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CAPÍTULO III: SANGUE DE COCA-COLA: ANÁLISE DO ROMANCE DE

3.2. A estética do carnaval: comentários analíticos de três núcleos narrativos

3.2.3. O General Presidente do Brasil

Vimos, portanto, dois discursos reprimidos e castrados de liberdade de expressão: o do Homem do Sapato Amarelo e do Camaleão Amarelo. Ao lado dessas vozes sociais assustadas com o contexto ditatorial, está o discurso repressor do General Presidente do Brasil. O núcleo narrativo que apresenta o General como protagonista já inicia com a demonstração da autoridade do personagem, em meio a seu delírio. Com febre de quase 40º graus, o General aponta o revolver para a Borboleta Verde que voa em seu quarto, mas ela, como em todas as outras personagens, reaviva velhas lembranças. Ao seu lado, está sempre o Cavalo Albany Andrews, o guarda-costas que, aproveitando o delírio do General, pretende dá-lhe um golpe, anunciado desde o início do núcleo narrativo:

Ah, inocente! Tu, que sempre espionaste os teus próprios sonhos, ditador de ti mesmo que és, tu que espionaste os sonhos alheios, como chefe do SNI, tu não sabes, ingênuo, que estás sendo espionado. Costumas dizer que conheces os homens pelo avesso, mas nada sabes da trama que é feita contra ti, nem sabes do papel que nela desempenha o Cavalo Albany, esse Cavalo Albany que te levou a um rosário de frases infelizes, essas frases infelizes que te transformaram em uma anedota que anda de boca em boca no Brasil e fazem até as crianças rirem de ti, esse Cavalo Albany que te levou a dizer, num momento de fraqueza:

- Quanto mais conheço os homens, mais admiro os cavalos... (DRUMMOND, 2004, p. 26)

A narrativa adianta alguns fatos futuros do general ainda no início de seu núcleo narrativo. O golpe dado pelo Cavalo Albany já é anunciado na primeira referência ao protagonista, o que revela uma expectativa no leitor durante todo o relato delirante do General Presidente do Brasil. A narração ulterior não aparece apenas neste primeiro momento, mas é recorrente no núcleo narrativo, relembrando ao leitor do golpe que será dado. Leitor de Maquiavel, o Cavalo Albany, muito tímido no núcleo narrativo do General, vai articulando os planos para o golpe futuro. É ele quem alimenta, durante toda a narrativa, o delírio do General Presidente. O personagem que é de extrema importância na narrativa acaba sendo secundário no início do romance, o que é modificado depois da traição ao General.

Mesmo sem uma referência definida a um determinado ser real, o Cavalo Albany lembra a figura do General Presidente João Baptista Figueiredo, relatado como alguém grosseiro pelo General Octávio Costa: “Oficial da cavalaria ou é um cavalheiro ou um cavalo”14. Figueiredo ficou conhecido, então, pela sua paixão por cavalos. No primeiro discurso, o traidor Cavalo Albany, fala algo que lembra uma citação do ex-presidente. Ao dizer “eu venho vos dizer que não descansarei enquanto não transformar o Brasil no berço da democracia e da liberdade” (DRUMMOND, 2004, p. 309), podemos perceber uma semelhança de tal sentença com a frase proferida no dia da posse do real ditador: “Juro que farei deste país uma democracia” e depois “Quem for contra a abertura democrática, eu prendo e arrebento”15.

A identidade de General Presidente tende a evidenciar uma seriedade e uma autoridade comuns a um ditador. No entanto, a construção irreverente da figura do ditador provém, exatamente, dessa quebra com a seriedade e a autoridade, para uma loucura e autoridade alucinada, como acontece no momento em que vê a borboleta verde voando em seu quarto. O protagonista é transposto como alguém confuso e insano, que não tem consciência crítica, nem poder sobre a situação do país. Ao se encontrar, portanto, em um estado de alucinação, o General Presidente do Brasil vai adquirindo a personalidade de cada ditador brasileiro. Encarnando a figura de todos os Generais, o Presidente considera-se uma autoridade acima de todas as outras e por isso grita exigindo que se cumpra seu desejo:

- Entregue-se à prisão! Sabes com quem estás falando, borboleta corrupta e subversiva? Eu sou o general Humberto Arthur Emílio de Garrastazu e Geisel de Figueiredo e exijo respeito. (DRUMMOND, 2004, p. 27).

