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Os Grupos Escoteiros e seus chefes

2. OS GRUPOS ESCOTEIROS SANTO ANTONIO E BORORÔ:

2.1 Os Grupos Escoteiros e seus chefes

O Grupo Escoteiro Santo Antonio fundado há mais de 40 anos, sempre se situou na mesma cidade, porém mudou sua sede de lugar algumas vezes. As sedes sempre funcionaram em espaços cedidos pela Prefeitura da cidade e as mudanças devem-se ao fato de melhor atender, segundo o diretor presidente do grupo, os interesses do poder público, ou do próprio grupo escoteiro.

Esse grupo conta com uma alcateia completa com 24 lobinhos(as) divididos(as) em quatro matilhas mistas, e cinco chefes (quatro mulheres e um homem). De acordo com a literatura escoteira, uma alcateia está completa ao atingir 24 crianças, podendo o grupo escoteiro ter mais de uma alcateia caso tenha crianças interessadas e chefes suficientes, que deve ser de no mínimo um adulto para cada seis crianças. Ainda de acordo com a literatura escoteira, a expressão matilha mista é utilizada no escotismo para designar o agrupamento de

lobinhos e lobinhas, ou seja, com meninos e meninas juntos. O grupo também conta com uma tropa escoteira com 28 escoteiros(as), sendo 15 meninos e 13 meninas, divididos em quatro patrulhas por sexo – beija-flor e garça para as meninas e gavião e cuco para os meninos –, e

cinco chefes (três mulheres e dois homens), uma tropa sênior com 12 seniores e guias (divididos em duas patrulhas mistas62) e três chefes (uma mulher e dois homens) e um clã

pioneiro com cinco pioneiros(as) e um mestre (homem). De acordo com a literatura escoteira,

no ramo pioneiro não há divisões internas, todos os pioneiros e as pioneiras participam de um mesmo agrupamento, o clã pioneiro, cujo responsável é o mestre pioneiro que, de acordo com a literatura escoteira, é o chefe responsável pelo ramo pioneiro, e tem outra nomenclatura para diferenciá-lo dos adultos dos demais ramos, pois, neste ramo o adulto tem um papel mais “orientador”. Além disso, o grupo conta com uma diretoria e uma secretaria. A diretoria mais voltada para garantir a realização do escotismo no grupo e a secretaria mais voltada a tarefas da vida administrativa e financeira das crianças perante ao grupo, como, atualização de fichas médicas, autorizações para atividades externas e cobrança das mensalidades.

No Grupo Escoteiro Santo Antonio são os próprios escoteiros e suas respectivas famílias que financiam as atividades. Isso inclui desde os custos com o uniforme e as mensalidades até as taxas para participação em atividades realizadas pelo próprio grupo até atividades regionais, nacionais e eventualmente internacionais promovidas pelo movimento. As crianças e jovens deste grupo escoteiro moram em diferentes bairros da cidade, a maioria

62 Assim como as matilhas, a expressão patrulha mista é utilizada pelos escoteiros para designar o agrupamento de escoteiros e escoteiras ou seniores e guias.

estuda em escola particular e faz outras atividades educacionais durante a semana, como cursos de inglês, futebol, natação, etc. Além disso, a maioria deles(as) vão e voltam das atividades no grupo escoteiro junto de seus familiares por meio de transporte particular. Poucos(as) voltam sozinhos(as) ou fazem uso de transporte público.

Este grupo escoteiro conta com 69 crianças e jovens, entre lobinhos, lobinhas,

escoteiros, escoteiras, seniores, guias, pioneiros e pioneiras, e 15 adultos escoteiros entre chefes, assistentes e diretoria, além de aproximadamente dez pais e mães que participavam

com assiduidade. Do total dos 15 adultos escoteiros, tive mais contato com seis durante a pesquisa de campo: Hiroshi, diretor-presidente, Heitor, chefe da tropa escoteira, Cassia, Josué, Débora e Mariana, todos chefes assistentes da tropa escoteira.

Hiroshi (Diretoria): Tem 74 anos, curso superior completo e é executivo de uma grande empresa. Atualmente é diretor-presidente do grupo escoteiro, onde atua há mais de 30 anos. Seu filho e sua filha foram membros juvenis do mesmo grupo. O filho, hoje, atua como

chefe do ramo sênior e a sua neta, apesar da pouca idade para integrar formalmente um grupo

escoteiro, já frequenta os ambientes escoteiros. Além disso, sua esposa é também chefe da

alcateia e participa do escotismo há tanto tempo quanto o marido.

