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Capítulo VI Medidas para a melhoria do procedimento contravencional angolano

1. De ordem substantiva

É nosso entendimento que o ordenamento jurídico angolano terá que caminhar, à semelhança do que há já alguns anos sucede no português, para a implementação de um verdadeiro Direito de mera ordenação social, autónomo do Direito Penal, sustentado num Regime Geral das Contra-Ordenações ainda mais ambicioso do que o português, que servirá como âncora deste ramo de Direito.

Aliás a alínea t), do n.º 1, do artigo 165.º da CRA, dispõe que compete à Assembleia Nacional legislar com reserva relativa, salvo autorização concedida ao Executivo, sobre o regime geral dos actos ilícitos de mera ordenação social, bem como do respectivo processo.

Deste modo, há que expurgar do ordenamento jurídico angolano o termo contravenção, que, como vimos anteriormente, está directamente ligado ao Direito Penal, substituindo-o pelo termo contra-ordenação, a sanção primordial em sede do Direito de mera ordenação social, à qual será aplicável uma coima em vez de uma multa, persistindo esta apenas no âmbito do Direito Penal. Ou seja, toda a legislação vindoura respeitante a esta matéria deverá passar a utilizar as terminologias contra-ordenação e coima.

No que concerne às sanções acessórias, já constantes, como vimos, em alguns regimes contravencionais especiais angolanos, como seja o caso da Lei da Marinha Mercante, Portos e Actividades Conexas, deveriam passar a constar no Regime Geral das Contra-Ordenações ora proposto, bem como os pressupostos da respectiva aplicação e duração das mesmas, com a imposição legal que os futuros diplomas especiais contra-ordenacionais deverão prever expressamente quais as que são aplicáveis aos ilícitos de mera ordenação social neles previstos e punidos.

Defendemos também que no Regime Geral das Contra-Ordenações a criar, deverá constar a sanção de admoestação, em termos semelhantes aos constantes no artigo 51.º do Regime Geral das Contra-Ordenações português, a qual deverá ser transposta para o Regime Processual das Contra-Ordenações Laborais também a criar.

Aliás a LMMPAC prevê que nos casos em que a reduzida gravidade da infracção e da culpa do agente o justifique, pode limitar-se a proferir uma admoestação verbal. Por outro lado, nos casos em que a gravidade da infracção e da culpa do agente é agravada, pode a entidade competente aplicar censura registada, tendo como implicação que o facto não poderá voltar a ser apreciado como infracção. Ora o que propomos é a criação da figura da admoestação na forma de repreensão escrita, precisamente com o efeito de o facto ilícito não poder voltar a ser decidido como contra-ordenação, de acordo com o princípio do non bis in idem.

Parece-nos também que seria uma boa prática legislativa escalonar, na LGT409 as contra- ordenações laborais em leves, graves e muito graves como ocorre no ordenamento jurídico português, pois entre outras mais-valias, destacamos a possibilidade de agilizar o procedimento contra-ordenacional, criando um procedimento especial atento o escalão da contra-ordenação praticada, bem como também utilizando este critério, criar a figura do auto de advertência.

A LGT com as alterações que propomos deverá fazer menção ao direito subsidiário aplicável, definindo o Regime Geral das Contra-Ordenações a criar como direito subsidiário, e este, por seu turno, definindo com direito subsidiário, como faz o RGCO português, o Código Penal e

409Defendemos a integração na LGT da matéria prevista na Regime das Multas por Contravenção ao disposto na

LGT, ou seja é a LGT passaria também a comportar as contra-ordenações laborais e a respectiva punição, à semelhança do CT português.

os preceitos reguladores do processo penal, designadamente o Código de Processo Penal, visando, desta forma, uma homogeneização desta matéria.

Outro instituto que no nosso entendimento deve ser alterado é o instituto da prescrição do procedimento, da coima e das sanções acessórias, em sede de contravenções laborais.

