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4. FUNDAMENTOS TEÓRICOS

4.5 Gerenciamento de resíduos de serviços de saúde

O gerenciamento de resíduos de serviços de saúde constitui-se de planejamento e da implementação do sistema de gestão, com o objetivo de minimizar a geração de resíduos e proporcionar adequações seguras que visem à proteção da saúde do trabalhador, a preservação da saúde pública, dos recursos naturais e do meio ambiente.

O sistema de gerenciamento de resíduos de serviços de saúde no Brasil é constituído por duas etapas: uma que ocorre dentro do estabelecimento de saúde, que constitui o sistema interno de gerenciamento, definido pelas etapas que estão exclusivamente sob responsabilidade do serviço de saúde, e a outra que geralmente ocorre fora do estabelecimento de saúde, constituindo o gerenciamento externo dos resíduos.

Mesmo na etapa extra estabelecimento, o gerador também terá responsabilidade pelo gerenciamento dos resíduos, desde a geração até a disposição final. Isso significa que a gestão dos procedimentos realizados por outra empresa também é de responsabilidade do gerador, o que amplia os cuidados, controle e a necessidade de uma gestão eficiente por parte dos estabelecimentos de saúde (RAMALHO; NAIME, 2007)

A Resolução nº 306/04 da ANVISA em seu Capítulo III, define o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde como:

um conjunto de procedimentos de gestão, planejados e implementados a partir de bases científicas e técnicas, normativas e legais, com o objetivo de minimizar a produção de resíduos e proporcionar aos resíduos gerados, um encaminhamento seguro, de forma eficiente, visando à proteção dos trabalhadores, a preservação da saúde pública, dos recursos naturais e do meio ambiente (BRASIL, 2004, p. ).

Para Risso (1993) o gerenciamento é tido como um instrumento capaz de minimizar ou até mesmo de impedir os efeitos adversos causados pelos RSS, do ponto de vista sanitário, ambiental e ocupacional, sempre que realizado racional e adequadamente.

Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS, 1997) o gerenciamento adequado dos resíduos contribui para não somente controlar e diminuir os riscos à saúde e ao meio ambiente, mas também, alcançar a minimização dos resíduos desde o ponto de sua geração, o que elevaria também a qualidade e a eficiência dos serviços ofertados pelo estabelecimento de saúde.

Atualmente vigentes no Brasil, existem duas legislações que versam sobre o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde: a RDC nº 306/04 da ANVISA, que dispõe sobre o regulamento técnico para o manejo de RSS, abordando o gerenciamento sobre os aspectos dos riscos e fiscalização dos serviços de saúde, e a Resolução nº 358/05 do CONAMA, que dispõe sobre o tratamento e disposição final dos RSS, com vistas a preservar a saúde pública, os recursos naturais e o meio ambiente. Essas resoluções estabelecem importantes instrumentos para controle, fiscalização e planejamento das ações do gerenciamento de RSS.

4.5.1 Instrumentos de Gestão de RSS

A gestão prevista dos RSS é estabelecida pela Resolução nº 358/05 do CONAMA e complementada pela RDC nº 306/04 da ANVISA, mediante os seguintes instrumentos: o Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde; o Licenciamento Ambiental; e a Declaração Anual referente ao ano anterior (BRASIL, 2004, 2005). Alguns instrumentos da PNRS são aplicáveis à atuação e condução da gestão dos RSS, tais como a coleta seletiva, a logística reversa, a educação ambiental e os planos de resíduos sólidos.

PGRSS

O Plano é um instrumento de gestão ambiental, ocupacional e de saúde pública que visa o planejamento das atividades dos recursos físicos e materiais e da capacitação dos recursos humanos envolvidos no manejo dos RSS. Nesse sentido, baseado nas características dos resíduos gerados e na sua classificação, todo gerador deve elaborar um Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde (PGRSS) estabelecendo as diretrizes do manejo dos resíduos de serviços de saúde (BRASIL, 2004, 2005). O Plano deve ser elaborado levando em consideração a realidade de cada estabelecimento de saúde, o que tornará possível o gerenciamento determinando as etapas desde a geração até a disposição final.

Quanto à presença de PGRSS, Nóbrega, Pimentel e Costa (2008) constataram em um estudo para avaliar o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde em 29 hospitais de João Pessoa - Paraíba, que a maioria (90%) dos hospitais possuía o PGRSS, porém na prática do gerenciamento, não foi verificado interesse em seguir o Plano, principalmente quanto às

questões de capacitação. As principais dificuldades encontradas para a implementação do Plano foram a conscientização dos profissionais, os encargos financeiros e as mudanças em aspectos físicos.

A elaboração, implantação e implementação do PGRSS caberá ao responsável pelo estabelecimento gerador de RSS. O PGRSS deve ser elaborado por profissional de nível superior, habilitado pelo seu conselho de classe, apresentando Anotação de Responsabilidade Técnica (ART), Certificado de Responsabilidade Técnica, ou documento similar (BRASIL, 2005).

Para Teixeira e Carvalho (2005) o profissional indicado para responder pelo gerenciamento de resíduos deve ser de nível superior e deverá se responsabilizar por cumprir e fazer cumprir o que for definido no plano.

