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2. QUALIDADE DA EDUCAÇÃO: UM CONCEITO MULTIFACETADO

2.5 O ofício de ensinar

Imbernón (2016) refere sobre a Roma antiga, quando, mestre ou mestra (magister) tinha poder de autoridade. Tinham o grau supremo, uma sabedoria maior que o restante do grupo e transmitiam aos demais essa sabedoria. Atualmente, perderam essa característica de sabedoria, têm baixo prestígio social e perderam o nome. Passaram a professores ou professoras. Mas sua necessidade e uso permanecem e o título de mestre exigido como sinônimo de sabedoria e símbolo dessa profissão que trata de educar os filhos dos outros. Para o oficio de professor, que é mestre por excelência, é necessário que haja compromisso, contexto e conhecimento.

Embora no imaginário coletivo ser professor seja tarefa simples, não é, é na verdade uma tarefa difícil, complexa e que exige paciência para o bom ensino. A partir do século XX, a sociedade foi se tornando bem mais complexa e as exigências em ser professor assumiram também maior complexidade com um agravante de, na maioria das vezes, sem correspondência com a educação que os alunos recebem de suas famílias e meio social. Todos estes fatos se concretizam em uma sala de aula. Eis o desafio de viver a realidade e buscar o passado para que os alunos possam reconstruir sua compreensão a partir dos saberes construídos por outros, e assim possam construir saberes novos, ou que transformem os existentes para uma melhor existência humana.

Em profissões de difusão do conhecimento, cultura e desenvolvimento de inteligência, os professores não formam grupo uniforme, mas como grupo têm uma trajetória difícil. Educar é gerar reflexão sobre a realidade. Foram perseguidos no século XX, o mais cruel da humanidade, os professores foram punidos, expulsos, exilados e mortos. Mas em cada época houve uma forma de ver o trabalho do professor (tradicional, revolucionário, religioso, conservador, autoritário, artista etc.). Os componentes de seu trabalho permaneceram os mesmos (escola, alunos, cadernos, lousa, aulas etc.), no entanto, a escala de valores para determinar prioridades muda em cada época.

A profissão de professor reflete o momento social e histórico, e em todas essas épocas encontram-se os vários tipos de profissionais numa mesma escola: os conservadores com os revolucionários, fascistas com liberais, bem característicos das rupturas do século XX. As maiores lembranças que alunos levam dos professores, segundo o autor, é de que forma foram tratados e orientados.

Ainda segundo Imbernón (2016), a tarefa fundamental do professor é ensinar e aprender, e um bom professor aprende ensinado. O Estado apenas constrói e mantem escolas, mas quem torna a escola funcional são os professores e os alunos. Tornando-a um ecossistema

vivo. Muitos cidadãos escolheram a educação de crianças e jovens porque em algum momento da vida tiveram um professor ou professora apaixonados pelo que ensinavam.

As escolas começam a ser ampliadas no século XIX em todos os países, com pouco tempo de permanência, que foi aumentando progressivamente ao longo do século XX. Havia uma escola unitária, meninos e meninas numa única classe. Foi no século XX que ficou estabelecida a escolarização obrigatória universal (embora isso ainda não tenha ocorrido efetivamente), e houve muito esforço por parte dos docentes.

O ensino de uma minoria quase homogênea passa para uma grande quantidade de meninos e meninas bem diferentes, juntando-se a isso as mais variadas reformas, as variadas formas de organização escolar, as novas tecnologias, as mudanças sociais etc. Esse esforço para o ensino, na maior parte das vezes não é reconhecido profissional e socialmente. Baseado nas mudanças citadas, o professorado saiu de uma função de instrução para uma função de educação e agente social, embora as políticas conservadoras do século XXI anseiem pelo retorno à instrução.

Mas a situação de vida do professor foi sendo inserida na sociedade como importante nesse século, por consequência de muitas lutas. E seu respeito, para muitos pais, sempre ocorreu, pelo povo também, mas nem sempre, ou na maioria das vezes nunca, pelos governantes, por intelectuais prepotentes.

Mas Imbernón (2016), explicita que a mudança mais importante se deu na sua formação. Antes, um a formação inicial escassa, não universitária, para uma formação de professores com estudos adequados de conhecimentos psicológicos e pedagógicos. A formação permanente também mudou, a atual mentalidade é de estudo continuo, já que se trata agora de uma função complexa.

Já no século XX, se falava em formação permanente, através da qual o professor devia pesquisar sua prática, e no século XXI há a exigência de uma nova forma de ser professor, que requer que este profissional participe criticamente em seu contexto, transmita valores e comportamentos democráticos, respeito à diversidade cultural, social, ao meio ambiente. Para Imbernón, se a sociedade mudou é preciso analisar se a educação atual que é fragmentada e por isso mesmo não consegue relacionar e articular conceitos e conteúdos acadêmicos, se esta educação é útil. As especializações desse modelo de escola têm tendência para os conteúdos curriculares isolados e adquiridos por memorização repetitiva. A fragmentação não é útil, pois rejeita a complexidade da realidade atual. (MORIN, 2011, apud IMBERNÓN, 2016, p. 61) refere que a fragmentação de saberes (natureza, cultura, ciências, humanidade entre outros)

levam a uma visão reducionista para resolver problemas globais e fundamentais. Esse é um dos males mais perigosos dessa especialização do ensino.