Heitor (Chefe da Tropa Escoteira): Tem 50 anos, curso superior completo e é engenheiro. Está há mais de 10 anos no grupo escoteiro, tem um filho no ramo pioneiro e uma filha no ramo sênior. Foi membro juvenil durante sua infância e juventude em outro grupo escoteiro e retornou ao escotismo junto com dos filhos.

Cassia (Assistente da Tropa Escoteira): Tem 47 anos, curso superior completo e é secretaria executiva de uma grande empresa. Está há mais de 10 anos no grupo escoteiro. Seus dois filhos, um homem e uma mulher, foram membros juvenis do Grupo Escoteiro Santo Antonio do ramo lobinho ao pioneiro. Sua filha atua como chefe em outro ramo do grupo. Cassia não foi escoteira quando jovem e entrou para o escotismo por causa dos filhos, inicialmente como mãe de apoio e depois como chefe.

Débora (Assistente da Tropa Escoteira): Tem 38 anos, curso superior completo e é gerente comercial. Retornou ao escotismo há pouco tempo. Sua filha é escoteira e seu companheiro também, todos neste grupo escoteiro. Ela também já havia sido escoteira quando jovem e retornou ao escotismo para acompanhar sua filha.

Josué (Assistente da Tropa Escoteira): Tem 24 anos, cursa o ensino superior e faz estágio. Está há mais de 10 anos no grupo escoteiro, a maior parte deles como membro

mudar-se de cidade procurou outro grupo e entrou como escoteiro neste grupo, onde se tornou

chefe após completar 21 anos.

Mariana (Assistente da Tropa Escoteira): Tem 23 anos, cursa o ensino superior e faz estágio. Desde criança é escoteira deste grupo, foi lobinha, escoteira, guia e pioneira. Depois dos 21 anos, passou a atuar como chefe.

Conforme se vê, neste grupo, todos os chefes ou tem formação em nível superior ou estão cursando e, todos os chefes formados têm ocupações que exigem nível superior.

Desses(as) seis chefes, dois entraram para o movimento escoteiro na condição de pai e de mãe, dois entraram ainda como membro juvenil e dois foram membros juvenis e retornaram ao escotismo na condição de pai e de mãe.

O Grupo Escoteiro Bororô foi fundado há pouco mais de 10 anos e também sempre se situou na mesma cidade, porém teve uma única sede até o momento. O grupo é vinculado a uma instituição social que além de ceder a sede ao grupo, patrocina a prática do escotismo, arcando com os custos com o uniforme e as atividades organizadas pelo próprio grupo63.

Ele conta com uma alcateia com 18 lobinhos(as) divididos(as) em quatro

matilhas e três chefes (duas mulheres e um homem); uma tropa escoteira com 24 escoteiros(as), sendo 14 meninos e 10 meninas, divididos em quatro patrulhas por sexo (onça

e jiboia para as meninas e leão e urso para os meninos) e três chefes (duas mulheres e um homem), uma tropa sênior com 12 seniores e guias (divididos em duas patrulhas mistas e uma chefe (mulher). Diferentemente do Grupo Escoteiro Santo Antonio, o grupo não possuí

clã pioneiro. Também é composto por uma diretoria, que também exerce as atividades da secretaria.

As crianças e jovens deste grupo escoteiro moram próximos a sede, a maioria estuda em escola pública e poucos(as) fazem outras atividades educacionais durante a semana, como cursos de inglês, futebol, natação, etc., aqueles que fazem, de forma geral, são cursos semiprofissionalizantes ou voltados ao mercado de trabalho. Além disso, a maioria deles(as) vão e voltam a pé ou de bicicleta das atividades no grupo escoteiro, e em geral caminham juntos ou em grupos até suas residências, sem a presença dos familiares, estes mais frequentes

63 O Grupo Escoteiro Bororô é financiado integralmente pela instituição social que o acolhe, sendo considerado parte da própria instituição como uma atividade complementar oferecida as crianças e jovens que dele participam. A instituição assistencial recebe financiamento público para algumas atividades específicas, como cursos semiprofissionalizantes, mas segundo Miriam, diretora-presidente do grupo “o grosso de verbas da entidade vem de doações, parte em dinheiro, outra parte de festas, e a maior parte de um bazar que vende roupas, moveis e eletrodomésticos usados que a instituição ganha e reforma para a venda”.

apenas com os(as) lobinhos(as). Alguns se utilizam do transporte público para o retorno, principalmente como um fator de segurança.

