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5 A UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

5.1 A GÊNESE DA UNIVERSIDADE DA BAHIA

A origem da UFBA não difere da maioria das universidades brasileiras. Foi, também, o resultado da reunião de antigas faculdades isoladas e já 23 Faleceu em maio de 1967. 24 Vice-Reitor em exercício. 25 Vice-Reitor em exercício. 26 Reitor Pró-Tempore. 27 Vice-Reitor em exercício. 28 Reitor Pró-Tempore.

sedimentadas (SERPA, 1998, p.7), como a Faculdade de Medicina da Bahia29 (1808), a Escola de Agronomia (1877), a Escola de Belas Artes30 (1877), a Faculdade de Direito (1891) e a Escola Politécnica da Bahia31 (1932) (OLIVEIRA, 1999, p.298).

Do ponto de vista, institucional, a Universidade da Bahia foi criada 8 de abril de 1946, pelo Decreto-Lei nº 9.155, de 5 de abril de 1946, assinado pelo Presidente Eurico Gaspar Dutra e referendada pelo Ministro da Educação e Saúde, Ernesto de Souza Campos, sendo instalada oficialmente em 2 de julho do mesmo ano (BOAVENTURA, 1999, p.14). A criação da Universidade da Bahia insere-se em um movimento mais amplo, nacional, da institucionalização do ensino superior no país. Assim, foram criadas, paralelamente, a Universidade do Recife (PE) e a Universidade do Paraná.

O primeiro reitor da Universidade da Bahia foi o professor Edgard Santos, então diretor da Faculdade de Medicina da Bahia (BOAVENTURA, 1999, p.14), a mais destacada das escolas superiores situadas no Estado (RIBEIRO, 1999, p.34). Segundo Santos, Edgard Santos

[...] sonhava que ela liderasse o movimento de constituição de uma universidade, que ultrapassasse os objetivos mais imediatos das escolas existentes, concentradas na formação de profissionais das respectivas carreiras, mas em que não havia um programa cultural amplo [...] (RIBEIRO, 1999, p.34).

Além disso, segundo Serpa (1999), é necessário considerar o fato de que Edgard Santos reconheceu

com acuidade surpreendente as características culturais e as demandas tecnológicas do Estado, o reitor Edgard Santos buscou dotá-lo de um espaço privilegiado onde as vocações históricas ou naturais da região pudessem florescer. Criou e estimulou o desenvolvimento de uma instituição de ensino superior em plena sintonia com as expectativas da sociedade baiana (SERPA, 1999, p.30).

29 Segundo Teixeira (1999) “[...] o ensino médico no Brasil floresceu primeiro na Bahia, como é

sabido. Resultou de um momento político. Pressionada por uma vontade maior, a Corte Portuguesa deslocou-se para o Brasil e em janeiro de 1808 aportou na Bahia [...]” (TEIXEIRA, 1999, p.58). No entanto, para facilitar o entendimento da memória da institucionalização do ensino médico, Teixeira propõe demarcá-la por períodos “[...] o primeiro começou com a Escola de Chirurgia da Bahia em 18 de fevereiro de 1808. Seguiu-se a organização da Academia Médico-Chirurgica em abril de 1813 (...) A Faculdade de Medicina surgiu em 3 de outubro de 1832 [...]” (TEIXEIRA, 1999, p.116-117).

30 Segundo Sampaio (1999) “[...] o curso de Arquitetura de Belas Artes só vai ganhar foro de

Faculdade independente em 1959, após separação imbricada na memória das lutas na UFBA [...]” (SAMPAIO, 1999, p.281).

31 Tendo sido antecedida pela fundação do Instituto Politécnico da Bahia, entre 1896 e 1897

No entanto,

[...] quando foi criada a Universidade, entre outras faculdades já existentes destacava-se, obviamente, a grandeza - em prestígio científico e social e em matriculas - da Faculdade de Medicina, da Faculdade de Direito, da Escola Politécnica [...] (SERPA, 1999, p.30).

