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1. O anúncio da reorganização escolar e seu debate

1.2 As manifestações de rua e seus indicativos do perfil do movimento autônomo secundarista

1.2.1 A grande imprensa e a difusão do movimento secundarista pelas redes sociais

A MÍDIA E A LUTA!

Mesmo após duas semanas de luta secundarista intensa, com direito a duas manifestações autônomas na Paulista e parando grandes avenidas centrais, temos hoje uma notícia na Folha de São Paulo que é, no mínimo, uma demonstração de como a mídia não conhece de fato as organizações e movimentos, que não os sindicatos pelegos e as organizações burocráticas. Primeiro é importante notar que foram soltas poucas notícias sobre as mobilizações que ocorreram nas escolas nas duas semanas passadas, sendo que a primeira que foi, de fato, noticiada foi a manifestação da última sexta (9/10), por conta da repressão policial que sofremos. A cobertura, como já era de se esperar, foi um fracasso e muito pretensiosa, pois os jornalistas seguiram a manifestação da UMES, a qual rachamos desde o princípio e seguimos sem apoio ou ajuda com mais de 1500 estudantes, e mostraram a repressão policial, como pertencendo a um só ato. Quem estava lá lembra que a UMES, UNE, UBES E UPES recuaram no momento que a polícia agiu, não dando apoio nenhum a nós. Além disso o presidente da UMES deu entrevista alegando que os detidos eram pessoas que estavam "para bagunçar e não participavam do movimento". Enquanto os secundaristas autônomos se manteram dando apoio e gritando aos agentes do estado "não leva nenhum, ou leva todo mundo!", as "entidades estudantis" os excluíram e os criminalizaram. Se aproveitaram da força secundarista e em contrapartida tentaram nos derrubar!

Retomando a matéria da Folha, fora demonstrado pelo jornal pouco conhecimento da situação ao legitimar a fala da APEOSP e da UMES. Na matéria eles afirmam que as manifestações têm sido puxadas por essas organizações. A fala da APEOSP? "Eles têm nosso apoio direto. Como vão fazer faixas? Panfletos? Eles não têm como fazer". A Folha ainda diz que a UMES cedeu faixas, panfletos e ônibus para nós, secundas. A infeliz fala da presidente da APEOSP mostra uma prepotência enorme e um não reconhecimento da nossa organização, pois não só sabemos fazer panfletos, faixas e manifestações, como vamos ficar na rua de forma autônoma e horizontal até a reorganização cair!

Nós sabemos que o Sindicato dos Professores do Ensino Estadual de São Paulo tem enormes problemas e é uma organização que não se mostra combativa, diferente da base, dos professores. Esses sim têm o nosso apoio, pois mesmo com a pelegagem do sindicato eles conseguiram manter 89 dias de greve combativa. Não cairemos na fala do Secretário Estadual da Educação, que disse que devemos nos manifestar contra uma "greve absurda que dura 90 dias", pois nossa luta não é simplesmente contra a reorganização e sim por mais educação,

nós queremos uma educação que nos ajude a nos tornarmos pessoas que possam não só criticar, mas também mudar esse sistema no qual vivemos, portanto, como podemos ficar contra os trabalhadores mais ligados a nós, que são explorados pelo Estado, colocados em péssimas condições de trabalho e com salários baixíssimos? Todo apoio a luta dos professores e de todos os trabalhadores que buscam uma vida sem exploração, desigualdade e pelegagem!

Amanhã (15/10) todos convocados ao ato, às 8h, no Largo da Batata!

E no dia 20/10, o Dia Estadual de Lutas! Ao invés de um ato central, as escolas organizadas em suas regiões tomando todo o Estado de SP com lutas!58

A postagem traz parte do repertório discursivo da mobilização, sobre a recusa dos secundaristas em relação às entidades estudantis e a dificuldade do movimento em ser reconhecido por essas instituições, incluindo o sindicato dos professores e os jornais de grande circulação. Ela notifica que as manifestações ocorridas ainda no início do movimento autônomo tiveram como resposta sua deslegitimação por parte da grande imprensa, e confirma apoio aos professores fazendo distinção entre estes, sindicatos, entidades estudantis e secundaristas autônomos.

