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3. METODOLOGIA

4.6 Gestor do SEBRAE / RJ

O gestor do SEBRAE / RJ ligado à política da instituição voltada para Incubadoras de Empresas fez um balanço e uma avaliação da experiência da sua instituição junto às Incubadoras de Empresas.

“O SEBRAE já trabalha com o movimento de Incubadoras há pelo menos uns 10 anos, apoiando a nível nacional e a nível Rio de Janeiro”.

“Isso é um movimento antigo, como eu já falei, já tem mais de 10 anos e que ele se originou de um edital, são recursos que começaram com o SEBRAE nacional enquanto sistema”. “O SEBRAE nacional há uns 3 ou 4 anos atrás deixou de apoiar a infra-estrutura da Incubadora e passou a apoiar ações de sustentabilidade dessas Incubadoras”.

“Eu acho que hoje, esse é o grande nó do movimento de Incubadoras de Empresas no Brasil. É a sustentabilidade do estabelecimento. Em alguns momentos do negócio Incubadora, porque como eu falei, o SEBRAE ao longo de muitos anos apoiou a infra-estrutura da Incubadora. O SEBRAE pagava o salário do gerente. O SEBRAE chegou a custear aluguel, conta de telefone, enfim. Então, durante um tempo ele subsidiou esses custos para tentar viabilizar o movimento de Incubadoras”.

“O que o SEBRAE nunca fez foi financiar obras de melhoria, nada disso. Isso era uma contrapartida da instituição que abriga a Incubadora”.

“O movimento de Incubadoras, como você já deve saber, é um movimento que ele necessariamente é tripartite. Então ele precisa do empresário, de uma agência de

desenvolvimento, fomento e apoiadora que no caso é o SEBRAE. Ele precisa também de uma instituição de transferência tecnológica, que é o que fundamenta uma Incubadora de Empresas, ou seja, transformar idéias acadêmicas em negócios, ou, transformar negócios, alinhando com idéias acadêmicas em grandes oportunidades e novos negócios”.

“Então eu preciso ter um ente tecnológico, para poder suportar tecnicamente o processo de construção de um negócio, a partir de uma idéia ou vice-versa. Eu preciso ter uma entidade de apoio financeiro para custear certas despesas que muita das vezes é impossível dessas instituições arcarem”.

“O SEBRAE, em um primeiro momento, entrou como essa entidade de financiamento, com dinheiro para pagar essa infra-estrutura, mas com um plano claro de investimento de que ao longo de 5, 8, de 10 anos, ele deixaria de atuar nessa infra-estrutura, porque o SEBRAE acredita que essa Incubadora, no seu objetivo e no seu estatuto, tem que ter uma participação nos lucros das empresas graduadas”.

“Acreditou-se no inicio do movimento de Incubadoras que o fluxo continuo de empresas entrando, na pré-incubação, na incubação e na graduação. Que esse fluxo de empresas graduadas, por serem bons negócios, com um alto valor agregado, principalmente as de base tecnológica, que a participação das Incubadoras nos lucros dessas empresas graduadas, que esse fluxo financeiro fosse suficientemente alto para manter todos os custos operacionais variáveis e fixos desse condomínio tecnológico chamado Incubadora”.

“Esse modelo não teve sucesso porque os laços comerciais entre os graduados e a própria Incubadora, eles não são laços sólidos, não são laços firmes. Essas empresas graduadas, a prática mostra que com mais ou menos 5 anos, grande parte delas são vendidas, são incorporadas por outras grandes empresas. E se antes o vínculo com a pequena era difícil, onde o poder de barganha era muito grande, da Incubadora frente a esse pequeno, depois que essa empresa é incorporada por uma grande, efetivamente o vínculo cessa de imediato”. “Eu diria que o movimento de Incubadoras chegou em um Y de processo, onde instituições como os SEBRAE não apóiam mais salários, infra-estrutura, instituições como a FINEP, que tem editais específicos, o PNI por exemplo, eles não apóiam ou apóiam muito pouco infra- estrutura. Apóiam mais o desenvolvimento em si, apóiam a inovação em si. Não apóiam a infra-estrutura que sustenta a incubação e a própria academia não tem dinheiro para apoiar essa infra-estrutura”.

