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CAPÍTULO 4 – CONCILIAÇÃO JUDICIAL TRABALHISTA: FORMA DE

4.3. A conciliação judicial trabalhista brasileira

4.3.1. Fundamentação legal

As leis brasileiras pouco regulam o procedimento da conciliação judicial trabalhista. Seu fundamento legal é, basicamente, o art. 764 da CLT que apenas afirma:

Art. 764 - Os dissídios individuais ou coletivos submetidos à apreciação da Justiça do Trabalho serão sempre sujeitos à conciliação.

§ 1º - Para os efeitos deste artigo, os juízes e Tribunais do Trabalho empregarão sempre os seus bons ofícios e persuasão no sentido de uma solução conciliatória dos conflitos.

§ 2º - Não havendo acordo, o juízo conciliatório converter-se-á obrigatoriamente em arbitral, proferindo decisão na forma prescrita neste Título.

§ 3º - É lícito às partes celebrar acordo que ponha termo ao processo, ainda mesmo depois de encerrado o juízo conciliatório.

Os artigos 846 e 850 da CLT incluem a proposta de conciliação como etapa do procedimento ordinário, devendo ser o primeiro ato após a abertura da audiência (art. 846), bem como o último ato antes da decisão judicial (art. 850). No entanto, a CLT não estabelece procedimento próprio para a conciliação. Além deste regramento, a CLT apenas cita os efeitos do termo de conciliação judicial no parágrafo único do art. 831, que seria o de decisão

irrecorrível114 (exceto para a Previdência Social.). Afora estas regras postas pela CLT, todas

as demais apontadas na literatura jurídica brasileira são de fonte jurisprudencial ou doutrinária.

O TST sumulou alguns entendimentos quanto à conciliação judicial trabalhista que se dividem nos seguintes grupos: a) quanto aos efeitos do acordo; b) quanto à desconstituição do acordo; c) quanto à incidência de contribuições; d) quanto aos limites do acordo.

Quanto aos efeitos do acordo, a Súmula nº 100 considerou que: “O acordo homologado judicialmente tem força de decisão irrecorrível, na forma do art. 831 da CLT”. Assim sendo, o termo conciliatório transita em julgado na data da sua homologação judicial.

114 Aponta-se também (com base na subsidiaridade, em casos omissos da CLT, do Código de Processo Civil)

que o termo de conciliação judicial homologado é título executivo judicial como propugna o art. 475-N do CPC, III; (SCHIAVI, 2009, p. 35).

A OJ 132 da SDI2 afirma que o acordo homologado judicialmente em que consta plena quitação de qualquer direito que possa decorrer do contrato de trabalho alcança não só o objeto da inicial, mas também o direito em si, seja ou não consubstanciado em parcelas pecuniárias do extinto contrato de trabalho. Portanto, nova propositura de reclamação trabalhista, envolvendo tais direitos, violaria assim a coisa julgada material.

Quanto à desconstituição do acordo, a Súmula nº 259 prescreve: “Só por rescisória é atacável o termo de conciliação previsto no parágrafo único do Art. 831 da Consolidação das Leis do Trabalho”. Já a Súmula nº 403 dispõe que não é possível a sua desconstituição calcada no inciso III do art. 485 do CPC (dolo da parte vencedora em detrimento da vencida). A OJ 94 da SDI2 trata do cabimento de ação rescisória em caso de conciliação quando há simulação do litígio para fraudar a lei e prejudicar terceiros, bem como, de acordo com a OJ 154 da SDI2, também poderá caber rescisória quando houver lide simulada que seja baseada em fraude ou vício de consentimento.

Quanto à incidência de contribuições, a Súmula nº 368 estipula que as contribuições previdenciárias limitam-se à condenação em pecúnia e aos valores do acordo homologado. A Orientação Jurisprudencial 360 da SDI1 preceitua que as contribuições da Previdência Social incidem sobre o valor total do acordo, independente do reconhecimento de vínculo empregatício, desde que não haja discriminação das parcelas sujeitas à incidência previdenciária. A OJ 376 da SDI1 também sustenta a incidência de contribuição previdenciária conforme o valor do acordo, inclusive quando este é homologado após o trânsito em julgado de decisão judicial.