A denúncia contra a Folha de S. Paulo, conforme se verifica, se deu pelo fato de o jornal transmitir apenas os discursos da Apeoesp e da UMES, com a informação de que os atos foram organizados por estas instituições. O não reconhecimento do movimento autônomo secundarista enquanto movimento político se deu especialmente pelo governo do Estado, conforme veremos no capítulo seguinte, e pela grande imprensa, em parte pela ausência de interesse dos meios de informação em identificar os motivos da revolta dos estudantes, e outra parte, pela intencionalidade do governo estadual em deslegitimar a luta contra a “reorganização”.

No caso da citada matéria, intitulada Mistério sobre fim de escolas alimenta protestos de alunos59, o destaque se deu para a criação de boatos e preocupações que fizeram multiplicar manifestações de alunos e pais contra a mudança no sistema de ensino. Dessa mesma matéria, destaco a seguinte frase: “Vinte dias após anúncio

58 Postagem do Grupo Autônomo Secundarista, em 14 de outubro de 2015.

59https://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/236378-misterio-sobre-fim-de-escolasalimentaprotestos-

de-alunos.shtml. Acesso em: 09/11/2018. Sobre discursos publicados no jornal Folha de S. Paulo (versão online) a respeito da política de reorganização escolar e do movimento de ocupação das escolas, ver: Canesin, 2018. A pesquisa traz uma análise da posição do jornal e o papel da imprensa na construção do debate público e da disputa de discursos.

de mudanças, governo de SP diz estudar quais colégios terão turmas fechadas”. Sem apresentar interesse pelos motivos e legitimidade dos atos, que se encontram implícitos no próprio texto, sobretudo pela falta de informações do governo, a reportagem traz como subtítulo a palavra “confusão” numa alusão às manifestações na porta da Secretaria da Educação e outras localidades no centro de São Paulo.

Sabemos que a revolta contra a “reorganização escolar” se deu por motivo de insegurança e ameaça à organização da vida privada da comunidade escolar, além de afetar a racionalidade socialmente construída em torno da instituição escola. Sem pretensão, a reportagem trazida pelos estudantes acaba ilustrando essa questão, bem como as dificuldades de comunicação com órgãos estatais, conforme se verifica na mesma reportagem da Folha de S. Paulo o depoimento de um pai de dois alunos da escola estadual Jornalista Carlos Frederico Werneck Lacerda, localizada na zona norte da capital paulista: “Qual a logística desse plano de fechamento? Quem levará nossos filhos para as escolas? Não há comunicação, não sei o que vai acontecer.”60

A forma de atuação da grande imprensa e de jornalistas independentes, como os coletivos Mídia Ninja e Jornalistas Livres, teve considerável impacto sobre o movimento secundarista. A grande imprensa em razão de ter ignorado protestos ocorridos nos bairros, e também quando passou a noticiar as manifestações maiores, as quais reuniram escolas de diferentes regiões do estado e fecharam importantes vias da capital paulista, o fez desconsiderando o caráter autônomo do movimento, conforme registrado no depoimento do Grupo Autônomo Secundarista (G.A.S). A mídia independente, por sua vez, e as redes sociais, foram fundamentais para a transmissão de informações do movimento por que, diferente da grande imprensa, assumiu a postura de tornar público o discurso dos secundaristas autônomos, publicando entrevistas e relatos de jornalistas que se inseriram nos atos e manifestações.

Mesmo depois das mais de duzentas ocupações de escolas em todo o estado em 2015, contra a “reorganização escolar”, no ano seguinte os principais jornais mantiveram a mesma posição quando estudantes de ETECs ocuparam suas escolas, a sede do Centro Paula Souza, diretorias regionais de ensino e a ALESP (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo) na exigência de investigação sobre o desvio do dinheiro destinado à compra de merenda escolar. Nesse período, a

60 Mistério sobre fim de escolas alimenta protestos de alunos. Folha de S. Paulo. Matéria publicada em

jornalista Eliza Capai61, em entrevista à TV Brasil, afirmou que o hábito da grande

mídia era permanecer no andar de cima da ALESP numa sala de café destinada à imprensa, uma espécie de mezanino, e quando os secundaristas apareciam, no andar inferior, os jornalistas apontavam suas câmeras para baixo enquanto os estudantes faziam uma espécie de “show” cantando músicas de guerra e palavras de ordem em jogral, como “fora globo” e “fora mídia golpista”. Capai questiona que não viu a imprensa tentar contato com os estudantes, com exceção de uma jornalista do canal GloboNews que se dispôs a conversar com os secundaristas e mostrar o projeto autônomo, e por conta disso foi bem recebida por eles. Nessa entrevista, Eliza Capai diz:

Como que você consegue, de um andar de cima, apontar a câmera por alguns minutos, sem conversar com ninguém, e entender uma coisa tão complexa como o que a gente tá vivendo hoje nas ocupações? (...) Eu sou formada há mais de uma década já, e foi uma das minhas melhores aulas de como não fazer jornalismo, por um lado. E por outro lado, como esse jornalismo, que era a Mídia Ninja, e os Jornalistas Livres que se engajam, e através da empatia com aqueles estudantes a gente consegue entender lugares muito mais profundos do que aquele que tá sendo dito. Eu sinto que a maioria da grande mídia não tá tentando entender o que de fato tá acontecendo. (...). O que eu vi da grande mídia no movimento estudantil era uma incompreensão do que rolava nas ocupações, tanto da ALESP quanto das escolas. 62

A incompreensão mencionada por Eliza faz referência ao processo de criminalização das ocupações de 2015 e 2016. Não por acaso as mídias alternativas cresceram muito nesse período, porque as pessoas queriam saber melhor sobre as ocupações que vinham ocorrendo, primeiro no estado de São Paulo e depois por todo o Brasil, inicialmente por estudantes secundaristas, posteriormente, no início do governo interino de Michel Temer, ocorreram outras ocupações com diferentes bandeiras e pautas específicas, como a ocupação do prédio da Funarte no Rio de

61 Jornalista e documentarista, Eliza Capai fez contato com os secundaristas autônomos para uma série

sobre democracia, que na época produzia para o canal Futura da Fundação Roberto Marinho. Ao estabelecer contato com alguns estudantes da ocupação da ALESP, a jornalista resolveu produzir um documentário lançado em 2017 sob o título #Resistência, e em 2019 lançou no Festival de Berlim o longa-metragem “Espero tua (re)volta”, em que três ex-secundaristas, incluindo do movimento autônomo, narram o filme.

62Entrevista de 16 de junho de 2016, consultada no site da TV Brasil:

http://tvbrasil.ebc.com.br/vertv/episodio/o-movimento-estudantil-pelas-lentes-da-tv. Acesso em: 22/11/2018.

Janeiro contra o fim do Ministério da Cultura, e outras ocupações contra a reforma do ensino médio e a PEC do teto dos gastos públicos. As informações veiculadas pela mídia comercial não foram suficientes para que as pessoas pudessem avaliar o contexto, e muito menos para que entre aqueles que tinham qualquer proximidade com uma das pautas, pudessem se identificar, em alguma medida, com as notícias que chegavam.

Para refletir sobre as condições de reconhecimento do movimento secundarista, parece pertinente recorrer à teoria social crítica de Axel Honneth (2011) que vê os conflitos como base das interações sociais, cuja gramática moral seria a da luta por reconhecimento. Desse modo, podemos considerar que a busca por reconhecimento é, por excelência, a busca por justiça social numa sociedade atravessada por conflitos fundados na desigualdade. Se pensarmos o caso dos secundaristas, com base nessa teoria, sinto-me autorizada a dizer que a ação dos estudantes se deu em razão de desrespeito social sofrido, isto é, de interferência na identidade coletiva, de modo que impulsionou uma luta por reconhecimento de direitos, nesse caso, o direito à educação pública de qualidade.

Postagens em páginas de Facebook e entrevistas realizadas mostram que a experiência de desrespeito não surge com a política da “reorganização escolar” em 2015, mas muito antes, com o processo de superlotação de salas de aula e ausência de recursos, desde a falta de papel higiênico nos banheiros até a inexistência ou a subutilização dos laboratórios de informática e de química, por exemplo. O sentimento de sofrer injustiça social também passa pelas relações que os alunos estabelecem com seus professores em situação de trabalho precarizado e de má remuneração. E é o surgimento desse sentimento, de tensão moral, que Honneth (2011, p.155) vê impulsionar a formação de movimentos sociais e de identidade.

