• Nenhum resultado encontrado

5. A AMAZÔNIA E OS TELEJORNAIS NACIONAIS 65

5.1.1. Redes de Televisão no Brasil: 65

O surgimento e fortalecimento das redes de televisão no Brasil caminham paralelos à falta de unidade das legislações de radiodifusão e comunicação que apontam o papel sociocultural da TV.

Esta preocupação se expressa na Constituição Federal, no capítulo Da Comunicação Social, cujo Artigo 221 estabelece como finalidades da programação das emissoras de radiodifusão: ‘II - promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive sua divulgação; III - regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei’. O dispositivo nunca foi regulamentado, a despeito da tentativa da ex-deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ), que apresentou projeto de lei sobre o tema em 1991. Até hoje, este tramita pelo Congresso Nacional. (VALENTE, 2009, p.2)

As normas oficiais também se pronunciam contra a formação de mono e oligopólios no país.

A Constituição do Brasil reza, desde 1988, que os Meios de Comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio (parágrafo 5, art. 220), mas as normas legais mais recentes – como a Lei do Cabo, a Lei Mínima e a Lei Geral das Telecomunicações – por intensão expressa do legislador não incluíram dispositivos diretos que limitassem ou controlassem a concentração da propriedade (PORCELL, 2008, p. 57).

Estes “fantasmas” nos documentos oficiais criam o que os estudiosos ligados ao grupo de pesquisa “Observatório do Direito à Comunicação” chamaram de “Donos da Mídia”, grupos que aglutinam a possa de distintos veículos e tipos de veículos de comunicação.

A inexistência de restrições à propriedade cruzada permite que as redes nacionais de TV aberta se constituam como um elemento aglutinador e instrumento hegemonizador de um sistema de mídia que, no total, inclui entre emissoras de rádio e TV e jornais, 667 veículos de comunicação. Esta faculdade oligopolizadora define as bases da estruturação do sistema de mídia no país e condiciona seu contorno econômico, político e cultural (HERZ, 2002).

O levantamento aponta que as redes privadas de televisão no Brasil reúnem 140 grupos afiliados e abrangem 667 veículos de comunicação que estão relacionados a “um sistema de poder político e econômico fortemente enraizado nas várias regiões do país” (PORCELL, 2008).

Flávio Porcell cita que em 2006, um terço dos deputados e senadores eleitos para o Congresso Nacional são proprietários ou parentes de proprietários de emissores de rádio e TV. A relação entre o Campo dos Media e o Campo Político é histórica. Ao comentar sobre o histórico da Rede Globo e Rede Record, por exemplo, o pesquisador aponta uma aproximação entre os interesses políticos e o telejornalismo nacional.

5.1.1.1. Rede Globo:

Inaugurada em 1965, 15 anos após o surgimento da TV no Brasil, a Rede Globo tem sua história marcada por seu envolvimento com as questões políticas do país e é apontada como um dos principais atores no projeto de integração nacional brasileira. “[A Globo] só conseguiu se viabilizar graças a um acordo de cooperação técnica e financeira com o grupo norte-americano Time-Life, que se constituía num flagrante desrespeito à legislação brasileira” (PORCELL, 2008, p.53). Ao ignorar as irregularidades, “começa uma relação muito próxima entre a Rede Globo e o poder militar” (PORCELL, 2008, p.53).

De acordo com Bucci a infraestrutura para a integração em telecomunicação foi estabelecida na década de 70, de um lado com o apoio do Estado via Embratel e, de outro, com a participação das redes, especialmente da Rede Globo, num modelo no qual as redes de televisão brasileiras eram totalizadoras e, ao mesmo tempo, servis ao Governo.

Essas imagens que percorreram simultaneamente um país tão dividido como o Brasil contribuíram para transformá-lo sem um arremedo de nação, cuja população, unificada não enquanto ‘povo’ mas enquanto ‘público’, articula uma mesma linguagem segundo uma mesmo sintaxe. A imaginação se dá ao nível do imaginário (BUCCI apud PORCELL, 2008, p. 55).

Assim, quando começou a ser transmitido em 1969, o Jornal Nacional, carro- chefe da Rede Globo, atingia cerca de 60 milhões de brasileiros graças a infraestrutura tecnológica e as associações com emissoras filiadas e afiliadas em todo o território nacional.

No Pará a emissora foi ligada primeiramente à TV Guajará, canal 4, segunda emissora de TV do estado. E desde a fundação da TV Liberal, é a “matriz” do canal 7 de Belém e possui contrato de afiliação também com a TV Tapajós, com sede em Santarém que é a responsável pela cobertura da Região Oeste do Pará.

5.1.1.2. Rede Record

A TV Record foi inaugurada às 20h do dia 27 de setembro de 1953. “Com um início tímido e sem identidade própria, a Record surgiu no panorama nacional de forma marcante a partir de 2005” (PORCELL, 2008, p.64).

De acordo com o site da emissora, o destaque nos primeiros anos estava nos programas musicais, seguidos por telejornais, mas foi pelos programas esportivos que a TV Record ganhou visibilidade ao ser a primeira a transmitir jogo de futebol ao vivo no Brasil. Nas décadas seguintes o jornalismo ganhou impulso, especialmente com a criação do Jornal da Record em 1972. A partir de 1990 a informação seria o principal destaque na grade de programação da emissora que expandida sua cobertura com correspondentes internacionais.

Ligada à Igreja Universal do Reino de Deus, liderada pelo Bispo Edir Macedo, a Rede Record ganha destaque em 2005 quando inicia a busca pela vice-liderança no mercado televisivo brasileiro. Em 2006, a emissora investe em um formato de telejornalismo que a aproxima do modelo adotado pela Rede Globo.

O Jornal da Record, além de ser apresentado por dois ex-jornalistas da principal concorrente, Celso Freitas e Adriana Araújo, adotou cenários e logotípia nos mesmo padrões da [TV] Globo. As letras JR - de Jornal da Record – obedecem à mesma composição visual de JN – de Jornal Nacional – com letras azul-claras, contornadas por um alinha vermelha. O cenário do JR é praticamente igual ao do

Jornal Nacional da Globo. E o formato das matérias e a escolha dos temas

abordados também seguiram o mesmo modelo. (PORCELL, 2008, p.65).

A transição começara ainda em 2005 com a demissão do âncora (apresentador) do Jornal da Record, Boris Casoy que acredita nas implicações políticas da transformação do formato da emissora.

Não posso dizer com exatidão o que aconteceu. Há relatos...mas ainda não sou tão ingênuo a ponto de aceitar a versão que me foi dada pela direção da Record. (...) Segundo figuras importantes da república, foi um acordo entre a Igreja Universal, com notórias ligações com a Record, e o Presidente Lula para que este apoiasse o Bispo Crivela sobrinho de Edir Macedo, candidato ao Governo do Rio. E Lula, no Rio, subiu em dois palanques, no do PT e no de Crivela (O VELHO âncora volta à cena, 2007. p. 18).