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2.1 A CIÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO

2.4. GESTÃO DA INOVAÇÃO

O debate em torno do tema inovação tem permanecido ligado necessariamente a observações de ordem econômica, como pressões da demanda, investimentos e competitividade. Os conceitos de amplitude tecnológica e de meios de inovação permitem novas formas de agregar teorias e práticas empíricas em uma abordagem sociológica, incluindo as variáveis socioculturais em suas avaliações. Alguns autores já participam desse processo de forma bem intensa.

Segundo Rua (1999), o conceito de inovação foi criado, originalmente, para atender às necessidades de políticas, de ciência e tecnologia associadas às políticas econômicas, na busca de uma maior competitividade internacional. Deste modo, o

48 termo inovação designava estritamente mudanças tecnológicas. Desde então, o conceito se estendeu e, atualmente, inclui diferentes formas de mudanças socioculturais, que vão da relação entre o capital e o trabalho, da organização e do cliente, até novas formas de gestão. A capacidade de inovar depende necessariamente do aparecimento de certas condições ambientais propícias para a inovação, caracterizadas pela disposição de certos elementos institucionais, comportamento político, cultura organizacional, participação e valores sociais.

Contextualiza Zogbi (2008), que o universo da inovação só existe através das experiências, sendo através delas (das disputas) que temos condição de evidenciar fatos relevantes. Onde a relevância pode ser apreendida como a afirmativa social da conquista, a comprovação de que inovamos e interferimos na realidade até alterá-la. Pois, não há inovação sem relevância. Se a idéia ou novidade é irrelevante, desperdiçamos nossa criatividade.

A inovação é tratada na administração como um assunto estratégico, sendo apontada como um fator crítico na obtenção de vantagem competitiva, presente em toda história da humanidade, porém com certa insuficiência quanto à compreensão da questão de valor.

Schumpeter (1998) discorre que o desenvolvimento econômico é resultante de inovações (invenção a qual é imputada dois tipos de valores, um valor de uso e um valor de troca), tendo assim novas formas de combinação dos meios de produção disponíveis. Combinações, essas, que podem ser vistas de forma ampla, como a criação de novos produtos, a introdução de novos métodos de produção, a conquista de um novo mercado ou uma forma nova de organizar um setor.

Schumpeter (1998) destaca ainda um aspecto importante no processo de difusão da inovação: é que a adoção da inovação em outro lugar não pode ser interpretada como cópia. E sim como uma agregação de valor, pois a difusão determina nova condição para a inovação. Ao se implantar uma inovação em outra realidade, isso implica, a priori, uma adaptação às diferentes condições dessa nova realidade, representando também uma oportunidade, um momento de promover uma inovação incremental na inovação de base.

Schumpeter é verdadeiramente um ícone na teoria econômica e tem sempre, em quaisquer temas relacionados à inovação, suas idéias citadas de forma contundente. Para ele a rotina é a constante e necessária evolução, onde o lucro das firmas resulta de inovações, contrariando o mecanismo de preços de mercado

49 defendido pelos teóricos da economia clássica, rompendo assim com o pressuposto do mercado como força organizadora da economia.

Nelson e Winter (2005) complementam através do seu trabalho, enfatizando que as empresas procedem de forma a satisfazer ou alcançar os seus objetivos e não, meramente, na maximização do lucro. Pois, convivendo com conflitos no interior da firma e preocupando-se na compreensão do seu ambiente externo de atuação organizacional, são necessariamente forçadas a utilizar-se da inserção de inovações. Para os autores, a sobrevivência da firma está relacionada à sua habilidade de assimilar como alterar seus padrões e rotinas de ação, empregando uma visão sistêmica e holística e um mecanismo de seleção, que são as características básicas da abordagem evolucionista da Economia. As firmas que ofertam produtos mais desejáveis ao consumidor resultam em um maior sucesso e crescem a taxas maiores do que a concorrência.

Na visão de Rua (1999), a inovação pode ter pequenas modificações e ser bastante simples ou extraordinária, resultando desde mínimas modificações de procedimento até uma forma absolutamente nova de trabalho, geralmente vinculada ao avanço da tecnologia. Além disso, as inovações podem ser cumulativas, resultando em um processo de melhoria contínua.

Enfim, a inovação alcança diferentes áreas e resultados. Ela pode alterar processos de trabalho, produtos específicos ou a forma como a organização é gerenciada, resultando em maior ou menor sucesso. Na administração pública, o conceito de inovação também é caracterizado por uma definição bastante vasta, e tem como barreira frequente o desestímulo à criatividade.

Mas, foi Schumpeter (1982) que, na busca do entendimento do sistema capitalista moderno, conseguiu incorporar em sua teoria econômica, com maestria, o conceito de inovação como elemento principal do processo de desenvolvimento social, ou seja, desenvolvimento de um modelo através da técnica e o empirismo prático buscando a explicação dos fenômenos sociais. Nele, inclusive, é caracterizada a condição da competitividade sem concorrência, condição similar ao da administração pública.