Este patrimônio foi preservado e expandido através de

[...] ações convergentes e consistentes que efetivaram uma jovem universidade de vanguarda no Nordeste brasileiro (...) amalgama da tradição com a novidade lançou as bases da universalidade, da pluralidade e da diversidade do pensar e do fazer, que são a excelência de uma instituição superior de ensino e pesquisa [...] (SERPA, 1999, p.31).

E, Freyre, complementa, destacando a visão de “universidade” de Edgard Santos ao conceber a então Universidade da Bahia como sendo uma totalidade, um complexo, o que favoreceu o surgimento de “[...] uma universidade viva e orgânica [...]” (FREYRE, 1999, p.21), onde existia uma efetiva indissociabilidade32 entre o ensino, a pesquisa e a extensão, assegurando uma visibilidade social da Universidade, no âmbito local e nacional, e o prestigio político necessário para subsidiar a captação de recursos para a sua afirmação e crescimento (SERPA, 1998a, p.8).

A propósito, cabe observar que o sociólogo Simon Schwartzman (2004a) ao refletir sobre conceitos e modelos de qualidade no espaço universitário, resgata o histórico Relatório Flexer33 (1910) como exemplo da avaliação e do controle de qualidade, argumenta que o seu autor, o educador americano Abraham Flexner cometeu alguns equívocos:

o primeiro equívoco de Flexner foi o de pensar na universidade como um todo integrado e orgânico, unido pelos valores comuns da ciência, das artes e da cultura. A aparente unidade das universidades tradicionais residia mais em seu tamanho reduzido, e na origem aristocrática de seus professores e alunos, do que em uma efetiva integração do conhecimento e da educação. As universidades modernas são gigantescas, juntam pessoas de todas as origens sociais e com maneiras muito diferentes de entender o que é a pesquisa, a educação, a cultura e as artes. Elas são, na expressão cunhada

32 Compartilhamos da opinião de Serpa, quando ele lembra que “[...] a indissociabilidade é inerente à

função acadêmica da instituição. Sendo a Universidade um centro de produção crítica do conhecimento e da cultura – a pesquisa – esta produção deve ocorrer inserida na sociedade e com a função social – a extensão – e, conseqüentemente, delas decorre a própria reprodução do conhecimento e da cultura – o ensino. Assim, em cada ato acadêmico, devem estar implicados esses três componentes” (SERPA, 1998, p.13).

33 Intitulado Medical Education in the United States and Canada, o impacto deste relatório foi

estrondoso. Após avaliar o ensino médico nos Estados Unidos e Canadá, Flexner conclui que das cento e cinqüenta e cinco (155) faculdades existentes, cento e vinte (120) apresentavam condições lamentáveis de funcionamento. Ocasionando, nos anos que se seguiram, o fechamento de quase a totalidade das instituições apontadas como deficientes (SCHWARTZMAN, 2004a, p.1).

por Kerr, muito mais ‘multiversidades’ do que universidades no sentido tradicional (SCHWARTZMAN, 2004a, p.2).

Entendemos que, no caso da UFBA, a proposta bem sucedida de Edgard Santos é referência pioneira no tempo e no espaço. No entanto, no mundo contemporâneo, um sistema universitário, como lembra Serpa (1999, p. 30) e Kerr (KERR apud SCHWARTZMAN, 2004a, p.5) antes de mais nada, não pode ser concebido de forma isolada, isto é, separada do desempenho e das condições históricas reais da sociedade que o apóia. Ademais, “[...] a tendência à massificação do ensino superior é um fenômeno mundial [...]” (SCHWARTZMAN, 2004a, p.3) o que, inclusive, conduz à diversidade que se manifesta “[...] também na pluralidade de formatos organizacionais e institucionais [...]”(SCHWARTZMAN, 2004a, p.3).