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1.3 – O Funcionamento das Instituições Políticas e seus impactos nas Instituições Econômicas.

Vale ressaltar que as alterações nas instituições políticas, mencionadas acima, podem ocorrer de forma a ser explicada de diversas formas. TSEBELIS (2002) , por

exemplo, apresenta um importante paradigma de análise, baseado na idéia de que as

instituições funcionam de forma a alterar as condições atuais dependendo de quantos e

quais são os atores com poder de veto ( veto players ), assim como a distância entre suas

preferências.

Em outro recente trabalho, TOMMASI et. al. (2006) incorporam um paradigma de

análise no qual as características das políticas públicas efetivas , que influenciam o nível

da performance econômica dos países, dependem das transações políticas intertemporais

entre os atores políticos. Em uma abordagem microanalítica, eles endogenizam e

explicam as estruturas de governança.

Nesse estudo, eles partem para explicar as características desejáveis das políticas

públicas ( estabilidade, ao contrário da volatilidade; adaptabilidade ou flexibilidade, ao

invés da rigidez, a coordenação e coerência na implementação, entre outras ) como o

resultado das transações efetuadas no “jogo” político.

A primeira conclusão fundamental é que a cooperação política, levando às políticas

públicas efetivas e que favorecem o crescimento econômico, é mais provável se: 1 ) os

resultados positivos ou ganhos pela não cooperação são baixos; 2 ) o número de atores

políticos é pequeno; 3) esses atores têm ligações intertemporais fortes; 4 ) existem boas

técnicas de delegação ( uma burocracia eficiente, por exemplo ); 5 ) as ações políticas

são largamente observáveis; 6 ) existem boas técnicas de coação para que os acordos

intertemporais sejam honrados ( um judiciário independente, por exemplo ) e finalmente

7 ) as trocas políticas têm lugar em arenas onde as propriedades 2-6 tendem a ser

satisfeitas.

A segunda conclusão fundamental é que, caso não haja cooperação, ou seja, quando

regras políticas rígidas ( não reagentes ao ambiente econômico ) serão escolhidas se o

conflito de interesses for grande comparado com a volatilidade do ambiente econômico.

Desta forma, quando há uma baixa capacidade de forçar trocas políticas

intertemporais, dependendo da extensão do conflito distributivo em relação à natureza

da volatilidade econômica, podemos observar acordos políticos altamente voláteis ou

políticas altamente inflexíveis.

O modelo pode ser utilizado para tentar explicar as características das políticas

públicas efetivas em qualquer país, desde que sejam feitas as considerações pertinentes a

cada caso, da mesma forma como ocorre no trabalho de TSEBELIS (2002).

Outro ponto importante é que as políticas consideradas podem relacionar-se com

qualquer variável explicativa do crescimento. Tomemos, por exemplo, o comércio

exterior : pode-se mostrar que as boas características das políticas públicas nessa área

( como estabilidade e adaptabilidade ) podem explicar porque uma mesma política

funciona em alguns países e não funciona em outros, como observa RODRIK (1995).

Nessa linha de raciocínio, EVANS (2002), não concordando com o que denomina

de Institutional Monocropping ( Monocultura Institucional ), ou seja, a imposição de idéias

baseadas nas instituições anglo-americanas como norteadoras do padrão a ser seguido pelas

instituições dos países em desenvolvimento, cuja aplicabilidade é presumidamente capaz de

transcender culturas e circunstâncias, recorre ao conceito de SEN (1999) de Capability

approach.

A idéia de SEN (1999) é que a discussão pública e a troca de experiências devem ser a ênfase utilizada para construir as instituições nesses países. EVANS (2002) pondera,

idéias e tornam-se, portanto, fundamentais para a determinação da taxa de crescimento de

um país. Este ponto é de vital importância para a discussão do processo de crescimento nos

países em desenvolvimento.

Evans ressalta que um exemplo nessa direção pode ser o que conhecemos por

orçamento participativo, que vem sendo implementado em diversas cidades brasileiras e

menciona o caso de Porto Alegre, juntamente com o de Kerala, na Índia.

Outra análise institucional semelhante à feita por TSEBELIS (2002) e TOMMASI et

al (2006) é feita por COX e MACCUBBINS (2001); eles trabalham com os conceitos de

Deciseveness e Resoluteness para, respectivamente, mostrar que o sistema político é capaz de modificar o status quo, referente a alguma política pública, e manter essa nova política

pública, que substituiu o status quo vigente anteriormente.

Na análise dos aspectos institucionais temos, portanto, algumas linhas de pensamento:

aqueles que consideram os controles institucionais exercidos sobre o governo, no que ficou

conhecido como os mecanismos de checagem institucional ou checks and balances, como

fundamental, normalmente acham que quanto mais eficazes esses mecanismos, maior o

nível de segurança dos direitos de propriedade e melhor para o processo de crescimento

econômico. Neste sentido, podemos citar os trabalhos de ACEMOGLU, JOHNSON e

ROBINSON (2001,2005), por exemplo.

Ainda dentro do grupo que considera importante os mecanismos de checks and

balances, temos aqueles autores que consideram, no entanto, que esses mecanismos limitadores da ação governamental têm menor importância do que o papel que o Estado

deve desempenhar enquanto coordenador do processo econômico e capaz de corrigir as

HANSON (2006) inclusive mostra que para os países em desenvolvimento esse papel

de coordenador exercido pelo Estado é mais importante do que os mecanismos de checks

and balances, ao passo que para os países desenvolvidos esses mecanismos são mais importantes.

Existe uma outra linha de argumentação, a exemplo do já mencionado trabalho de

GLAESER et al. ( 2004 ), que considera que os investimentos em capital humano seriam o

principal fator determinante do crescimento, inclusive por que seriam os investimentos em

capital humano o principal fator determinante pela formação de boas instituições.

Podemos encontrar, ainda, trabalhos, como o de RAJAN e ZINGALES (2006) que, de

certa forma, tentam conciliar as duas linhas de argumentação expostas acima. Nesse

trabalho, a idéia principal é que a dotação de fatores da economia determina o crescimento

econômico dos países.

Se existe uma dotação de fatores em que o capital humano pertence a uma pequena

parcela da população, não adianta apenas a existência de boas instituições, por que o

crescimento não irá ocorrer. É preciso que as boas instituições sejam utilizadas para fazer

com que as forças políticas sejam capazes de mudar as dotações de fatores no sentido de

permitir que os investimentos em capital humano se distribuam pela economia.

A lógica do argumento é que apenas os setores mais educados da população desejam

um ambiente de competição, que seria capaz de levar a economia a atingir maiores índices

de crescimento. As reformas no sentido de gerar um ambiente mais competitivo e, portanto,

mais favorável ao crescimento, somente irão ocorrer quando a conjugação de forças

Por outro lado, reformas para melhorar o nível educacional deverão ser apoiadas pelos

empresários e pelos setores de menor nível educacional. Reformas gerais, isto é,

educacionais e de competitividade, precisarão ter o apoio de mais de um segmento da

sociedade para ocorrer. A questão mais importante é saber quais são as forças eleitorais que

irão apoiar as reformas.

Voltaremos a esse ponto mais adiante, inclusive porque existem dados interessantes

que podem ser utilizados para analisar essa argumentação, disponíveis no World Values

Survey ( 2006 ).

CAPÍTULO 2

A IMPORTÂNCIA DA GOVERNANÇA PARA O PROCESSO