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5. A AMAZÔNIA E OS TELEJORNAIS NACIONAIS 65

7.3. NÚCLEOS DE REDE E AS REPRESENTAÇÕES DA AMAZÔNIA: 165

A participação dos Núcleos de rede (NR) como autores ou colaboradores na produção de notícias e reportagens sobre a Amazônia é significativa. Das 101 matérias que fazem referência a região, 68 passaram por um NR, o que representa 67,32% do total de matérias exibidas sobre a Amazônia no período. No Jornal da Record este percentual é muito maior: 85,45% das matérias foram feitas com a participação de um NR. Já no Jornal Nacional este percentual ainda é considerado elevado, mas cai para 45,65%.

Tabela 10: Total de Notícias segundo a participação dos Núcleos de Rede locais Telejornal Com NR Sem NR Total

Jornal Nacional 21 25 46

Jornal da Record 47 08 55

Total de notícias 68 33 101

No entanto, qualitativamente, nos dois telejornais há posturas distintas sobre a participação dos Núcleos de rede dos estados Amazônicos nas notícias e reportagens. Enquanto no Jornal da Record os NR têm uma participação ativa, inclusive em Séries de reportagens nacionais; no Jornal Nacional há poucas reportagens e coberturas especiais das quais os NR participam. Sendo que nas séries de reportagens estavam muitos dos textos jornalísticos mais descritivos e opinativos sobre as representações da região. Por conterem vários episódios e serem produzidas em um tempo mais longo, nestes textos jornalísticos os temas eram abordados com maior profundidade pelos repórteres.

Por este motivo, como das 46 matérias analisadas do Jornal Nacional, 20 pertenciam a séries de reportagens, e como não há a participação ativa dos NR locais nas mesmas, as representações da região segundo este telejornal são majoritariamente manifestações da “cabeça de rede”, sediada no Rio de Janeiro. Os jornalistas deste estado foram os autores de 27 das 46 notícias que fazem parte da análise. No Jornal da Record ocorre o oposto, como a maioria (47 das 55) das notícias e reportagens tem origem local, as representações da região são majoritariamente dos jornalistas dos Núcleos de rede locais.

Quando se desconsidera as reportagens e notícias com autoria ou participação dos Núcleos de rede locais, sistemas periféricos da representação da Amazônia são modificados, bem como o próprio núcleo central. Sem os NR se perderia a noção de sustentabilidade e se manteria apenas a ideia da dificuldade do homem em habitar este ambiente. Diferente das matérias produzidas com a participação dos NR, a preservação da floresta não é pré-requisito para a busca do desenvolvimento econômico da região. O lugar nas reportagens e notícias em a participação dos NR é descrito de forma mais próxima ao “Brasil exótico e distante”.

Se desconsiderarmos as matérias com os NR, não há referências as descrições do cotidiano, dos modos de vida, das atividades econômicas, da importância efetiva dos rios para a região, nem matérias sobre a violência urbana e de denúncia de precariedade de sérvios de saúde. A proximidade que o estado do Pará, por exemplo, parece ter com estados de fora da região, desaparece.

Ao restringir temas e diminuir o número de inserções sobre os estados amazônicos, a representação da região perde profundidade e diversidade. Ao considerar apenas as matérias que foram produzidas totalmente fora da região, há o predomínio da localização e descrição da Amazônia como sinônimo de “Região Norte” e a separação da floresta em relação aos rios. As vias fluviais, esvaziadas de seu papel como integração e também de atrativos turísticos e práticas de lazer, passam a ser apenas morada dos peixes e lugar que se percorre de canoa. Os navios, o transporte de passageiros, de cargas e de combustíveis que abastecem os núcleos urbanos é um aspecto desconhecido nestas matérias.

A sociedade local, sem o sistema periférico urbano, perde a descrição dos moradores da periferia e passa a ser quase exclusivamente formada por migrantes, ribeirinhos e indígenas. Os índios aparecem como moradores “das redondezas”, quase uma extensão da floresta.

A ausência de infraestrutura ainda seria notada, mas a de sérvios públicos, não. A noção de isolamento e dificuldade de acesso e comunicação permanece, mas a falta de qualidade na educação, saúde e saneamento, pareceria mais “natural”, devido a descrição da paisagem. O isolamento, as distâncias e o predomínio da floresta sobre o homem, somados à pequena quantidade de habitantes, parece servir de justificativa para a inexistência de ações governamentais mais efetivas na promoção destes serviços.

As coberturas especiais de 2010, as Eleições e a Copa do Mundo, excluiriam a Amazônia, já que todas as matérias sobre estes temas foram elaboradas por NR locais. As

referências a projetos de desenvolvimento da região passam a ser apenas históricas e predominantemente dos governos militares. Ou seja, na atualidade não haveria registro de projetos com este objetivo.

A região seria esvaziada, mesmo da presença das forças armadas neste território que só aparece em relatos dos NR locais. O território é marcado pela dualidade homem versus Floresta e o conceito de desenvolvimento sustentável, mesmo carregado de imprecisões, desaparece. A relação que permanece, passa a ser a descrita por Magali Franco Bueno onde a floresta em pé preservada é um conceito inconciliável com o de crescimento e desenvolvimento, que necessita de uma floresta dominada e submissa aos interesse diversos dos brasileiros (não apenas amazônidas) de tal modo que aparentemente, onde estão os homens a floresta não pode sobreviver intacta, o progresso econômico está desvinculado de sua preservação; e onde há floresta preservada a sobrevivência dos homens modernos (urbanos, capitalistas) é quase impossível e apenas os povos da floresta são capazes de sobre viver no que é descrito como um mundo pré-moderno, ou nas palavras de Benedicto Nunes: um verde e vago mundo.