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Geocartografia: relação intrínseca entre Geografia e Cartografia

O espaço escolar é o local onde a Geografia adquire contornos de componente curricular e por sua vez torna-se um objeto de ensino-aprendizagem. Nesse contexto, encontra-se o conhecimento cartográfico, que ora pode ser trabalhado como conteúdo específico, ora pode ser utilizado com recurso metodológico para representar e compreender outras temáticas.

De acordo com Martinelli (2016), há uma associação profunda entre a ciência geográfica e a Cartografia, pois é algo eminentemente cultural, já que quando pensamos em Geografia, nos remetemos a mapas. Dessa forma, segundo o autor, esses últimos representariam um elo com a Geografia.

Na verdade, Cartografia e Geografia, apesar de ciências independentes, possuem relação intrínseca e de colaboração mútua, como coloca com bastante propriedade Francischett (2001, p. 09):

A Cartografia constitui-se como a Geografia, em uma ciência autônoma. Ambas têm como base de análise o espaço e os objetos nele contidos, embora uma priorize a representação e a outra, a análise da produção e organização desse espaço.

Percebe-se que o ensino de Geografia pode encontrar importantes subsídios na Cartografia, sendo esta muito útil na tarefa de representar e localizar fenômenos geográficos.

Em conformidade com esta percepção, Pissinati; Archela (2007, p. 173), afirmam que:

A Cartografia vem auxiliar a Geografia no que diz respeito à comunicação sobre os eventos ocorridos [...], por meio da espacialização das informações, permitindo que essas sejam visualizadas no mapa. Enquanto a Geografia analisa a organização dos elementos físicos e biológicos no espaço, a Car- tografia pesquisa e averigua a disposição desses elementos.

Assim sendo, a Cartografia atua como ferramenta capaz de propiciar uma visão mais apurada do espaço, identificando e representando elementos presentes no mesmo. Nas palavras de Francischett (2007), a Cartografia possibilita pensar significativamente o conhecimento do espaço. De outro modo, pode-se dizer ainda que a Cartografia permite tornar perceptível e representável esse espaço descrito pela Geografia.

Não parece ser diferente o que está posto nas palavras de Souza; Katuta (2001, p. 60-61):

A linguagem cartográfica é, ao nosso ver, uma das que indubitavelmente devem ser utilizadas no ensino, pois representa a territorialidade dos diferentes fenômenos, razão de ser da própria ciência geográfica. Em outras palavras, é inconcebível ensinar, fazer entender a realidade do ponto de vista geográfico sem a utilização de mapas bem elaborados.

Seguindo a linha de raciocínio desses autores, constatamos que o próprio professor de Geografia e sua disciplina, sempre foram associados, pela maioria das pessoas, ao estudo de mapas. Para Castellar (2017), Geografia e Cartografia caminham juntas no processo de formação escolar, tendo em vista que a linguagem cartográfica é uma metodologia essencial para a ciência geográfica, pois permite ao aluno compreender observações abstratas por meio de representações concretas da realidade.

A palavra Geografia possui suas origens em tempos remotos, etimologicamente provém da combinação de dois radicais gregos “Geo” que advém da deusa Gea ou Gaia, a Terra, e “grafia” que significa escritura, descrição, desenho, símbolo em geral. Em síntese, a Geografia na antiguidade podia ser definida como a descrição da Terra (RAFFO, 2009).

Segundo Oliveira (1987, p. 239), a Geografia pode ser definida como “Ciência que estuda a distribuição dos fenômenos físicos, biológicos e humanos na superfície da Terra, as causas dessa distribuição e as relações locais de tais fenômenos”. Porém, foi somente a partir do século XIX, que a Geografia se estabeleceu como um conhecimento sistematizado (FRANCISCHETT, 2001). Em outras palavras, a Geografia passou a ser tratada como uma ciência.

A Geografia é tida como uma ciência social que se configura na interface entre o físico e o humano, que está engendrada na relação sociedade e natureza. É considerada a ciência que tem como objeto de estudo, o espaço geográfico, sendo este, fruto das ações antrópicas, considerado assim um produto histórico-social (GARCIA; MORAIS, 2014).

É relevante perceber que a compreensão mais clara acerca da chamada Geocartografia, está associada a ideia de como a ciência geográfica pode fazer uso dos recursos cartográficos para uma melhor análise e percepção do espaço. Processo esse que se mostra com maior ênfase no ensino-aprendizagem da Geografia escolar.

Nas palavras de Callai (2013, p. 17):

[...] a Geografia escolar deve desenvolver um pensamento espacial que se traduz em: olhar o mundo para compreender a nossa história e a nossa vida. Este olhar o mundo diz da especificidade de nossa disciplina que tem o conceito de espaço como foco principal. O espaço é o objeto de estudo da ciência geográfica e é sobre ele que as análises da mesma devem estar debruçadas.

Essa análise espacial, a partir da Geografia, perpassa vários elementos, tais como o estudo da relação homem-natureza, fatores políticos, econômicos e naturais, que são responsáveis pela produção e alteração do espaço. O que se busca nesse sentido é, através dessa análise, promover uma educação geográfica.

