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RC – Diga-nos, por favor, qual o seu método de trabalho. Começa logo no computador ou inicia com desenhos feito à mão?

FP – Não começo com um desenho. Antes do desenho tenho de encontrar argumentos que permitam explorar visualmente condições de singularidade da própria marca.

RC – Pode fazer o relato de algumas das marcas que estão no portefólio do professor?

FP – Esta aqui é de Santa Maria da Feira feita em colaboração com o colega Álvaro Sousa. Tenho de várias autarquias. S. João da Madeira – neste concelho era exigido que os participantes fizessem uma marca a patir de um sapato, era mesmo condição do programa que a marca tivesse representado um sapato, mas não fiz isso. Em S. João da Madeira era o carácter empreendedor daquele pequeno concelho (só tem uma freguesia) e quis fazer algo que mostrasse o pulsar, que não fosse apenas uma espécie de sub-marca para identificação da indústria, mas também para a solidariedade... Na prática, a marca que foi gerada é um campo regular de pontos organizados com uma retícula quadrada que tem em si essa expressão de energia, de ponto vital, de núcleo central. Depois de explicar tudo isto no próprio programa, a marca foi adoptada pela Câmara e, portanto, a própria presidência percebeu que era mais relevante para o concelho essa identificação de empreendedorismo. No caso de Santa Maria da Feira, Santa Maria da Feira é um concelho muito maior que o de S. João da Madeira. É um concelho rural dividido em duas zonas mais urbanas mas é fácil perceber, para quem conhece a região e as pessoas, que aí há uma forte identidade das pessoas com o castelo, o castelo também tem condições de singularidade da forma que o torna um objecto interessante, tem um ar relacionado um pouco com a forma dos castelos franceses da Bretanha.

RC – É bastante fantasioso.

FP – Relativamente diferente dos outros castelos portugueses, a própria posição ali em cima de um monte dá-lhe uma relevância e as pessoas são muito sensíveis, sentem-se muito identificadas com o castelo. Partimos do castelo como uma forma de comunicar com a população e procurámos que o desenho revelasse algumas intenções que são também intenções comportamentais, são intenções estéticas, sociais... O facto de ser uma imagem mais depurada, mais simples: portanto, a própria marca teria, de certa forma, revelar qualidades de natureza moral que se pretendiam também para a própria Câmara, qualidades de transparência, clareza, racionalidade e elegância. Este processo correu particularmente bem porque

conseguimos montar na Câmara um gabinete de imagem

onde x alunos nossos fizeram estágio e onde se mantêm hoje lá a trabalhar e, portanto, mantiveram uma grande coerência em toda a produção realizada em torno da marca. E mesmo do ponto devista económico, julgo que foi uma solução extremamente interessante para o próprio município, é um instrumento de trabalho com um custo bastante baixo, com pessoas que trabalham com iniciativa, com uma adesão quase emocional.

A Universidade do Minho foi outro concurso complexo, lento. A resposta que pretendia era a imagem da modernidade que conseguisse evidenciar uma certa identidade local, regional. Essa questão... Evidentemente quando falamos de identidade regional ocorre-nos imediatamente os eventos folclóricos. A Universidade do Minho, a Universidade minhota, que identifica o Minho.

RC – O que é típico.

FP – O que é típico é o folclore e o que é folclórico são esses vestígios mais ou menos explorados e enfatizados do Estado Novo ligados à ruralidade do Minho, portanto as minhotas, os vestuários, as arrecadas de ouro, as filigranas, portanto esses lugares mais ou menos comuns que foram, em parte, construidos sobre o Minho. Um problema de identidade forte era a Universidade ter como símbolo um brasão de cavalaria, que se reporta por um lado, à Idade Média e, por outro lado, a uma tradição literária que não tem de todo nada a ver com a Universidade. Sobretudo, este brasão de cavalaria, tinha um elmo posicionado nada segundo um código de legitimidade e portanto é um elmo virado para a esquerda ligado à origem: o cavaleiro ilegítimo teria uma certa dose de contradição sobre aquilo que devia ser a identidade de uma Universidade, uma organização voltada ao conhecimento e à inovação.

RC – Um simbolismo que teria de ser adequado.

FP – Um simbolismo que procurámos perceber: o que estava presente no brasão, no campo do escudo... O escudo estava dividido em dois campos, por um lado um livro – o livro de alfa a ómega – reportando a ligação ao conhecimento. E no campo inferior, o que toda a gente pensava ser um conjunto de maçarocas de milho, porque o desenho estava ilegível e vim a concluir que se tratava de três jacintos. O jacinto ali com uma representação de final de nobreza, de trabalho, de conhecimento científico, de humildade, do jacinto em campo azul, julgo eu no sentido da humildade científica da investigação. Isto parecem ser realmente valores já mais próximos daquilo que se pretendia numa Universidade, valores simbólicos de significado mais adequados… E simultaneamente a este estudo, a esta analogia de armas, ocorreu-me tentar fazer uma ligação a uma representação gráfica dos poveiros. Uma certa proto-escrita que não é exclusiva da Póvoa

norte e que, apesar de tudo, me pareciam poder constituir uma espécie de gramática visual mais interessante, não era gramática heráldica que tem a ver com a cavalaria, mas uma gramática que por um lado tinha uma origem popular mas, por outro lado, era uma origem com cohecimento da maneira de comunicar e, de repente, havia uma série de condições para adoptar esse sistema que me parece perfeito. Depois vem o jacinto em pormenor – o jacinto é composto por um conjunto de pequenas flores de seis pétalas, dois grupos de flores em dois níveis – daí nasceu esta marca da Universidade que, sobretudo, é adoptada pela Reitoria e vem associada às marcas das escolas e departamentos. Este elemento gráfico também tinha a particularidade de se poder associar a um nó, como o de uma relação, uma teia repetida no espaço que permite identificar uma ideia de rede de conhecimento e, portanto, com uma ligação a outras Universidades do mundo.

RC – Ou até relacionada com as sinapses das células.

anexos

Cartaz apresentado na Central Saint Martins College of Arts and Design – University of the Arts London na Conferência: Design Emotion ‘Out Of Control’ sobre o projecto de investigação intitulado: Picture Marks Semiotics between Ontwerpen and Vormgeving.

REPETIÇÃO

ACTIVIDADES

DISTORÇÃO (PERSPECTIVA)

REPETIÇÃO DISTORÇÃO (PERSPECTIVA)

REPETIÇÃO DISTORÇÃO (PERSPECTIVA)

AMTRAK: VERSÃO ACTUAL