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4. FUNDAMENTOS TEÓRICOS

4.4 Gestão de resíduos de serviços de saúde

A gestão dos serviços de saúde, no que se refere à questão dos RSS, diz respeito às decisões, ações e planejamentos adotados em nível estratégico, enquanto que, o gerenciamento visa à operação do sistema de RSS. Assim, a opção por priorizar medidas que

reduzam a geração de resíduos de serviço de saúde ocorre no âmbito da gestão (DIAS NETO, 2009).

O aumento da geração de resíduos e a busca por uma solução adequada aos resíduos sólidos, é sem dúvida um dos grandes desafios enfrentados atualmente pela gestão. Desde a Conferência Rio 92, os diversos atores da sociedade tais como o setor público, setor privado e a sociedade civil têm buscado à incorporação de novas prioridades para a minimização da geração de resíduos e destinação adequada aos mesmos.

Para Jacobi e Besen (2011), nos países desenvolvidos, onde gera-se uma maior quantidade de resíduos, fatores que incluem recursos econômicos, preocupação ambiental da população e desenvolvimento tecnológico, contribuem para o equacionamento do problema da geração pela gestão. Entretanto, em cidades de países em desenvolvimento, com urbanização muito acelerada, verifica-se uma grande dificuldade em prover infraestrutura e serviços essenciais como água, esgotamento sanitário, coleta e destinação adequada dos resíduos sólidos e moradia, e em assegurar o controle da qualidade ambiental para a população, devido a deficiências financeira e administrativa.

Quando o assunto envolve a gestão dos resíduos de serviços de saúde, os gestores se vêm diante de dois problemas principais. O primeiro refere-se à segurança das pessoas que trabalham e estão diretamente relacionadas aos resíduos, desde a geração até a disposição final. E outro, do ponto de vista social, abrange a preocupação dos gestores na busca de alternativas para dar o destino mais apropriado a seus RSS, não prejudicando o meio ambiente a população (BIDONE, 2001).

Na gestão dos RSS, as atitudes e as tradições ambientais dos serviços de saúde estão ligadas a duas estratégias fundamentais: a redução na fonte e/ou tratamento (BIDONE, 2001). Segundo Schneider et al. (2004), a redução da geração dos resíduos de serviços de saúde é possível até certo nível, devido à natureza e aos processos de sua geração. Para a autora, a redução na geração está associada à diminuição no volume total ou na quantidade de resíduos perigosos ou à redução na toxicidade de um resíduo.

De acordo com a Agência de Proteção Ambiental Americana – Environmental Protection Agency (EPA), a “minimização de resíduos” significa redução na geração de resíduos perigosos, antes mesmo da fase de tratamento, armazenamento ou disposição,

incluindo-se qualquer redução que resulte na diminuição do volume total ou da quantidade de resíduos perigosos, e/ou a redução da toxicidade do resíduo (SCHNEIDER et al., 2004).

Para Risso (1993) a minimização da geração de resíduos consiste, simplificadamente, em redução na fonte e reciclagem dos resíduos antes do processo de tratamento e disposição final. A redução na fonte envolve atividades que minimizam a geração de resíduos ainda no processo, incluindo medidas que promovam a modificação de materiais, procedimentos ou tecnologias, substituição de insumos, relutando em mudanças na prática do gerenciamento de RSS. Já a reciclagem, envolve o reuso ou recuperação de resíduos com a finalidade de evitar o descarte dos mesmos.

Com o intuito de minimizar os impactos ambientais, alguns hospitais têm adotado programas para reduzir a poluição. Quer seja por meio da reciclagem, reutilização, reaproveitamento de resíduos ou aquisição de produtos menos poluentes, como a aquisição de termômetro sem mercúrio, a gestão hospitalar tem buscado assumir um compromisso ético para com as questões ambientais (KAISER et al., 2001).

Nessa perspectiva, a adoção de tecnologias limpas é uma estratégia que vem sendo utilizada por alguns hospitais que adotam atitude proativa na busca de uma gestão sustentável. Pesquisas como a de Cardoso (2002) vêm contribuir com a proposta de redução da geração dos resíduos ainda na fonte, sob o enfoque da Produção Mais Limpa (P+L). A Produção Mais Limpa foi introduzida pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), em 1989, e apresenta a seguinte definição: “aplicação contínua de uma estratégia ambiental preventiva integrada, aplicada aos processos, produtos e serviços, para aumentar a ecoeficiência e reduzir os riscos para os seres humanos e ao ambiente” (CARDOSO, 2002, p. 23).

Por outro lado, a estratégia fundamentada no tratamento dos resíduos assenta-se no paradigma de controle da poluição ou fim de tubo que consiste na concepção de que a geração de resíduos é inerente a todo processo produtivo, sendo possível apenas seu tratamento ou posterior disposição no meio ambiente (CHRISTIE; ROLFE; LEGARD, 1995; MARINHO, 2001). Nesta proposta, ocorrem baixas taxas, ou inexistência, de reutilização ou reciclagem, sendo portanto, os resíduos dispostos no meio ambiente, sem a sua reincorporação, provocando impactos negativos.

Com a finalidade de evitar a geração dos resíduos e assim promover a mudança na prática de se restringir a tratar os resíduos gerados, a ordem de prioridade estabelecida no art. 9º da PNRS deve ser seguida por todos os estabelecimentos geradores de resíduos, inclusive os estabelecimentos de saúde. A partir dessa ordem, que constitui a não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, a gestão ambiental convoca a todos para uma mudança de paradigma perante a geração dos resíduos.

Nesse sentido, a gestão ambiental dos estabelecimentos de saúde tem por objetivo gerenciar ambientalmente os seus resíduos a fim de possibilitar condições que garantam a minimização da geração dos resíduos, e por consequência a redução dos riscos à saúde ambiental. Assim, no Estado da Bahia a Lei nº 10.431/06 determinou a obrigatoriedade da constituição da Comissão Técnica de Garantia Ambiental – CTGA, em instituições públicas e privadas, para coordenar e executar questões referentes ao meio ambiente, bem como avaliar, acompanhar, apoiar e pronunciar-se sobre os programas, planos projetos e licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades (BAHIA, 2006).

Analisando as práticas de Gestão Ambiental adotadas em quatro Hospitais Universitários Federais do Rio Grande do Sul, Ricther et al. (2012) constataram que o gerenciamento ambiental era planejado e orientado por Comissões de Gerenciamento Ambiental, com o objetivo de desenvolver práticas de ações ambientais nos hospitais, envolvendo desde a capacitação dos funcionários até a implantação e implementação do PGRSS.

Em um estudo para analisar e avaliar a real situação dos aspectos do gerenciamento de RSS nos municípios pertencentes à bacia hidrográfica de Vacacaí, no Rio Grande do Sul, Silva e Hoppe (2005) constataram que apenas 30% dos hospitais avaliados possuíam comissão de resíduos de serviços de saúde, programa de treinamento para os servidores e PGRSS implantados.

Portanto, cabe à gestão ambiental direcionar o gerenciamento de RSSS nas instituições, e garantir a efetividade da elaboração implantação e implementação do Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde, fazendo cumprir adequadamente as etapas do gerenciamento de RSS, buscando estratégias que contribuam para melhoria da capacidade de suporte do planeta e para o desenvolvimento sustentável.