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Fundamentos Filosóficos e Políticos dos Cursos de Ciências Contábeis (missão, objetivos e/ou diretrizes) no Contexto de

5 CAPÍTULO

5.2.2 Fundamentos Filosóficos e Políticos dos Cursos de Ciências Contábeis (missão, objetivos e/ou diretrizes) no Contexto de

Implementação

Em se tratando dos Fundamentos Filosóficos e Políticos do Curso – missão, objetivos e/ou diretrizes, as DCN recomendam:

Art. 2º As Instituições de Educação Superior deverão estabelecer a

organização curricular para cursos de Ciências Contábeis por meio de Projeto Pedagógico, com descrição dos seguintes aspectos:

[...]

§ 1º O Projeto Pedagógico, além da clara concepção do curso de graduação em Ciências Contábeis, com suas peculiaridades, seu currículo pleno e operacionalização, abrangerá, sem prejuízo de outros, os seguintes elementos estruturais:

I - objetivos gerais, contextualizados em relação às suas inserções institucional, política, geográfica e social;

II - condições objetivas de oferta e a vocação do curso;

III - cargas horárias das atividades didáticas e para integralização do curso; IV - formas de realização da interdisciplinaridade;

V - modos de integração entre teoria e prática;

VI - formas de avaliação do ensino e da aprendizagem;

VIII - incentivo à pesquisa, como necessário prolongamento da atividade de ensino e como instrumento para a iniciação científica;

Como se pode verificar no Quadro 08, em relação a este critério, a análise dos PPP permitiu evidenciar parcialmente os fundamentos filosóficos e políticos dos cursos de Ciências Contábeis, em se tratando de questões específicas como a relação da missão do curso com a missão de universidade e dos objetivos do curso com o perfil de aluno desejado, frente ao que é recomendado no Art. 2º das DCN.

Por outro lado, os Coordenadores enfatizam que a observância às DCN que dão sustentação ao currículo do curso foi limitada no seu processo de implementação, quando evidenciaram:

“Parcialmente. Porque o currículo foi concebido de uma forma tanto quanto unilateral. O PPP foi desenhado por um grupo muito restrito de professores, não houve uma discussão ampla com todo corpo docente, para que opinassem e dessem suas contribuições para implementação do PPP. É tanto, que após o projeto ser implementado passaram a surgir diversos problemas, aos quais estamos administrando hoje”. (Coord. 01)

“Dão sustentação, porque eu tenho visto que o nosso curso tem o objetivo de formar nas suas mais diferentes áreas, mais especificamente na Auditoria, bem como pela requisição de nossos alunos para as empresas baianas”. (Coord. 02)

“A implementação do curso se deu de forma coerente como previsto nas DCN, ou seja, contamos com participação de todos os segmentos institucionais. Contudo, isso possibilitou melhor delineamento do documento (PPP), melhor definição dos objetivos, missão e diretrizes do curso”. (Coord. 03)

“Sim. O curso no seu projeto-pedagógico determina o perfil do egresso. No perfil do egresso o esforço foi exatamente identificar qual é o perfil do profissional que o mercado solicita em termos de conhecimento, habilidade e atitudes. Então, na construção do projeto-pedagógico que está em vigor, buscou-se observar as orientações nacionais do MEC nesse sentido. Situação/habilidade, situação/conhecimento a serem desenvolvidas na universidade. [...] o que a faculdade determinou como perfil foi à luz dessa orientação de quais são os conhecimentos e habilidades que devem desenvolvidas para o bacharel em Ciências em Contábeis. [...] o projeto político-pedagógico em vigor corresponde o que a instituição entende como sendo o perfil do bacharel em Ciências Contábeis que o mercado espera ter. As diretrizes do curso, da faculdade é essa: de formação, de um estudante com um conjunto de valores éticos, de domínios de determinados conteúdos tanto na área financeira, como na área gerencial. Isso que norteia a construção do projeto político-pedagógico”. (Coord. 04)

“Primeiro, propiciar condições para que o interessado adquira conhecimentos teóricos, filosóficos, históricos, políticos, éticos e

práticos da Contabilidade; segundo, proporcionar e instrumentalizar técnicas e recursos ao exercício profissional”. (Coord. 05)

A construção do PPP, no caso de alguns Cursos de Ciências Contábeis, foi pensada por um grupo muito restrito de professores, não ocorrendo uma discussão ampla com todo corpo docente, para que opinassem e dessem suas contribuições, em seu processo de implementação. Este fato se constitui um desafio para os Coordenadores de Curso que encontram algo já implementado e pretendem geri um curso em uma IES pública em bases legais e democráticas. A questão do processo de discussão e elaboração do projeto surge como problemática, pois se observam práticas que revelam uma ação centralizada, o que, certamente, resulta numa dificuldade maior, além de ser fator que permite que se compreenda, em parte, a percepção da quebra da identidade e unicidade referidas.

Sendo assim, há registros divergentes. De um lado se observa coordenadores que declaram que o processo foi participativo, tendo envolvido a Congregação de Curso como um todo, e que ressaltam a importância deste processo de discussão coletiva. De outro lado, há registros de processos que foram ou estão sendo encaminhados de forma centralizada, através de comissões de professores que elaboram sem a participação e discussão efetivas do conjunto da Congregação e da representação estudantil. Há ainda situações em que se busca uma estratégia de trabalho que estimule a participação, mesmo levando em conta as dificuldades de se gerir um curso de graduação.

Esta é uma questão que deve ser assinalada, pois, realmente, o projeto (o documento) não é auto-aplicável – precisa se tornar processo. Exige ações conscientes e coletivas, tanto da congregação do curso como de outras instâncias institucionais, para “sair do papel”. Além disso, ele tem que ser tomado como um documento que precisa ser quotidianamente reconstruído para que tenha vida e gere as inovações pedagógicas que se deseja.

Dessa forma, como gestor, o Coordenador de Curso deve ser o mentor do curso que gerencia e, ao mesmo tempo, o responsável pela execução do PPP do Curso. Como já acentuado, deve estabelecer, com clareza, as características do curso que lhes devem dar identidade, o que exige que o mesmo guarde vínculo com a missão, com os objetivos, com a vocação e com os princípios da Universidade.

Daí a necessidade do Coordenador de Curso compreender plenamente o sentido da missão, dos objetivos e da vocação da IES em que trabalha, pois sem estes cuidados,

o PPP do Curso estatuído perderá suas peculiaridades. Antes, tarefa solidária e compartilhada com professores e alunos, de tal maneira que seja, na sua execução, devidamente vivenciado nesses segmentos.

Ao evidenciar os fundamentos filosóficos e políticos do curso (missão, objetivos e/ou diretrizes), os PPP deverão alcançar e/ou apresentar um panorama da Ciência Contábil, sua importância e necessidades no contexto social de formação, correlacionar essas demandas a uma consideração do perfil desejado para o egresso, articulando o seu contexto de atuação, bem como as considerações de execução do projeto pedagógico.

Para Cantídio (1981), o regime atual de coordenação dos cursos é sabido deficiente e precisaria sofrer ajustamentos, com o objetivo de caracterizar a administração de um curso como sendo a gerência de um projeto de aprendizagem. O projeto pedagógico é, cada vez mais, considerado o instrumento por excelência, através do qual se expressam a identidade e a especificidade e, por conseguinte, a autonomia das IES e de seus cursos. Para que estes objetivos sejam atingidos e para que o PPP do Curso se constitua num referencial para o alcance da qualidade, necessário é que ele seja, efetivamente, tratado como um instrumento de gestão e de mudança.