Vimos na seção anterior como as instituições políticas influenciam as instituições
econômicas, determinando a performance econômica dos países. Nesta seção, discutiremos
que tipos de instituições políticas são capazes de influenciar as instituições econômicas de
forma a encorajar o crescimento econômico.
É bastante enfatizado na literatura, como apontam ACEMOGLU, JOHNSON e
ROBINSON ( 2005 ) que as instituições econômicas que encorajam o crescimento de um
país emergem quando as instituições políticas alocam poder para os grupos com interesses
em :
1 ) Reforçar de uma forma ampla os direitos de propriedade
2 ) Criar limitações efetivas para os detentores do poder
3 ) Fazer com que haja relativamente poucos rendimentos possíveis de ser
capturados pelos detentores do poder
Esses grupos de poder devem, portanto, através das instituições políticas, criar uma
estrutura de incentivos econômicos que facilitem e estimulem a acumulação de fatores, a
estrutura de incentivos irão prosperar. Caso contrário, o insucesso será iminente, como no
caso da ex-União Soviética, em que a ausência de instituições prejudicou sobremaneira a
exploração dos ganhos do comércio e a eficiente alocação dos recursos.
Uma pergunta subjacente ao raciocínio apresentado seria: por que os grupos
detentores do poder político não o usam para aumentar a produção, fazendo uso de políticas
que levem à eficiência econômica? Uma resposta poderia basear-se no fato de que esses
grupos de poder teriam compromissos inerentes ao seu poder político, ou seja, teriam de
usar este poder para atingir seus melhores interesses, que, muitas vezes não são os
interesses relacionados com o melhor desempenho econômico do país como um todo, nem
tampouco com a melhoria do nível de eficiência do sistema.
Neste ponto, é importante tentarmos ampliar a análise, adicionando uma discussão
acerca das razões que fazem com que os grupos de poder criem diferentes instituições
políticas para influenciar as instituições econômicas.
Um primeiro aspecto está relacionado ao chamado Teorema Político de Coase e é
baseado na lógica econômica de que os custos sociais e benefícios das diferentes
instituições econômicas são pesados, ou seja, são ponderados, comparados, avaliados, um
com o outro, para determinar quais serão as instituições a prevalecer.
Nesta linha de análise, quando diferentes partidos, no sentido político e econômico,
podem negociar sem custos, eles são capazes de barganhar entre si para internalizar
potenciais externalidades. Este primeiro aspecto pode ser considerado a visão da eficiência,
isto é, das instituições econômicas eficientes que se estabelecem através do jogo
institucional político. Desta forma, em alguns casos, este jogo conduz às instituições
Uma segunda argumentação é a de que as instituições políticas conduzem a diferentes
tipos de instituições econômicas porque as sociedades, ou mais especificamente suas
lideranças, diferem quanto ao que consideram como sendo bom para suas populações. Esta
idéia está associada, obviamente, à ideologia das elites dirigentes, sendo por este motivo,
também conhecida como uma visão ideológica.
Como terceira alternativa de explicação das diferentes escolhas das instituições
econômicas por parte dos agentes políticos, podemos citar a chamada visão acidental, ou
seja, a idéia de que acidentes de caráter histórico ou natural têm maior influência na
determinação dos tipos de instituições econômicas prevalecentes, em detrimento dos
demais fatores, inclusive da influência das instituições políticas.
Por último e talvez de forma mais importante, uma vez que é defendida por
influentes trabalhos recentes, como, por exemplo, ACEMOGLU, JOHNSON e
ROBINSON ( 2005 ), existe a argumentação de que diferentes escolhas de instituições
econômicas são fruto dos conflitos sociais, isto é, as instituições econômicas surgem a
partir dos resultados que emergem desses conflitos, de tal forma que, se os interesses dos
grupos associados de forma direta às políticas que conduzem ao crescimento forem os
vitoriosos do conflito, as instituições econômicas estabelecidas serão favoráveis ao
processo.
Em caso contrário, ou seja, se os interesses dos grupos não associados com as
políticas de crescimento prevalecerem, as instituições econômicas decorrentes irão
beneficiar estes interesses e não favorecerão o processo de crescimento.
