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3. GESTÃO DEMOCRÁTICA E QUALIDADE DO ENSINO

3.6 A liderança na gestão para a qualidade

Em Lück (2011a), vimos que liderança na escola é característica inerente à gestão escolar, que orienta, mobiliza e coordena o trabalho das pessoas fazendo com que estas apliquem o melhor de si na realização de ações de caráter sociocultural para a melhoria da qualidade do ensino/aprendizagem.

Em Senge (1990, p. 368), temos que a visão tradicional de liderança, como a pessoa que toma as decisões e que energiza as equipes que é individualista e não-sistêmica do mundo. No ocidente, os líderes são heróis que “tomam a dianteira”. Comportamento que foca em eventos de curto prazo com seu herói carismático, em vez de mobilizar forças sistêmicas e seu aprendizado coletivo. Este autor chama de organização que aprende, e nesta, os líderes são projetistas, regentes e professores. Estimulam a reflexão, a expansão de visão e aperfeiçoar modelos mentais, a aprendizagem.

Este ato de inspiração é o primeiro ato de liderança (“soprar vida dentro de”), logo, o líder é o projetista e recebe pouco crédito, pois age nos bastidores. E projetar é uma ciência integradora porque significa fazer algo funcionar bem. A arte da liderança envolve a integração das várias situações, definição de estratégias adequadas ao tempo e contexto. Os líderes mais bem-sucedidos são os que se veem continuamente projetistas dos processos de aprendizagem, sabem que as pessoas aprendem aquilo que lhes interessa, aquilo que precisam aprender.

O líder projetista cria tensão criativa, que é psicológica pelo seu compromisso com a verdade, com a investigação dos fatos da realidade, com suas defasagens e dificuldades, para que os propósitos se realizem. Gerenciam essa tensão e energizam a organização. O domínio da tensão criativa leva ao domínio da realidade e todos começam a perceber que podem influenciá-la através de seu poder de grupo. O que forma um líder assim? Para o autor, são vários os aspectos, como a clareza de suas ideias, a profundidade de seu compromisso e sua

abertura em aprender sempre mais, não tem resposta certa, mas instilam confiança nos que lhe rodeiam de que juntos pode aprender para alcançar resultados desejados.

Provavelmente estes líderes tiveram e têm uma vida de esforços para desenvolver habilidades de comunicação, de reflexões sobre seus valores pessoais e alinhar com compromissos pessoais, de aprender a ouvir e apreciar outras pessoas e suas ideias. Sem esses esforços, o carisma pessoal perde substância, sem ser capaz de pensar por si mesmo, de tomar decisões inteligentes e estes fatos podem devastar uma organização ou sociedade.

A liderança na escola, para Lück (2011b), se assenta por atitudes entusiasmadas com expectativas elevadas e capacidade de influenciar a atuação para estes resultados, são desafios naturais de seu trabalho. Desdobra-se em coliderança, já que compartilha com profissionais e até com alunos.

Conforme Halloran (1990, apud LÜCK, 2011b, p. 21), todos os que participam de um grupo social têm potencial para exercer liderança, mas esta não é uma característica inata e muito menos privilégio de poucas pessoas, como costuma se imaginar. Trata-se de um exercício de influência que requer competências específicas, que se desenvolvem continuamente e necessitam capacitação continuada deste profissional para que seja capaz de motivar e orientar pessoas para a aprendizagem colaborativa.

Essas capacidades são pouco encontradas em gestores e educadores, que mesmo tendo, falham em aplicá-las adequadamente em seu trabalho, daí porque da necessidade de análise dessas questões para que sejam solucionadas e os processos educativos possam ter bons resultados. Foi identificado em pesquisas que nenhum estabelecimento de ensino alcança efetividade sem liderança efetiva (SAMMONS, HILMAN & MATIMORE, 1997, apud LÜCK, 2011a). A liderança na gestão escolar é fator de maior impacto sobre a qualidade dos processos educacionais (LEITHWOOD, DAY, SAMMONS, HARRIS HOPKINS, 2006; BUSH & GLOVER, 2004; REYNOUDS, 2001, apud LÜCK, 2011a), por tudo é que tem sido campo de estudo a liderança, associada à gestão escolar. Veem-se muitos artigos e trabalhos sobre liderança, mas com conceito não devidamente explicitado. Estes trabalhos referem-se a liderança como sendo gestão escolar, confundindo estes dois conceitos.

Continua a autora afirmando que gestão escolar e liderança se sobrepõem e se correspondem amplamente, mas esta correspondência não é completa e estes termos não são sinônimos entre si. Gestão pressupõe o exercício de liderança, sem esta, a gestão não se realiza. Mas gestão é mais abrangente que liderança. O entendimento do termo liderança é variado, no entanto, o consenso é de sua importância na determinação e cumprimento de objetivos das organizações.

Ao estudar os termos, temos que se não há gestão sem liderança, é possível identificar trabalhos de liderança sem que haja o trabalho de gestão. Ao confundir os dois termos em instituição educacional, perde-se a complexidade de ambos, que são dinâmicos. Verifica-se uma evolução no entendimento da liderança a partir de transformação paradigmática. E segundo esse novo paradigma, dado pela complexidade da realidade, os significados mudam, o sentido do trabalho, o papel das pessoas nas organizações, o papel da educação, da organização, orientação e liderança.

