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FUNÇÃO RENAL E TENSÃO ARTERIAL

No documento Nefropatia de refluxo na criança (páginas 192-195)

4 TENSÃO ARTERIAL

5. FUNÇÃO RENAL

5.5. FUNÇÃO RENAL E TENSÃO ARTERIAL

A relação entre função renal e TA na NR está rodeada de controvérsia na literatura disponível. Autores existem que defendem uma total ausência de correlação entre TA e DFG (177-377). Outros atribuem até um valor

prognóstico à HTA na NR afirmando que o seu aparecimento acompanha e acelera a progressão inexorável para a IR n 10.413)

No presente trabalho pudemos observar que a TAS e a TAD se situavam acima de valores-padrão e que, na mesma população, esta elevação da TA se acompanha de uma tendência para a redução do DFG. Só por si este achado poderá subentender uma relação entre os dois factores, mas não a conseguimos comprovar nem na população total (Quadro 3.45) nem no grupo de IR (Quadro 3.52).

Na análise de regressão múltipla entre CrP como variável dependente e grau de cicatriz e TAD como independentes, constatámos que o modelo aceitava, com significado estatístico, estas duas variáveis (Quadro 3.47). O mesmo não se verificou em relação ao DFG em que apenas o grau de cicatriz foi aceite em estudo semelhante.

Chama-se a atenção para o facto de a nossa população apresentar apenas graus ligeiros a moderados de HTA e IR, pelo que a relação entre TA e função renal poderá estar atenuada, assumindo, eventualmente, maior significado em amostras populacionais não seleccionadas1110'.

Porém, constatámos que nos dois grupos, com e sem IR, os SDS médios da TAS e da TAD nos graus 5 e 6, correspondendo aos valores mais baixos de DFG, eram significativamente superiores aos dos graus 1 e 2. Parece assim existir uma associação entre cicatriz grave, redução do DFG e elevação da TA, apesar de não se encontrar correlação directa.

Esta ausência de correlação levanta a possibilidade de poder existir um limiar de função renal a baixo do qual a TA se eleva ou, em alternativa, um limiar de TA acima do qual se observa deterioração da função. Esta hipótese está de acordo com a observação dos autores que defendem a associação entre HTA e nefropatia progressiva <8'227).

5.5.1. Excreção fraccionada de sódio

A excreção de sódio na amostra populacional investigada não demons- trou diferenças significativas em comparação com valores normais de excreção média diária de sódio na população-testemunha. Não parece ocorrer tendência para retenção de sódio nesta população. A correlação positiva registada com o grau de cicatrização é contrabalançada pela correlação negativa entre DFG e EFNa.

Nos doentes classificados como insuficientes renais houve uma maior EFNa que no grupo normofuncionante, embora a diferença não tenha atingido a significância estatística (p=0,09). Não se observou também correlação entre excreção de sódio e TAS ou TAD quer na população total quer no grupo de HT. Aparentemente o rim cicatricial mantém íntegra a sua capacidade de excreção de sódio, ao que tudo indica, à custa de uma adaptação glomérulo-tubular do parênquima preservado.

Os nossos doentes foram estudados sem qualquer interferência da nossa parte no seu regime dietético habitual. Nenhum doente referiu praticar regime restritivo de qualquer ordem. Neste sentido não nos é possível ajuizar do seu possível comportamento sob sobrecarga de sódio ou hídrica. Jacobson"7 8', sujeitou uma população de adultos com pielonefrite

crónica a sobrecarga hídrica e registou dados semelhantes na EFNa em ambas as situações, mas observou variações na TA.

A retenção de sódio é um dos mecanismos implicados na génese da HTA de causa renoparenquimatosa,R1). Os dados acima apontados na sequên-

Capítulo IV - Discussão 179

dos mecanismos responsáveis pela HTA da NR, pelo menos em condições consideradas basais de ingestão de sódio.

Em nossa opinião seria fascinante prosseguir este tipo de trabalho, como apresentamos nas nossas sugestões, conjugando estes resultados com o estudo de mecanismos genéticos da sensibilidade individual ao sódio. Talvez se pudesse contribuir para o esclarecimento da razão pela qual alguns doentes com graus ligeiros de NR têm HTA e outros com lesões mais graves são NT. Ou mesmo melhorar a compreensão do SRA, a seguir discutido, nesta patologia.

6. ACTIVIDADE DA RENINA PLASMÁTICA

O envolvimento etiopatogénico da renina na HTA da NR, defendido por alguns autores'91'94166178-323», não é objecto de aceitação unânime. É bem

conhecida a opinião contrária de Bailey e colaboradores que foram incapa- zes de confirmar, na sua casuística, a associação causa-efeito entre renina e HTA'24'. Salienta-se, no entanto, que os doentes estudados por Bailey

tinham exclusivamente, NR unilateral e graus moderados de HTA (24'.

Holland(166> demonstra que na HTA maligna por NR existe uma inequívoca

activação do SRA.

Pioneiro no estudo do SRA na criança normal e com doença renal, Dillon e colaboradores (3I3'314) iniciaram em 1978 um estudo prospectivo com o

objectivo de avaliar, no tempo, a relação entre ARP e TA na criança normotensa com NR. Os primeiros resultados(313) encorajaram os autores

a atribuir à renina um valor preditivo no desenvolvimento de HTA. A comparação com dados obtidos em populações normais permitiu registar uma alteração no SRA nos doentes com NR, nomeadamente, uma tendên- cia para a elevação da ARP com a idade, o oposto do normal. Todavia, na reinvestigação subsequente da mesma população foi possível observar crianças cuja TA se elevava sem subida paralela da ARP e vice-versa(314'.

Os dados por nós obtidos no estudo da ARP nos 156 doentes incluem, como já referido, 86 dos 100 doentes originalmente estudados por Savage e Dillon(313-314' e os respectivos resultados foram anteriormente publica-

dos(187188). Nesta terceira avaliação pudemos concluir que se mantém o

embora, individualmente, o sistema não pareça ter valor preditivo no início ou desenvolvimento da HTA.

No presente trabalho alargámos a análise do SRA a um maior número de doentes com idades e graus de doença diversos e aprofundámos o estudo da relação entre parâmetros clínicos, morfológicos e de função renal, não abordados anteriormente t313'314), Por esta razão, afigurou-se-nos justi-

ficável reavaliar o estudo do SRA no contexto da presente investigação.

No documento Nefropatia de refluxo na criança (páginas 192-195)