Este capítulo procurará usar as análises teóricas descritas no capítulo 1 para discutir
o caso brasileiro. Em estudos como o do presente trabalho, pode-se ter por objetivo, como
coloca VAN EVERA ( 1997 ), testar algumas das principais teorias sobre o tema
considerado.
A principal argumentação deste capítulo, como de resto de toda a tese, é de que as
instituições têm um papel fundamental para o crescimento dos países em geral e para os
países em desenvolvimento em particular. A parte seguinte da análise é discutir, sob que
formas, os novos arranjos institucionais, considerados inclusive do ponto de vista da
eficiência das políticas públicas, podem ser de crucial importância para o crescimento dos
países em desenvolvimento em geral, e para o caso brasileiro, mais especificamente.
Diante do exposto, tratamos a primeira parte da análise, utilizando o modelo de
ACEMOGLU, JOHNSON e ROBINSON ( 2005 ), que apresenta as instituições como a
causa fundamental do crescimento econômico dos países. Como descrito com maiores
detalhes no capítulo 1 desta tese, nesse modelo, as instituições políticas terminam por
determinar o comportamento das instituições econômicas que, por sua vez, influenciam em
maior proporção o processo de crescimento dos países.
Para discutir a importância das instituições políticas para o crescimento, no entanto,
precisamos escolher algumas delas, considerando as que sejam particularmente relevantes
para o caso brasileiro, e se quisermos avançar no sentido de não apenas mostrar a
contribuição das instituições para o crescimento brasileiro, mas também como essas
instituições funcionam, de maneira a facilitar ou dificultar o surgimento de ambientes
propícios à implementação das políticas públicas que levem a resultados positivos em
termos de performance econômica, podemos recorrer aos modelos desenvolvidos por COX
Como também já foi analisado no capítulo 1 desta tese, nesses modelos, os autores,
mencionados acima, procuram mostrar como o funcionamento das instituições políticas
pode explicar os resultados das políticas públicas e conseqüentemente do desempenho
econômico dos países.
Neste ponto, é fundamental explicarmos a seqüência lógica que norteará nossa
abordagem. Vamos fazer uma série de conexões teóricas para mostrar como as instituições
em geral, e as instituições políticas especificamente, influenciam teoricamente o
desempenho econômico dos países.
1 ) a exemplo do que faz RODRIK ( 2004 ) podemos sintetizar o crescimento
econômico como sendo determinado pelas dotações de fatores ( capital físico, capital
humano, recursos naturais ) e pela produtividade ( a eficiência na utilização dos fatores
mencionados, determinada pela tecnologia )
2 ) desde os primeiros modelos que tentaram explicar o crescimento dos países,
como o de SOLOW ( 1956 ) o papel da tecnologia foi destacado como sendo a principal
variável responsável pelo crescimento, dado que os fatores de produção têm rendimentos
marginais decrescentes. Esse avanço tecnológico, no entanto, seria exógeno.
3 ) as teorias mais recentes que procuraram explicar o crescimento, como a teoria do
crescimento endógeno, e.g. ROMER (1986, 1990) e LUCAS (1988), colocam que o avanço
tecnológico seria determinado dentro do sistema econômico, ou seja, como o próprio nome
determinantes desse avanço tecnológico endógeno? Nesse ponto, a teoria do crescimento
endógeno começa respondendo que seriam, basicamente, dois fatores :
A ) Os incentivos para que as empresas invistam em avanços tecnológicos, daí a
importância da concorrência imperfeita, ou seja, um produtor só irá fazer investimentos
para desenvolver determinado produto se achar que poderá obter retornos através das
vendas desse produto. Uma empresa como a Microsoft, por exemplo, só investe em seus
produtos porque sabe que pode vendê-los em escala mundial, tendo condições de
influenciar no preço que será cobrado.
B ) As externalidades intrínsecas dos processos produtivos, nos quais quanto mais
as empresas produzem, mais aprendem com esses processos ( learning by doing ).