Ele é, portanto, a união de todos os generais-presidentes que já passaram no regime militar brasileiro. Neurótico, persegue seres comuns, decretando-lhe prisão e enquadrando-os em Atos Institucionais. Assustado com o que lhe possa acontecer nesse 1ª de abril, dia da Revolução da Alegria, prevista pela vidente Madame Janete, o General está aprisionado em seu quarto em um delírio que o leva à loucura total. O delírio lhe faz tomar formas de militares, militantes e de personagens carnavalescos, como o Pierrot. A cada momento, ele se transforma em um General Presidente diferente, com as características próprias de cada um, ou na união de todos eles, como vimos na citação anterior.

14 Coleção Caros Amigos, 2007, p. 121 15 Coleção Caros Amigos, 2007, p. 363

Além de sua perseguição à Borboleta Verde, o ditador insiste em prender o Bem-Te- Vi que canta na árvore ao lado de seu quarto. Ele sente no canto do Bem-Te-Vi uma espécie de julgamento, como se houvesse cometido um crime e tivesse sido pego em flagrante, como relata o narrador. O Bem-Te-Vi pássaro já traz em sua denominação uma expressão que é de julgamento. E se no início do núcleo a paranoia com o Bem-Te-Vi parece-nos loucura, mais adiante vemos o pássaro transformar-se na consciência do próprio General:

- Bem-Te-Vi! Bem-Te-Vi!

- Filho da mãe! Se não fosse a abertura política, você ia ver, vagabundo!

Bem-Te-Vi quando cedias às multinacionais: te ajoelhavas diante da Volkswagen, abaixavas tua cabeça perante a Ford, falavas em voz baixa, como diante de Deus, diante da General Motors e abaixavas mais a voz e parecias contar teus pecados à Dow Chemical, e, depois, Bem-Te-Vi arrependido, dando a ti mesmo a penitência de leres poemas de Olavo Bilac: repetias mil vezes, como uma criança de grupo que cometeu um pequeno delito, o trecho “Criança, ama com fé e orgulho a terra em que nasceste, não verás nenhum país com este”.

- Bem-Te-Vi! Bem-Te-Vi!

- Palhaço! Você tem a sorte de ter aparecido para me azucrinar, numa fase de abertura. Palhaço!

Bem-Te-Vi cabisbaixo, andando como um sonâmbulo ou um louco: repetias mil vezes: “Não verás nenhum país como este!” (DRUMMOND, 2004, p. 92-93)

Repetidas vezes o General se coloca como ditador de si mesmo, o que o aproxima, mesmo com um discurso tão adverso, às personagens Homem do Sapato Amarelo e Camaleão Amarelo. Sua repressão iniciou-se em seus próprios sonhos, ordenando a si mesmo e controlando seus sentimentos como o seu próprio ditador. Quando se tornou General- Presidente, passou a controlar não somente a si, mas o pensamento e atitudes dos outros.

O poder das multinacionais além de escravizar o Brasil, domina também o General. Adepto às orações para a Santa Coca-Cola, o Presidente depende do poder das multinacionais no país para a construção do seu “Milagre Brasileiro”. Em uma crítica incisiva à essa política de contribuição do poder americano no Brasil, o General alucinado percebe a perda de sua autonomia e a garantia de poder ilimitado às multinacionais, a quem sempre cedeu. Não só ele é aprisionado pela Coca-Cola, nos núcleos narrativos de Julie Joy e do Camaleão Amarelo há a confirmação do domínio das multinacionais, sobretudo, da Coca-Cola, símbolo da intervenção americana no Brasil. Assim como Julie Joy, o General Presidente entrega sua alma para a Santa Coca-Cola, para quem reza no momento de desespero.

O contraponto entre os discursos do Homem do Sapato Amarelo, do Camaleão Amarelo e do General Presidente do Brasil corrobora o diálogo entre discursos distintos no romance. Há sempre um conflito de vozes sociais que estão em tensão, seja no universo artístico, seja na configuração social. Segundo Bakhtin (2010a, p. 30), “nesse universo social os planos não são etapas, mas estâncias, e as relações contraditórias entre eles não são um caminho ascendente ou descendente do indivíduo, mas um estado da sociedade”. Portanto, os planos das personagens evidenciam mundos distintos, o que colabora no conflito de vozes entre elas. Mesmo em lugares sociais distintos, um como repressor e os outro como reprimido, há um ponto em comum entre esses discursos, que é o fato de os três apresentarem na autoconsciência um campo repressivo.

