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3.3 DA POLÍCIA CIVIL

3.3.1 Funções e atribuições

Subordinada aos “[...] Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios” 99, conforme prevê o §6º do art. 144 da CRFB/88, tendo por exceção a PC do Distrito Federal, a qual é organizada e mantida pela União, de acordo com o art. 21, XIV da CRFB/88, a PC possui suas atribuições definidas em diversas leis.100

Seguindo uma ordem de hierarquia legislativa, acerca das atividades inerentes à PC, é imperioso citar, inicialmente, a lei maior do ordenamento jurídico brasileiro, a CRFB/88, que consagra, no §4º do art. 144, as atribuições constitucionais da PC, a qual define: “Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares”.101

Partindo do fato de que a PC de seu respectivo Estado possui uma normativa específica, esta pesquisa tem como base a Polícia Civil do Estado de Santa Catarina (PC/SC), pois é em território catarinense que este trabalho é construído.

Acerca da PC/SC, a Constituição do Estado de Santa Catarina (CESC/89) confere lhe outras atribuições, que não estão definidas na CRFB/88, as quais sejam:

Art. 106 — A Polícia Civil, dirigida por delegado de polícia, subordina-se ao Governador do Estado, cabendo-lhe:

I - ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração das infrações penais, exceto as militares;

99 BRASIL. Constituição da República Federativa Do Brasil De 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 16 set. 2015.

100 MISSIUNAS, Rafael de Carvalho. As polícias judiciárias e as administrativas no Brasil. In: Âmbito

Jurídico, Rio Grande, XII, n. 62, mar 2009. Disponível em: <http://www.ambito-

juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=5950>. Acesso em: 14 set. 2015.

101 BRASIL. Constituição Da República Federativa Do Brasil De 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ConstituicaoCompilado.htm>. Acesso em: 16 set. 2015.

II - (revogado – EC 39)

III - a execução dos serviços administrativos de trânsito; IV - a supervisão dos serviços de segurança privada;

V - o controle da propriedade e uso de armas, munições, explosivos e outros produtos controlados;

VI - a fiscalização de jogos e diversões públicas.102

A PC/SC também tem, ainda, suas competências definidas na Lei nº 6.843/86 (Estatuto da Polícia Civil do Estado de Santa Catarina), que dispõe em seu art. 3º e incisos:

Art. 3º - A Polícia Civil, compete:

I - prevenir, reprimir e apurar os crimes e contravenções, na forma da legislação em vigor;

II - coordenar e executar as atividades relativas à Polícia Administrativa e Polícia Técnica e Científica.103

Dessa forma, nota-se que compete à PC, subordinada ao governo do Estado, intentar o cumprimento da legislação vigente e executar as atividades investigatórias, isto é, buscar identificar a autoria do fato criminoso praticado em desfavor do patrimônio, da pessoa e da ordem econômica.104

Acerca do tema, o jurista Rafael de Carvalho Missiunas ensina:

Observando as funções da Polícia Civil, podemos afirmar que se tratam basicamente de atividades típicas de polícia judiciária, com o objetivo de buscar a autoria e a materialidade dos crimes, para que o Ministério Público Estadual, o titular da ação penal, possa ter os elementos necessários para a propositura da denúncia. Então, na maioria das vezes, a Polícia Civil trabalhará como órgão auxiliar ao Poder Judiciário, buscando dar condições para a decisão dos fatos.105

A atividade polícia judiciária tem o caráter de uma atividade policial que se abstém do policiamento ostensivo (característico da Polícia Militar, que fardada

102 SANTA CATARINA. Constituição Da República Federativa Do Brasil De 1988. Disponível em: <http://www.alesc.sc.gov.br/portal_alesc/sites/default/files/CESC_2013_67_e_68_emds.pdf>. Acesso em: 16 set. 2015.

103 SANTA CATARINA. Lei nº 6.843, de 28 de julho de 1986. Dispõe sobre o Estatuto da Polícia Civil do Estado de Santa Catarina. Disponível em:

<http://www.acadepol.sc.gov.br/index.php/download/cat_view/1-legislacao/2-policia-civil>. Acesso em: 20 set. 2015.

104 PORTAL BRASIL. Defesa e Segurança: polícias. 2012. Disponível em:

<http://www.brasil.gov.br/defesa-e-seguranca/2012/04/policias-federal-civil-e-militar>. Acesso em 20 set. 2015.

105 MISSIUNAS, Rafael de Carvalho. As polícias judiciárias e as administrativas no Brasil. In: Âmbito

Jurídico, Rio Grande, XII, n. 62, mar 2009. Disponível em: <http://www.ambito-

juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=5950>. Acesso em: 14 set. 2015.

busca a segurança das ruas), e sim de investigar, destinada a obter elementos de prova para o Ministério Público e, fundamentalmente, a fim de que o Poder Judiciário julgue futuramente.106

Nesse mesmo sentido, o doutrinador Paulo Tadeu Rodrigues da Rosa ensina que a atividade fim, executada pela PC, é a de polícia judiciária, que busca a materialidade do ato criminoso, bem como a identificação da autoria, visando prover ao Ministério Público subsídios imprescindíveis, para que este possa oferecer denúncia ou queixa-crime em desfavor do autor do delito.107

Como a PC realiza as atividades investigatórias, para isso é necessário, logicamente, que o crime já tenha ocorrido. Após a prática de determinado delito, é deflagrado um “[...] procedimento administrativo (Inquérito policial), voltado para busca da certeza material da existência do crime, bem como assim de quem seja seu autor”.108

Acerca do inquérito Policial, o Código de Processo Penal (CPP), em seu art. 5º, preconiza:

Art. 5º Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado: I - de ofício;

II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo. [...]

§ 4o O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de representação, não poderá sem ela ser iniciado.

§ 5o Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá proceder a inquérito a requerimento de quem tenha qualidade para intentá- la.109

Observa-se, então, que para a Autoridade instaurar um inquérito policial, ele precisa, obviamente, ser cientificada da ocorrência do crime. Essa ciência ocorre, comumente, nas próprias dependências das delegacias de polícia, por intermédio do Boletim de Ocorrência (BO). O BO “[...] é mera peça informativa,

106 NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal. 2. ed. São Paulo: Editora dos Tribunais, 2005. p. 123.

107 ROSA, Paulo Tadeu Rodrigues da. Polícia Militar e suas atribuições. Disponível em:

<http://www.advogado.adv.br/direitomilitar/ano2001/pthadeu/pmatribuicoes.htm>. Acesso em: 15 set. 2015.

108 MENEZES, Rodolfo Rosa Telles. Diferenças entre o cargo de delegado de polícia civil e de oficial da polícia militar. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n. 94, nov 2011. Disponível em:

<http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=10761>. Acesso em: 19 set. 2015.

109 BRASIL. Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del3689Compilado.htm>. Acesso em: 19 set. 2015.

lavrada a partir da notícia de prática delituosa, levada unilateralmente pela parte ao conhecimento da autoridade policial”.110

O BO tem por finalidade principal a comunicação da ocorrência de um fato criminoso, com a intenção de que a PC realize os procedimentos cabíveis, a fim de encontrar provas para identificar o autor da infração penal.111

Dessa forma, tendo em vista que a PC “oficializa” a ocorrência do fato criminoso, conduz as atividades investigatórias, e que suas conclusões, obtidas ao fim do inquérito policial, são repassadas ao Ministério Público como elementos de prova, a fim de permitir que a ação penal seja proposta, e que possam levar ao julgamento o possível autor do crime, é importante que ela tenha os primeiros contatos com o crime para evitar que os vestígios desapareçam.112

Ademais, além da função de polícia judiciária, a PC tem diversas outras atribuições que ensejam caráter de polícia administrativa, a exemplo da PC/SC, que possui a competência de execução de serviços administrativos de trânsito e fiscalização de jogos e diversões, previstos, respectivamente, nos inc. III e VI do art. 106 da CESC/89.113 São atividades de polícia administrativa, porque, conforme já

exposto no capítulo anterior, visam a manutenção da ordem pública e o interesse da coletividade.

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