mataron muchos e de los pueblos

10) E estes reys de Sodoma (vII, 24)

A. E en tod esto estos cinco reyes de Sodoma B. y en todos esto estos çinco rreyes de Sodoma D. Et en todo esto estos cinco reys de Sodoma

Há nesta situação uma clara preferência pela concisão, se atentarmos à forma breve como o tradutor explica o termo «silvestre», quando a explicação é retoricamente expandida em castelhano. O mesmo fenómeno aparece no último exemplo apresentado.

11) sairom a elles e ajuntarom as hostes da huma parte e da outra em huum lugar que avia estonçe nome o balle siluestre, que quer dizer balle montesinho, açerca de huuns montes que auia estonçe em aquelle lugar (vII, 26-31)

A. salieron a ellos. E llegaron las huestes de la una parte e das de la otra, e ayuntáronse en un logar que avié estonces nombre el val Silvestre, e silvestre quiere dezir tanto como salvage fascas de selva o montesino, cerca unos montes que avié estonces en aquel logar

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B. salieron a ellos y llegaron a ellos de la vna parte y las de la otra e ayuntaronse en vn logar que avje estos nombres: el val siluestre, y siluestre quiere dezir tanto como saluaje fascas de salua o montesano, cerca vnos montes que avje estonçes en aquel logar

D. salieron a ellos et llegaron a ellos de la vna parte e las de la otra et ayuntaronse en vn lugar que auje estos nombres: el val siluestre, et siluestre quiere dizir tanto como saluaje fascas de salua o montesano cerca vnos montes que auje estonces en aquel lugar

12) E desto contaremos a sua estoria adiante em a estoria (vII, 35-36)

A. E d’esto contaremos la su razón e todo el fecho adelante en la estoria B. y desto contaremos la su rrazon todo el fecho adelante en la ystoria D. et desto contaremos la su rason todo el fecho adelante en la estoria

Mariana Soares da Cunha Leite

No documento A General Estória de Afonso X em Portugal (páginas 188-196)