A consciência ditadora do General aponta para um julgamento, evidenciado não apenas pelo Bem-Te-Vi, mas pelo próprio narrador. Esse narrador apesar de apresentar uma onisciência, não está em 3ª pessoa. A trama é narrada em 2ª pessoa, como uma voz que fala diretamente com o protagonista ou é como se sua própria consciência dialogasse com ele mesmo, assim como acontece com a expressão “Bem-Te-Vi”. É interessante observar que além de conhecer desejos, pensamentos e sentimentos do protagonista, o que nos faria crer em um narrador-consciência, o narrador ainda conhece o que está para acontecer, como o golpe anunciado desde o início do núcleo narrativo, e por isso o consideramos uma outra voz ao lado da voz do protagonista. Vejamos a seguinte passagem:

Bem-Te-Vi guardando teu revólver 38, Bem-Te-Vi, no delírio da tua febre, considerando que a opinião das crianças do Brasil, que serão os homens de amanhã, sim, te importa. E, com um samba do cantor Blecaut cantando na tua lembrança, tu chamas o teu General do SNI e ordenas:

- General, preciso que o SNI fique de olho nesse Bem-Te-Vi. Não quero que o prendam, nem matem, mas que o SNI fique de olho nele...

Num canto do salão cheio de confete e serpentina, quando o baile acaba, tu dizes no ouvido de Uiara:

- Queres saber de uma coisa, Uiara? Esse Bem-Te-Vi é a minha consciência doendo... (DRUMMOND, 2004, p. 95)

Quanto a esse diálogo direto entre o narrador e o protagonista, é interessante observar que não há uma relação hierárquica de vozes. Esse diálogo não hierarquizado configura um elemento polifônico, em que as vozes apresentam independência de pontos de vista e de consciência plenas. O narrador participa do núcleo como um personagem que julga e dialoga igualitariamente com o protagonista do núcleo narrativo. Ambas as vozes, a do general e a do narrador, apresentam um ponto de vista particular sobre o mundo, com um discurso e uma consciência plena. Estaríamos, segundo a concepção de Bakhtin (2010a), diante de um

exemplo de autêntica polifonia. Dessa forma, mesmo que o romance, em sua totalidade, não apresente todos os elementos dessa polifonia plena, por faltar o diálogo equipolente com o narrador e, portanto, fazendo-nos admitir um caráter polifônico, mas não propriamente a polifonia, o núcleo narrativo do general presidente que estamos analisando apresenta a autêntica polifonia, de acordo com a perspectiva bakhtiniana.

Devido ao delírio do General, o tempo da narrativa oscila dentro do período de ditadura militar, assim como sua própria identificação. O General está sempre em transformação, nunca é ele mesmo, não há um só nome que o identifica. Em alguns momentos, ele se transforma no Incrível Médici, o Milagreiro, e relembra do seu milagre, como se fosse indispensável na vida de todo brasileiro:

Agora, nesse teu delírio, esse teu delírio que te transforma no Incrível Médici, o Milagreiro, escutas tua própria voz de galã de radionovela e, então, tu descobres que não estás vivendo neste 1ª de abril, vives, isso sim, no passado: estás no esplendor do Milagre Brasileiro, que consideras uma obra da tua infinita graça e da tua misericórdia pelo povo do Brasil. [...] Depois de teres transformado um anão subdesenvolvido num gigante desenvolvido: fala que fizeste chover na região de Quixeramobim, no Ceará. (DRUMMOND, 2004, p. 54).

Considera-se, realmente, um santo milagreiro e persegue outros que tentem se sobrepor a sua santidade, como o Padre Cícero Romão ou o Menino Jesus de Praga. A proposta do “Milagre Brasileiro” é satirizada, assim como o próprio Brasil, considerado anão. A sátira, portanto, parte do real para um exagero ficcionalizado. Em outros momentos, a narração demonstra o período final da ditadura, com a abertura política e a referência ao General Figueiredo e sua paixão por cavalos.

