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Conforme entende LEONES DANTAS59, opinião que merece a nossa concordância, “Ao lado da coima como sanção principal o Direito das Contra-ordenações consagra, igualmente, um conjunto de sanções acessórias que podem desempenhar um papel importante na realização dos objectivos subjacentes a este ramo de Direito e que, em certas situações, podem ter uma eficácia interventiva mais intensa do que a própria coima.

Como sanções acessórias elas terão necessariamente que ser aferidas ao facto ilícito cometido, à culpa manifestada pelo agente e às exigências de prevenção que se verifiquem no caso concreto, não se configurando como efeitos da condenação da coima, do que resulta que não são de aplicação automática.

58ALBUQUERQUE, Paulo Pinto de, op. cit., 31 p.

59DANTAS, António Leones - Direito das Contra-Ordenações Questões Gerais. 2.ª ed. Braga: AEDUM, 2011.

A sua aplicação deverá (...) atender-se à dimensão da ilicitude do facto, à culpa manifestada e à situação económica do agente”.

Tal como LEONES DANTAS, a doutrina portuguesa em geral defende que para além da gravidade da infracção e da culpa do agente, conforme previsto no n.º 1, do artigo 21.º do RGCO, a autoridade administrativa deverá ter em conta também a situação económica do

infractor, conquanto a aplicação e duração das sanções acessórias trazem frequentemente

implicações graves e importantes para a actividade profissional dos infractores, da qual muitas vezes depende a subsistência económica dos próprios e do seu agregado familiar, bem como a solvência das empresas.

Pode, assim, a autoridade administrativa aplicar ao arguido60, as sanções acessórias elencadas no n.º 1, do artigo 21.º do RGCO, das quais destacamos, atenta a temática de fundo desta nossa dissertação - as contravenções laborais - as previstas nas alíneas a), b) e e), concretamente:

- “Perda de objectos pertencentes ao agente”;

- “Interdição do exercício de profissões ou actividades cujo exercício dependa de título público ou de autorização ou homologação de autoridade pública”;

- “Privação do direito de participar em arrematações ou concursos públicos que tenham por objecto a empreitada ou a concessão de obras públicas, o fornecimento de bens e serviços, a concessão de serviços públicos e a atribuição de licenças ou alvarás”.

Saliente-se que, o RGCO no n.º 2 do artigo 21.º do RGCO prevê duração limitada a dois anos para todas as sanções acessórias previstas, excepto, como é óbvio, para a perda de objectos pertencentes ao agente, além de definir, no artigo 21.º-A, os pressupostos da aplicação de cada uma das sanções, os quais exigem normalmente uma relação directa entre a sanção acessória e a infracção e entre estas e a função ou actividade exercida.

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Quando as sanções acessórias estiverem expressamente previstas no diploma sancionador. Devendo ser salvaguardados pela autoridade administrativa os pressupostos da aplicação de cada uma das sanções, definidos no artigo 21.º-A do RGCO, os quais exigem normalmente uma relação directa entre a sanção acessória e a infracção e entre estas e a função ou actividade exercida pelo infractor. Pelo que, na aplicação das sanções acessórias a autoridade administrativa deve respeitar o princípio da proporcionalidade das penas.

15. Prescrição

Podemos definir prescrição como sendo a extinção de um direito em virtude do decurso de certo período de tempo, havendo prescrição no âmbito contra-ordenacional quando a autoridade administrativa não tiver exercido o direito de perseguir contra-ordenacionalmente o agente que pratique uma contra-ordenação, ou o de executar a coima e sanções acessórias que eventualmente lhe tenham sido aplicadas.

A previsão de prazos de prescrição diversos nas várias áreas de actuação administrativa coloca problemas de integração face à lei geral contra-ordenacional, verificando-se uma tendência para a sua dilatação.

Apesar da previsão do regime geral da prescrição pelo RGCO, grande parte da legislação especial prevê o prazo de prescrição aplicável às contra-ordenações que regem no seu âmbito, como acontece no caso das contra-ordenações laborais (artigo 52.º e ss. da Lei n.º 107/2009, de 14 de Setembro).