A sequência “desrespeito, luta por reconhecimento e mudança social” constitui o desenvolvimento lógico dos movimentos coletivos. Essa é a concepção que Honneth tem da lógica moral e da gramática moral dos conflitos sociais. Em resumo, a ideia básica é a de que sentimentos morais, quando articulados numa linguagem comum, podem motivar as lutas sociais. (Werle, D.L.; Melo, R.S., 2008, p.190,191)

Para Honneth, os processos de mudança social são originários de pretensões normativas integradas às relações de reconhecimento, isto é, expectativas

de reconhecimento social em suas relações intersubjetivas63. Na situação de ausência

ou falso reconhecimento da identidade pessoal ou coletiva, a violação das condições de reconhecimento corresponde às patologias sociais, isto é, às situações de injustiça social que levam os indivíduos a buscarem maneiras de obter reconhecimento. Trata- se da dinâmica social da luta por reconhecimento, cuja gramática permite descrever empiricamente os conflitos sociais baseados em uma concepção formal de eticidade64. Em outras palavras, a busca por mudança social, nos termos da luta por

reconhecimento, baseia-se em uma concepção de vida, de autonomia e estima social, que serve de padrão crítico para a sociedade avaliar suas relações.

Honneth (2011, p.155- 212) descreve três dimensões de reconhecimento: o “amor”, que pertence às relações primárias, da esfera emotiva, as relações intimas e de amizade, importantes para o desenvolvimento da confiança em si mesmo e da autorrealização; o “direito”, que trata das relações a partir das normas, das leis, assegurando direitos de reconhecimento da pessoa como moralmente imputável, importante para o desenvolvimento do autorespeito; e a “solidariedade” social, que trata da estima social, o status social, necessário para o desenvolvimento da autoestima mediante os valores da sociedade.

A partir dessas dimensões, podemos identificar a formação do movimento secundarista como luta por reconhecimento, cuja razão moral encontra-se na esfera do direito, ou seja, o movimento autônomo secundarista se forma como tal motivado pelas condições de exclusão de suas relações legais de igualdade, pela privação de seus direitos expressa concretamente na forma como o governo apresentou a “reorganização escolar”. Do ponto de vista normativo, a ação secundarista luta contra danos à integridade do indivíduo, ao passo que o falso reconhecimento apresentado pela grande imprensa se assemelha ao que Honneth considera como degradação da

63 Esta é uma formulação teórica em que Honneth parte do jovem Hegel da “luta por reconhecimento”

em seus escritos no período de Jena, combinada a uma abordagem empírica da psicologia social de G.H. Mead, e da psicologia de Donald Winnicott e Jessica Benjamin. Vale considerar que a noção de reconhecimento social, central na teoria honnethiana, pressupõe ação comunicativa, se utilizando do paradigma habermasiano das interações dialógicas, o qual também resultou de uma revisão teórica das relações intersubjetivas descritas por Hegel. É importante observar que a noção de reconhecimento em Honneth não elimina as condições de luta de classes, pois estas estariam incluídas na tensão moral causada pelo desrespeito social, elas estariam ancoradas na luta por reconhecimento (Fraser & Honneth, 2003).

64 O conceito de eticidade inclui reconhecimento jurídico moral, importante para autonomia e

autorespeito do indivíduo, e reconhecimento ético da realização pessoal, isto é, da estima social. Na descrição de Honneth, “o conceito de “eticidade” refere-se agora ao todo das condições intersubjetivas das quais se pode demonstrar que servem à autorrealização individual na qualidade de pressupostos normativos” (Honneth, 2011, p.271-272).

dignidade do grupo e da pessoa, no sentido de que afeta a dimensão da “solidariedade”. Assim, a luta secundarista passa a ser dupla: contra os danos causados pelo governo em relação a seus direitos, e contra as entidades estudantis e a mídia comercial, para que sua forma autônoma e horizontal receba respeito solidário, de modo que a autoestima dos estudantes deixe de ser degradada.