Ele conta com 54 crianças e jovens, entre lobinhos, lobinhas, escoteiros,

escoteiras, seniores e guias, e oito adultos escoteiros entre chefes, assistentes e diretoria,

além de quatro mães que eventualmente estiveram presentes nos encontros observados. Do total dos oito adultos escoteiros, tive mais contato com cinco durante a pesquisa de campo: Miriam, diretora-presidente, Cintia, chefe da tropa escoteira, Renata, chefe da tropa sênior, Cleber e Paula, chefes assistentes da tropa escoteira.

Miriam (Diretoria): Tem 65 anos, ensino médio completo e é a 3ª vice- presidente da diretoria executiva da instituição social que o Grupo Escoteiro Bororô é vinculado. Está no grupo escoteiro desde que este foi criado, há mais de 10 anos. Tomou contato com o escotismo por meio de suas filhas que foram escoteiras em outro grupo da região. Atualmente é diretora-presidente do grupo, cargo que já foi ocupado por seu marido; suas filhas são chefes de ramos diferentes no próprio grupo escoteiro.

Cintia (Chefe da Tropa Escoteira): Tem 35 anos, curso superior completo e é policial. Filha da chefe Miriam, também está no grupo escoteiro desde a sua criação, há mais de 10 anos. Entrou para o escotismo quando jovem em outro grupo escoteiro da região e quando surgiu a possibilidade de se criar um grupo escoteiro vinculado à instituição social da qual toda família faz parte, Cintia começou a atuar como chefe.

Renata (Chefe da Tropa Sênior): Tem 38 anos, curso superior completo e é analista de recursos humanos. Filha da chefe Miriam e irmã mais velha da chefe Cintia. Assim como elas, está no grupo escoteiro desde a sua criação. Também entrou para o escotismo quando jovem em outro grupo escoteiro da região e hoje é chefe da tropa sênior.

Cleber (Assistente da Tropa Escoteira): Tem 49 anos, ensino médio completo e é assistente de produção. Está no grupo escoteiro há cerca de um ano e meio. Ele não tem filhos no escotismo nem foi escoteiro quando jovem. Segundo ele, aproximou-se do escotismo por gostar de temas que, segundo ele, se relacionam com a prática escoteira, como acampar, fazer trilhas e ter contato com a natureza. Além disso, disse ter predisposição para o serviço voluntário, o que o levou ao escotismo, onde, de acordo com ele, reúne o voluntariado com suas preferências de lazer.

Paula (Assistente da Tropa Escoteira): Tem 50 anos, curso superior completo e é assistente administrativa. Está no escotismo e no grupo escoteiro aproximadamente um ano e meio. Aproximou-se do escotismo quando levou seu filho para ser lobinho e, convidada

para ser chefe, aceitou. Ela disse acreditar na proposta escoteira e sendo chefe pode ficar próxima de seu filho, além de poder “doar-se” a algo que acredita ser bom para a sociedade e para si.

Conforme se vê, diferentemente do Grupo Escoteiro Santo Antonio, neste grupo, nem todos os chefes tem formação em nível superior, apenas três deles. Além disso, apenas a

chefe Renata tem uma ocupação que exige nível superior.

Dos(as) cinco chefes citados(as), duas entraram para o movimento escoteiro na condição de mãe, duas entraram ainda como membro juvenil e apenas um deles, entrou já adulto, sem nunca ter sido escoteiro ou ter relações de paternidade com algum membro do grupo.

Destacarei doravante alguns aspectos comuns e outros que diferenciam os grupos escoteiros pesquisados. Ambas as sedes possuem espaços separados para cada ramo do

escotismo, ou seja, para cada divisão etária, além de contarem também com banheiros

divididos para uso de homens e mulheres, cozinha e espaço separado para atividades administrativas. Os dois grupos escoteiros contam ainda com áreas verdes, com árvores e gramado, o que é quase uma condição para a realização do escotismo.

O Grupo Escoteiro Santo Antonio, com 84 associados, é um pouco maior que o Grupo Escoteiro Bororô, conta com 84 associados enquanto que o segundo tem 62 associados. Ambos estão muito próximos da média de associados por grupo do estado de São Paulo, que é de 71, conforme visto no capítulo anterior64.