15.1. Prescrição do procedimento contra-ordenacional

A prescrição do procedimento contra-ordenacional, quando não se encontrem previstos prazos prescricionais próprios nos regimes especiais, ocorre quando hajam decorrido os seguintes prazos, e tendo em conta os seguintes valores da coima61:

- Cinco anos, quando a coima aplicável à contra-ordenação praticada seja igual ou superior a € 49.879,79;

- Três anos, quando a coima aplicável à contra-ordenação praticada seja igual ou superior a € 2.493,99 e inferior a € 49.879,79;

- Um ano, quando a coima aplicável à contra-ordenação praticada seja inferior a € 2.493,99.

61Artigo 27.º do RGCO.

15.1.1. Suspensão da prescrição do procedimento contra-ordenacional

Para além dos casos especialmente previstos na lei, de acordo com o preceituado no artigo 27.º-A do RGCO a prescrição do procedimento suspende-se, durante o tempo em que o procedimento:

- “Não puder legalmente iniciar-se ou continuar por falta de autorização legal”;

- “Estiver pendente a partir do envio do processo ao Ministério Público até à sua devolução à autoridade administrativa, nos termos do artigo 40.º do RGCO”;

- “Estiver pendente a partir da notificação do despacho que procede ao exame preliminar do recurso da decisão da autoridade administrativa que aplica a coima, até à decisão final do recurso”.

A duração destas duas últimas causas de suspensão não pode ultrapassar seis meses62.

Como afirmam SIMAS SANTOS e LOPES de SOUSA63, na “suspensão o tempo decorrido antes da verificação da causa de suspensão conta para a prescrição, juntando-se, portanto, ao tempo decorrido após essa causa ter desaparecido (n.º 3 do art. 120.º do Código Penal)”.

15.1.2. Interrupção da prescrição do procedimento contra-ordenacional

Pode interromper-se a prescrição do procedimento contra-ordenacional, quando ocorra alguma das situações descritas no n.º 1 do artigo 28.º do RGCO, designadamente com:

- A “(…) comunicação ao arguido dos despachos, decisões ou medidas contra ele tomados ou com qualquer notificação”;

- A “(…) realização de quaisquer diligências de prova (…)”;

- A “(…) notificação ao arguido para exercício do direito de audição ou com as declarações por ele prestadas no exercício desse direito”;

- A “(…) decisão da autoridade administrativa que procede à aplicação da coima”.

62Artigo 27.º-A, n.º 2 do RGCO.

Salvaguarda o n.º 3 deste artigo 28.º, que a prescrição tem sempre lugar quando, desde o seu início e ressalvado o tempo de suspensão, tiver decorrido o prazo da prescrição acrescido de metade.

Ao contrário do que acontece na suspensão, conforme entendem SIMAS SANTOS e LOPES de SOUSA64, “(...) verifica-se a interrupção quando o tempo decorrido antes da causa de

interrupção fica sem efeito, devendo, portanto, reiniciar-se o período logo que desapareça a mesma causa (n.º 2 do art. 121.º do Código Penal). Ou seja, a interrupção anula o prazo prescricional entretanto decorrido”.

15.2. Prescrição da coima e das sanções acessórias

A coima e as sanções acessórias, conforme o previsto nos artigo 29.º e 31.º do RGCO, prescrevem no prazo de:

- Três anos, quando a coima concretamente aplicada for superior a € 3740,98; - Um ano, quando a coima concretamente aplicada for igual ou inferior a € 3740,98. No caso das sanções acessórias dever-se-á ter em conta o valor da coima concreta aplicada nos autos onde foi também aplicada a sanção acessória, ou no caso de ter sido liquidada a coima pelo valor mínimo, atender-se-á a este valor.

15.2.1. Suspensão da prescrição da coima e das sanções acessórias

De acordo com o preceituado nos artigos 30.º e 31.º do RGCO, a prescrição da coima e das sanções acessórias suspende-se durante o tempo em que:

“a) Por força da lei a execução não pode começar ou não pode continuar a ter lugar; b) A execução foi interrompida;

c) Foram concedidas facilidades de pagamento”.

15.2.2. Interrupção da prescrição da coima e das sanções acessórias

Nos termos do previsto no artigo 30.º-A e 31.º do RGCO, “A prescrição da coima e das sanções acessórias interrompe-se com a respectiva execução”. Verificando-se sempre a

prescrição da coima e das sanções acessórias “(…) quando, desde o seu início e ressalvado o tempo de suspensão, tiver decorrido o prazo normal da prescrição acrescido de metade”.