Se por um lado o desrespeito da privação de direitos e da degradação das formas de vida indicam as condições de injustiça sofridas pelos estudantes em luta, por outro lado, a própria luta tende a conduzir processos sociais de apoio e busca por reparação dessas injustiças. Foi o caso da solidariedade de alguns profissionais, como demonstra a fala da jornalista Eliza Capai, de pessoas que fizeram doações de alimentos e produtos de limpeza durante as ocupações, de artistas e pessoas públicas que apoiaram campanhas a favor das ocupações de 2015, e de documentaristas como Carlos Pronzato, Eduardo Consonni, Rodrigo Marques, Tiago Tambelli, Flávio Colombini, Beatriz Alonso e a própria Capai, que produziram documentários importantes para registro da realidade da luta autônoma secundarista.65

Em entrevista ao Catraca Livre66, a diretora de “Lute como uma menina”,

Beatriz Alonso, disse ser motivada a produzir um documentário sobre o movimento quando percebeu que a mídia em geral não cobria as ocupações de forma a mostrar as motivações dos estudantes. Ações desse tipo confirmam a teoria de Honneth de que a luta por reconhecimento tende a impulsionar desenvolvimentos sociais (nesse caso também políticos) para a evolução das relações de reconhecimento. Seguindo essa lógica, a medida que as ocupações aumentaram no estado de São Paulo, ganhando apoio da opinião pública, de moradores do entorno das escolas ocupadas, familiares e colegas, a popularidade do governo do estado caia gradativamente. Tal mudança se deu em parte pela crise hídrica, mas especialmente pela atuação dos secundaristas nas redes sociais e pelo papel da mídia alternativa em focar e tornar

65 Entre as formas de apoio à mobilização dos estudantes, depois de o governo do estado de São Paulo

ter suspendido a reorganização, no dia 4 de dezembro, um grupo de cantores participaram de um vídeo clipe, dirigido por Renata Galvão, em apoio à luta secundarista. A música ‘O Trono de Estudar’, composta por Dani Back, foi lançada no site Virada Ocupação, e ficou disponível pelo Youtube. Entre os artistas que participaram, estiveram Chico Buarque, Zélia Duncan, Arnaldo Antunes, Dado Villa- Boas, Paulo Miklos, Tetê Espíndola, Tiê, Tiago Iorc, e outros. Ao final, o vídeo cita outros movimentos contrários à “reorganização escolar”: Rede Minha Sampa; Rede Emancipa Educação Popular; Não Fechem Minha Escola; Comando das Escolas em Luta; e Secundaristas em Luta – Goiás. Iniciativas como esta cumpriram o papel de dar maior visibilidade ao movimento secundarista e suas demandas, as quais conquistaram novos espaços de discussão independente da mídia convencional.

66 https://catracalivre.com.br/educacao/documentario-enaltece-luta-das-meninas-nas-ocupacoes-em-

pública a situação de desrespeito social sofrida por pais, alunos e professores da rede pública de ensino do estado de São Paulo.

O apoio de diferentes setores da sociedade foi fundamental para o fortalecimento do movimento autônomo secundarista e para conferir sua legitimidade. Nos termos da gramática moral dos conflitos sociais, o apoio da opinião pública favoreceu autorrealização social momentânea para os estudantes, porque o movimento era aceito por parcelas importantes da sociedade, de modo a refletir na autoestima dos atores da luta. Por outro lado, permanece a violação de direitos, a irredutibilidade do governo e a crescente violência policial na composição do desrespeito que, conforme repertório discursivo dos estudantes, serviu de motor para a “luta” secundarista.

Em entrevista, uma estudante cita a truculência do Estado como combustível para continuar a “luta”: quanto mais repressão, maior o incentivo para seguir com os atos e as ocupações. Assim como indica a gramática apresentada por Honneth, o processo de mobilização dos estudantes secundaristas revela a necessidade de avançar formas de reconhecimento em direção ao êxito da autorrealização positiva, vinculada à formação do sujeito, conforme se verifica na demanda dos estudantes por um ensino que forme pessoas pensantes e sujeitos autônomos. Trata-se de processos sociais que demandam relações de intersubjetividade, conforme o desenvolvimento teórico:

O nexo existente entre a experiência de reconhecimento e a relação consigo próprio resulta da estrutura intersubjetiva da identidade pessoal: os indivíduos se constituem como pessoas unicamente porque, da perspectiva dos outros que assentem ou encorajam, aprendem a se referir a si mesmos como seres a que