A relação adulto por criança/jovem no Grupo Escoteiro Santo Antonio é de um adulto para aproximadamente cinco crianças/jovens e no Grupo Escoteiro Bororô essa relação é de um adulto para aproximadamente sete crianças/jovens. Esses números são superiores à média nacional que é de um adulto para três crianças/jovens, conforme também vimos no capítulo anterior. Uma das explicações é que nos números nacionais estão incluídos além de

chefes, assistentes e diretores, os pais, mães e outros colaboradores. Mesmo se considerarmos

que ambos os grupos pesquisados possuem pais, mães e outros colaboradores nessas condições, aproximando-se assim da média nacional, pode-se constatar nestes dois grupos uma diferença significativa na proporção de adultos em relação às crianças/jovens.

Em ambos os grupos, a separação por sexo das crianças e jovens só foi verificada no ramo escoteiro; nos demais ramos, meninos e meninas praticam o escotismo em matilhas e patrulhas sem distinção por sexo.

Com relação aos nomes das patrulhas, eles já haviam sido escolhidos por gerações anteriores de escoteiros e escoteiras dos respectivos grupos escoteiros. Estes nomes pertencem a um rol de nomes sugeridos pela União dos Escoteiros do Brasil (UEB) que, no caso do ramo escoteiro, pode ser referente a algum animal da fauna brasileira ou a alguma constelação65. Cada patrulha, além do nome, possuí duas cores que são referenciadas ao animal, também já definidas previamente pela UEB. Esses animais, no escotismo, expressam diferentes características. Nota-se que nas patrulhas de meninas do Grupo Escoteiro Santo Antonio, denominadas beija-flor e garça estão destacadas as qualidades graça e leveza dessas aves; já nas patrulhas femininas do Grupo Escoteiro Bororô, denominadas onça e jiboia destacam-se a astúcia e a malícia como características comuns a esses animais. Nas patrulhas dos meninos do Grupo Escoteiro Santo Antonio denominadas gavião e cuco, a agilidade é a sua característica comum, já nas patrulhas de meninos do Grupo Escoteiro Bororô denominadas leão e urso, a força é notada como característica principal desses animais. Concordando com Lévi-Strauss (1980), nota-se nessas patrulhas que, os animais ou os totens que os representam dizem muito mais respeito ao modo como esses escoteiros e essas escoteiras se diferenciam entre si, do que aquilo que significam estes animais para essas crianças e jovens e até para o próprio escotismo. Ou, ainda segundo o autor,

Os animais do totemismo deixam de ser, somente ou, sobretudo, criaturas temidas, admiradas ou cobiçadas: sua realidade sensível deixa transparecer relações concebidas pelo pensamento especulativo a partir dos dados da observação. Compreendemos enfim que as espécies naturais não são escolhidas por “serem boas para comer”, mas por serem “boas para pensar” (LÉVI-STRAUSS, 1980, p. 166).

Embora também seja curiosa a relação entre as denominações das patrulhas e gênero, os dados dessa pesquisa são insuficientes para se fazer generalizações a respeito

Durante a pesquisa de campo, o Grupo Escoteiro Santo Antonio se organizou para participar de um acampamento regional em comemoração ao centenário do escotismo paulista, ocorrido no feriado de Corpus Christi na cidade de Barretos, interior do estado de São Paulo. Participaram dessa atividade, oito lobinhos, 12 escoteiros, cinco seniores, dois

pioneiros e 10 chefes, ou seja, algo próximo de 1/3 do grupo. O custo para participar dessa atividade variou de R$ 250,00 a R$ 290,00 dependendo da data de inscrição. Nenhum

membro seja criança, jovem ou adulto, do Grupo Escoteiro Bororô participou dessa atividade;

65 De acordo com o regulamento escoteiro “Princípios, Organização e Regras” em seu capítulo 9 regra 72 item III “Cada Patrulha tem como designativo o nome de um animal, de uma estrela ou de uma constelação” (UEB, P.O.R, 2013, p.51).

segundo os chefes deste grupo, essa possibilidade nem sequer foi discutida junto aos escoteiros pelo fato do grupo não conseguir arcar com os custos da atividade66.