Nesse sentido também podem ser citados os trabalhos de BARDHAN (1989,2001) e
HOFF e STIGLITZ (2001) que consideram aspectos relacionados aos conflitos
o controle dentro das mesmas e que são contrários aos processos de mudança, mesmo
sabendo que estas trarão melhores resultados, apenas para manter seu status quo.
Sendo assim, seria uma estratégia duvidosa impor uma série de regras formais sem,
simultaneamente, remodelar a distribuição de poder que estabelece prioridades nos arranjos
institucionais.
Outro questionamento de vital importância diz respeito às fontes de ineficiência das
instituições econômicas que prevalecem após as influências determinantes do poder político
e das instituições políticas.
O primeiro ponto levantado na literatura coloca a incapacidade de firmar
compromisso, por parte das elites detentoras do poder político, de forma a garantir os
direitos de propriedade relativos aos investimentos produtivos que seriam realizados por
outros grupos econômicos, com interesses distintos dos seus. Isto decorre, é claro, do
monopólio do poder político por parte destas elites e seu compromisso evidente com seus
interesses.
É importante ressaltar que o estabelecimento de uma maior crença nos investidores
de que as políticas econômicas e a legislação em geral não irão desrespeitar contratos pré-
estabelecidos é fundamental, ou seja, a segurança das instituições é vital. Nesse sentido,
KNACK e KEEFER (1997) mostram que as políticas econômicas dos governos em que
suas instituições conseguem criar maior confiança na sociedade tendem a ser mais eficazes,
uma vez que suas políticas macroeconômicas teriam mais credibilidade junto aos agentes
O segundo ponto aborda o fato de que mudanças nas instituições econômicas que
possam trazer perdas políticas, a despeito de seus efeitos econômicos positivos, serão
evitadas. O mesmo pode ser argumentado quando as perdas são econômicas e não políticas.
Em suma, os detentores do poder político não irão abrir mão deste poder e favorecer
a implementação de mudanças nas instituições econômicas, mesmo sabendo que estas
estariam mudando na direção de favorecer o crescimento do país como um todo,
simplesmente porque esses ganhos de eficiência representariam perdas políticas e
econômicas na sua parcela de distribuição na sociedade, diminuindo sua capacidade de
extrair renda do sistema econômico através da utilização do poder político em benefício
próprio.
Diante do exposto, alguns pontos podem ser elencados no sentido de facilitar a
viabilidade de mudanças nas instituições econômicas, diante do jogo existente nas
instituições políticas:
A ) Se houver limitações ao uso do poder político é óbvio que seus detentores terão
maior dificuldade em se opor às mudanças nas instituições econômicas que beneficiariam o
crescimento.
B ) Instituições econômicas que protejam os direitos da maioria são mais prováveis
de existir quando o poder político estiver concentrado em um grupo relativamente mais
amplo, contendo aqueles que têm acesso às maiores oportunidades de investimento.
C ) Instituições econômicas eficientes são mais prováveis de existir quando existem
D ) Reformas institucionais que não ameacem os grupos mais fortes política e
economicamente são mais prováveis de obter sucesso. O mesmo pode ser dito a respeito de
reformas institucionais que possam fortalecer oposições vigorosas ou até mesmo
desestabilizar a situação política.
Neste sentido, RODRIK ( 2003c ) alerta que as reformas institucionais serão mais
bem sucedidas quando implementadas em economias onde os setores produtivos tiverem
um baixo nível de empreendedorismo, uma vez que instituições mais eficientes ajudarão na
melhoria das atividades destes setores, ao passo que não surtirão os efeitos desejados
quando esses mesmos setores tiverem aversão ao custo das mudanças.
Ainda em relação às instituições, e de forma bastante semelhante à exposta, destaca
RODRIK ( 2003d ) :
A ) boas instituições podem ser adquiridas mas, freqüentemente, isto requer
experimentação, disposição para sair da ortodoxia e atenção às condições locais.
B ) o crescimento econômico não requer profundas e extensivas reformas.
C ) sustentar o crescimento econômico em altos níveis ( muitas vezes enfrentando
circunstâncias adversas ) requer instituições mais fortes do que para gerar processos de
aceleração no crescimento.