• Nenhum resultado encontrado

Capítulo IV As contravenções laborais no ordenamento jurídico angolano 1 Terminologia: contravenção e contra-ordenação

8. Inspecção-Geral do Trabalho

“A IGT é um organismo integrado na estrutura do Ministério da Administração Pública, Emprego e Segurança Social (MAPESS).

215Artigo 23.º da RJVCPSO. 216Artigo 24.º, n.º 1 da RJVCPSO. 217Artigo 24.º, n.º 2 da RJVCPSO. 218Artigo 25.º, n.º 1 da RJVCPSO. 219Artigo 25.º, n.º 2 da RJVCPSO. 220Artigo 24.º, n.º 3 da RJVCPSO.

A IGT tem por primordiais objectivos controlar, informar e orientar os sujeitos da relação jurídico-laboral na interpretação e aplicação das normas relativas às condições e às relações laborais, propondo-se desta forma a dar resposta de forma eficaz a todas as questões emergentes do mundo do trabalho e com este relacionadas, salvaguardando assim os interesses quer dos trabalhadores, quer dos empregadores.

A IGT enquanto entidade reguladora das relações laborais angolanas, assume um especial relevo no desenvolvimento económico e social do país.

No exercício da sua acção inspectiva e fiscalizadora, a IGT investida da independência que lhe é inerente, goza de autonomia técnica e funcional, dispondo os seus elementos de poderes de autoridade pública.

Com a entrada em vigor do Decreto n.º 8/07, de 4 de Maio, relativo à nova orgânica do MAPESS, a IGT tem vindo a assumir a natureza de Instituto Público, passando a impender sobre ela poderes de superintendência e tutela do Ministério”221.

Para melhor entendermos o propósito deste organismo, bem como a sua orgânica, atentemos ao preâmbulo do Diploma Orgânico e Regulamento Interno da IGT222(Regulamento da IGT - RIGT), de onde se extrai que “o sistema de inspecção agora proposto foi elaborado tendo em consideração os seguintes aspectos: satisfação das exigências decorrentes de compromissos internacionalmente assumidos nomeadamente no âmbito do trabalho; reforço ao nível das competências e atribuições, da componente de segurança, higiene e saúde no trabalho; criação de uma carreira especial para o pessoal da carreira inspectiva, atenta a especificidade das funções a exercer pelos inspectores do trabalho; criação no órgão central da Inspecção Geral do Trabalho de uma estrutura de apoio à Direcção; reforço e exigência de qualificação técnica do quadro inspectivo traduzido, nomeadamente na precedência de concurso público e aprovação da autoridade do corpo inspectivo e melhoria do estatuto profissional dos inspectores do trabalho”.

A IGT é dirigida por um Inspector-Geral, comportando órgãos centrais e serviços provinciais223, visando a descentralização dos serviços públicos.

221Disponível em www.cplp.org. 222Decreto n.º 9/95, de 21 de Abril. 223Artigo 5.º do RIGT.

Das competências do Inspector-Geral224, porque com maior relevância para o nosso trabalho, destacamos as seguintes:

- Determinar acções de inspecção;

- Proceder à confirmação, desconfirmação e revisão dos autos de notícia;

- Graduar o montante das multas a aplicar quando este se situa entre os limites da moldura contravencional estabelecida para a respectiva infracção.

8.1. Âmbito de actuação e atribuições da IGT

O artigo 2.º do RIGT identifica como destinatários da acção inspectiva e fiscalizadora da IGT qualquer entidade individual ou colectiva, estatal mista, privada ou cooperativa, que exerça uma actividade de produção, comércio ou serviço, bem como qualquer outra que implique a celebração de contratos de trabalho, excluindo-se deste âmbito as relações jurídico-laborais específicas da função pública.

São cometidas à IGT atribuições gerais e específicas225, encontrando-se as segundas direccionadas para diferentes vertentes, como sejam a relação jurídico-laboral, a administração do trabalho, as relações colectivas de trabalho, a segurança e saúde no trabalho, o emprego e desemprego, e a segurança social.

8.2. Acções pedagógicas

A IGT, de acordo com o previsto no artigo 11.º do RIGT leva a cabo acções fundamentalmente de natureza preventiva, actuando de forma pedagógica nos primeiros contactos com os fiscalizados, e coercivamente nos subsequentes.

A acção pedagógica consiste em prestar aos empregadores e trabalhadores informações e conselhos de ordem técnica, com o intuito de os sensibilizar a operarem no estrito cumprimento da Lei226.

224Artigo 6.º do RIGT.

225Artigos 3.º e 4.º do RIGT. 226Artigo 12.º, n.º 1 do RIGT.

