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2 CONTEXTO DA PESQUISA

3 DELINEAMENTO CONCEITUAL

3.6 Governo eletrônico

Em uma perspectiva histórica e temporal, a expressão governo eletrônico, ou e-gov, encontra-se associada ao uso da TI nos mais diversos níveis de governo e surgiu após a

disseminação e consolidação da ideia de comércio eletrônico, e-commerce, já em meados dos anos 2000 (DINIZ, 2000; LENK; TRAUNMÜLLER, 2002).

A ideia de e-gov está diretamente vinculada à modernização da administração pública por meio da utilização de tecnologia da informação, combinada à melhoria da eficiência dos processos operacionais e administrativos dos governos (OSBORNE, 1997; AGUNE; CARLOS, 2005), embora se associe também esse termo ao uso da Internet no setor público, para prestação de serviços públicos eletrônicos (MEDEIROS, 2004; GRANT; CHAU, 2005).

Nota-se, então, que o e-gov pode ser visto como uma união de aspectos da TI com os processos internos dos governos, buscando sempre a melhoria dos serviços públicos prestados a sociedade, que, como qualquer ação governamental visa trazer benefícios para a população (CORDEIRO; MARTINS; SOUSA JR., 2012).

Dentre as principais causas da adoção da TI de forma estratégica e intensiva pelos governos, Diniz et al. (2009) relacionam:

• Uso intensivo da TI pelos cidadãos, empresas privadas e organizações não governamentais;

• Migração da informação que antes era repassada em papel, para mídias eletrônicas e serviços online;

• Avanço e universalização da infraestrutura de TI pública e da Internet.

No Brasil, Coelho (2001) destaca sua proposta para uma política de governo eletrônico, com o intuito de apresentar um detalhamento de metas e objetivos prioritários para uma plataforma típica de governo eletrônico, conforme o quadro 6.

Quadro 6: Metas e objetivos que embasam uma proposta de política genérica de governo eletrônico.

Metas Objetivos

Mensuração e controle dos serviços prestados

Apresentar novas formas de atuação da administração pública

• Disponibilização de todos os serviços prestados na Internet • Integração dos sistemas de gestão administrativa

• Acompanhamento da tramitação de processos pela Internet • Eliminação do uso do papel na documentação governamental • Implantação de solução de call center governamental integrada • Institucionalização de pregão eletrônico para realização de compras

governamentais

• Medir o índice de atendimento às consultas e solicitações dos visitantes • Realização de pesquisas de qualidade e de satisfação dos usuários • Implantação de ouvidoria

Fonte: baseado em Coelho (2001).

Neste sentido, existem sistemas de monitoramento e avaliação voltados para as organizações públicas, cujos objetivos principais podem ser vistos no quadro 7 (BONNEFOY; ARMIJO, 2005; LOTTA; FARIAS; RIBEIRO, 2014).

Quadro 7: Objetivos dos sistemas de monitoramento no âmbito da gestão pública.

Objetivos

Providenciar informação para análise das entregas do Estado e para correção de falhas da ação governamental Fornecer conhecimentos sobre os impactos e o gerenciamento das políticas e programas

Assegurar maior transparência da forma de utilização dos recursos públicos

Auxiliar nas decisões sobre o mérito, prioridade e relevância das políticas e programas Fonte: baseado em Bonnefoy e Armijo (2005) e Lotta, Farias e Ribeiro (2014).

De acordo com Ráines (2013), o governo eletrônico retrata, principalmente, três tipos de transações:

• Government-to-Government (G2G), trata da relação existente intra ou inter governos, ou seja, acolhem-se perspectivas de processos objetivando integrar os órgãos governamentais com base em sistemas internos que funcionam na intranet;

• Government-to-Business (G2B), refere-se às transações entre o governo e as empresas, visando parceiras que possam ser proveitosas para ambas as partes, seja por serviços a preços mais baixos ou de qualidade superior do que se fosse realizado pelo próprio governo;

• Government-to-Citizen (G2C), envolve as relações entre o governo e os cidadãos, buscando oferecer serviços de utilidade pública a estes contribuintes.

Além destes três tipos de transação, Lenk e Traunmüller (2001) e Moça et al. (2015), advogam ainda que o e-gov inclui propostas de modernização e reorganização da gestão pública, ao permitir a criação, gerenciamento e disponibilização do conhecimento gerado pelos órgãos governamentais.