Quanto aos limites do acordo, a Súmula nº 418 explicita que o juiz não está obrigado a homologar o acordo, conforme redação a seguir:

MANDADO DE SEGURANÇA VISANDO À CONCESSÃO DE LIMINAR OU HOMOLOGAÇÃO DE ACORDO: A concessão de liminar ou a homologação de acordo constituem faculdade do juiz, inexistindo direito líquido e certo tutelável pela via do mandado de segurança.

Ainda em relação aos limites, o TST não emitiu nenhuma Súmula ou Orientação Jurisprudencial sobre as matérias que a conciliação judicial pode albergar, no caso dos dissídios individuais. No caso dos coletivos há uma Orientação Jurisprudencial interessante, que se segue:

OJ-SDC-31 ESTABILIDADE DO ACIDENTADO. ACORDO HOMOLOGADO. PREVALÊNCIA. IMPOSSIBILIDADE. VIOLAÇÃO DO ART. 118 DA LEI Nº 8.213/91.

Não é possível a prevalência de acordo sobre legislação vigente, quando ele é menos benéfico do que a própria lei, porquanto o caráter imperativo dessa última restringe o campo de atuação da vontade das partes.

De acordo com essa Orientação, há determinados direitos aos quais nem a autonomia coletiva, que é bem mais ampla do que a individual, pode prevalecer. É curioso, porém, perceber que na prática nos acordos firmados em dissídios individuais no âmbito da conciliação é permitido renunciar ou transacionar todos os tipos de direitos. Esta postura não é a declarada pelo TST, porém pode ser percebida pelo fato de se permitir conciliação de direitos trabalhistas que já foram reconhecidos em sentença transitada em julgado. Ocorre, porém que no âmbito do TST ainda há vozes destoantes àquele entendimento. Encontram-se acórdãos no sentido da total possibilidade de renúncia e transação (ANEXO 10), da possibilidade apenas de transação e da possibilidade de transação ou renúncia para determinados direitos.

No âmbito da doutrina, como na do TST, a questão dos limites da conciliação tende a

se pacificar no sentido de haver apenas a possibilidade de transação115, conforme o estudo das

posições dos doutrinadores brasileiros quanto à possibilidade de renúncia ou transação dos direitos laborais feito no Capítulo 2.

No direito brasileiro, a escassa legislação sobre o tema leva a doutrina e jurisprudência a busar justificativas para a forma com que os direitos laborais são tratados no âmbito da conciliação judicial laboral. Levam-se em consideração três aspectos: o primeiro, unânime na doutrina e jurisprudência, afirma que, pelo fato da conciliação se dar diante da presença de um juiz presume-se que o conteúdo do acordo seja legítimo ( BARROS, 1997, 98-99; CARRION, 2008, p. 578-579; CASSAR, 2009, p. 179; DELGADO, 2006b, p. 1447; SCHIAVI, 2009, p. 35; SÜSSEKIND; MARANHÃO; VIANNA, 1991, p. 212.), pois este teria por obrigação fiscalizá-la e conduzi-la podendo até negar a sua homologação. O segundo aspecto é que se criou uma doutrina muito forte no sentido de se considerar que os direitos laborais são em grande medida indisponíveis, porém, as verbas decorrentes dos direitos laborais não o são, o que permitiria haver acordo em fase de execução, mesmo quando

115 De acordo com as críticas que se farão no tópico posterior, esta corrente acaba por se confundir com a

corrente que crê ser possível a transação e a renúncia por que considera as verbas referentes aos direitos trabalhistas, apenas como materiais, por não representar mais o direito que lhes originou e sim apenas pecúnia.

direitos indisponíveis já fossem fixados em sentença transitada em julgado ( CASSAR, 2009, p. 179; SCHIAVI, 2009) O terceiro aspecto é sobre a possibilidade de transação e renúncia na conciliação, mesmo se reconhecendo que estes direitos não o são em outros casos, a maior parte dos autores e a jurisprudência seguem essa tendência (ANEXO 10; BARROS, 1997, 98- 99; CARRION, 2008, p. 578-579; SCHIAVI, 2009, p. 35; SÜSSEKIND; MARANHÃO; VIANNA, 1991, p. 209.) havendo aqueles que defendem apenas a possibilidade de transação (CASSAR, 2009, p. 179; DELGADO, 2006b, p. 1447). Esta polêmica, porém, não parece ter maior importância diante do fato de que se considera que qualquer que seja o conteúdo da conciliação este esteja correto posto que construído diante da assistência e fiscalização do Judiciário. As críticas sobre estes aspectos serão mais bem explicitadas em tópico seguinte.