O paradigma da complexidade requer atuações mais sensíveis sobre a realidade, significados têm mais abrangência, o que demanda dos sujeitos maior participação, com o exercício de consciência nos processos sociais, dando significado sem se prender a conceitos fechados com valor em si mesmos. Conforme isto, liderança apresenta muitas possibilidades. Os profissionais com cargos de liderança devem, pois, estudar, observar, refletir sobre seu papel para exercê-la de forma competente. Forma competente na escola, quer dizer, uma ação que se volta para uma gestão forte na cultura proativa que se volta para a aprendizagem, a liderança não pode ser voltada para ela mesma, e sim para a perspectiva de estudar os meios e as questões que surgem no contexto, E que as expressões que surjam não são normativas, e sim, reflexivas. O significado de liderança tem sido estudado desde 1950 como termo mais usado nas organizações e com muitos significados e continua sendo. Bush e Glover (2003, apud LÜCK, 2011b, p. 34) escrevem sobre esta subjetividade e perspectivas variadas do termo que tem desdobramentos na gestão. Os pontos comuns nos variados estudos sobre este tema é que a liderança apresenta:

* Influência sobre as pessoas, a partir de sua motivação para uma efetividade. * Propósitos claros de orientação, assumidos por essas pessoas.

* Processos sociais dinâmicos, interativos e participativos. * Modelagem de valores educacionais elevados.

* Orientações para o desenvolvimento e aprendizagem contínuos.

Conforme estas características, a autora considera que liderança é processo de influência que se realiza no âmbito de gestão de pessoas em processos sociais, mobilizando talento e esforços que se orientam por uma visão clara e abrangente da organização e objetivos que tenham perspectiva de melhoria contínua da instituição e das pessoas. Liderança é conceito relacional que envolve pessoas interdependentes: a pessoa que influencia e as pessoas influenciadas que podem trocar de papeis entre si.

Conforme Lück (2011b), amplos estudos indicam que o diretor escolar que tem sucesso apresenta essas características acima explicitadas. Mas é importante lembrar que existem estruturas hierarquizadas em nossa sociedade e que nelas a liderança associa-se à ocupação de um cargo, e não à competência. Líderes e seguidores em todos os segmentos, sem que necessariamente sejam projetistas, como defende Senge (1990). Contudo, é importante enfatizar que “líder é aquele que é seguido, mesmo não dispondo de qualquer autoridade estatutária, porque consegue ser aceito e respeitado, unindo e representando o grupo na realização dos seus anseios” (FARIA, 1982, p. 4, apud LÜCK, 2011a, p. 39).

Observa-se que o cargo determina a influência, independente de desempenho. Ou resultados diferentes em condições de trabalho semelhantes tendo a mesma pessoa na chefia. Tal fato está mais para controle do que para liderança, mais para manipulação do que para motivação. Liderança remete ainda a conscientização. Quando este controle ocorre, cerceia-se a criatividade e o surgimento de lideranças dos diferentes sujeitos com seus diferentes talentos, comportamentos que fazem uma organização ser dinâmica e flexível, características de uma escola como a que defende Alarcão (2001), reflexiva na promoção da integração da sociedade, e coerente com a formação dos alunos.

Ao centralizar responsabilidade na chefia, os demais sujeitos se liberam das responsabilidades pelos resultados obtidos, pois apenas implementam decisões tomadas pelo poder central. Transfere-se as responsabilidades e o que se vê nas escolas? Dificuldade de aprendizagem dos alunos, na relação família-escola, nas relações interpessoais interescolares, a crença de que “ os alunos não aprendem porque vêm de ambientes precários, sem estímulo e sem apoio”, “a escola não pode fazer melhor, pois faltam recursos”, “ os pais das crianças que mais necessitam não participam quando a escola convida”, entre tantos outros desafios.

Nas instituições democráticas, temos que as decisões são tomadas com a participação de todos os membros com compartilhamento de liderança, que é orientada, balizada pelo responsável, que é o diretor. É possível encontrar nas instituições educacionais vários formatos de estruturas: escolas com muita cobrança de ações, sem liderança em valores educacionais agir de modo a melhorar o processo de ensino aprendizagem dos alunos, outras escolas em os diretores ocupam-se muito com questões operacionais secundárias, mas alguns professores mais conscientes lideram informalmente determinados grupos.

Logo, segundo a autora, liderança não está ligada apenas à estrutura organizacional, não se trata apenas de posição ocupada, já que os exemplos que se encontram na literatura sobre o assunto mostram pessoas que sem cargos formais contribuem com as organizações a partir de sua liderança. Em outros casos, a influência dos pares é mais aceitável do que a dos superiores.

Para Grün (2006, apud LÜCK, 2011b), as pessoas são responsáveis pela forma como se deixam liderar. Não dependendo apenas do líder. Líderes e liderados se complementam em coparticipação.