Vale ressaltar que as alterações nas instituições políticas, mencionadas acima, podem ocorrer de forma a ser explicada de diversas formas. TSEBELIS (2002) , por
exemplo, apresenta um importante paradigma de análise, baseado na idéia de que as
instituições funcionam de forma a alterar as condições atuais dependendo de quantos e
quais são os atores com poder de veto ( veto players ), assim como a distância entre suas
preferências.
Em outro recente trabalho, TOMMASI et. al. (2006) incorporam um paradigma de
análise no qual as características das políticas públicas efetivas , que influenciam o nível
da performance econômica dos países, dependem das transações políticas intertemporais
entre os atores políticos. Em uma abordagem microanalítica, eles endogenizam e
explicam as estruturas de governança.
Nesse estudo, eles partem para explicar as características desejáveis das políticas
públicas ( estabilidade, ao contrário da volatilidade; adaptabilidade ou flexibilidade, ao
invés da rigidez, a coordenação e coerência na implementação, entre outras ) como o
resultado das transações efetuadas no “jogo” político.
A primeira conclusão fundamental é que a cooperação política, levando às políticas
públicas efetivas e que favorecem o crescimento econômico, é mais provável se: 1 ) os
resultados positivos ou ganhos pela não cooperação são baixos; 2 ) o número de atores
políticos é pequeno; 3) esses atores têm ligações intertemporais fortes; 4 ) existem boas
técnicas de delegação ( uma burocracia eficiente, por exemplo ); 5 ) as ações políticas
são largamente observáveis; 6 ) existem boas técnicas de coação para que os acordos
intertemporais sejam honrados ( um judiciário independente, por exemplo ) e finalmente
7 ) as trocas políticas têm lugar em arenas onde as propriedades 2-6 tendem a ser
satisfeitas.
A segunda conclusão fundamental é que, caso não haja cooperação, ou seja, quando
regras políticas rígidas ( não reagentes ao ambiente econômico ) serão escolhidas se o
conflito de interesses for grande comparado com a volatilidade do ambiente econômico.
Desta forma, quando há uma baixa capacidade de forçar trocas políticas
intertemporais, dependendo da extensão do conflito distributivo em relação à natureza
da volatilidade econômica, podemos observar acordos políticos altamente voláteis ou
políticas altamente inflexíveis.
O modelo pode ser utilizado para tentar explicar as características das políticas
públicas efetivas em qualquer país, desde que sejam feitas as considerações pertinentes a
cada caso, da mesma forma como ocorre no trabalho de TSEBELIS (2002).
Outro ponto importante é que as políticas consideradas podem relacionar-se com
qualquer variável explicativa do crescimento. Tomemos, por exemplo, o comércio
exterior : pode-se mostrar que as boas características das políticas públicas nessa área
( como estabilidade e adaptabilidade ) podem explicar porque uma mesma política
funciona em alguns países e não funciona em outros, como observa RODRIK (1995).
Nessa linha de raciocínio, EVANS (2002), não concordando com o que denomina
de Institutional Monocropping ( Monocultura Institucional ), ou seja, a imposição de idéias
baseadas nas instituições anglo-americanas como norteadoras do padrão a ser seguido pelas
instituições dos países em desenvolvimento, cuja aplicabilidade é presumidamente capaz de
transcender culturas e circunstâncias, recorre ao conceito de SEN (1999) de Capability
approach.
A idéia de SEN (1999) é que a discussão pública e a troca de experiências devem ser a ênfase utilizada para construir as instituições nesses países. EVANS (2002) pondera,
idéias e tornam-se, portanto, fundamentais para a determinação da taxa de crescimento de
um país. Este ponto é de vital importância para a discussão do processo de crescimento nos
países em desenvolvimento.
Evans ressalta que um exemplo nessa direção pode ser o que conhecemos por
orçamento participativo, que vem sendo implementado em diversas cidades brasileiras e
menciona o caso de Porto Alegre, juntamente com o de Kerala, na Índia.
Outra análise institucional semelhante à feita por TSEBELIS (2002) e TOMMASI et
al (2006) é feita por COX e MACCUBBINS (2001); eles trabalham com os conceitos de
Deciseveness e Resoluteness para, respectivamente, mostrar que o sistema político é capaz de modificar o status quo, referente a alguma política pública, e manter essa nova política
pública, que substituiu o status quo vigente anteriormente.
Na análise dos aspectos institucionais temos, portanto, algumas linhas de pensamento:
aqueles que consideram os controles institucionais exercidos sobre o governo, no que ficou
conhecido como os mecanismos de checagem institucional ou checks and balances, como
fundamental, normalmente acham que quanto mais eficazes esses mecanismos, maior o
nível de segurança dos direitos de propriedade e melhor para o processo de crescimento
econômico. Neste sentido, podemos citar os trabalhos de ACEMOGLU, JOHNSON e
ROBINSON (2001,2005), por exemplo.
Ainda dentro do grupo que considera importante os mecanismos de checks and
balances, temos aqueles autores que consideram, no entanto, que esses mecanismos limitadores da ação governamental têm menor importância do que o papel que o Estado
deve desempenhar enquanto coordenador do processo econômico e capaz de corrigir as
HANSON (2006) inclusive mostra que para os países em desenvolvimento esse papel
de coordenador exercido pelo Estado é mais importante do que os mecanismos de checks
and balances, ao passo que para os países desenvolvidos esses mecanismos são mais importantes.
Existe uma outra linha de argumentação, a exemplo do já mencionado trabalho de
GLAESER et al. ( 2004 ), que considera que os investimentos em capital humano seriam o
principal fator determinante do crescimento, inclusive por que seriam os investimentos em
capital humano o principal fator determinante pela formação de boas instituições.
Podemos encontrar, ainda, trabalhos, como o de RAJAN e ZINGALES (2006) que, de
certa forma, tentam conciliar as duas linhas de argumentação expostas acima. Nesse
trabalho, a idéia principal é que a dotação de fatores da economia determina o crescimento
econômico dos países.
Se existe uma dotação de fatores em que o capital humano pertence a uma pequena
parcela da população, não adianta apenas a existência de boas instituições, por que o
crescimento não irá ocorrer. É preciso que as boas instituições sejam utilizadas para fazer
com que as forças políticas sejam capazes de mudar as dotações de fatores no sentido de
permitir que os investimentos em capital humano se distribuam pela economia.
A lógica do argumento é que apenas os setores mais educados da população desejam
um ambiente de competição, que seria capaz de levar a economia a atingir maiores índices
de crescimento. As reformas no sentido de gerar um ambiente mais competitivo e, portanto,
mais favorável ao crescimento, somente irão ocorrer quando a conjugação de forças
Por outro lado, reformas para melhorar o nível educacional deverão ser apoiadas pelos
empresários e pelos setores de menor nível educacional. Reformas gerais, isto é,
educacionais e de competitividade, precisarão ter o apoio de mais de um segmento da
sociedade para ocorrer. A questão mais importante é saber quais são as forças eleitorais que
irão apoiar as reformas.
Voltaremos a esse ponto mais adiante, inclusive porque existem dados interessantes
que podem ser utilizados para analisar essa argumentação, disponíveis no World Values
Survey ( 2006 ).