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2.4 Teoria Institucional e Teoria Positiva da Contabilidade

2.4.2 Teoria Positiva da Contabilidade

A PAT possui como um dos seus principais objetivos, a busca de explicações para as escolhas contábeis dos gestores dentro das entidades (DEMARIA; DUFOUR, 2007). Por meio dela, preocupa-se com a explicação da prática contábil, sendo concebida de forma a explicar e prever os motivos pelos quais as entidades adotam ou não adotam determinado método contábil (HASSAN, 2012).

Segundo Kabir (2010), a PAT tornou-se um dos métodos de investigação contábil mais influentes durante as últimas quatro décadas. Para esses autores, ela deu origem a uma grande quantidade de pesquisas empíricas sobre a relação entre os números contábeis divulgados e os determinantes de escolhas contábeis pela administração.

De acordo com Iudícibus e Lopes (2004) a PAT surgiu por volta dos anos de 1960, tornando-se um método de pesquisa dominante a partir da década de 1980, quando alcançou maior popularidade com o trabalho de Watts e Zimmerman (1986). A PAT fundamenta-se na

observação da realidade, com o intuito de investigar os motivos pelos quais determinada empresa adotou um método contábil específico, enquanto outras optaram por práticas contábeis diferentes.

Collin et al. (2009) trazem que a PAT prevê as escolhas contábeis de acordo com seus efeitos sobre a riqueza das partes interessadas, enfatizando os incentivos que essas partes têm, em relação à gestão das contas das entidades. Isso porque, para eles, na PAT se assume que as consequências econômicas das escolhas contábeis explicam a motivação por trás dessas escolhas.

Iudícibus e Lopes (2004, p. 19) argumentam que de acordo com a PAT “os indivíduos agem impulsionados por interesses próprios, embora possam perceber que seu destino depende da sobrevivência e manutenção da entidade ao longo do tempo”. Para eles, esse “jogo de interesses” define, não apenas as características das organizações, como também a preferência por métodos contábeis específicos.

Para Watts e Zimmerman (1986) existem três fatores que influenciam a decisão dos gestores quanto às escolhas contábeis e que podem ser testados empiricamente: (a) o plano de incentivo (bônus) dos gestores; (b) o endividamento da empresa; e (c) a visibilidade política da organização. O fator do plano de incentivo refere-se ao fato de que os gestores tendem a escolher os métodos contábeis que aumentem os resultados do período corrente (KABIR, 2010). Como os gestores são detentores de uma remuneração variável, essa prática aumentará o valor presente dos bônus de incentivo a serem distribuídos (WATTS; ZIMMERMAN, 1986).

O que deve ser considerado, quanto ao fator de plano de incentivo, é que os gestores podem ser estimulados a eleger métodos contábeis que melhor se ajustem aos seus interesses pessoais (ao seu bem-estar pessoal) quando sua remuneração for baseada nos resultados da empresa (IUDÍCIBUS; LOPES, 2004). Assim, segundo Watts e Zimmerman (1986, p. 208, tradução livre), “mantidas as demais condições constantes, os administradores das entidades com plano de bônus, tendem a escolher procedimentos contábeis que promovam a antecipação dos lucros de períodos futuros, para o período corrente”.

Quanto ao fator de endividamento, tem-se que as empresas mais endividadas tendem a escolher práticas contábeis que aumentem o seu lucro atual (KABIR, 2010). Isso ocorre porque os contratos de empréstimos, geralmente, dependem dos números contábeis divulgados (HASSAN, 2012).

Para Watts e Zimmerman (1986), quanto maior for o grau de endividamento da entidade, a maiores restrições e condições essa empresa estará sujeita, por parte dos credores.

Ao se utilizar de técnicas contábeis que aumentam os seus lucros, os credores diminuem as restrições e condições impostas às empresas para a concessão de créditos, o que faz com que as entidades reduzam os seus custos de insolvência (WATTS; ZIMMERMAN, 1986).

Para Watts e Zimmerman (1986, p. 216, tradução livre) “mantidas as demais condições constantes, quanto maior for a razão entre as dívidas e o capital próprio, mais os gestores tenderão a selecionar procedimentos contábeis que promovam a mudança dos lucros de períodos futuros, para o período corrente”, especialmente se as entidades de crédito estiverem estabelecido limitações quanto a certos índices financeiros (IUDÍCIBUS; LOPES, 2004) .

O fator dos custos políticos, por sua vez, dispõe que as grandes empresas optam por métodos contábeis que transfiram os lucros atuais para períodos futuros, visando distrair a atenção política (KABIR, 2010). Caso os gestores identifiquem que a entidade está sob forte observação de natureza política e que essa observação pode refletir em elevação dos custos da empresa, eles tendem a escolher métodos contábeis que desloquem os lucros do período presente, para períodos futuros (IUDÍCIBUS; LOPES, 2004).