Este autor questionou de forma singular a abordagem neoclássica, na associação da base cientifica à base tecnológica de uma determinada atividade, definida na relação “invenção-inovação, propondo a classificação da tecnologia como um bem que se agrega a um sistema produtivo em seu processo de criação,

50 com o envolvimento de custos e riscos. Assim, a transição da invenção para a inovação necessita da existência do agente econômico que se encontra no cento do processo competitivo: o empresário, que faz uso da informação tecnológica como ferramenta para competitividade. Transformando e internalizando a ciência e a tecnologia em fatores centrais da dinâmica capitalista.

O seu trabalho acerca da teoria do desenvolvimento econômico foi fundamental para a estruturação de uma base conceitual nesse campo da ciência. O cunho de valor do seu trabalho reside no consistente foco na inovação, como principal fonte do crescimento do capitalismo, pela importância dada aos diferentes conceitos de invenção, inovação e difusão tecnológica e pela forma de analisar a ligação entre inovação organizacional, gerencial, tecnológica e social, acatando a existência de diversos tipos de inovação.

Reforçam Nelson e Winter (2005), que o processo de inovação, ao envolver um alto índice de incerteza e risco, antes e após a sua inserção, gera um desequilíbrio contínuo de mercado, implicando lucros supranormais aos inovadores, cópia ou extinção para as firmas não pioneiras, barreiras para os entrantes potenciais e o surgimento de novos produtos que influenciarão a estrutura da indústria e as suas atividades com fornecedores e clientes.

Os aspectos organizacionais tornam-se importantes na proporção em que favorecem ou não a inovação, pois a inovação acontece dentro do ambiente organizacional. Segundo Fiates (2001) devem ser observados quatro importantes componentes organizacionais: cultura, estrutura organizacional, pessoas e tecnologia. Estes são os elementos essenciais para fomentar um ambiente que direcione à aprendizagem e, dessa base, à inovação. Pois, uma empresa, dita inovadora, distribui informações para criar conhecimento, delega autoridade e poder de decisão objetivando tirar o melhor proveito de todo o potencial criativo e inovador das pessoas.

I – A cultura

A cultura é definida por Schein (1986) como o fruto do aprendizado pela vivência comum de um grupo, com a probabilidade de existirem diversas “culturas” diferentes numa organização. O autor defende que a cultura é aprendida e pode ser desenvolvida através da experiência. Nesse direcionamento, existe uma socialização e uma internalização de modelos culturais e códigos coletivos, que

51 podem ser alterados, sofrem inovação, já que são tidos como resultantes de um procedimento natural de aprendizagem. Portanto, qualquer modificação que as empresas empreendam no jeito de fazer as coisas tem-se expressa através de um mudança cultural que reflita os novos valores, princípios básicos e crenças, que promovem e amparam essa nova organização.

II – A estrutura organizacional

Nesta sociedade em frequente mutação, surgem empresas virtuais, empresas em rede, empresas carentes de um mínimo de estrutura formal. Porém, qualquer que seja o formato selecionado é importante que seja flexível, fluido, maleável e que promova a interação entre indivíduos de diversos níveis hierárquicos. Pois a inovação flui de forma mais dinâmica em estruturas mais ágeis e mais horizontais, sem tantos níveis hierárquicos.

Segundo Janov (1996) aquilo de que mais precisamos hoje são estruturas e hierarquias organizacionais que existam apenas para unir esforços diversos, não para conferir status. Quando o nosso status deriva de nossa posição na hierarquia, concentramo- nos em preservar nosso status e não em prestar serviço a todo sistema. Preservar status = preservar o status quo.

Na análise da estrutura se exige a observação, também, do poder e da divisão do trabalho. No tocante à divisão do trabalho, a mais indicada para o processo de inovação é a divisão do trabalho por equipes. Exemplificando, equipes multifuncionais, com interesses comuns e relações de conhecimento que se complementem, normalmente obtêm melhores resultados em situações desafiantes que promove e reforça a utilização de todo o seu potencial (ALLEN, 2000).

52 III – As pessoas

Elas são o verdadeiro espírito da organização que aprende e inova. As organizações demonstram por vezes esquecer a necessidade de inclusão integral do individuo na organização para que ele encontre certa legitimidade no que faz, descubra motivação para produção e aprendizado nas suas experiências e assim inove (GUERREIRO RAMOS, 1983).

IV - A infraestrutura

Quarto elemento a ser analisado, é um necessário e importante elo que, na organização, possibilita às pessoas elevarem ao máximo o seu potencial inovador através da aprendizagem, fornecendo as condições adequadas para a aquisição de dados e informações, objetivando a formação do conhecimento, como também, a distribuição deste por toda a empresa.

Sintetizando, o desenvolvimento da potencialidade inovadora de uma organização exige que observemos o seu ambiente interno, na busca de quebrar barreiras e fomentar uma cultura necessariamente inovadora. Diante disso, ressalta- se a harmonia entre estrutura organizacional e sua cultura, consolidando as bases para a organização das pessoas e a infra-estrutura maximizando os resultados do processo de aprendizagem que levam ao sucesso da empresa no mercado.