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4. FUNDAMENTOS TEÓRICOS

4.2 Resíduos de serviços de saúde

4.2.3 Riscos associados aos RSS

O manejo inadequado dos RSS aumenta a probabilidade de ocorrência de infecções hospitalares e contribui para o aumento de risco ocupacional, ambiental e de saúde pública, uma vez que médicos, enfermeiros, pacientes e demais funcionários poderão ser afetados, principalmente aqueles responsáveis pelo manuseio dos resíduos dentro e fora dos estabelecimentos de saúde (RISSO, 1993).

Risco à saúde

Segundo Brasil (2006), risco à saúde é a probabilidade da ocorrência de efeitos adversos à saúde relacionados com a exposição humana a agentes físicos, químicos ou biológicos, em que um indivíduo exposto a um determinado agente, apresente doença agravo ou até mesmo morte, dentro de um período determinado de tempo e idade.

No entanto, muito se discute a respeito da capacidade dos resíduos de serviços de saúde em provocar doenças, devido principalmente à capacidade de sobrevivência limitada de microrganismos no ambiente e a característica multifatorial das doenças microbianas.

A doença microbiana é considerada multifatorial decorrente da interação de alguns fatores, sendo que apenas a presença do agente biológico não será suficiente para o seu desenvolvimento. Para a transmissão de doenças, a cadeia de infecção requer a presença de patógeno com virulência suficiente, e fatores como via de transmissão adequada e hospedeiro suscetível (CUSSIOL, 2008; WHO, 2014).

Risco à saúde ocupacional

Os profissionais que lidam com os RSS trabalham em um meio insalubre e perigoso. Assim, eles são diretamente afetados pelo manejo inadequado dos RSS. O Ministério do

Trabalho e Emprego (MTE), por meio de suas Normas Regulamentadoras estabelece os principais riscos aos quais estão submetidos os funcionários que trabalham em Serviços de Saúde, conforme quadro 8.

Quadro 8: Classificação dos riscos ocupacionais em serviços de saúde

RISCOS OCUPACIONAIS EM SERVIÇOS DE SAÚDE

Risco Biológico: probabilidade da exposição ocupacional a agentes biológicos (microrganismos,

geneticamente modificados ou não; culturas de células; parasitas; toxinas; príons) (NR – 09 e NR -32)

Risco Químico: exposição dos profissionais a agentes químicos, como poeiras, névoas, vapores, gases,

mercúrio, produtos químicos em geral e outros. (NR - 09 e NR - 15)

Risco Físico: exposição dos profissionais a agentes físicos como, por exemplo, a temperaturas extremas

durante o abastecimento manual das unidades de tratamento térmico, radiação ionizante e não ionizante, ultrassom, infrassom, ruído, vibração, iluminação deficiente ou excessiva e umidade (NR - 09 e NR - 15)

Risco Ergonômico: elementos físicos e organizacionais que interferem no conforto da atividade laboral

consequentemente, nas características psicofisiológicas do trabalhador, dentre elas: mobiliário e equipamentos inadequados, layout inadequado, existência de esforços repetitivos, assédio moral, entre outros. (NR - 17)

Risco de Acidentes: exposição da equipe a agentes mecânicos ou que propiciem acidentes. Além dos riscos

físicos, químicos e biológicos, os principais riscos de acidentes são: arranjo físico, eletricidade, máquinas e equipamentos, incêndio/explosão, ferramentas etc.

Fonte: Adaptado de Ribeiro (2013).

Uma pesquisa realizada por Salles e Silva (2009) aponta para a agulha como o principal agente causador da maioria dos acidentes de trabalho encontrados, o que pode causar, principalmente, hepatite B e hepatite C e infecção por HIV. No ano 2000, a OMS estimou que, para os profissionais de saúde, os acidentes com perfurocortantes causaram cerca de 66.000 casos de hepatite B (HBV), 16.000 de hepatite C (HCV) e 200 - 5.000 infecções pelo HIV. O risco de aquisição de hepatite B e hepatite C é mais significativo devido a esses vírus permanecerem por mais tempo no ambiente do que o do HIV (WHO, 2014).

Fatores importantes que auxiliam na proteção do trabalhador é o uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI) e a presença de Equipamentos de Proteção Coletiva (EPCs). Eles representam evidências de condições de segurança legal e ética para a saúde dos trabalhadores dentro das instituições à qual eles pertencem. (COSTA, 2012).

Risco ambiental

Além de riscos para a saúde derivados do contato direto, os resíduos de saúde podem apresentar graves problemas ao meio ambiente. Isso ocorre, devido aos componentes perigosos existentes nos RSS, principalmente, agentes biológicos e químicos.

Brasil (2006) conceitua risco para o meio ambiente como a probabilidade da ocorrência de efeitos adversos ao meio ambiente, decorrentes de agentes físico, químicos ou biológicos, causadores de condições ambientais potencialmente perigosas que favoreçam a persistência, disseminação e modificação desses agentes no meio ambiente.

Para Catão et al. (2007) os danos provocados ao meio ambiente pelo lixo hospitalar não são poucos, pois substâncias radioativas, quimioterápicas e antineoplásicas são jogadas indiscriminadamente nos aterros onde encontra o lixo comum. Essa contaminação acaba por causar as mais deletérias consequências ambientais na medida em que o solo, as águas subterrâneas e superficiais são atingidos por essas substâncias.

O risco de contaminação do ar, ocorre, quando os RSS são tratados pelo processo de incineração descontrolado que emite poluentes para a atmosfera contendo, por exemplo, dioxinas e furanos, que contribuem para o aparecimento de doenças graves em pessoas que inalam este ar (KAISER, et al., 2001; LEE et al., 2004; WHO, 2005; PATIL; POKHREL, 2005; BASSEY et al., 2006).

Alguns resíduos utilizados em maquinários, aparelhos eletrônicos e outros utensílios da vida cotidiana estão associados a problemas de poluição e toxicidade devido à presença de metais pesados em sua constituição. Esses resíduos estão sendo, cada vez mais, utilizados em estabelecimentos de saúde e são representados por pilhas, baterias (liberam mercúrio, cadmio, chumbo e, zinco); equipamentos eletrônicos em geral (podem liberar arsênio e berilo, chumbo, mercúrio e cádmio), pigmentos e tintas, lâmpadas fluorescentes (contém mercúrio) e medicamentos (BRASIL, 2006).

Estudos sobre a persistência ambiental e a infectividade de patógenos em resíduos sólidos de serviços de saúde concluíram que, dentre os microrganismos responsáveis pelas doenças infeciosas, o Mycobacterium tuberculosis foi o principal indicador na contaminação do ar. O vírus da Hepatite A (HAV) foi o indicador de contaminação mais significativo para a

água e o vírus da Hepatite B (HBV) foi o mais importante na contaminação do solo (SILVA

et al., 2002).

Diante disso conclui-se que os RSS são importantes fontes de poluição ambiental e de contaminação à saúde, devido principalmente às suas características químicas, biológicas e físicas, o que torna necessário a sua caracterização e classificação para a elaboração e monitoramento do PGRSS.

Ademais, os gestores devem ter em mente que medidas que visem a redução do potencial de contaminação pelos resíduos são extremamente necessárias. Nesse sentido, a Política Nacional de Resíduos Sólidos vem contribuir com conceitos, princípios e diretrizes a fim de estimular medidas de manutenção da qualidade ambiental e de promoção do desenvolvimento sustentável.