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2 EXPERIENCIALISMO

5.3. Grupos Focais e procedimento de coleta de dados

Através da psicologia social, fortemente positivista na época, a técnica dos grupos focais surgiu a fim de testar as reações das pessoas com relação às propagandas e às transmissões de rádio no período da Segunda Guerra Mundial. Devido às tradições positivistas, o campo do marketing logo entendeu a interação social como um meio para um fim, considerando o participante como um produtor de dados (COSTA, 2011).

Dentre as diversas definições para o termo, grupo focal neste trabalho é entendido como “um grupo de discussão que explora um conjunto específico de questões que são ‘focadas’, envolvendo processo como um tipo de atividade coletiva” (KITZINGER & BARBOUR, 1999 apud COSTA, 2011, p. 03). A argumentação e a

contra-argumentação são recursos essenciais para manter a dinamicidade do grupo, isto é, a discussão fica mais propensa a permanecer por mais tempo e maior profundidade quando o processo de contra-argumentação é frequente. Assim, não só ideias, mas representações sociais, crenças e expectativas de fenômenos sociais compõem a construção do discurso de um grupo focal. Partindo das ideias de Bakhtin (2007 apud COSTA, 2011, p. 03), entende-se que “cada indivíduo representa seu mundo a partir do mundo do outro pela construção dialógica e a reconstrução de um mundo social multifacetado e multivozes situado na cultura”.

O analista do discurso de um grupo focal não deve observar somente o conteúdo dito pelos participantes, mas também como este conteúdo emergiu no diálogo, isto é, valorizar os termos escolhidos que apontam como as opiniões são elaboradas, mantidas, acordadas e/ou confrontadas. Quando se trata de metáfora, os termos observados aqui são os denominados veículos, pois indicam a possível metáfora que está em construção pelos participantes.

Dialogicamente falando, através do engajamento dos membros do grupo, três níveis de interação podem ser inferidos durante a produção discursiva: “1) a interação entre os participantes e pesquisadores criando ‘teia de sentidos interdependentes’; 2) a interação entre os ‘pensamentos, ideias e argumentos’; 3) a interação com ‘as tradições sócio-culturais’, incluindo as maneiras de falar sobre o assunto" (MARKOVÀ et al, 2007 apud COSTA, 2011, p. 06).

A diferença entre a técnica de grupos focais para a entrevista em grupo é que esta última se dá em uma interação diática, isto é, o entrevistador com cada um dos membros de um grupo. Enquanto, em um grupo focal, os membros são livres para interagirem com os outros participantes, trocando, corroborando ou discordando de ideias. O grupo focal conta com um moderador que organiza o ritmo da produção dialógica, ou seja, ele tem as perguntas pré-elaboradas, mas estas não funcionam como um questionário fixo. O moderador pode intervir para reorientar o grupo ou aprofundar determinado ponto do assunto, se necessário. Portanto, é desafio do moderador tentar explorar o maior número de temas possível dentro do mesmo assunto, intervindo na discussão com discernimento e nos momentos oportunos. O seu

roteiro de perguntas deve permitir um aprofundamento progressivo e a fluidez da discussão. Para esta última ser atingida com sucesso, algumas regras são adotadas: a) só uma pessoa pode falar a cada turno; b) não são permitidas as discussões paralelas, a fim de que todos participem; c) ninguém pode dominar a discussão; e, por fim, d) todos têm o direito de dizer o que pensam (GONDIM, 2003).

Quanto ao tamanho, o grupo focal varia de acordo com os objetivos de pesquisa. O número de participantes geralmente oscila entre 4 e 10. Com menos pessoas, o pesquisador acredita que os participantes irão se aprofundar na discussão, portanto, não havendo a necessidade de muitos membros para que sejam fornecidos os dados. Especialmente se o assunto for polêmico, pois, com muitas pessoas, o controle por parte do moderador fica comprometido e pode haver a tendência de alguns dominarem as discussões, coibindo a participação de outros. Nesta pesquisa, houve a participação de 6 pessoas, já que sugere ser um número razoável para manter a dinamicidade e o controle necessário nas discussões, ou seja, nem foi tão baixo como 4, pois poderia ser que não acontecesse a participação efetiva como se esperava, também não foi tão alto como 10, evitando que as discussões se estendessem ou se repetissem demasiadamente.

O grupo focal desta pesquisa era composto por 6 estudantes universitários (alunos da FIC e UFC), na faixa etária de 20 a 30 anos, residentes em Fortaleza, Ceará, sendo estes jovens adultos vítimas diretas e/ou indiretas de violência urbana. Antes da conversa iniciar, foram dadas algumas informações sobre a pesquisa quanto aos objetivos e a justificativa. Além disso, os participantes também foram informados que suas verdadeiras identidades estariam protegidas, portanto, todos os nomes que aparecem na transcrição são fictícios.

A técnica de coleta aplicada foi a de observação direta intensiva (LAKATOS & MARCONI, 2009; SEVERINO, 2007). A conversa foi gravada em vídeo e áudio, sendo transcrita posteriormente. Os participantes foram conduzidos por um moderador, como já foi mencionado anteriormente, com perguntas pré-elaboradas, havendo um direcionamento tópico com a introdução de novas perguntas que visassem o aprofundamento das opiniões e do tópico em discussão (FLICK, 2009). O moderador

teve uma postura mais passiva que ativa durante a discussão, isto é, ouviu mais que falou, permitindo mais tempo para que os membros do grupo focal manifestassem suas respostas. A coleta dos dados também contou com a presença de outro colaborador, responsável por fazer as gravações mencionadas e as anotações necessárias. Procurou-se ordenar as manifestações orais dos informantes, pedindo que cada um deles iniciasse a sua fala após o outro, de modo que pudesse ser evitada ao máximo a sobreposição das falas e que facilitasse o processo de transcrição.

A técnica de grupos focais atendeu adequadamente aos objetivos e à fundamentação teórica da pesquisa. De acordo com Flick (2009), “o grupo transforma- se em uma ferramenta para a reconstrução de opiniões individuais de forma mais apropriada”, ou seja, através da interação discursiva, as opiniões, de certa forma, deixam de ser individuais para se tornarem coletivas, atendendo ao objetivo geral de investigação – a produção metafórica coletiva na negociação de sentidos no âmbito discursivo.