• Nenhum resultado encontrado

5. A AMAZÔNIA E OS TELEJORNAIS NACIONAIS 65

7.1. REPRESENTAÇÕES DA AMAZÔNIA: 151

7.1.4. Urbano: enclaves na floresta 158

Este Sistema Periférico reúne matérias sobre crescimento urbano, moradia, periferias, transportes em áreas urbanas e violência urbana. Nas 51 referências às cidades amazônicas surge uma divisão entre as capitais e outras cidades dos estados. As capitais concentram serviços e infraestrutura e são referência em quase todos os aspectos para as demais cidades dos estados que por sua vez são sempre retratadas como “pequenas cidades” por terem, no máximo, apenas alguns milhares de habitantes.

O Crescimento Urbano é retratado em quatorze notícias. O crescimento das cidades aparece sempre como causa da devastação do meio ambiente, ou seja, como uma espécie de ferida que é aberta dentro da “Floresta Amazônica”, sinônimo de atração de característica urbanas negativas como a violência por exemplo. Em entrevista sobre a

 

76 Reportagem da Série “JN no Ar”, exibida no Jornal Nacional no dia 26 de agosto de 2010. 

77 Reportagem da Série “Desafios do Brasil”, exibida no Jornal da Record no dia 16 de setembro de 2010.   78 Reportagem exibida no Jornal da Record no dia 24 de setembro de 2010. 

construção de uma ponte sobre o Rio Negro, no Amazonas, obra que pretende integrar as cidades do estado, uma moradora diz que tem medo “do que pode vir do lado de lá...”80.

Ao mesmo tempo, as cidades mantêm uma relação muito próxima do meio ambiente, seja devido a integração predominantemente fluvial, seja por referências culturais. Desta forma os projetos que buscam o “desenvolvimento e crescimento das cidades” sempre defendem a ideia da Sustentabilidade. Em campanha, por exemplo, a então candidata a presidência da república, Marina Silva, defende a necessidade de: “Agregar valor e tecnologia e agregar valor a nossa matéria-prima [...] e gerar empregos sem destruir a Floresta”81.

O tema moradia está também ligado as periferias das cidades. A falta de infraestrutura urbana e a ocupação desordenada dos espaços da cidade são retratadas principalmente nas imagens mostradas: Ruas sem asfalto, esgoto que corre a céu aberto e casas construídas de forma precária. A relação com a pobreza da população é marcante. As periferias de Manaus (Amazonas), Belém (Pará), Pinheiros (Maranhão) e Rio branco (Acre) são mostradas desta maneira. Já as residências dos ribeirinhos são sempre mostradas do “lado de fora”, ou seja, são imagens capturadas do rio em direção as margens ou capturadas da floresta em direção a área descampada, o que mostra um distanciamento e uma superficialidade nos discursos jornalísticos sobre estas populações.

Apenas duas reportagens mostram como são as casas dessas populações por dentro. A primeira é sobre o atraso dos dados da pesquisa do Censo 2010, na qual é mostrada uma casa construída no meio da floresta. Com apenas um cômodo, sem água encanada, sem iluminação e sem ruas ou mesmo rios que pareçam ligá-la ao resto do mundo, a melhor descrição para ela é mesmo “isolada”. O chefe da família ao ser entrevistado sobre a importância do Censo 2010 diz: “o Brasil saber que eu existo aqui. É muito importante, né? Com certeza”82.

Outra reportagem sobre o tema está na Série “Infância em Perigo”. Ao mostrar o trabalho de crianças na produção de espetos para churrasco e comentar que mesmo este dinheiro não “dá pra muita coisa”, as famílias mostram casas construídas com madeira, no meio de áreas verdes ou nas margens dos rios e igarapés (pequenos braças de rios), com um ou dois cômodos e poucos móveis. O teto é feito com palha e as casas estão construídas

 

80 Reportagem exibida no Jornal Nacional no dia 23 de julho de 2010.  81 Reportagem exibida no Jornal Nacional no dia 28 de setembro de 2010.  82 Reportagem exibida no Jornal Nacional no dia 16 de agosto de 2010. 

elevadas em relação ao solo, provavelmente devido ao ciclo de cheia e vazante dos rios e veios d`água próximos.

O transporte nas áreas urbanas não é muito diferente das áreas interioranas. A relação com o meio ambiente aparece novamente na falta ou precariedade do transporte escolar, nas notícias de assaltos à ônibus, na ação de piratas que assusta pescadores e encarece o preço dos peixes nas feiras, no cancelamento de voos devido a falta de visibilidade pelo excesso de fumaça das queimadas, na estiagem dos rios e na necessidade de obras para interligar cidades e estados com outras regiões dentro e fora do Brasil.

A violência é citada em 20% do total de matérias com referência a Amazônia. No garimpo de Serra Pelada, em Curionópolis, assassinatos não solucionados e ameaças de morte afetam o andamento da retomada da exploração; abuso sexual de crianças e adolescentes no Pará e no Amazonas assustam pais e desafiam autoridades nacionais e internacionais; o narcotráfico e “desvio” de armas de uso oficial exigem a ação das forças armadas nesta parte do país; agressões dentro de escolas, assassinatos, assaltos, trocas de tiros com a polícia parecem acontecimentos cotidianos em Belém, denuncia as reportagens exibidas no Jornal da Record. Na reportagem sobre Jacundá, no Pará, uma moradora diz a equipe do “JN no Ar”: “Aqui não tem lei não.” O estado é o líder do ranking de mortes no campo.

As cidades são cenário de notícias positivas apenas na Série “Amazônia Urbana”, quando Rio Branco e Belém, capitais de Roraima e do Pará, respectivamente, são descritas como cidades que crescem com harmonia com o meio ambiente por terem no primeiro caso projetos que busquem aproveitar os recursos naturais na geração de renda, e no segundo caso por ser fluvial e manter íntima relação com o sabores da floresta, graças ao Ver-o-Peso.

As cidades amazônicas, especialmente as capitais, são representadas como semelhantes as de outros núcleos urbanos nacionais, mas as cidades interioranas, ora são próximas as áreas rurais do país devido aos problemas que enfrentam e a estruturação urbanística, ora são representadas como o lugar onde vivem os povos tradicionais que saíram de seu local isolado no meio da floresta para viver mais próximo de um ambiente moderno/urbano, embora estes lugares/cidades sejam igualmente precários, no que diz respeito a promoção da qualidade de vida.