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Após a publicação do SDRif, diversos projetos de transporte foram estudados pelas autoridades competentes. Além dos já efetivamente implan- tados, como o EOLE, o Météor e uma série de li- nhas de VLT (veículo leve sobre trilhos), desta- ca-se, no conjunto, uma sequência de propostas, não executadas, de anéis metroferroviários na

banlieue.329 Foram tentativas de preenchimento da lacuna apontada acima – da oferta de trans- porte coletivo às ligações banlieue-banlieue –, em um processo de busca que culminou na for- matação da terceira rede de transporte de massa de Paris – o Grand Paris Express.

concurso granD paris

Em 2009, no governo do presidente Nicolas Sarkozy, foi lançado um concurso internacio- nal de ideias para a elaboração de um plano ur- banístico para a região metropolitana de Paris. Com o objetivo de “ampliar o debate da escala regional comprometido no Schéma Directeur de la Région d’Île-de-France (SDRif)”330, o concur- so Le Grand Paris reuniu uma série de equipes multidisciplinares, cheiadas por arquitetos e

urbanistas do primeiro escalão internacional, a im de elaborar “diagnósticos prospectivos para a aglomeração parisiense”331.

Segundo o júri, um denominador comum a todas as propostas foi a noção de que a “apropria- ção do território urbano começa” pela reestrutu- ração da oferta de transporte e pela criação de novos polos e de novos equipamentos públicos332. Dentre as propostas selecionadas, se desta- cou a proposição elaborada por Richard Rogers (Rogers Stirk Harbour + Partners) em associa- ção com a empresa de engenharia Arup e com a London School of Economics. Entre um conjunto heterogêneo de diretrizes – que vão desde princí- pios genéricos inegáveis (como investir em dese- nho de qualidade) até deinições espaciais mais concretas – dois aspectos se destacam: “criar uma Paris metrópole policêntrica” e “completar a rede de transportes da metrópole”333. Ambos estão totalmente em sintonia com o espírito que marcou as atividades de planejamento dos últi- mos SDRifs. A proposta de transporte presente na apresentação de Rogers foi um anel metroviá- rio (em princípio uma linha do RER) conectando

329. A saber: Projet Orbitale, na década de 1990, seguido pelo Orbival (um desdobramento do anterior); depois pelo Métrophérique, Arc Express e Tangentielle, todos na década de 2000.

330. Mialet, 2009, p. 11. 331. Ibid. p. 11. 332. Ibid., p. 11.

os múltiplos polos da banlieue, com ramal para o aeroporto Roissy-Charles-de-Gaulle. Trata-se de uma ideia que vinha sendo desenvolvida por algumas entidades públicas nos últimos anos e logo depois, se tranformou em um embrião da rede do Grand Paris Express..

Como desdobramento do concurso, foi ins- tituído o Atelier International du Grand Paris (AigP), para dar continuidade às ideias do con- curso e exercer a coordenação dos cerca de 650 projetos derivados. Muitos desses eram estudos preexistentes, elaborados por órgãos e agências públicas, que foram incorporados ao plano em diversos momentos do processo de sua elabo- ração. Entre as propostas de transporte consi- deradas no Aig, destacam-se vários projetos da RATP e da SNcf: os prolongamentos do EOLE, do Météor e das linhas 4 e 12 do Métro, além de no- vas linhas de VLT, dentre outros.

Em 2010, foi instituída a Société du Grand Paris (SgP), empresa pública (EPic) encarrega- da da elaboração do projeto da rede do Grand Paris Express (gPE), que efetivamente foi a pro- posta original gestada por todo esse processo de planejamento334.

O gPE foi desenvolvido a partir da proposta de Rogers compatibilizada com o projeto do Arc Express – estudo de um anel metroviário, de prin- cípio semelhante, que estava sendo desenvolvido pelo STif na mesma época. O horizonte de implan- tação é o ano de 2030, com algumas indicações de extensão para além dessa data. A extensão total para a primeira etapa (2030) é de 150 quilômetros de linhas de metrô automático, de maior capaci- dade (do mesmo padrão que o Météor). Uma soma de 32 bilhões de euros será investida no programa de transportes como um todo, da qual 21 bilhões serão destinados à rede do gPE.

Seu principal elemento (a chamada Linha Vermelha) é um anel de 60 quilômetros que conecta as estações terminais de todas as li- nhas do Métro, com um ramal para o aeropor- to Roissy-Charles-de-Gaulle. É formado por três segmentos operacionais independentes (as linhas 15, 16 e 17). Completam a rede um arco oeste-sul (linha 18), do aeroporto de Orly a Versailles335, e dois prolongamentos da linha 14 (Météor) – um ao sul (entre Olympiades e o aero- porto de Orly) e outro ao norte (de Saint-Lazare a Saint-Denis).

334. O restante das propostas de transporte foram anexações ad hoc de projetos preexistentes.

335. Com extensão à Nanterre, para um horizonte após 2030.

Como visto, o traçado da rede procurou atender à ligação entre os polos da banlieue – tanto subcentros urbanos quanto grandes equi- pamentos, como os aeroportos, as estações do TgV (trem de grande velocidade) e a central de abastecimento de Rungis. Uma resposta coe- rente com a diretriz de fortalecimento dos polos da aglomeração e com a oferta de transporte de massa para as ligações banlieue-banlieue. Merece ser frisado, no entanto, que a proposta do gPE não nega a estrutura radioconcêntrica que o planejamento metropolitano tanto bus- cou romper. Pelo contrário, ela foi reforçada em escala metropolitana. Em vez de atender à demanda com arcos de origem e destino na

banlieue, com aproximação tangencial ao cen-

tro metropolitano, o traçado do Grand Paris Express se limitou a uma linha diametral, um anel e um arco perimetral, elementos típicos da estrutura radioconcêntrica336.

[ig. 2.54] Rede do Grand Paris Express, com horizonte para 2030.

336. Não apenas a rede do gPe mas muitos dos outros projetos contemplados no programa de transportes da Société du Grand Paris são anéis e perimetrais – como a Tangentielle e as linhas de VLT.

[ig. 2.55] Traçado e estações da rede de transporte público do Grand Paris.