Actualmente, de acordo com o previsto no artigo 5.º do RMCLGT, as contravenções no mesmo previstas prescrevem decorridos dois anos a contar da data em que tenham sido praticadas, constituindo o levantamento do auto de notícia uma causa interruptiva da prescrição da contravenção. Sendo omisso o RMCLGT no que se refere à prescrição das coimas e das sanções acessórias.

Em outros regimes especiais contravencionais angolanos em vigor, constatamos que existem diferentes prazos de prescrição das contravenções, fazendo alguns referência específica à prescrição da coima e das sanções acessórias.

Com efeito, o Regime Jurídico de Vinculação e de Contribuição da Protecção Social Obrigatória dispõe que as contravenções no mesmo contempladas prescrevem no prazo de cinco anos a contar da data em que foram praticadas, com a excepção das que resultarem em dívida à Entidade Gestora da Protecção Social Obrigatória que permanecem válidas no decurso do tempo. Constituindo causas de interrupção da prescrição o levantamento do auto de notícia ou a prática de qualquer acto que faça fé em juízo.

A Lei das Instituições Financeiras é um dos regimes especiais que mais se aproxima daquilo que concebemos a este respeito, conquanto dispõe que o procedimento pelas transgressões prescreve em cinco anos, bem como que o prazo de prescrição das sanções é de cinco anos, a contar do dia em que se esgotar o prazo de impugnação judicial da decisão que aplicar a sanção ou do dia em que a decisão transitar em julgado, e ainda que as multas e sanções acessórias prescrevem no mesmo prazo, contado a partir da data da decisão condenatória definitiva.

Também o Código Aduaneiro segue a mesma construção legislativa, definindo que o procedimento por transgressão fiscal aduaneira extingue-se por efeito da prescrição, logo que

sobre a prática da mesma sejam decorridos dois anos, quando se trate de transgressão punível com multa superior a 300 UCF, ou um ano, nos restantes casos.

Preceitua o Código Geral Tributário que o auto de transgressão para a aplicação das multas previstas nas leis fiscais, só pode ser levantado dentro dos cinco anos posteriores à data em que a infracção foi cometida. Quando o auto de transgressão não for tramitado durante cinco anos, extingue-se o procedimento para a aplicação das multas. Prescrevendo a obrigação de pagar qualquer multa passados dez anos sobre o trânsito em julgado da condenação.

A Lei da Marinha Mercante, Portos e Actividades Conexas, dispõe que o procedimento contravencional pela prática das contravenções nela consagradas prescreve decorrido um ano a partir da data da ocorrência do ilícito.

Já a Lei das Transgressões Administrativas prevê que as transgressões administrativas prescrevem no prazo de dois anos a contar da sua prática, todavia salvaguarda que sempre que se mantiverem os resultados ilícitos ou desconformes da actuação ilícita, a transgressão administrativa é imprescritível.

Assim sendo, é nosso entendimento que o prazo de prescrição do procedimento contra- ordenacional laboral angolano deverá ser alargado, adoptando-se o vigente no procedimento português, ou seja cinco anos decorridos sobre a prática da contra-ordenação laboral, devidamente salvaguardadas as causas de interrupção e de suspensão, adoptando-se também, com as devidas adaptações ao ordenamento jurídico angolano, as causas que se encontram previstas no RGCO e no RPCOLSS portugueses.

Assim, as causas de suspensão do procedimento não deverão poder ultrapassar seis meses e a prescrição terá sempre lugar quando, desde o seu início e ressalvado o tempo de suspensão, tiver decorrido o prazo normal da prescrição acrescido de metade.

A respeito da prescrição da coima e das sanções acessórias, somos de entendimento que é de adoptar também os prazos previstos no procedimento português, isto é prescrevem no prazo de cinco anos a partir do carácter definitivo ou do trânsito em julgado da decisão condenatória, adoptando também as referidas causas de interrupção e de suspensão.