Esse fator dos custos políticos parte da premissa de que lucros elevados podem atrair a atenção de determinados segmentos da sociedade, tais como o Estado, a imprensa, os ambientalistas e os órgãos de classe. Para Iudícibus e Lopes (2004), a ideia que surge é que lucros expressivos podem ser associados erroneamente (ou não) a fatos como a exploração de mão-de-obra, sonegação de impostos, degradação do meio ambiente, ou outro comportamento que para a sociedade seria considerado inaceitável.

Conforme enfatiza esses autores, a entidade poderia sofrer penalidades financeiras ou ser submetida a tratamentos (por exemplo, reajustes salariais, boicotes, multas) que poderiam elevar os seus custos em relação aos custos atuais. Ademais, além da possibilidade de ter incentivos governamentais reduzidos, as grandes organizações são cobradas pela sociedade e pelo Estado a apresentarem políticas de conservação de recursos naturais, ações filantrópicas, dentre outras (IUDÍCIBUS; LOPES, 2004).

Assim, Watts e Zimmerman (1986, p. 235, tradução livre) trazem que “mantidas as demais condições constantes, os gestores das maiores empresas tendem a escolher procedimentos contábeis que adiem o reconhecimento de lucros do presente período, para períodos futuros”.

Admite-se, como proposto, que os desígnios pessoais guiam todas as atitudes dos gestores. Os três fatores supramencionados baseiam-se na ideia de que os indivíduos agem

com oportunismo, de maneira a defender seus interesses pessoais, o que faz com que a PAT esteja alicerçada aos princípios da Teoria da Agência.

A relação de agência pode ser definida como um contrato sob o qual uma ou mais pessoas (principal) delega poder a outrem (agente), para executar em seu nome, um serviço que implique em uma decisão (JENSEN, MECKLING, 1976). Para Nardi e Nakao (2007), existem decisões dentro das entidades que podem ser favoráveis a uma parte (o agente) e, em consequência, ser desfavoráveis a outra (o principal). Isso decorre do fato de que não existe agente perfeito, não existe contrato completo e existe assimetria de informações (NARDI, NAKAO, 2007).

Devido à necessidade de se reduzir os conflitos de interesse entre gestão e propriedade (conflitos de agência), as organizações podem dispor de controles que tenham o poder de limitar as atitudes oportunistas dos gestores, de forma a minimizar as diferenças de interesse entre eles. Assim, com esses mecanismos de controle, os gestores seriam levados a optar por práticas contábeis que reduzam os custos contratuais e que busquem uma melhor eficiência da entidade.

Sob essa perspectiva da busca por uma melhor eficiência da entidade, algumas características das empresas também podem explicar o motivo pelos quais diferentes empresas optam por diferentes práticas contábeis (IUDÍCIBUS; LOPES, 2004). Como exemplo, tem-se uma organização que opta pelo método de custo, por entender que ele gera informações mais adequadas para a negociação com investidores. Na Figura 9 está ilustrado um resumo do processo de escolha contábil, à luz da PAT.

Figura 9 – Resumo do Processo de Escolha Contábil de acordo com a Teoria Positiva da Contabilidade

Fonte: Elaborado pela autora.

Assim, ao se fazer uma pesquisa empírica com foco nas possíveis explicações para as escolhas contábeis dos gestores, conforme a PAT pode-se fazer a análise tanto sob a

OPORTUNISMO

Planos de Bônus Antecipar o lucro

Grau de

Endividamento Antecipar o lucro

Custos Políticos Postergar o lucro

EFICIÊNCIA Melhor eficiência da entidade Características da empresa

Teoria Positiva da Contabilidade Explicar e Prever Testes Empíricos Escolhas Contábeis

abordagem oportunista dos gestores, quanto sob a abordagem da eficiência dos proprietários (nesse último caso, quando os proprietários tiverem mecanismos de controle sob as decisões da entidade).

Em decorrência da abrangência do tema escolhas contábeis (especificamente na escolha entre os métodos do custo histórico e do valor justo), dos seus reflexos na “almejada” comparabilidade das demonstrações financeiras e das possíveis motivações às decisões dos gestores em optar por um método contábil em relação ao outro igualmente válido, pesquisadores despertaram o interesse em investigar esse assunto, como demonstrado na seção 2.5.

2.5 Estudos Anteriores sobre a Escolha entre os Métodos do Custo Histórico e do Valor