Imbernón (2016) explica que essa fragmentação teve início no século XIX e começo do século XX com a especialização e ensino centrado em disciplina, sem relação entre estas, o que não contribui para os processos complexos da atualidade. A fragmentação causa superficialidade de conhecimento e é obstáculo ao estabelecimento de relações entre saberes, dificulta a construção de esquemas que os alunos precisam para entender o mundo. Essa fragmentação é uma ideologia que rompe a unidade social, a compreensão sistêmica e ensina fatos e dados que aumentam a distância entre o saber e o cotidiano.

A desfragmentação curricular é conhecida por meios de propostas globalizadoras, multidisciplinares e interdisciplinares e baseado nas ideias de (MORIN, 2011, apud IMBERNÓN, 2016, p. 62) até transdisciplinares em currículos integrado e não fragmentado em disciplinas acadêmicas. Organiza o ensino em centros de interesses, em temas ou projetos de trabalho multidisciplinar.

As instituições escolares vivem os conflitos da sociedade e os professores assumem novos papéis educativos que exigem que estejam atualizados sobre os acontecimentos científicos e sociais, e mesmo que o que se ensina na escola possa ser aprendido fora delas, ainda assim é fundamental aprender o que é cidadania, democracia, solidariedade e outros valores que na escola são vivenciados. O que se precisa é sair do trabalho isolado para o trabalho em equipe para dar conta dos aspectos éticos, relacionais e grupais tão necessários quanto o saber técnico.

Ser professor no século XXI mudou, sua função aumentou e diversificou-se, assim como sua imagem social. São tempos de incertezas e mudanças.

2.6 A qualidade da educação: não está só nas escolas

Há muito a fazer para a educação de qualidade, que para Imbernón (2016) é a que consolida a democracia dos povos, vencendo desigualdades e aumentando as expectativas de crianças, jovens e adultos. Educação é direito de todos e patrimônio da humanidade. Todos têm direito a ela. Foram muitos os acontecimentos sociais do final do século XX que levaram a escola a uma crise de identidade que precisava encontrar novo papel, o que gerou crises em seus profissionais que sofrem e se desorientam até os dias atuais. O que se relata é que a escola perdeu sua “autoridade educativa” pelo vigor que o contexto atual apresenta.

Imbernón (2016) afirma que houve, contudo, mudança de papel dos professores e a função da escola mudou e esta entra em crise por ter perdido sua “autoridade educativa”, e educar crianças e jovens não é possível somente na escola. Os contextos são bem mais atuantes e nem sempre coincidem com os valores defendidos na escola, o que gera exclusão escolar, social, o abandono, o absenteísmo e reprovação. É o modelo de escola criado no século XVIII, consolidada no século XIX foi renovada pelos movimentos da escola nova no século XX e que com os professores formados nesse século tentando educar crianças e jovens do século XXI.

Continua Imbernón (2016) que com tudo o que foi exposto anteriormente, fica a certeza de que a escola não é mais capaz de educar sozinha e necessita de apoio das diversas instâncias sociais. “As comunidades de Aprendizagens” não são metodologias, mas um jeito de pensar a escola com participação, cooperação e solidariedade entre todos. A concepção é de que não se aprende somente na escola, mas nos contextos que envolvem a escola. Mas esta instituição também deveria se converter em uma comunidade de prática e de compartilhamento de problemas, projetos, ideias, desilusões, sucesso etc. Eis a diferença entre reuniões burocráticas de reuniões de trabalho

Para a transformação da escola em uma comunidade de aprendizagem, algumas mudanças se impõem, e a primeira delas é a mudança nas relações de poder. Portanto é necessário mudar a organização da escola, ficando esta subordinada às prioridades definidas pela comunidade.

O edifício escolar atual, que ainda corresponde à educação do passado com modelo de indústria, deve ser repensado para formas não estáticas, que possibilitem a quebra do isolamento das salas fechadas e liderança compartilhada. Requer novo papel do conselho escolar e da equipe de direção (esta facilita reuniões, oferece informação, possibilita comunicação, valoriza o trabalho, delega funções e tem papel chave no desenvolvimento da comunidade, e incentiva os trabalhos de transformações adotadas). As pessoas de fora também exercem novo papel participando de todo o trabalho da instituição.

Imbernón (2016) chama a atenção para a necessidade da organização de comissões de trabalho para a otimização dos recursos, a delegação de responsabilidades, aumento dos serviços da escola, organizar as salas de aula, enfim, uma otimização dos espaços escolares e do tempo de atividades dos alunos formados em agrupamentos flexíveis. Aprender com o contexto é uma possível alternativa para a qualidade da aprendizagem dos alunos na escola, evitando a todo custo a sua exclusão.