Como se vê, o SEBRAE vem apoiando o movimento de Incubadoras há mais de 10 anos, atuando no modelo tripartite das Incubadoras de Empresas como um agente de fomento. Em um primeiro momento, o SEBRAE fomentou o surgimento das Incubadoras, apoiando toda parte de infra-estrutura como salários de gerentes, aluguel e outras despesas. O apoio à infra- estrutura tinha um caráter temporário, já que, filosoficamente o SEBRAE acredita que as Incubadoras devem ter uma participação nos lucros das empresas graduadas. Esse modelo não se mostrou consistente, e hoje, instituições de fomento como o SEBRAE, FINEP passaram a direcionar seus esforços não mais na infra-estrutura, mas no desenvolvimento das Incubadoras

de Empresas. Essa situação acabou gerando um tradeoff para as Incubadoras, que por um lado, suas instituições mantenedoras, na sua maioria, não conseguem sustentá-las e por outro, acabaram perdendo suas fonte de receita oriunda dos agentes de fomento.

Neste sentido, o gestor do SEBRAE apontou um novo caminho que poderá ser seguido pelas Incubadoras de Empresas:

“Então a gente passa um momento que, por exemplo, tem uma Incubadora maravilhosa que está migrando para se transformar em um escritório de projetos. Hoje ela opera com mais ou menos 50 projetos por mês. Então, o custo fixo dela é suportado por uma prestação de serviço”.

“São projetos não necessariamente voltados para os incubados e não necessariamente é uma lucratividade dos próprios incubados que estão dentro da Incubadora. É uma expertise que se criou dentro da Incubadora e que está sendo utilizada para sustentar a Incubadora. É a lei da sobrevivência, dentro do meio ambiente que você vive você vai tentando sobreviver”.

“Então eu acho que hoje, é um movimento que está muito carente do poder público, aqui no Rio de Janeiro principalmente. O poder público não participa do movimento de Incubadora, o governo do estado não entrou no movimento de Incubadora. Eu acho que era uma entidade necessariamente, assim, mantenedora dessas atividades, porque são negócios com alto valor agregado, são negócios com alto valor de competitividade e são negócios que utilizam a infra-estrutura tecnológica que o Rio tem e que é subutilizada”.

Pode-se observar que as Incubadoras, como empreendimentos, estão buscando alternativas de sobrevivência, principalmente devido a inoperância do poder público e das políticas públicas voltadas para as Incubadoras de Empresas. Percebe-se, no entanto, o surgimento de atividades ou mecanismos não vinculados às atividades e objetivos das Incubadoras, mas que pelo acumulo de expertise por parte dos seus gestores, acabam viabilizando novas fontes de receita. De certo modo, não se sabe ao certo até que ponto a escolha por este caminho levará as Incubadoras à solução dos seus problemas ou a interferências nos seus objetivos.

Em um segundo momento, o SEBRAE passou a investir na capacitação dos gestores das Incubadoras, porém, o gestor do SEBRAE aponta alguns fatos observados durante esse processo.

“Só para te dar uma informação, o SEBRAE e a ANPROTEC, enfim o movimento de Incubadoras no Brasil já deve ter investido uma boa quantidade de dinheiro para capacitar esses gerentes. O gerente da Incubadora”.

“Só que a gente tem um problema, o volume de trocas, a quantidade de vezes que um gerente sai de uma Incubadora e outro entra é muito grande. Eu não posso manter uma capacitação contínua de um gerente de uma Incubadora. Muitas das vezes o gerente da Incubadora entra, passa um ano lá, aparece uma nova oportunidade profissional e ele vai embora, o que é natural”.

“Mas eu não posso manter um processo de capacitação contínuo. Então a gente percebe o seguinte, as empresas incubadas não podem ser reféns da competência do gerente da Incubadora. Eles têm que construir uma competência própria gerencial”.

Percebe-se claramente uma preocupação do SEBRAE com a ineficiência dos investimentos voltados para a capacitação dos gestores das Incubadoras, principalmente devido a alta rotatividades desses gestores em algumas Incubadoras. Neste sentido, o foco de atuação do SEBRAE está passando a ser a própria empresa incubada.

“Então a gente mapeou que existe um gap muito grande de capacitação, de consultoria, e é exatamente o que o SEBRAE vai oferecer para as empresas agora no segundo semestre. É esse trabalho de coaching, esse trabalho de tutoria”.

“Normalmente o que a gente vê nas Incubadoras e se você fez as entrevistas, você verifica isso, é que nos temos pessoas fantásticas dentro das Incubadoras, mas são inventores, são técnicos, são pessoas que conhecem da técnica do seu produto, do seu negócios, mas que eles não são empresários. Essas pessoas não são empresários”.

“Então o que o SEBRAE está se propondo a fazer hoje e vai começar esse programa no segundo semestre, é transformá-los em empresários. Porque técnicos eles já são. Então a gente precisa formar eles em empresários, para que eles dependam cada vez menos de ter um gerente da Incubadora mapeando oportunidades de negócios para eles próprios, porque eles não têm esse feeling”.

“No inicio talvez seja importante, porque você está começando, mas naturalmente ele tem que começar a criar a sua própria rede”.

“Esse gerente da Incubadora, sem desmerecer o processo de uma Incubadora, você tem gerentes maravilhosos no Rio de Janeiro e que atuam muito fortemente nesse mercado, nesse movimento para enaltecer os Incubadoras, mas a gente não pode ficar refém deles. Porque o movimento de Incubadoras que o SEBRAE apóia está enxergando o empresário que está por trás do movimento”.

Percebe-se então, nas palavras do gestor do SEBRAE, que o foco de atuação do SEBRAE está passando a ser a capacitação empresarial dos gestores das empresas incubadas, para que estes, durante o processo de incubação, fiquem cada vez menos dependentes da articulação dos

gestores. No inicio deste processo de Incubação é natural que essa dependência seja maior, porém, a empresa com o passar do tempo deverá ser capaz de articular sua própria rede de relacionamentos. Cabe ressaltar também no comentário do gestor do SEBRAE que não existe um problema especifico com a figura do gestor da Incubadora, mas sim na alta rotatividade dos gestores de algumas Incubadoras, a capacidade desses gestores em articular a rede das Incubadoras e principalmente a uma dependência prolongada das empresas incubadas em terem os gestores das Incubadoras como articuladores das suas redes.

Com relação a articulação do SEBRAE com outros agentes ligados à políticas públicas voltadas para as Incubadoras de Empresas, o gestor do SEBRAE comentou:

“É, nós temos várias instituições e cada instituição infelizmente, eu acho que por falta de planejamento, tem linhas que horas são complementares, horas são concorrentes e horas são paralelas e nem se enxergam”.

“É muito difícil você fazer um programa nacional, chega a ser utopia você pensar em alguma coisa nacional. Você fazer alguma coisa nacional é não respeitar o Brasil. O Brasil é muito grande para você ter alguma coisa nacional”.

“O PNI é um programa nacional que não tem um foco regional. Tanto é que essas instituições, elas se associam, se coligam em caráter nacional. O PNI tem uma associação, o SEBRAE participa do PNI a nível nacional”.

“Então o PNI é uma janela de oportunidade que está lá e que as Incubadoras, que as instituições acessam essa janela de oportunidade dentro de um hall de oportunidades para desenvolver o programa. Então eu tenho o hall de oportunidades, eu tenho o nosso programa local de Incubadoras, que a gente opera muito através da rede de Incubadoras que fica dentro da Rede de Tecnologia, no estado do Rio de Janeiro. É o nosso movimento local”.

“Então eu tenho o SEBRAE nacional, o SEBRAE DF, 27 UFs de SEBRAE. Então o SEBRAE Rio não responde hierarquicamente ao SEBRAE nacional. É um sistema com autonomia”. “A ANPROTEC é uma associação nacional das Incubadoras. A gente participa da ANPROTEC, mas com isonomia. Eu não respondo a ANPROTEC. A ANPROTEC não tem hierarquia sobre as ações no Rio de Janeiro”.

“[...] não há uma hierarquia direta. É claro que o bom senso faz com que a gente se fale o tempo todo. A gente está sempre conversando o tempo todo. Pra que eu não entre em uma linha de investimento, em uma linha de ação divergente com o que está acontecendo por lá. Não tem sentido”.

“Então, por exemplo, esse programa para as Incubadoras, ele está alinhado com o programa que o SEBRAE nacional vai lançar daqui a uns dois anos, onde ele vai dar dinheiro para as Incubadoras que tenham um bom indicador de performance”.

Como se vê, no âmbito nacional, a rede formada pelos agentes ligados a políticas públicas voltadas para as Incubadoras de Empresas apresentam uma reduzida capacidade de articulação. Especificamente com o SEBRAE, há uma autonomia das ações locais em relação às ações nacionais, existindo apenas um alinhamento mínimo das ações nesses diferentes níveis hierárquicos.

Nesta seção, buscou-se analisar todas as informações obtidas por meio das entrevistas com os agentes inseridos nas redes das Incubadoras pesquisadas. Na próxima seção serão apresentadas as conclusões que buscam responder a questão levantada nesta pesquisa.