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5 ANÁLISE DOS RESULTADOS

6.1 Síntese da pesquisa

O ponto de partida dessa pesquisa foi a percepção de que existem diversos benefícios que podem ser proporcionados pelo uso e pela gestão da TI ao modelo administrativo de prefeituras municipais e como foram encontrados alguns exemplos de municípios que conseguem desfrutar de alguns destes benefícios, nas Regiões Sul e Sudeste (CORDEIRO; MARTINS; SOUSA JR., 2012; RUEDAS, 2015; VARGAS et al., 2016), despertou-se interesse em apurar o mesmo fato em uma Prefeitura Municipal de uma cidade do interior do Nordeste. Assim, diante do fato de que a TI, desde a última década, tem se expandido tanto em organizações privadas quanto públicas (LEITE; REZENDE, 2010), acreditou-se que poderia haver algum grau de destaque do uso e da gestão da TI dentro do lócus estudado.

Desta forma, foi escolhido o caso da Prefeitura Municipal de Juazeiro do Norte, levando-se em conta o conturbado momento político vivido e o caótico estado da gestão 2013- 2016 aquela cidade, bem como dada a representatividade daquela cidade para a região e como ícone para diversas outras no Nordeste.

A pesquisa processou-se por meio de entrevistas realizadas com o auxílio de roteiros semiestruturados e com pesquisa direta em documentos balizadores da gestão da TI em instituições públicas, especialmente de foro municipal.

Foram elaborados dois roteiros, sendo um destinado aos gestores municipais, que deveriam conhecer, pensava-se, de forma mais aprofundada a gestão estratégica da TI, dentro do contexto da gestão municipal, e o outro para os colaboradores de TI, que são os responsáveis pela área e trabalham com atividades mais específicas. Ambos foram elaborados levando em conta o delineamento conceitual construído e principalmente os objetivos a que o estudo se propôs.

A primeira constatação cingiu-se em torno de uma séria deficiência da gestão dos componentes da infraestrutura de TI disponíveis na prefeitura. Verificou-se que não se sabe sequer o quantitativo de hardware disponível na prefeitura para as atividades administrativas. Além disso, relatou-se que alguns destes devices estão em estado crítico, necessitando de troca o mais rápido possível, o que leva a crer que não há gerência efetiva dos equipamentos que estão disponíveis, nem de sua manutenção ou mesmo monitoração de seu estado de funcionamento.

Com relação ao arsenal de software, apurou-se que existem sistemas desenvolvidos pela própria área de TI e alguns advindos de empresas terceirizadas, sendo que a maioria destes necessita ser aprimorada. Por outro lado, a manutenção destes sistemas é periódica e pode ser feita por solicitação dos gestores ou ainda em decorrência de imposição legal. Com isso, acredita-se que o trabalho operacional de manutenção vem sendo realizado, entretanto o refinamento dos sistemas, que deveria ser o principal foco, não é bem trabalhado e precisa de melhorias, podendo essa não evolução ser um potente limitador das possíveis contribuições, advindas da TI, que poderiam ser alcançadas na gestão municipal.

Reconheceu-se, em adição, que pouca importância se dá ao gerenciamento de banco de dados, em termos práticos, embora se saiba de sua relevância. Em verdade, no contexto da associação com eventual gestão da TI, no âmbito do município, apenas foi dito que alguns setores da prefeitura trabalham com banco de dados considerados defasados. Nesta mesma dimensão, ressaltou-se ainda que a estrutura de redes disponível atualmente na Prefeitura Municipal de Juazeiro do Norte foi apontada como inadequada, sendo que há planos de melhorias, defendidos pelos colaboradores de TI; contudo falta apoio da gestão e em especial a alocação de recursos para implantação de novas tipologias de rede.

Fechando as conclusões sobre a infraestrutura de TI disponível, outros dois pontos levados em consideração foram serviços e pessoal. Constatou-se que os serviços de TI são mais internos, poucas vezes recorrendo-se a empresas externas; já quanto a pessoal, é notória a falta de mão de obra qualificada, havendo não mais que quatro servidores na área. Em suma, estes dois componentes também apresentam falhas em suas gestões, pois deveria haver um estudo mais aprofundado sobre a necessidade de serviços de TI dentro da prefeitura, para além da área de finanças.