Aproveitando aspectos surreais, como a perseguição a seres comuns como uma borboleta, um Bem-Te-Vi ou até mesmo alguns santos populares, o narrador insere acontecimentos reais:

E logo, o general Antonio Bandeira fez saber a todas as redações que, de ordem superior, até posterior deliberação, fica proibida a difusão da notícia, comentário, referência, promoção ou qualquer outro tipo de matéria através de rádio, televisão, jornal, revistas e outras publicações sobre o padre Cícero Romão, o Menino Jesus de Praga, o arcebispo de Olinda e Recife, Dom Helder Câmara, e sobre a peça Calabar, de Chico Buarque de Holanda e Ruy Guerra. (DRUMMOND, 2004, p. 55).

O discurso do General é absurdamente autoritário e exagerado, aspecto típico da carnavalização. No entanto, observa-se algumas referências, que apesar de absurdas, são

verdadeiras no universo discursivo, como a proibição da referência ao nome de Dom Hélder e da peça Calabar. Os elementos ficcionais e reais estão diluídos em um mesmo delírio e contribui para o caráter exagerado, porém verossímil, dos decretos ditatoriais do general. Os atos do general, portanto, demonstram um destronamento da figura séria do ditador, mas apresentam elementos reais que são excessivos no próprio contexto sócio-político da época.

O General Presidente do Brasil é, portanto, uma personagem carnavalizada, por não apresentar a seriedade comum a um general ditador e exibir em suas características elementos de uma cosmovisão carnavalizada: o exagero, as metamorfoses, o delírio, a variação do cronotopo da narração. O humor é proveniente desses aspectos de carnavalização, sobretudo do destronamento da figura política máxima do período e seu poder sobre a situação ditatorial brasileira. Sem uma personalidade marcante, o Presidente é inconsequente e alucinado, caráter invertido à personalidade autoritária e ordenadora. A autoridade que emprega é banalizada nos seres pelo qual persegue: uma borboleta, um Bem-Te-Vi e alguns santos.

Terminada a primeira parte introdutória do romance, em que a personagem nos é apresentada, os momentos seguintes, “A pausa que refresca”, trazem um aspecto curioso do delírio: alguns guerrilheiros torturados e mortos pela ditadura chegam ao quarto do presidente e iniciam seções de torturas, transformando-o por alguns momentos em outros torturados, como por exemplo o Frei Tito, destronando efetivamente a figura do general presidente do Brasil, passando de repressor a reprimido. Aliás, é frequente observar essa constante mudança no presidente, que se encontra reprimido também por outras figuras, a exemplo da Coca-Cola e de outras multinacionais, como também por si mesmo, conforme anteriormente declarado.

Em constante mudança, o general, que por vezes transformava-se no Incrível Médici, O Milagreiro, começa a falar como um general mais brando, relatando até mesmo o desejo pela abertura política. Quando a guerrilheira morta avisa da vingança a todos os momentos de violenta repressão que houve no período de ditadura militar no Brasil, o general nos parece mais diplomático e comedido, quando comparado às gritarias autoritárias contra o Bem-Te-Vi ou a borboleta. O diálogo a seguir mostra o general em uma posição de refém, acuado e inocente, em relação à guerrilheira dos olhos verdes:

- Está vendo este chapéu aqui, general?

- Estou. Era o chapéu do meu pai. Quando meu pai foi pro exílio... - Está vendo estes papeizinhos dobrados aqui dentro do chapéu, general? - Estou...

-Agora, general, vamos fazer um jogo de cumbuca... - Como num sorteio de quermesse?

- E eu ganho alguma coisa? Ganho?

- Não, general. Em cada papelzinho dobrado está escrito uma tortura ou violência que foi feita a presos políticos desde que os militares assumiram o poder no Brasil. Pode não ser tortura: pode ser morte, exílio, tudo. O senhor tira o papel general, o que estiver escrito, terá que viver... (DRUMMOND, 2004, p. 148)

A partir de então, inicia uma trajetória psicológica, na qual o presidente transforma-se em vários militantes mortos pela ditadura do país. O General perde totalmente sua autoridade e adquire um jeito abobalhado de conformação com os desígnios dos seus torturadores: a guerrilheira, o homem sem cabeça e o homem de óculos escuros e algas nos cabelos. O primeiro homem foi um guerrilheiro do Araguaia que teve a cabeça cortada, o outro era o deputado Rubens Paiva16.