Ressalta-se também que, segundo Castor e José (2001), o conceito de e-gov tem o potencial de transformar os mais diversos processos de forma simultânea, conforme exibe o quadro 8.

Quadro 8: Potencial do governo eletrônico para transformar processos.

Processos voltados ao cidadão Processos administrativos

Torna possível uma melhoria significativa na prestação de serviços de âmbito público, viabilizando o acesso do cidadão a serviço de diferentes organizações governamentais no mesmo local

Modifica a logística dos governos na publicidade de intenções e decisões de compras e contratações do governo

Torna viável a modernização do processo político- administrativo, mediante a facilidade de acesso dada ao cidadão e as organizações intermediárias, sobre os atos e gastos dos governantes

Auxilia a tomada de decisão administrativa complexa, por facilitar a tramitação de processos administrativos envolvendo as mais diferentes áreas

Ações para cidadania Ações administrativas e-gov Gerenciar atividades e recursos Monitorar o andamento da gestão Unificar a gestão dos órgãos Gerência de programas e ações com o apoio da população Comunicação direta com o cidadão Transparência das atividades realizadas (accountability) Tecnologia da Informação Infraestrutura Sistemas de informação Planejamentos

Alinhamento das tecnologias

Pinho (2008) aduz que há um alto investimento por parte de todas as esferas governamentais (federal, estadual e municipal), no sentido de ter uma plataforma e-gov para realizar uma boa gestão municipal, a qual propicie usufruir de benefícios derivados de modelos de SI, infraestrutura ou o alinhamento das tecnologias disponíveis com os planejamentos existentes (MOÇA et al., 2015).

Em adendo, quando se trabalha com governo eletrônico, em geral, existem dois conceitos fundamentais que precisam ser retomados: accountability e participação popular (AKUTSU; PINHO, 2002; DAGNINO, 2002). O primeiro deve ser entendido como transparência, ou seja, a preocupação dos governantes com a prestação de contas e com a responsabilização pelos seus atos (CAMPOS, 1990). O segundo conceito, a participação popular, estaria relacionado com a participação do povo em alguns pontos da gestão governamental, como por exemplo, o orçamento participativo.

Um esquema que apresenta estes conceitos pode ser visualizado na figura 20.

Figura 20: Abrangência de ações administrativas e para cidadania do governo eletrônico.

Fonte: baseada em Pinho (2008) e Castro, Pereira e Mascarenhas (2011).

Neste sentido, por mais que seja uma obrigatoriedade a disponibilização de informações de interesse coletivo ou geral, produzidas ou custodiadas pelo município, ditada no Artigo 8° da Lei de Acesso à Informação, ainda existem os que atendem apenas parcialmente aquilo que a Lei exige e mesmo assim não sofrem as devidas punições (ROSA et al., 2016), o que tem tornado inevitável tratar com mais ênfase a questão da transparência, nos meios acadêmico e social.

Assim, de um lado, diversos autores destacam a importância que precisa ser dada à transparência à difusão das informações sobre gastos e demais ações públicas (PINHO, 2008; VIEIRA, 2012; KAVANAUGH; ALMAZAN; MORON, 2016), principalmente agora, que a sociedade está cada vez mais conectada; e de outro, os gestores públicos devem utilizar de todos os meios eletrônicos possíveis para divulgar tudo que está acontecendo durante a sua gestão (CFA, 2012).

No que se refere a resultados, segundo Fugini, Maggiolini e Pagamici (2005), o e-gov no Brasil era somente uma potencialização do fornecimento e do aproveitamento dos serviços públicos, ainda não havendo uma verdadeira melhora nas atividades do governo em nenhuma das esferas (federal, estadual ou municipal).

Pinho (2008) realizou uma investigação em nove portais dos estados considerados mais desenvolvidos do Brasil, incluindo o Distrito Federal, com o intuito de detectar o andamento dos movimentos do e-gov que pretendessem aprofundar a democracia com o uso de processos digitais. Neste estudo, os resultados em relação à accountability e à participação popular, não foram animadores, principalmente quando comparados às experiências internacionais.

Configura-se então, como acachapante, desde aquela época, a necessidade de uma agenda de estudo que abranja este assunto, como fez esta dissertação.