Também foi explorado o papel processual da TI em atividades administrativas da gestão municipal. A primeira análise feita, neste sentido, apontou que praticamente não há uso real de SI nas relações institucionais administrativas entre o município e as esferas estadual e federal, ou ainda com o ministério público, sendo as ações guiadas pelo relacionamento pessoal dos

gestores com os próceres de cada uma destas esferas. É patente, a necessidade de trabalhar melhor esta questão, até por indicação do governo federal através do uso de plataforma de e-

gov, visando unificar, o máximo possível, as instâncias da gestão pública.

Já na questão da TI para transparência da gestão, tanto gestores municipais quanto colaboradores consignaram que a TI tem um papel imprescindível para tal fim em diversos pontos, como relevância interna, no aspecto legal, e, consequentemente, no combate à corrupção.

No espectro específico dos gestores municipais, em que todos possuíam no mínimo ensino superior, sendo que um dentre eles detinha especializações em psicopedagogia, gestão pública, gestão de cidades e na área de finanças, não se identificou uso direto de sistemas para elaboração dos planos ou planejamentos municipais, havendo somente apoio indireto na elaboração destes, mediante auxílio de relatórios mais simples.

No que diz respeito à gestão da TI no modelo de gestão municipal da Prefeitura Municipal de Juazeiro do Norte, em termos de benefícios e problemas, com relação ao uso e à gestão da TI, ficou exposto que realmente a área não possui uma gestão eficiente, tanto que sequer é cogitada a elaboração de um planejamento estratégico da TI, alinhado àquilo que o planejamento estratégico municipal propõe. No máximo, foi citado um plano diretor de informática, o que leva a crer que nem os próprios colaboradores de TI veem a área como estratégica. Tão pouco se relatou uso típico de sistemas de informação nas funções administrativas, gerenciais e decisórias: tudo ainda é feito de forma manual.

Também foi mapeado que existem benefícios potenciais, atribuídos ou percebidos de forma superficial, importando pouca colaboração da gestão da TI ao desenvolvimento do modelo de gestão municipal.

Não obstante, existem diversos problemas reais atrelados à incipiente gestão da TI da prefeitura municipal, sendo as principais os recursos escassos e a ausência de planejamento estratégico mais elaborado e alinhado, aliás, a ausência de qualquer plano ou planejamento da gestão municipal que esteja alinhado a algum aspecto da gestão da tecnologia.

Identificou-se uma necessidade crucial de estruturação da área de TI, sendo urgente a criação de um órgão para gerir a função, extirpando-a da inócua vinculação às secretarias municipais de planejamento, ciência, tecnologia e inovação e a de gestão.

Foi ainda explorada a questão da participação popular nas atividades gerenciais do município. De acordo com o que foi coletado, são bem limitadas as atividades em que a população pode participar da gestão da Prefeitura Municipal de Juazeiro do Norte, vez que, neste contexto, a única ferramenta para este fim é o site da prefeitura. Neste ponto houve uma

dissonância de respostas quanto à questão de quem seria o responsável pela gestão desta participação, mas alguns argumentos levaram a crer que um dos secretários é o responsável por, todos os dias, ler aquilo que os munícipes estão enviando, via site.

Com isso, conclui-se que os serviços e relações de participação popular vinculados a TI, não são associados ao modelo de gestão da Prefeitura Municipal de Juazeiro do Norte, pois os serviços são muito limitados, existe apenas uma ferramenta, que não é convidativa ao uso para este fim, e a gestão dessa participação não está clara, sequer, para os próprios gestores que trabalham na área.

Por fim, foram estipuladas algumas recomendações e ideias voltadas, essencialmente, à gestão dos itens criticados anteriormente. Dessas recomendações, estratégias puderam ser traçadas e concluiu-se que, na verdade, a área de TI da Prefeitura Municipal de Juazeiro do Norte ainda está, claramente, em um nível pré-operacional, tanto que as sugestões indicadas são simples passos iniciais de um modelo básico de gestão da TI.

Desta forma, a presente pesquisa retratou um cenário que destoa, em grau relevante, de outros estudos apresentados no delineamento conceitual (RUEDAS, 2015; VARGAS et al., 2016) e gerou resultados muito discrepantes daqueles obtidos do exame de relatórios das secretarias de outros municípios, como Florianópolis-SC e Cariacica-ES.

Assim, foi possível concluir que é praticamente irrisório o papel atribuído à tecnologia da informação no modelo administrativo da Prefeitura Municipal de Juazeiro do Norte, particularmente no que concerne ao seu uso e à sua gestão, embora haja vislumbre de incremento, inexorável, em futuro imediato.

Adiante nesta conclusão, indica-se que os resultados que foram obtidos buscaram atender aos objetivos específicos do estudo.