A educação geográfica caracteriza-se, então, pela intenção de tornar significativos os conteúdos para a compreensão da espacialidade, e isso pode acontecer por meio da análise geográfica, que exige o desenvolvimento de raciocínios espaciais. Este é o caminho estabelecido para analisar, entender e buscar explicações para o que acontece no mundo, para os problemas que a sociedade apresenta (CALLAI, 2013, p. 44).

O fato de tornar significativos os conteúdos analisados, implica em fazer com que o conhecimento tenha valor, enfim, seja reconhecido como um objeto de importância para a realidade de quem o analisa, conforme explica Cavalcanti (2007, p. 71): “Aprendizagem significativa é o resultado da construção própria de conhecimento. É a apropriação de um conteúdo de ensino pelo sujeito, o que implica uma elaboração pessoal do objeto de conhecimento”.

A Geografia busca analisar o espaço e as diversas dinâmicas sociais, econômicas, políticas e naturais que se desenvolvem sobre o mesmo, e que, uma educação geográfica visa atribuir significado a essas dinâmicas, fazendo com que as mesmas figurem no entendimento de quem as analisa.

A análise espacial é passível de representação, função essa delegada a Cartografia, que tem o objetivo de tornar o espaço, algo representável num plano, destacando fenômenos e elementos geográficos. Em outras palavras, a Geografia é a ciência que possibilita a leitura do espaço e o saber cartográfico fortalece ou torna mais concreta essa percepção da realidade. Para Castellar (2017, p. 211), “[...] ler em Geografia significa criar condições para aguçar a observação, estabelecer conexões entre os elementos da paisagem e entender os lugares de vivência, logo, ler o mundo [...]”. Depreende-se então, que essa leitura de mundo pode ser fomentada a partir da representação do espaço em análise.

Nas palavras de Almeida (2003, p. 13), “[...] os mapas expressam ideias sobre o mundo, criados por diversas culturas em épocas diferentes”. Assim sendo, percebe- se que os fenômenos espaciais, objetos de estudo da ciência geográfica, sempre foram alvo de uma representação cartográfica, esta por sua vez, muitas vezes definida a partir da visão de mundo vigente em um determinado contexto ou período. O que se coloca portanto, é que a análise geográfica, para que seja mais robusta e eficaz, geralmente deve ser acrescida de uma representação espacial.

No dizer de Passini (2011, p. 148): “O ensino de Geografia e o de Cartografia são indissociáveis e complementares: a primeira é conteúdo e a outra é forma. Não há possibilidade de se estudar o espaço sem representa-lo, assim como não podemos representar um espaço vazio de informações”. A autora coloca com bastante propriedade que não há como dissociar um ciência da outra, tendo em vista que cada uma delas tem importância relevante na compreensão do espaço.

O processo de representação cartográfica tem como marco inicial o levantamento de informações da área a ser mapeada. A partir das ideias propostas por Muehrcke (1981), disponível em Simielli (2010), depreende-se que esse levantamento resulta em uma informação geográfica que pode ser reconhecida; a partir dessa informação, passa-se a elaboração do produto cartográfico (mapa); este por sua vez, será passível de uma análise ou leitura, conforme representado na Figura 2:

Figura 2. Representação cartográfica a partir de uma realidade geográfica, marcada por transformações.

Fonte: Adaptado de Muehrcke (1981, apud Simielli, 2010, p. 74).

Denota-se que o elo entre a ciência geográfica e a Cartografia fica evidenciado por meio de uma troca de saberes, onde esta última, a partir da coleta de dados de um “mundo real”, transforma esses dados em informações, passando então a simbolizar e convencionar essas informações em uma representação do espaço. Por fim, o espaço representado passa a ser alvo de uma interpretação geográfica.

No processo de ensino-aprendizagem promovido em um ambiente escolar, essa relação indissociável entre Geografia e Cartografia, é ainda mais perceptível, principalmente no que diz respeito ao estudo dos fenômenos geográficos e suas representações por meio de mapas. Porém, essa relação vai além do fato de representar elementos e permitir que os mesmos sejam lidos. A linguagem cartográfica assume um papel de suma importância no ensino de Geografia, ao contribuir não apenas para que os alunos saibam compreender mapas, mas para que também possa desenvolver nos mesmos, capacidades cognitivas inerentes a representação do espaço (FRANCISCHETT, 2007).

Corroborando com essa argumentação, Castellar (2017, p. 123), afirma que “Ensinar e ler em Geografia significa criar condições para que a criança leia o espaço vivido, utilizando-se da Cartografia como linguagem, efetivando-se o letramento geográfico”. Entende-se assim, que a Geografia e a Cartografia caminham pari passu no processo de ensino-aprendizagem da abordagem espacial, já que não deve existir fenômeno geográfico desprovido de representação cartográfica, nem tão pouco, representações órfãs de uma análise por parte da Geografia.

Meio ambiente geográfico MAPA Censo. Levantamento de base. Sensoriamento remoto. Compilação. Seleção. Classificação. Simplificação. Simbolização. Leitura. Análise. Interpretação. Informação geográfica reconhecida Imagem do Mapa

CAPÍTULO 2

BASES CARTOGRÁFICAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES