O GLENIF é um organismo criado a partir da união de esforços e objetivos em comum de entidades emissoras de normas contábeis de dezessete países da América Latina, conforme ilustrado na Figura 10. Esse grupo trabalha em parceria com o IASB, promovendo discussões de assuntos técnicos, porém, respeitando a soberania nacional de cada um de seus países membro.
De acordo com o GLENIF (2014), o grupo possui os seguintes objetivos: (a) promover a adoção e/ou convergência das normas internacionais emitidas pelo IASB; (b) cooperar com governos, reguladores e outras organizações regionais, nacionais e internacionais que contribuam para a melhor qualidade das demonstrações financeiras da região; e (c) colaborar com a difusão das normas emitidas pela IASB.
Os assuntos técnicos são discutidos por meio de Grupos Técnicos de Trabalho (GTT), divididos por áreas temáticas. Cada GTT é composto por membros que representam os grupos
de interesse de cada país e por um coordenador, com a assessoria de especialistas qualificados (GLENIF, 2014). De acordo com o Regulamento do GLENIF, cada país poderá designar um membro com direito a voto, e outros, sem direito a voto, que poderão participar ativamente das reuniões.
Figura 10 – Grupo de Países que compõem o GLENIF
Fonte: GLENIF (2014).
O Diretório aprova o Plano de Trabalho de cada GTT, cujas tarefas são desenvolvidas conforme essas delimitações. Cada país emite a sua opinião e as informações são discutidas e consolidadas no âmbito do grupo, que decide por maioria simples de votos dos membros presentes (GLENIF, 2014). O relatório final é repassado ao Diretório, que, após aprovação, o envia ao IASB.
Segundo Torres (2011, p.1), o presidente do IASB, David Tweedie, em entrevista concedida na sede da Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de São Paulo (BM&FBOVESPA), “disse que seria “útil” que houvesse essa coordenação na região. “Não é bom que o Brasil peça uma coisa e que ao mesmo tempo o México e a Argentina defendam algo diferente””. Para David Tweedie, quando há vozes isoladas, há um maior risco delas não serem ouvidas (TORRES, 2011).
Apesar dos dezessete países participantes do GLENIF terem se juntado com a finalidade de promover a adoção das normas emitidas pelo IASB e colaborar com a sua difusão, nem todos aderiram completamente às normas internacionais, como se pode verificar no Quadro 8.
Quadro 8 – Adoção das IFRS nos Países que compõem o GLENIF
PAÍS Status de adoção das IFRS IFRS obrigatório para todas as
empresas listadas em bolsa Argentina Adoção obrigatória apenas para companhias abertas A partir de 2012, para todas as
companhias abertas
Bolívia O Conselho Técnico Nacional de Auditoria e
Contabilidade (CTNAC) aprovou um plano para a adoção gradual das IFRS (2015: companhias abertas; 2016: empresas de médio porte; 2017: pequenas e micro empresas). No entanto, este plano está aguardando a aprovação da Autoridade de Fiscalização e Controle Social de Empresas (AEMP), órgão regulador governamental responsável por aprovar as normas de contabilidade na Bolívia
Brasil Adoção obrigatória para todas as companhias abertas e pequenas e médias empresas (PME)
A partir de 2010, para todas as companhias abertas
Chile Adoção obrigatória para todas as companhias abertas e
PME Para as companhias abertas, gradativamente, de 2009 a 2010
Colômbia Vai adotar as IFRS, de acordo com o calendário a seguir (Lei 1.314/2009):
• Em 2015 para todas as companhias abertas, entidades de interesse público, grandes empresas, cuja matriz adotou IFRS e empresas em que 50% ou mais de suas receitas são de exportação ou importação;
• Em 2016 para as PME
A partir de 2015, para todas as companhias abertas
Costa Rica Adoção obrigatória para todas as companhias abertas e
PME A partir de 2002, para todas as companhias abertas
El Salvador Adoção obrigatória para todas as companhias abertas e
PME, exceto bancos, companhias de seguros e fundos de pensão, que estão sujeitos a normas emitidas pelos reguladores do governo
A partir de 2012, para todas as companhias abertas, exceto bancos, companhias de seguros e fundos de pensão
Equador Adoção obrigatória para todas as companhias abertas e PME, exceto bancos, seguradoras e outras instituições financeiras, que estão sujeitas às normas emitidas pela Superintendência de Bancos e Seguros
A partir de 2010, para todas as companhias abertas, exceto bancos, seguradoras e outras instituições financeiras
Guatemala A deliberação que instituiu o uso das IFRS não tem força de lei. Portanto, para as companhias abertas, o uso é permitido, mas não exigido. Bancos, companhias de seguros e outras instituições financeiras regulamentadas não estão autorizados a apresentar suas demonstrações financeiras com base nas IFRS
Honduras Adoção obrigatória para todas as companhias abertas e PME, exceto bancos e outras instituições financeiras, cuja adoção está prevista a partir de 2015
A partir de 2012, para todas as entidades, exceto bancos e instituições financeiras. Obs.: Não há bolsa de valores em Honduras
México Adoção obrigatória apenas para companhias abertas,
exceto instituições financeiras e empresas de seguros A partir de 2012, para todas as companhias abertas, exceto instituições financeiras e empresas de seguros
Panamá Adotou as IFRS para todas as companhias abertas e PME, exceto as companhias de seguros, que foram obrigadas a adotar apenas a partir do ano de 2014
A partir de 2000, para todas as entidades, exceto companhias de seguro, que estão obrigadas a partir de 2014
Paraguai IFRS são permitidas (mas não exigidas) apenas para as companhias abertas, exceto instituições financeiras. As empresas que utilizam as IFRS de forma voluntária, não precisam conciliar suas demonstrações com as normas nacionais paraguaias
(conclusão)
PAÍS Status de adoção das IFRS IFRS obrigatório para todas as
empresas listadas em bolsa
Peru Adoção obrigatória apenas para companhias abertas A partir de 2011, para todas as
companhias abertas, exceto instituições financeiras, empresas de seguros e fundos de pensão, que foram obrigadas a adotar a partir de 2012
República
Dominicana Adoção obrigatória apenas para companhias abertas Para as companhias abertas, gradativamente, de 2012 a 2014
Uruguai Adoção obrigatória apenas para companhias abertas, exceto bancos, companhias de seguros, fundos mútuos e outras instituições financeiras, que foram obrigadas a adotar apenas a partir de 2014
A partir de 2012, para todas as companhias abertas, exceto bancos, companhias de seguros, fundos mútuos e outras instituições financeiras, que estão obrigadas a partir de 2014
Venezuela Adoção obrigatória das IFRS (com modificações)
apenas para as companhias abertas. A Venezuela modificou as IFRS para exigir demonstrações contábeis ajustadas a um nível de preço, quando a taxa de inflação é de 10% ou mais, mesmo que o teste de hiperinflação de 100% em três anos da IAS 29 não seja atendido
A partir de 2008, para todas as companhias abertas
Fonte: Elaborado pela autora, com base em IFRS (2014).
Ante o exposto no Quadro 8, tem-se que três países ainda não adotaram as IFRS (Bolívia, Guatemala e Paraguai), dois países vão adotar até 2015 (República Dominicana e Colômbia), cinco adotaram em 2012 (Argentina, El Salvador, Honduras, México e Uruguai), três adotaram antes de 2008 (Panamá, Costa Rica e Venezuela) e quatro adotaram entre 2010 ou em 2011 (Brasil, Chile, Equador e Peru).
Assim, apenas o Brasil, o Chile, o Equador e o Peru, inicialmente, compuseram a amostra de países objeto da análise desta pesquisa. Posteriormente excluiu-se o Equador do estudo, ao verificar-se que este país não publica as notas explicativas, elemento essencial para a identificação das escolhas contábeis. Os demais países foram excluídos, ou por ainda não terem adotado as IFRS, ou por tê-las adotado em período diverso de 2010/2011.
Quanto ao Brasil, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) é o órgão normativo brasileiro envolvido no estudo, desenvolvimento e emissão de normas contábeis, interpretações e orientações para as empresas brasileiras (IFRS, 2014). Suas regras são impostas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para as companhias abertas, e pelo CFC (Conselho Federal de Contabilidade), para as demais entidades (IFRS, 2014). Os documentos emitidos pelo CPC são denominados Pronunciamentos Técnicos e são identificados pela sigla CPC, seguidos de numeração sequencial, de hífen e da denominação (CPC, 2014).
Esses Pronunciamentos Técnicos estabelecem os conceitos doutrinários, a estrutura técnica e os procedimentos a serem aplicados pelas entidades, todos convergentes às IFRS emitidas pelo IASB, salvo algumas exceções (CPC, 2014). A BM&FBOVESPA é a companhia que administra o mercado de negociação de ações, títulos de renda fixa, câmbio pronto, contratos derivativos etc. de empresas de capital aberto do Brasil (BM&FBOVESPA, 2014). As companhias abertas brasileiras foram obrigadas a adotar as IFRS a partir do exercício findo em 2010, porém podiam adotá-las voluntariamente a partir de 2008.
Em relação ao Chile, o órgão responsável por emitir normas contábeis convergentes às IFRS é o Colegio de Contadores de Chile (CCCH); e o órgão responsável por normalizar, regulamentar e fiscalizar as companhias abertas é a Superintendencia de Valores y Seguros (SVS) (IFRS, 2014). As ações, os instrumentos de renda fixa e de intermediação financeira, os mercados futuros e as opções de entidades chilenas são negociados na Bolsa de Comércio de Santiago.
As Normas Internacionais foram adotadas em sua íntegra e denominaram-se Normas
de Información Financiera – Chile (NIFCH), correspondendo às IFRS e Normas de Información Contable – Chile (NICCH), correspondendo às IAS. A numeração das Normas
Internacionais adotadas pelo Chile segue a mesma ordem das emitidas pelo IASB. As companhias abertas chilenas foram obrigadas a adotar as IFRS gradativamente de 2009 a 2010 e não era permitida a adoção voluntária em exercícios anteriores.
No Peru, o organismo responsável pela emissão de resoluções para oficializar a adoção das IFRS pelas entidades é o Consejo Normativo de Contabilidad, e o organismo normalizador e fiscalizador das companhias abertas é a Comisión Nacional Supervisora de
Empresas y Valores (CONASEV) (MEF, 2014). As Normas Internacionais são traduzidas pelo IFRS Foundation e denominam-se Normas Internacionales de Contabilidad (NIC), quando se tratarem de tradução das IAS e Normas Internacionales de Información Financiera (NIIF), quando se tratarem de tradução das IFRS (MEF, 2014). A numeração e denominação das Normas Internacionais peruanas são equivalentes às emitidas pelo IASB.
A Bolsa de Valores de Lima é a instituição que administra a comercialização de títulos e valore mobiliários de companhias abertas do Peru, que foram obrigadas a adotar as IFRS a partir do exercício findo em 2011, com a possibilidade de adoção voluntária a partir de 1º de janeiro de 2010.
3 ASPECTOS METODOLÓGICOS
Esta seção está dividida em quatro partes. Na primeira (seção 3.1), são identificados os principais aspectos considerados para a seleção da amostra da pesquisa (identificação dos países, dos períodos e das empresas), bem como para a coleta de dados. Na segunda (seção 3.2), são detalhados os principais aspectos das normas internacionais que foram utilizadas para a identificação das escolhas contábeis em ativos imobilizados (IAS 16), em ativos intangíveis (IAS 38) e em PPI (IAS 40), e, em consequência, para a aplicação do Índice T (método utilizado para a mensuração da comparabilidade nacional e internacional) e da regressão (método utilizado para a identificação das possíveis variáveis explicativas).
Na terceira parte (seção 3.3), que refere-se à identificação da comparabilidade, expõe- se as hipóteses de pesquisa referentes a esse item e o detalhamento do cálculo do índice T. Na quarta parte (seção 3.4), que se refere à identificação das variáveis explicativas às escolhas contábeis dos gestores, apresentam-se as hipóteses de pesquisa referentes a esse elemento e o detalhamento do cálculo da regressão.