4 ) partindo do ponto anterior, ainda ficam questões em aberto, ou seja, quais seriam
os incentivos que levariam as empresas a investir na criação de novas tecnologias, através
de novas idéias? Obviamente, a perspectiva de obtenção de lucros. No entanto, para que
esses lucros sejam efetivamente realizados é indispensável que os investidores tenham
garantias de que haverá segurança quanto aos seus direitos de propriedade, criando
confiança nos mesmos de que não haverá expropriações.
É por essa razão, que a segurança dos direitos de propriedade tem sido apontada
como um fator crucial para o bom desempenho econômico dos países, na linha do que
colocam autores do chamado novo institucionalismo econômico, e.g. NORTH ( 1990 ),
SHIRLEY ( 2003 ). No entanto, o bom funcionamento institucional pode também ser
fundamental para coordenar as políticas de investimento, como coloca BARDHAN (2005 ),
monitorados de forma a garantir que suas decisões sejam transparentes
( accountability ). De qualquer forma, ainda resta um último ponto em nossa análise.
5 ) quais são os determinantes do bom funcionamento das instituições, de modo a
permitir os efeitos positivos mencionados no ponto anterior?
É aceito por grande parte dos que estudam a importância das instituições políticas
na explicação do bom funcionamento das instituições em geral e da eficiência das políticas
econômicas, e.g. PERSSON e TABELLINI ( 2005 ) que as regras eleitorais, por exemplo,
podem moldar as estruturas partidárias, as coalizões políticas e os resultados das políticas
econômicas, ou seja, é compreendendo o funcionamento das principais instituições políticas
que se pode chegar aos fatores explicativos da manutenção dos aspectos institucionais
positivos ( segurança dos direitos de propriedade, coordenação de políticas de investimento,
transparência das ações dos formuladores de regras institucionais ) que, por sua vez,
favorecem ao avanço da produtividade, das novas tecnologias e do próprio crescimento
econômico.
É importante mencionar também que o bom funcionamento das instituições
políticas pode evitar que políticas econômicas sejam dirigidas para grupos de interesse, ao
invés de serem direcionados para a criação de bens públicos, que podem ser importantes,
quando não fundamentais, para o crescimento dos países, como analisa OLSON ( 1997 ),
ao abordar a relevância da escolha coletiva para o desenvolvimento.
A esse respeito é importante mencionar que para o caso Brasileiro, alguns autores
procuraram analisar a influência dos grupos de interesse. Neste sentido, MONASTERIO e
trabalhadores e associações patronais, enquanto representantes dos grupos de interesse,
contribuíram negativamente para o crescimento econômico do Brasil durante o período
1970-1995.
Esse resultado, que confirma a hipótese de OLSON ( 1997 ) de que os grupos de
interesse prejudicam o crescimento dos países na medida em que os fazem desviar-se dos
interesses da maioria, é, no entanto, contrário à idéia de PUTNAM ( 1996 ), por exemplo,
para quem os grupos de interesse, sendo representantes da coesão da sociedade civil e do
fortalecimento do capital social, seriam um fator positivo para o crescimento.
DINIZ ( 2005 ) chega a apontar uma nova direção em termos de ação dos grupos de
interesse no Brasil. Os empresários estariam, segundo a autora, exercendo pressões não
mais no sentido de receber a tutela estatal, mas sim de influenciar nas mudanças de rumo na
política econômica do governo Lula, notadamente na direção da redução de juros e
impostos.
Em suma, não é apenas observando o comportamento dos grupos de interesse que
será possível compreender as influências das forças políticas sobre o processo de
crescimento no Brasil. Temos de procurar entender o funcionamento das instituições
políticas para conseguir entender seu papel no processo de crescimento econômico. Para
isso, precisamos escolher as instituições políticas mais relevantes e analisá-las.
5.1 Escolha de Algumas Instituições Políticas para o Caso Brasileiro.
De acordo com os procedimentos descritos acima, e tendo por base vários trabalhos
exemplo, as regras eleitorais como instituições políticas relevantes para serem testadas no
caso brasileiro. Outros aspectos institucionais fortemente indicados pela literatura dizem
respeito ao tipo de regime adotado ( presidencialismo ou parlamentarismo ), as formas de
interação entre os poderes executivo e legislativo ( controle da agenda, coalizões e
estruturas partidárias ) e o comportamento da burocracia, como destaca MILNER e
KATZNELSON ( 2002 )