Com efeito, sempre que sejam verificadas infracções em relação às quais se entenda preferível estabelecer prazo para a sua reparação, deverá o mesmo ser fixado, formalizado no termo de notificação e levado ao conhecimento do superior hierárquico que exerce a respectiva coordenação técnico-inspectiva227.

Também na prossecução desta missão preventiva, deve a IGT garantir um serviço informativo, destinado a prestar informações e a receber pedidos de intervenção inspectiva228.

8.3 Acções coercivas

A acção coerciva, por sua vez, consiste em sempre que no exercício das suas funções os Inspectores do trabalho verificarem qualquer infracção às normas sob a alçada fiscalizadora da IGT, devem levantar o correspondente auto de notícia229, salvo quando seja preferível estabelecer um prazo para a reposição da legalidade, no âmbito da mera acção pedagógica referida no parágrafo anterior, conforme referido no ponto anterior.

As inspecções poderão ser oficiais, quando da iniciativa da IGT, ou oficiosas quando impulsionadas por trabalhadores, empregadores, organismos representativos de ambos, bem como de autoridades judiciais ou outras entidades oficiais que tenham a incumbência de contribuir também para a melhoria das condições do trabalho e para o controlo da legalidade230. A este propósito deve realçar-se que os Tribunais, designadamente a Sala do Trabalho, não promovem inspecções oficiosas, não existindo sequer qualquer mecanismo legal para o fazerem.

8.4. Medidas de execução imediata

Quando as instalações, determinados equipamentos, produtos, processos de fabrico ou quaisquer outras circunstâncias do âmbito de trabalho constituírem perigo eminente para a vida, saúde ou segurança dos trabalhadores, os inspectores do trabalho podem adoptar medidas cautelares, imediatamente executórias, que poderão ir até à suspensão total da

227Artigo 12.º, n.º 2 do RIGT. 228Artigo 12.º, n.º 4 do RIGT. 229Artigo 13.º do RIGT. 230Artigo 15.º do RIGT.

laboração, informando o superior hierárquico no prazo de 24 horas das medidas tomadas231. Esta competência é exclusiva da IGT, não podendo, por isso, a Sala do Trabalho do Tribunal Provincial adoptar este tipo de medidas.

Tomada uma medida desta índole, o reinicio da laboração terá de ser requerido previamente à IGT, salvo se tiver provimento o recurso apresentado em Tribunal pela empresa arguida sobre a aplicação da medida pela IGT232. Não obstante, apesar de prevista esta possibilidade de recurso, o facto é que na realidade os mesmos nunca ocorrem, isto é nunca são promovidos pelos interessados na Sala do Trabalho do Tribunal competente.

8.5. Poderes dos inspectores do trabalho

Os inspectores do trabalho exercem a sua actividade investidos de poderes de autoridade pública. É da sua competência,233:

- Visitar e inspeccionar, sem aviso prévio, em qualquer dia da semana e a qualquer hora do dia ou da noite, os locais de trabalho sujeitos à fiscalização da IGT;

- Proceder a exames, inspecções, averiguações, inquéritos e outras diligências julgadas necessárias para se certificar que as normas laborais são cumpridas;

- Interrogar o empregador ou os seus representantes, bem como os trabalhadores, acerca de tudo quanto se relacione com a aplicação das normas laborais na empresa, e ordenar a sua comparência nos serviços da IGT;

- Exigir do empregador ou seus representantes a apresentação de livros, registos, folhas ou recibos de salários e outros documentos de escrituração obrigatória para consulta imediata ou nos serviços da IGT, podendo deles extrair cópias ou fazer averbamentos; - Dar indicações, conceder prazos e formular advertências, no âmbito da acção

fiscalizadora de carácter pedagógico; - Adoptar medidas de execução imediata;

- Recolher e promover a análise de amostras de matérias e substâncias utilizadas ou manipuladas nos processos de laboração que possam ser fonte de risco para a

231Artigo 13.º, n.º 3 do RIGT. 232Artigo 13.º, n.º 4 do RIGT. 233Art. 25.º, n.º 2 do RIGT.

segurança e saúde dos trabalhadores, bem como avaliar qualitativamente e quantitativamente os agentes agressivos do ambiente de trabalho;

- Requisitar o apoio das autoridades administrativas e policias de que necessitem para o cabal exercício das suas funções.

Os inspectores do trabalho têm o direito de recorrer hierarquicamente dos actos de não confirmação dos autos de notícia que levantaram234, devendo interpor o recurso na Sala do Cível e Administrativo, seguindo o regime do contencioso administrativo.

Podem os inspectores do trabalho, no cabal desempenho das suas funções, fazer-se acompanhar por técnicos do MAPESS ou outros serviços públicos, devidamente habilitados por credencial emitida pela IGT, na qual conste o nome da entidade a visitar e o objectivo da visita235.

9. O processo de contravenção laboral