A primeira tortura sorteada foi “viver as tentações e torturas mentais que o demônio, disfarçado no delegado Sérgio Fleury, fez a Frei Tito em Paris...” (DRUMMOND, 2004, p. 177). Após assumir a identidade de Frei Tito, a personagem sente as torturas mentais de Fleury que assumiram total poder na consciência de Frei Tito17. Começa a considerar-se um cão e não se sente digno de entrar em qualquer lugar por ser um cão. Escolhe o local para suicidar-se, porque se acha um animal, como gritava para ele Fleury18 e não se considera digno de viver dentre homens. Na cabeça de Frei Tito, que é na verdade o general, Fleury assume o controle e tenta convence-lo a dizer uma palavra de amor ao governo brasileiro.

Depois de sua transformação em Frei Tito, o general tem uma crise de identidade, mais uma dentre as tantas que havia tido desde o início do romance. Ele não sabe qual general é: não sabe se é um ou todos. Chora como Médici, por ter assumido o poder enquanto Costa e Silva estava doente. Retorna a sua identidade de Frei Tito e na sucessão dos fatos, o

16 Rubens Paiva foi um deputado do Rio de Janeiro envolvido com a esquerda brasileira durante o regime militar.

Em 29 de Novembro de 1971 a casa do ex-deputado foi invadida e ele foi levado por militares da aeronáutica sem mandado de prisão. A justificativa para a prisão foi o possível envolvimento de Rubens Paiva com alguns exilados no Chile e com o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8). Depois da prisão, Rubens Paiva desapareceu.

Disponível em: <http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/POLITICA/465074-CAMARA-LANCA- BIOGRAFIA-PARLAMENTAR-DE-RUBENS-PAIVA.html>

17 Frei Tito de Alencar foi preso em 1968 durante um Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE). Em

1969 foi preso outra vez, acusado de colaborar com Marighella, sendo torturado durante três dias pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury no Dops. Em 1970 teve sua liberdade, sendo um dos trocados pelo embaixador suíço, sequestrado pelo grupo da Vanguarda Popular Revolucionária. Em 1971 foi morar na Itália e em seguida em Paris. Em 1974 suicidou-se na área do convento de Lyon.

Disponível em:< http://www.dominicanos.org.br/index.php/frei-tito >

18 Sérgio Paranhos Fleury foi delegado do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) entre 1969 e 1973.

Colaborou com a morte de Carlos Marighella em 1969 e com a morte de Carlos Lamarca em 1971. Disponível em: < http://www.terra.com.br/istoe-temp/1626/brasil/1626_historia_macabra.htm >

presidente vai assumindo novas identidades que faz o leitor desconhecer por completo quem realmente é o general. O seu amigo e confidente Cavalo Albany está ao seu lado, sempre esperando o momento certo para o golpe.

A segunda tortura que passou foi “viver os últimos minutos do capitão Carlos Lamarca19, no sertão da Bahia, escrevendo uma carta para a guerrilheira Iara Iavelberg20, sua amante” (DRUMMOND, 2004, p. 243). Assim, utilizando expressões carinhosas para se referir a Iara, como neguinha, o general transformado no capitão Carlos Lamarca escreve a carta de despedida, almejando a liberdade de uma sociedade democrática.

Ao acordar de mais esse sonho, o general ainda alucinado na figura do capitão Carlos Lamarca explica para o cavalo Albany acerca do fascismo militar que existe no Brasil. Torna- se defensor da guerrilha e tece um diálogo alucinado, acerca dos generais fascistas que são os governantes do Brasil. Todas essas formas de defender o terrorismo subversivo dos guerrilheiros, são contabilizadas para que o cavalo Albany tivesse argumentos suficientes para um novo golpe:

O coração do cavalo Albany se alegra: ele parece te ouvir com um prazer jamais sentido, mas isso faz parte da traição, só tu, ingênuo, não sabes. Inocente, tu segues falando: segues falando que o fascismo brasileiro, sempre camuflando a linguagem, mudando o significado das palavras, chamava de inimigos da pátria os adversários do regime militar. (DRUMMOND, 2004, p. 252).

Ainda como o capitão Carlos Lamarca, o general desejou assinar a Reforma Agrária no Brasil, último ato alucinado antes do golpe.

Quando transforma-se outra vez no Incrível Médici e vai à janela abençoar os soldados