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2. QUALIDADE DA EDUCAÇÃO: UM CONCEITO MULTIFACETADO

2.3 Qualidade do ensino e formação do professorado

Para Imbernón (2016), qualidade e mudança no ensino são conceitos confusos, pois cada época tem uma linguagem educacional com sucessivas reformas promovidas pelo governo do momento. Nos anos de 1990 e primeiras décadas do século XXI, as reformas trazem as competências, a qualidade que surge com os nomes de gestão de qualidade, qualidade total, excelência, empoderamento, mudança, gestão do conhecimento, a incerteza, a governabilidade, governança etc.

Tratam-se de terminologias de modismo que rapidamente se espalham e são usadas como curingas nos discursos que, na maioria das vezes, o discursista não sabe do que se trata. Este autor tenta analisar os termos qualidade e a mudança de ensino, qualidade nos discursos, e o que significa excelência, que para o autor significa coerência entre o que se pretende e o que se obtém. Vamos analisar aqui o pensamento deste autor com relação a esses dois termos.

2.3.1 A mudança na educação

Sempre se teve a percepção de mudança, mas atualmente, com a tecnologia, o autor acredita que seja o que dá essa impressão de que a vida passa vertiginosamente, os aparelhos rapidamente ficam obsoletos e este fato gera no ser humano a ideia de passagem mais rápida da vida.

A mudança é então incorporada ao papel escrito e às políticas como um lugar comum, embora não ocorra na realidade da prática da educação. Para que a prática ocorra são necessários novos conceitos e novas mentalidades de pensar a educação. O que ocorre com uma opção política de estabelecer relações com a comunidade e com os docentes, de modificar

estruturas, de estabelecer relações com as políticas educacionais, com o currículo, com o papel dos alunos, com as novas formas de aprender que vão além da escolarização etc.

Significa também romper certas inércias e ideologias políticas que levam a uma pratica conservadora de citar a mudança, introduzi-la ao discurso político e não mudar as coisas.

Para Imbernón (2016), significa também romper certas inércias e ideologias políticas que levam a uma prática conservadora de citar a mudança, introduzi-la ao discurso político e não mudar as coisas. E juntamente com o conceito de mudança, aparece o conceito de qualidade com múltiplas nuances, conceito multidimensional e relativo: “é preciso trabalhar para a qualidade, a qualidade é prioritária...” são discursos que atribuem a este conceito um enfoque vago e técnico que se baseia na eficiência e na efetividade de padrões burocráticos, na aplicação de modelos de qualidade do mundo empresarial. Nesse pensamento está implícito que crianças e jovens podem ser objetos e os professores, as máquinas. Passa-se a elaborar protocolos, roteiros, escolas de elite, aumentar o número de horas/aulas, a valorizar o sucesso de escolas, os níveis dos alunos também são diferenciados. Surge a classificação, que gera a segregação.

E os alunos que não se enquadram na norma estabelecida, que não conseguem se sair bem em questionários preparados por pessoas de uma determinada visão de realidade social, são segregados e um novo problema é criado.

Para Imbernón (2016), qualidade não é conceito estático, não existe um único modelo de qualidade, nem no mundo empresarial, e na educação, que trabalha com pessoas que não são produtos, o perigo de fazer análises simples é bem maior. O trabalho com sujeitos deve levar em consideração intencionalidades, contexto, interesses e valores.

Nas abordagens existentes de qualidade percebe-se como este conceito é multidimensional e ambíguo (GARVIM, 1984; HARVEY & GREEN, 1993, apud IMBERNÓN, 2016, p. 17):

Qualidade como exceção, mostra a qualidade como algo especial que alguma escola tem e outras não, exclusiva de uma classe e mais atualmente como excelência em relação a padrões e excelência em relação aos resultados segundo alguns critérios.

Qualidade como perfeição ou mérito que mostram “escolas onde as coisas são bem-feitas” e escolas que promovem a “cultura de qualidade” para a obtenção de resultados em avaliações com critérios de controle.

Qualidade como adequação a propósitos que partem de uma definição funcional de bom ou adequado para algo ou alguém. Aqui aparecem as escolas que adequam resultados aos objetivos

propostos, e escol nas quais programas e serviços atendem às necessidades dos clientes. Também escolas que cumprem objetivos estabelecidos no âmbito legal.

Qualidade como produto econômico, alia qualidade a preço de sua obtenção. As escolas são eficientes ao relacionar custos e resultados e escolas que prestam contas.

Qualidade como transformação e mudança, onde esta é definida pela melhoria nas avaliações do rendimento dos alunos e desenvolvimento organizacional.

Contudo, o autor nos alerta que qualidade não é a melhoria do funcionamento das escolas, mas é definida pela perspectiva do grau de satisfação da comunidade educacional e não se trata de resposta à demanda social e de mercado, deve ser analisada a partir da consciência do que e como os alunos aprendem no processo ensino-aprendizagem.

A qualidade que se orienta por uma tendência, uma trajetória, um processo, uma construção de um projeto coletivo, contínuo, baseado na igualdade de oportunidades, na equidade na qual todos buscam a melhoria das aprendizagens dos alunos. Que pode se desenvolver no âmbito educacional, em uma determinada comunidade de práticas entre professores. Não pode ser um processo de nota seguida de intervenção que sempre culpa alguém, é sim, segundo Imbernón (2016), um processo participativo e coletivo de responsabilização e autorregulação.

A qualidade aqui defendida é de um meio colaborativo de prática entre professores e seu contexto, com processos de investigação entre esses profissionais, com projetos de inovação, capazes de analisar o que funciona em sua prática de formar cidadãos cultos e democráticos, partindo de sua própria realidade e se proponham a mudar com base em seu contexto e do aluno, o que Imbernón (2016) chama de ecologia educativa. Defende escola como processo de vida, com redes de relações de uma comunidade educacional que quer melhorar, educar e melhorar-se. Como fazer isso acontecer?

Imbernón (2016) diz que ao seu ver deve-se considerar a experiência profissional do professorado e dos alunos. Seus conhecimentos, motivações, emoções, sua identidade como docente e como aluno e o meio e situação de trabalho. Sua participação na educação, através de tomada de decisões que os afetam diretamente, deve ser mais valorizada do que o que dizem os que estão de fora e que mandam propostas de qualidade determinada. Os que participam da educação devem ser autores e beneficiários de um processo que dê respostas às suas necessidades em contextos sociais concretos. Que possam gerar inovações a partir de seus conhecimentos práticos, isto será possível se forem aceitos e que se sintam acreditados, que

possam se sentir autônomos e capazes e que possam prestar contas de seu trabalho à comunidade.

Para a qualidade de uma escola, os alunos precisam contribuir com sua participação na sociedade, através do que aprenderam. A qualidade não está apenas no conteúdo das coisas, mas na interatividade que o conteúdo proporciona, na dinâmica e na solidariedade, nas atividades que proporcionam aprendizagens relevantes, no estilo do professorado, no material utilizado e na capacidade de formar cidadãos e cidadãs para o mundo. Portanto, o conceito de qualidade é ideológico, e não técnico.