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4. AS MIGRAÇÕES ENQUANTO PARTE DO PROCESSO DE

4.1 EXPERIÊNCIAS E TRAJETÓRIAS MIGRATÓRIAS

4.1.1 Trajetórias marcadas pela permanência no lugar de origem

4.1.1.2 Grupo familiar de Sr Zé

O Grupo familiar, residente em Gangorra, é composto, atualmente, por cinco membros: os pais e três filhos. Outros três migraram para a cidade de Diadema (SP), onde moram até hoje. Os que migraram foram uma filha e dois filhos, dos quais a primeira trabalha em depósito, no controle de mercadorias de uma firma e os filhos, em metalúrgica. Segundo Zé: ―O mais velho que foi primeiro tem uns três anos que tá lá. O mais novo foi de pouco vai fazer um ano em setembro. A menina já faz mais de dois anos‖ (Entrevista com Sr. Zé, jan. 2014).

A família não tinha parente em Diadema, e o primeiro filho migrou pela ajuda de amigos que ligaram e avisaram sobre a vaga de trabalho em posto de gasolina

Aí ele chegou lá entrou e saiu, daí entrou em outro [posto de gasolina], trabalhou um dia ou dois e não gostou não. Falou não vou trabalhar em posto de gasolina mais não. Aí depois entrou na metalúrgica, ficou um ano e pouco e depois entrou em outra, está até agora, e o mais novo também (Entrevista com Sr. jan. Zé, 2014). Segundo o pai, o filho mais novo não está gostando e pretende voltar, e a menina ―[...] fala direto que se achasse um salário aqui vinha embora‖ (Entrevista com Sr. Zé, jan. 2014). Na narrativa, mais a frente, notamos a principal importância atribuída ao trabalho dos filhos fora está na contribuição para a futura aposentadoria e no amparo em decorrência de um possível adoecimento que, segundo ele, não existe para quem trabalha na roça. Zé associa a saída dos jovens da seguinte forma: Os jovens pensa mais em ir embora, chega na idade de vinte e dois/vinte e três anos. Olha esse coitado desse menino ai [referindo- se a uns dos sobrinhos], ele já correu, já pelejou pra ver se consegue um empreguinho ai pra ganha ao menos um salário, nunca conseguiu. Aí como é que fica? Já tá na idade de vinte e dois anos, daí daqui a pouco acabou a juventude dele, vai arrumar o que mais? Não paga um INSS, não paga um sindicato. Se chegar machucar [...] que vai fazer? (Entrevista com Sr. Zé, jan. 2013).

Deparamo-nos com a preocupação em relação à aposentadoria, pois quando chega o momento em que acabam as forças ainda não conseguiram se aposentar, e até mesmo em caso de doença não conseguem Seguro Saúde. Os pais não querem os filhos passando por isso, algo corriqueiro entre os mais velhos e, por isso, sempre frisam esta preocupação.

Quanto ao pelejar, do sobrinho, em conseguir emprego, refere-se à procura no município. Essa é a principal expectativa dos jovens, para não sair. Dos três filhos que moram junto com os pais, todos estão em idade escolar. O pai trabalha somente no sítio e a mãe é funcionária de uma escola rural, relativamente próxima à comunidade, trabalhando como servente. A principal fonte de renda da família advém do trabalho da mulher. Outras fontes de renda são da venda do excedente na feira municipal e do repasse do Programa Bolsa Família, sendo renda complementar.

Zé já migrou para trabalhar no corte da cana quando solteiro (vinte e dois anos), na usina Bonfim, em Taquaritinga (SP). Ficou somente por quatro meses, regressando antes do fim da safra: ―Fui pro corte da cana e não gostei, voltei!‖ (Entrevista com Sr. Zé, jan. 2013). Sobre a experiência no corte da cana, discorre:

O alojamento era no meio do canavial, tinha cana pra todo lado ao redor [...]. Foi um bocado de gente, uns 2 ou 3 ônibus [de Itinga]. É pesado e aquilo tem que ter prática, se não tiver não ganha nada não, é de acordo que a gente faz que ganha. Tinha muito desconto, eles descontava a despesa, passagem que a gente foi eles descontava também. Aquilo ali o cara as vezes tira um dinheiro até bom, mas volta descontando aqui e ali, resulta em pouco né [...]. Tinha outro colega meu aqui do Jacaré, eu fui primeiro que ele, aí quando eu tava lá ele chegou. Ele não gostou também, aí nós saiu. (Entrevista com Sr. Zé, jan. 2014).

Diante das falas, notamos a preferência na manutenção da autonomia no trabalho ao invés de trabalhar pros outros, possibilidade existente devido ao fato desses camponeses serem ao mesmo tempo trabalhadores e proprietários de seus meios de produção. Mesmo o trabalho sendo pesado e não permitindo descanso, mesmo sem direito a férias e ter que acordar na madrugada para aguar a roça, Zé diz que não pretende sair: ―A gente mora aqui porque acostumou. Gosta de plantar, gosta de colher [...] acostumou trabalhar na roça, na lavoura‖ (Entrevista com Sr. Zé, jan. 2013).

Zé relata a ocasião que precisou sair, entretanto, ―não foi tanto pra trabalhar‖, foi para fazer o tratamento de visão de uma das filhas, ficando um ano em Itatiaia (RJ), onde moram seus irmãos. Durante esse tempo, trabalhou na represa de Furnas (sem assinar carteira, fichar), e seu serviço era plantar árvores ao redor da represa (reflorestamento). A mulher ficou na comunidade por causa de seu emprego na escola. Quando retornou, não demorou muito, voltou para a cidade de Itatiaia por

outro motivo de saúde, ficando por mais um ano e meio, trabalhando fichado na Rodovia Presidente Dutra151, como ajudante de limpeza (a carteira foi assinada

como ajudante de construção civil). Surgiu a possibilidade de permanecer fora, mas voltou à comunidade, devido ―os problemas que a vida fora‖ poderia trazer para seus filhos mais novos152. A Figura 25 indica os trajetos migratórios dos membros da

família de Zé.

151 Rodovia que liga as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.

152 Zé destacou, como exemplo, as drogas e a violência, além da dificuldade de encontrar um