No estudo realizado por Nóbrega, Pimentel e Costa (2008) houve uma incidência de enfermeiros e profissionais com cargo administrativo responsáveis pelo gerenciamento de RSS. Os autores encontraram, na prática, profissionais das mais diversas áreas gerindo o PGRSS como engenheiros, médicos, enfermeiros, administradores e até mesmo pessoas que não possuíam formação em nível superior. Para os autores, faz-se necessário que o PGRSS seja elaborado por profissionais habilitados que tenham conhecimento sobre os procedimentos do hospital, a fim de que o PGRSS não seja algo abstrato e inexecutável à realidade hospitalar.

Além disso, cabe ao responsável pelo estabelecimento de saúde, disponibilizar o PGRSS para os órgãos ambientais e sanitários, dentro de suas respectivas competências.

Assim, é necessário que as secretarias de saúde e de meio ambiente oriente e monitore a elaboração do Plano e fiscalize a sua implementação, a fim de garantir uma eficiente implementação, a segurança dos funcionários e a preservação ambiental (ZAMONER, 2008; OLIVEIRA et al., 2013).

Portanto, não basta apenas elaborar, implantar e implementar o PGRSS. É necessário um acompanhamento tanto por parte dos estabelecimentos de saúde, com análises periódicas e monitoramento constantes, como por órgãos do Poder Público, a fim de fiscalizar o seu conteúdo e a efetividade do cumprimento de suas diretrizes e ações.

Aduan et al. (2014) ressaltam que cabe a esses órgãos, além de controlar e fiscalizar, promover o desenvolvimento de práticas sustentáveis e de conscientização que resultem na minimização de gastos com tratamento e que possibilitem a redução de custos com a disposição final.

Maranhão, Souza e Teixeira (2013) constataram que o PGRSS implantado em uma Organização Militar da Marinha do Brasil, no Rio de Janeiro, evitou problemas ambientais e atendeu as exigências legais, pois gerou aumento de vida útil do aterro sanitário, em função da correta separação e destinação final dos resíduos gerados.

Estudo realizado por Ricther et al. (2012) no Rio Grande do Sul constatou que em todos os hospitais analisados, o PGRSS estava atualizado e em funcionamento, assegurando o desenvolvimento das etapas de segregação, acondicionamento, coleta, armazenamento, transporte, tratamento e disposição final dos RSS. No entanto, os autores identificaram algumas dificuldades enfrentadas pelos responsáveis por sua aplicação, como: baixa participação dos médicos em nas capacitações; rotatividade do quadro de funcionários; problemas diante da rotatividade de funcionários; ausência de tempo dos responsáveis da comissão para tratar dos assuntos relacionados à gestão ambiental.

Declaração Anual referente ao ano anterior

Como um instrumento de controle das determinações previstas na Resolução nº 358/05 do CONAMA, em seu art. 6º, ela determina que os geradores devem apresentar, até o dia 31 de março de cada ano, declaração referente ao ano civil anterior, relatando o cumprimento previsto na Resolução, podendo, no entanto, ser dispensada em caso de estabelecimento de pequeno porte.

Essa declaração deve ser subscrita pelo administrador principal e pelo responsável técnico devidamente habilitado, acompanhado da respectiva ART, exigida pela Resolução.

Licenciamento Ambiental

A fim de prevenir que os empreendimentos e atividades que utilizam recursos ambientais possam provocar a poluição do meio ambiente faz-se necessário uma avaliação prévia para que sejam estabelecidas medidas e condicionantes que deverão ser adotadas para a minimização dos impactos.

Assim, a Lei Federal nº 6.938/81 instituiu o Licenciamento Ambiental (LA), que é definido pela Resolução nº 237/97 do CONAMA como:

procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais , consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental (BRASIL, 1997, p. 01).

Para Agra Filho (2014) o LA compreende um processo sistemático de avaliação prévia de empreendimentos ou atividades capazes de provocar degradação ambiental nas fases de planejamento, implantação, operação e ampliação e quando couber a sua desativação. Este procedimento tem por objetivo assegurar as diretrizes e medidas de prevenção aos impactos ambientais.

Nesse sentido, a Resolução nº 237/97 do CONAMA estabeleceu as seguintes licenças: I - Licença Prévia (LP) – visa aprovar a localização e concepção de empreendimento ou atividade e por isso deve ser concedida previamente, na fase preliminar do planejamento. Por meio dela, atesta-se a viabilidade ambiental e estabelece-se os requisitos básicos e condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de sua implementação;

II - Licença de Instalação (LI) - autoriza a instalação do empreendimento ou atividade de acordo com as especificações constantes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental e demais condicionantes, da qual constituem motivo determinante;

III - Licença de Operação (LO) – concedida após a verificação do efetivo cumprimento do que consta nas licenças anteriores, levando em consideração as medidas de controle ambiental e condicionantes determinados. Autoriza a operação da atividade ou empreendimento (BRASIL, 1997).

Com o intuito de conhecer o panorama do gerenciamento dos resíduos e serviços de saúde do gerenciamento, alguns estudos foram selecionados, apontando as principais limitações e características do gerenciamento. A seguir serão apresentados os principais achados.