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5. A AMAZÔNIA E OS TELEJORNAIS NACIONAIS 65

7.1. REPRESENTAÇÕES DA AMAZÔNIA: 151

7.1.5. Governança: interferências dos Estados e instituições 161

Este Sistema Periférico reúne matérias sobre gestão do território ou de instituições localizadas na Amazônia, em particular sobre os temas posse de terra, defesa e segurança nacional, desenvolvimento regional e política.

A presença de órgãos oficiais de defesa ou das forças armadas brasileiras na Amazônia aparece em doze reportagens do período analisado. Referências aos Governos Militares foram encontradas em matérias sobre o garimpo de Serra Pelada onde “a bandeira do Brasil era hasteada todos os dias como num quartel” e cujo ouro foi um aval para o governo do General Figueiredo, último presidente militar. A Transamazônica é outro projeto dos Governos Militares na região. Nunca terminada deixou um rasto de “projetos de cidade que ficaram pelo caminho”.

Nos dias de hoje a Polícia Federal e o Exército brasileiro são as principais referências. Eles combatem o narcotráfico, o desmatamento, os piratas, os incêndios e ainda reforçam a segurança durante as eleições. Segundo o responsável pelo reforço da segurança no Pará durante as eleições 2010, o Major Fábio Corbalo: “Temos situações aqui que o exército não enfrenta em outros estados, a necessidade de sair com maior antecedência em função das grandes distâncias, a deficiência na comunicação...”83.

Já o município de Santa Rosa do Purus, na fronteira com o Peru é “uma cidade inventada ou reinventada. Santa Rosa do Purus, já nasceu e morreu neste mesmo lugar, como um vilarejo, duas vezes. Transformada em cidade há 17 anos, desta vez ela vai resistindo, aparentemente, por questões de segurança nacional. Há presença do exército e da policia federal. Os empregos que existem são quase todos públicos. [...] Na escola espanhol é uma matéria importante. É que mesmo assim, tão modesta, Santa Rosa é uma referência para as cidades da fronteira com o Peru. A cidade mais próxima do lado deles fica longe demais”84.

A posse ou ocupação de terras na Amazônia aparece em nove reportagens. O Programa Terra legal foi a medida adorada pelo Governo brasileiro para tentar “diminuir a violência gerada pela grilagem, regularizar as terras invadidas e evitar o desmatamento”. Mas tanto hoje como historicamente aparece como um dos agentes responsáveis por este cenário na região.

 

83 Reportagem exibida no Jornal da Record do dia 01 de outubro de 2010.  84 Reportagem exibida no Jornal Nacional do dia 21 de julho de 2010. 

A aprovação numa câmara especial do Congresso do texto do novo Código Florestal Brasileiro mostra a disputa entre ambientalistas e ruralistas sobre o uso das terras em áreas florestais. As mudanças no texto são vistas como uma derrota para a legislação ambiental no Brasil já que, entre outras medidas, elimina a reserva ambiental em propriedades com menos de cem mil hectares e absorve indiciados por desmatamento cujos processos tenham iniciado antes de 2008. Já o Ministério de Minas e Energia autorizou a exploração mecanizada do garimpo de Serra Pelada, mesmo sendo esta uma área de reserva garimpeira, o que quer dizer que a extração deveria ser apenas artesanal. Na reportagem sobre o trabalho infantil em comunidades localizadas às margens do Rio Negro, a presença de populações em áreas de reserva ambiental, mostra-se impossível. Para sobreviver no local sem projetos de manejo sustentável, as famílias “burlam a legislação” e extraem madeira para a produção de espetos de churrasco e peixes de áreas onde a pesca é proibida, correndo, assim, risco de serem presas.

Sobre a redução dos desmatamentos na região, o diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) afirma: “A ocupação na Amazônia já não é mais uma ocupação de migração. É uma ocupação consolidada. As pessoas já estão lá. Em lugar de abrir grandes novas áreas, elas abrem uma pequena expansão da área que já existe”.

Mas no passado, a necessidade de povoar a Amazônia levou o Governo a incentivar correntes migratórias e o desmatamento na região. Na época do auge do garimpo em Serra Pelada, “O governo militar teria autorizado uma forte migração para amenizar conflitos de terra. Sem se preocupar com as consequências”. Na Transamazônica, o projeto “Atraiu colonos do Nordeste. Da primeira leva poucos resistiram”.

Já no Mato Grosso e em Rondônia, a posse das terras era dada a quem as “ocupassem”: ”Na década de 70 esses açougueiros de Maringá foram atraídos para o Mato Grosso pelos Programas de Ocupação da Amazônia, patrocinados pelo Governo Militar. [...] Preservar nunca foi uma preocupação para Colíder. O cálculo varia, mas eles derrubaram entre 70 a 80% das matas nativas. [...] ‘Quem fez este estrago no passado também não fez isso por maldade. Forma pessoas que foram trazidas para colonizar esta região e o próprio INCRA instruía que devia derrubar, que quem derrubasse teria a posse da terra’”85, explica o prefeito de Colíder. O prefeito de Porto Velho também conta a

 

mesma história: “A política de ocupação da Amazônia e especialmente de Porto Velho dizia: Venha, derrube a floresta e comece a produzir”86.

O tema do Desenvolvimento Regional aparece de forma diversificada nas reportagens que foram ao ar entre junho e outubro de 2010. Ora são projetos oficias grandiosos que combatem determinadas características da região que são tidas como prejudiciais, como o isolamento que atrai projetos de infraestrutura, especialmente de estradas, como a Transamazônica e a Rodovia Transoceânica ou a construção de uma ponte sobre o Rio Negro, no Amazonas. Ora são promessas de iniciativas que deveriam conciliar o meio ambiente e as cidades na busca de industrialização e de agregar valor aos recursos naturais da Amazônia. Ora são projetos menores mantidos por instituições de ensino e de investigação científica como a pesquisa sobre ervas medicinais, que gera emprego no Amazonas, ou a “Escola da Floresta”, sediada em Rio Branco.

Em outras reportagens é citada justamente a falta de projetos e iniciativas que promovam o desenvolvimento regional é o caso das reportagens do “JN no Ar” em visita ao Pará, Roraima e Mato Grosso. “Cuidar do futuro aqui da é exceção por aqui. As pequenas carvoarias que concentram muitos casos de trabalho escravo mostram o lado mais atrasado deste pedaço do Pará”87. Nestes textos jornalísticos predomina a impressão de atraso da Amazônia em relação a outras regiões do país.

Referências ao tema “política” são as mais freqüentes. No total 41 reportagens e notícias apresentam alguma referência aos poderes executivo, legislativo ou judiciário e suas relações com a população. As eleições 2010 foram responsáveis por 14 destas citações. As denúncias de fraude e desvio de recursos públicos que levaram a prisão de 18 pessoas no Amapá foi o tema de cinco notícias. A maioria das referências é ao governo federal ou órgãos ligados a ele e criticam a péssima qualidade ou ausência de sérvios e obras públicos. A citação mais direta a este respeito foi do repórter da Série JN no Ar: “Jacundá é uma destas comunidades relativamente jovens no norte do país onde parece que a população foi se implantando de forma pioneira e o Estado, as instituições, a lei, isso só vai chegando aos poucos [...]”88.

 

86 Reportagem exibida no Jornal Nacional em 20 de julho de 2010.  87 Reportagem exibida no Jornal Nacional no dia 26 de agosto de 2010.  88 Reportagem exibida no Jornal Nacional no dia 26 de agosto de 2010.