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3. GESTÃO DEMOCRÁTICA E QUALIDADE DO ENSINO

3.1 A evolução da gestão educacional: a busca da qualidade

3.1.3 Gerir ou Administrar?

A realidade é dinâmica, fatos e fenômenos estão em constante mudança e dando novos significados a tudo, e os termos empregados em determinadas circunstâncias não respondem mais aos anseios da sociedade, que vai se modernizando. Isto explica a mudança de designação do termo administração educacional para gestão educacional. Muitas vezes, as mudanças são apenas terminológicas, já que para mudar significativamente é preciso mudança na concepção de interpretar a realidade, rever as ações e as posturas de atuação.

Lück (2011c) alerta que o termo gestão tem erradamente sido utilizado como substituto do termo administração, o que denota falta de entendimento sobre esta questão. Mas ao comparar as duas propostas, é possível perceber que o termo gestão carrega consigo alteração de princípios, valores, concepções e posturas em todos os segmentos da educação. Trata-se de uma mudança paradigmática, e nos lembra Morin (2008), paradigma é a pedra angular de

qualquer sistema do pensamento. Então percebe-se que se trata de mudanças profundas no modo de ser e fazer educação.

A ideia de gestão como mudança paradigmática desenvolve-se em um contexto de ideias globalizantes da educação, que destaca a sua dimensão política e social, participação, cidadania, autonomia, pedagogia interdisciplinar, inclusão, avaliação qualitativa, entre outras. São exigências do mundo complexo marcado por características diversas, de amplas perspectivas, de interações, de embates de interesses que a concepção de administração do passado não dá conta. Nesta, o controle era totalmente de fora, sem considerar os processos e a dinâmica social que ocorre em seu interior e que, graças a essa dinâmica, a aprendizagem pode ser significativa para os alunos.

Os sistemas de ensino e as escolas são unidades sociais e, como tais, são organismos vivos e dinâmicos e interagem com a sociedade por meio da dinâmica dos seus processos em redes de relações, recebem interferências e interferem no meio social. Fato que requer um outro olhar para a organização e direcionamento que a gestão educacional responde.

A gestão abrange articulação do conjunto de atuações que ocorrem na unidade ou conjunto de unidades de trabalho como enfoque orientador da ação. Essa interação tem sido muitas vezes descuidada ou mesmo desconsiderada, principalmente entre o sistema e a escola. O que demanda atenção, quando se observa que os sistemas de ensino adotam uma postura administrativa hierarquizada sobre as escolas, impondo-lhes ações que se fossem decididas nas escolas por seus atores, provavelmente seriam mais bem operacionalizadas. Propõem processos participativos de decisão às escolas quando não promovem essa participação em seu contexto e nas definições das políticas educacionais. Em vez de adoção de políticas e diretrizes amplas, definem ações especificas e limitadas com objetivos que devem ser executados pela escola, e na maior parte das vezes prejudicando as políticas educacionais que querem promover. Retiram da escola o direito e o dever de autoria sobre suas ações e consequentes resultados.

Gestão educacional se refere a ideias referentes a uma ordem em que as relações que sofrendo mudanças paradigmáticas, requerem aproximação, horizontalidade (diminuindo níveis hierárquicos de decisão das estruturas verticais), aproximam planejamento e ação, teoria e prática e, claro, atores e usuários. É, portanto, um conceito que está associado à transformação de muitas dimensões que visam superar dicotomias que viam a educação numa visão fragmentada da realidade, em que ora foca em uma coisa e ora em outra: avaliação quantitativa, ora avaliação qualitativa; transmissão do conhecimento construído, ora sua construção; ora o enfoque no professor, ora no aluno; ora ensino, ou aprendizagem. Polarizam dimensões de uma realidade, distorcem essa realidade, criam conflitos artificiais que, se produtivas, levam a

resultados parciais que não se sustentam. “O pensamento simples resolve os problemas simples sem problemas de pensamento. O pensamento complexo não resolve ele próprio os problemas, mas constitui uma ajuda à estratégia que podem resolvê-los” (MORIN, 2008, p. 121).

Em Lück (2011c) temos que gestão trata da proposição de uma nova organização educacional e de suas relações com a sociedade, e dentro das organizações, não se propõe a invalidar o termo administração, supera seus limites de enfoques fragmentados, mas que é fundamental em uma dimensão da gestão, pois possibilita o bom funcionamento de funções administrativas, como controle de recursos financeiros, controle do tempo pedagógico, apoio logístico. Mas para garantir a mobilização e orientação do trabalho social é necessário um entendimento diferente da realidade, dos elementos que a envolvem, das pessoas em seu contexto. Tem como foco a interatividade social, a democratização das políticas educacionais e dos destinos da escola pela evolução do seu projeto pedagógico, perceber que existem relações conflitivas já que é entidade viva e dinâmica. Exige, portanto, uma liderança capaz de compreender o valor da sinergia e das competências muito mais do que recursos, e que resultados passam pela transformação da cultura das unidades a serviço da educação.

Esse conceito de gestão pressupõe a consciência de que a realidade dos sistemas de ensino e escolas podem sempre mudar. Mas só muda se houver participação consciente dos sujeitos que produzem esta realidade, com seu trabalho e colaboração. Compreendendo que ao alterarem a realidade, promovem alteração a si próprios reciprocamente (KOSIK, 1976, apud LÜCK, 2011c), e este autor diz ainda, segundo Lück, que “o homem para conhecer as coisas em si, deve primeiro transformá-las em coisas para si” (LÜCK, 2011c, p. 8). O que este pensamento diz é que processos socioculturais interativos maximizam sua energia e seu potencial.

A consciência da gestão que resulta em movimento social e democratiza as organizações, demanda participação ativa dos envolvidos em unidade social, nos planejamentos com as diferenças de opiniões e visão abrangente das perspectivas de intervenção. São características que garantem o comprometimento coletivo com o que foi planejado, tornando os processos ágeis, ativos e consistentes. Os problemas que surgem rapidamente podem ter respostas competentes, e o que se percebe é que os resultados do que foi definido podem surgir.