Diferentemente do Grupo Escoteiro Bororô, cujo quadro de chefes se renova o Grupo Escoteiro Santo Antonio apresenta um grupo mais estável de chefes em cada ramo; ou seja, seus membros estão há mais tempo no grupo. Como muitos deles têm filhos e filhas no próprio grupo escoteiro, percebe-se um caráter endógeno. Além disso, este grupo tende absorver aos poucos seus próprios pioneiros e pioneiras acentuando a endogenia. Segundo a

chefe Miriam, do Grupo Escoteiro Bororô, “a cada dois ou três anos, os assistentes dos ramos

mudam. Assim que aparecem as primeiras dificuldades por falta de tempo ou quando sentem- se satisfeitos, eles deixam o Grupo”. Ela quis dizer com isso que a “satisfação” realizada deve-se ao fato de tratar de um grupo ligado a uma instituição assistencial. Assim o adulto escoteiro tão logo percebe que sua “missão” foi cumprida ele tende a deixar o grupo. Como o grupo não têm pioneiros ou pioneiras, não absorve seus membros para a chefia.

Todos esses chefes, independente do fato de terem sido ou não escoteiros quando jovens reconhecem o escotismo como uma prática pedagógica e social importante para a educação das crianças e jovens de hoje. Eles se reconhecem também como elementos essenciais para a realização do escotismo, na posição de adultos, chefes, e mediadores dessa prática pedagógica. O chefe Heitor disse: “o escotismo é um lugar seguro para se educar nossos filhos”. Cleber afirmou que “o trabalho voluntário é importante para construir uma sociedade mais justa”.

Esses chefes também acreditam que estão fazendo uma doação de si mesmos ao escotismo, como um bem que prestam à sociedade. Nessa ideia de “doação” de si à sociedade parece estar presente o conceito de altruísmo utilizado por Baden-Powell em seus escritos. No caso dos chefes que foram escoteiros quando jovens, eles acreditam estar devolvendo ao escotismo e à própria sociedade aquilo [a educação] que receberam do escotismo. Por reconhecerem a importância do escotismo em suas vidas atualmente, eles acreditam ter uma “dívida” a saldar com o próprio movimento. Nas palavras de Josué: “o escotismo me deu o que sou hoje, estou retribuindo apenas”.

66 Como as atividades regionais, nacionais e internacionais tem custos elevados, a participação de escoteiros é restrita a poucos. Um exemplo é a última “grande” atividade nacional ocorrida entre os dias 11 e 16 janeiro de 2015 na cidade de Natal, Rio Grande do Norte, dos cerca de 80.000 escoteiros associados à União dos Escoteiros do Brasil, apenas 4,4 mil escoteiros participaram da mesma, ou seja, algo em torno de 5% dos associados. O custo de participação nessa atividade variou de R$ 640,00 a R$ 815,00 dependendo da data de inscrição (UEB, 2015e). Nessas atividades, além do “custo alto” das mesmas, existem outros gastos, principalmente com transporte, que limitam a participação, o que foi constatado junto ao Grupo Escoteiro Bororô.

Podemos identificar duas trajetórias dos chefes nos grupos escoteiros pesquisados. A primeira é a progressão pedagógica: são os próprios escoteiros (crianças e jovens) que se tornaram chefes quando chegaram à maioridade escoteira (21 anos). A segunda trajetória se dá na condição de pais ou mães67. Ou seja, ao levarem filhos e filhas para serem escoteiros, eles(as) acabam se aproximando da pedagogia escoteira e com o tempo tornam-se chefes escoteiros. De acordo com os chefes entrevistados, eles começaram apenas observando as atividades do grupo, como pais e mães, somente depois foram convidados pelos chefes do grupo escoteiro a ajudar em alguma atividade com tarefas do tipo: cozinhar para os lobinhos e as lobinhas, limpar os espaços das atividades ou levar as crianças e jovens de um local ao outro. Assim, começaram a se familiarizar com a dinâmica do escotismo sendo convidados posteriormente, pelo chefe de algum ramo e por algum membro da diretoria local, a participarem como chefes. Muitos permanecem no escotismo até mesmo depois que os filhos e filhas deixaram a organização, como o caso do chefe Hiroshi, com seu filho retornando ao grupo recentemente na condição de pai. Dos dois grupos pesquisados, a exceção é o chefe Cleber. Conforme já dito anteriormente ele se tornou chefe de seu grupo escoteiro sem nunca ter sido escoteiro nem ter familiares no movimento.