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1. INTRODUÇÃO

1.3.1 Geertz e a “Descrição Densa”

A antropologia praticada por Geertz se caracteriza pela interpretação dos fenômenos sociais pelo pesquisador e pela apreensão do sentido dos fenômenos culturais. Quando se faz etnografia não se deve limitar a anotar fatos, mas deve-se também

buscar compreender o significado dos fenômenos analisados. Em uma cultura podemos encontrar uma infinidade de sinais com diversos significados e cabe ao pesquisador interpretar estes sinais com a finalidade de compreendê-los dentro do contexto apresentado.

Geertz defende um conceito de cultura com base na semiótica, ou seja, para ele

[...] o homem é um animal amarrado a teias de significados que ele mesmo teceu, assumo a cultura como sendo essas teias e a sua análise; portanto, não como uma ciência experimental em busca de leis, mas como uma ciência interpretativa, a procura do significado. É justamente uma explicação que eu procuro, ao construir expressões sociais enigmáticas na sua superfície. (GEERTZ, 1989, p.15).

E esta explicação mencionada acima é possível encontrar na interpretação das pessoas que fazem parte deste universo. A etnografia citada anteriormente deve ser feita com base na “descrição densa”, conceito de Gilbert Ryle (apud GEERTZ, 1989), que trata da busca das estruturas, que dão sentido à significação e assim, encontrar sua base social. O trabalho etnográfico está em coletar inicialmente, informações e dados para, em um segundo momento, encontrar sob as diversas estruturas complexas existentes os significados, que estão subjacentes a estas estruturas.

Para Geertz a cultura não deve ser reificada, imaginada como detentora de uma força própria, nem tampouco deve ser reduzida a meros comportamentos observados. Para a antropologia cognitiva, a cultura compõe-se de estruturas psicológicas que norteiam os comportamentos individuais. A cultura não pode ser analisada com base em métodos formais, que podem levar a erros de análise. Deve sim, ser compreendida como “estruturas de significado socialmente estabelecidas” (op.cit., p.23), não como um fenômeno psicológico, mas como algo mais profundo que deve ser observado dentro de seu universo para depois ser devidamente interpretado.

A antropologia deve favorecer a interlocução entre as pessoas no sentido de buscar a possibilidade de um se comunicar com o outro.

Como sistemas entrelaçados de signos interpretáveis [...] a cultura não é um poder, algo ao qual podem ser atribuídos casualmente os acontecimentos sociais, os comportamentos, as instituições ou os

processos; ela é um contexto, algo dentro do qual eles podem ser descritos de forma inteligível – isto é, descritos com densidade. (op.cit., p.24).

Devemos buscar compreender a cultura alheia dentro de sua particularidade, em uma “análise êmica”, ou seja, em uma interpretação de dentro desta outra cultura. Assim, o seu resultado, os textos antropológicos resultantes, são interpretações de uma realidade, e não são, portanto, uma realidade propriamente dita. São, deste modo, ficções, como algo que foi construído.

Para que um sistema cultural possa ser denominado como um sistema, ele deve ser coerente sem, contudo, apresentar uma construção formal e perfeita, pois seria inverossímil, uma vez que dificilmente encontraríamos algum com esta característica de perfeição. A descrição etnográfica interpreta o fluxo do discurso social e procura uma forma de mantê-lo fixo para que seja possível depois, analisá-lo, uma vez que se trata de uma descrição microscópica. O grande problema de se trabalhar com essa redução é tomá-la pelo todo. Deve-se compreender que

As ações sociais são comentários a respeito de mais do que elas mesmas; de que, de onde vem uma interpretação não determina para onde ela poderá ser impelida a ir. Fatos pequenos podem relacionar-se a grandes temas, as piscadelas à epistemologia, ou incursões aos carneiros à revolução, porque eles são levados a isso. (GEERTZ, 1989, p.34).

Quando nos referimos à interpretação, percebemos a dificuldade de aceitar o seu uso como base teórica de análise, pois é possível incorrer no etnocentrismo no momento em que se apreende esta interpretação. Outro fato que dificulta a teorização se refere à antropologia como uma ciência que faz uso da abstração. Cria-se uma tensão constante entre a necessidade de entrar em um universo que não é conhecido, um universo de ação simbólica, e a necessidade de analisar teoricamente. Assim, Geertz define a primeira condição para a teoria cultural. Ela não pode ser dona de si, pois não há como se desvincular das descrições minuciosas que tornam possíveis as generalizações. A segunda condição é que não é profética, quer dizer, a teoria cultura não é antecipatória, mas deve sobreviver às realidades vindouras. Ou seja, a base teórica deve se manter para analisar os diversos fenômenos sociais que surgem. “Não é apenas a interpretação que refaz todo o caminho até o nível observacional imediato: o mesmo acontece com a teoria da qual depende conceptualmente tal interpretação”

(GEERTZ, 1989, p.38). A cada aprofundamento na análise cultural, mais incompleta ela se torna. A antropologia interpretativa tem esta característica de não buscar a perfeição de consenso.

Para não correr o risco de ser julgado pela perda de objetividade teórica, Geertz sugere manter a análise das formas simbólicas o mais próxima dos acontecimentos sociais com a devida organização com as teorias e interpretações. Não devemos nos deixar levar somente pela intuição e devemos nos relacionar constantemente às necessidades biológicas e físicas, para que a análise não caia na abstração.

Temos conhecimento das críticas aos estudos de Geertz como Levi (BURKE, 1992) que considera a “descrição densa” como uma análise que busca significados e importância a aspectos que não deveriam ser considerados tão relevantes. Critica igualmente a subjetividade deste tipo de análise, em que as interpretações do observador podem levar ao distanciamento da objetividade e neutralidade necessária a um discurso teórico. Teoria esta que, aliás, também é vista por Levi como que Geertz negasse a importância da teoria em seus estudos, como se fossem conceitos e sistema muito gerais que só têm significado para o meio acadêmico.