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O telejornalismo refere-se a parte da comunicação voltada para a produção de conteúdos jornalísticos ou informativos para a televisão. Estes programas possuem lógicas narrativas próprias com critérios de seleção de notícias diferenciados. A dualidade entre a pressão do “informar bem” para atrair ao público e “informar rápido” para informar mais, condiciona um sistema de produção de informações que, ao mesmo tempo em que reconhecidamente narra os fatos em uma distância temporal em relação aos

acontecimentos/realidade para a produção da notícia, mantém uma busca constante por reduzir e eliminar este lapso.

Os estudos sobre este fenômeno [telejornalismo] exigem do mundo acadêmico, em particular dos pesquisadores, um olhar mais atento e maiores investigações sobre os telejornais de rede nacional, os noticiários regionais e locais que contribuem diariamente, de uma forma relevante, para a construção de parte da realidade social da realidade brasileira (PEREIRA JR; CORREIA, 2008, p.11- 12)

Pesquisadores como Pereira Jr. e Correia, ao analisar as relações entre telejornais e o cotidiano das pessoas, defendem que o telejornalismo representa um lugar de referência para os brasileiros muito semelhante ao da família, dos amigos, da escola, da religião e do consumo (PEREIRA JR ; CORREIA, 2008).

No caso brasileiro, a TV não é apenas um veículo do sistema nacional de comunicação. Ela desfruta de um prestígio tão considerável que assume a condição de única via de acesso às notícias e ao entretenimento para grande parte da população (REZENDE, 2000, p. 23).

Rezende defende que vários são os fatores que tornaram a televisão uma instituição importante no Brasil, mais que em outros países: “a má distribuição da renda, a concentração da propriedade das emissoras, o baixo nível educacional, o regime totalitário das décadas de 1960 e 1970, a imposição de uma homogeneidade cultural e até mesmo a alta qualidade da nossa teledramaturgia” (REZENDE, 2000).

Mas as “falas” da TV não podem ser confundidas com a realidade, e devem ser vistas como mediações entre os distintos interesses e percepções de outros campos sociais o que faz deste discurso, um enunciado necessariamente polifônico.

Entendemos como campos dos media, o campo cuja legitimidade expressiva pragmática é por natureza uma legitimidade delegada dos restantes campos sociais e que, por conseguinte, está estruturado e funciona segundo os princípios e estratégias de composição dos objetivos e dos interesses dos diferentes campos, quer essa composição prossiga modalidades de cooperação visando, nomeadamente, o reforço da força da sua legitimidade, quer prossiga modalidades conflituais de exacerbação das divergências e do antagonismo (RODRIGUES, 1990, p.152)

Em seu papel de mediação que lhe diferencia o campo dos media, então, está inserido em uma interface entre os distintos interesses e tensões dos demais campos sociais, porém também se impõe em maior ou menor medida sobre eles.

Penso, então, que atualmente todos os campos de produção cultural estão sujeitos às limitações estruturais do campo jornalístico. [...] E essas limitações exercem efeitos sistemáticos muito equivalentes em todos os campos. [...] Através do peso

do conjunto do campo jornalístico, ele pesa sobre todos os campos de produção cultural (BOURDIEU, 1997, p.80-81)

BAUER, GASKELL; ALLUM (2002) afirmam que o registro de definições em um determinado veículo de comunicação é um indicativo da visão de mundo de um determinado grupo social em um contexto histórico especifico, o que pode ser comprovado pela aquisição destas informações por terminadas pessoas em detrimento de outras opções de informações, quando um indivíduo prefere assistir este e não outro telejornal.

Os impactos da recepção de informações sobre os acontecimentos em seus diferentes níveis (local, regional, nacional e internacional) afetam a vida cotidiana das populações, possibilitando novas interpretações e representações sobre as informações que lhe são narradas.

Por meio da televisão, os telespectadores não apenas ampliam suas visões do rico fluxo de informações, mas, por causa da vividez e da continuidade da televisão, são capazes de experimentar, indiretamente, vidas e situações diferentes da vida local. A partir dessa experiência indireta, os espectadores são capazes de reconstruir de forma imaginativa, suas próprias vidas e futuros, suas próprias comunidades e culturas (SALZMAN, 2001, p.263)

Por esta tentativa de satisfazer de forma homogênea seu público tão heterogêneo, os processos de construção de informações no campo dos media são complexos e envolvem mediações internas e externas ao campo.

O processo de construção da notícia é extremamente complexo e envolve desde a captação, elaboração/redação/edição, até uma audiência interativa. Envolve momentos de contextualização e descontextualizarão dos fatos. É resultado da cultura profissional, da organização do trabalho, dos processos produtivos, dos códigos particulares (as regras da redação), da língua e das regras do campo das linguagens, da enunciação jornalística e das práticas jornalísticas [...]. A notícia, ao refratar a realidade, constitui e é constituída por ela (PEREIRA JR ; CORREIA, 2008, p.13).

Entre os vários papéis que a comunicação assume enquanto instância mediadora na contemporaneidade está a aproximação entre diferentes pessoas e lugares que por sua vez tem impactos nos processos de identificação com duas situações divergentes. Por um lado, o modelo de telejornalismo em rede consolidado no Brasil durante o período militar como forma de integração nacional silenciou “sotaques e sabores” regionais que perderiam espaço na grade de programação local em troca de escassas aparições nacionais. Por outro lado, ao compartilhar simultaneamente as mesmas informações, a TV pode acabar por construir uma “representação da diferença como unidade ou identidade” (COUTINHO, 2008, p.92-94).

Estas fronteiras de identificação estão permeadas de disputas nas arenas política, cultural, social e econômica uma vez que resultam do que Cuche denomina de compromisso entre o que o grupo identificado pretende demarcar como identificação e o que os “outros” querem lhe designar. A este fenômeno de identificações “impostas” o autor associa as distintas escalas de poder político e social que cada grupo ou indivíduo pode ter de se auto nominar ou representar diante dos “outros”. (CUCHE, 2002, p. 200)