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Graduação das infracções laborais e os valores das coimas

Capítulo III As contra-ordenações laborais no ordenamento jurídico português 1 O regime substantivo

1.5. Graduação das infracções laborais e os valores das coimas

“A cada escalão de gravidade das contra-ordenações laborais corresponde uma coima variável em função, por um lado, do volume de negócios da empresa; e, por outro lado, do grau de culpa do infractor (…)”94.

O artigo 554.º, n.ºs 2 a 4 do CT fixa as molduras contra-ordenacionais dos três graus de infracções laborais.

No que concerne às infracções leves, a moldura contra-ordenacional varia em razão da culpa do infractor (dolo ou negligência), e consoante o volume de negócios da empresa seja inferior, ou igual ou superior a € 10 000 000, tendo como referência para o valor mínimo e máximo das coimas, aliás como acontece com as infracções graves e muito graves, o valor da unidade

93SOARES, João Ribeiro, op. cit., 330 p. 94Artigo 554.º, n.º 1 do CT.

de conta processual (UC)95 em vigor à data da prática da infracção. Conforme entende SOARES RIBEIRO96, trata-se de uma opção legislativa pertinente, uma vez que “a fixação das coimas em UC tem a vantagem de não obrigar constantemente à sua actualização por virtude da depreciação da moeda resultante da inflação, dado que é aquela unidade monetária que é anualmente actualizada”.

Do mesmo modo os limites das molduras contra-ordenacionais aplicáveis às infracções graves e muito graves variam consoante tenham sido praticadas com dolo ou com negligência, agravando-se por referência ao aumento do volume de negócios da empresa infractora, relevando por isso a sua capacidade financeira para suportar o pagamento da coima97.

No entanto, relativamente a estas infracções, existem cinco escalões referentes ao volume de negócios da empresa.

O volume de negócios a ter em conta para este efeito é o do ano civil anterior ao da prática da infracção98, salvo se a empresa não tiver actividade nesse ano, caso em que ter-se-á como referência o volume de negócios do ano mais recente99. No ano de início da actividade, considera-se que o volume de negócios é inferior a € 500 000, aplicando-se, desta forma, o patamar mais baixo dentro de cada escalão de gravidade da contra-ordenação100. “Se o empregador não indicar o volume de negócios, aplicam-se os limites previstos para empresa com volume de negócios igual ou superior a € 10 000 000”101.

O artigo 555º do CT estipula valores especiais, substancialmente mais baixos, quer relativamente aos agentes que não tenham trabalhadores ao serviço, quer em relação às pessoas singulares que não exerçam uma actividade com fins lucrativos.

O valor da coima abstractamente aplicável a contra-ordenações muito graves “(…) é elevado para o dobro em situação de violação de normas sobre trabalho de menores, segurança e saúde no trabalho, direitos de estruturas de representação colectiva dos trabalhadores e direito à

95O valor da Unidade de Conta em vigor durante o ano de 2014 foi de € 102,00, de acordo com o artigo 113.º,

alínea a), da Lei n.º 83-C/2013, de 31 de Dezembro (Lei do Orçamento de Estado), mantido para o ano de 2015.

96SOARES, João Ribeiro, op. cit., 342 p. 97Artigo 554.º, n.ºs. 3 e 4 do CT. 98Artigo 554.º, n.º 5 do CT. 99Artigo 554.º, n.º 6 do CT. 100Artigo 554.º, n.º 7 do CT. 101Artigo 554.º, n.º 8 do CT.

greve”102. No caso de existirem vários responsáveis pela mesma contra-ordenação será aplicável “(…) a coima correspondente à empresa com maior volume de negócios”103.

Poderemos concluir que, em regra, as contra-ordenações leves são as que se traduzem em mera violação de deveres de comunicação ou informação da Autoridade para as Condições do Trabalho104, e constituem contra-ordenações graves as restantes.

1.6. A reincidência

Contrariamente ao que acontece no RGCO, a reincidência encontra-se prevista no âmbito das contra-ordenações laborais.

Com efeito, nos termos do artigo 561º, n.º 1 do CT, o infractor responsável pela prática de uma contra-ordenação grave praticada com dolo ou de uma contra-ordenação muito grave praticada com dolo ou com negligência será punido como reincidente após “(…) ter sido condenado pela prática de outra contra-ordenação grave praticada com dolo ou contra- ordenação muito grave praticada com dolo ou negligência, se entre as duas infracções não tiver decorrido um prazo superior ao da prescrição da primeira”.

Saliente-se que para que se verifique a reincidência não se torna necessária a prática de uma contra-ordenação semelhante à primeira ou sequer de igual natureza, ou seja o tipo contra- ordenacional pela prática do qual o infractor foi punido não tem que ser o mesmo pelo que anteriormente foi punido.

De referir que não é considerada, para efeitos de reincidência, a condenação do responsável solidário pelo pagamento da coima, ao contrário do que sucede na responsabilidade solidária pela infracção.

A reincidência implica a elevação em um terço dos limites mínimo e máximo da coima, “(…) não podendo esta ser inferior ao valor da coima aplicada pela contra-ordenação anterior,

102Artigo 556.º, n.º 1 do CT. 103Artigo 556.º, n.º 2 do CT.

104 Por exemplo referentes a: Decisão de despedimento por extinção do posto de trabalho; Participação de

menores em espectáculos e outras actividades de natureza cultural, artística ou publicitária; Redução ou exclusão de intervalo de descanso; Trabalho de menores; Trabalho no estrangeiro; Trabalho suplementar.

desde que os limites mínimo e máximo desta não sejam superiores aos daquela”, de acordo com o preceituado no artigo 561.º, n.º 2 do CT.

No entendimento de SOARES RIBEIRO, que acompanhamos, «apesar do cuidado posto pelo legislador na caracterização da reincidência, não deixa esta de ser um escolho na senda dos bons princípios do direito de mera ordenação, face à sua neutralidade ética. O que poderá, a prazo, vir a constituir, de par com outros atropelos, quiçá até mais graves, a derrocada deste novo ramo de direito sancionatório.

Entre tais atropelos, contam-se:

- A aplicação das sanções por parte da Administração com desrespeito dos direitos de defesa dos arguidos, de que já o Prof. EDUARDOCORREIAem 1973 fazia eco;

- A aplicação de sanções acessórias gravíssimas (eufemisticamente chamadas acessórias) com desrespeito do princípio da subsidiariedade na sua aplicação;

- E, sobretudo, a invasão da esfera de competência dos Tribunais como sucedia anteriormente quando a lei impunha, por sistema, à Administração do Trabalho que, simultaneamente com a coima ordenasse à entidade patronal infractora o pagamento das quantias em dívida aos trabalhadores (cf. art. 669.º/3 do CT/2003 e as disposições para onde ele remetia). Nestes casos haveria, segundo cremos, um claro desrespeito pelo princípio constitucional da divisão de poderes, uma vez que, ao contrário do que se passa com as coimas, estamos já perante matéria “materialmente judicial”: A Administração ao dar a “ordem de pagamento” daquelas quantias concretas que foram por ela apuradas estaria a definir e decidir o direito, a jurisdizer. E a “jurisdição” é da competência dos Tribunais não da Administração»105.