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2 EXPERIENCIALISMO

2.4 Teoria Integrada da Metáfora Primária

2.4.1 Metáfora Primária

Em sua tese, Grady (1997) questiona a motivação de metáforas conceituais, que não parece estar diretamente vinculada às experiências corpóreas. Por exemplo, com relação à metáfora conceitual TEORIAS SÃO EDIFÍCIOS, o domínio fonte em si não sugere uma experiência corpórea que possa oferecer um caráter universal (ou pelo menos perto disto) para este tipo de conceitualização sobre TEORIAS. No entanto, a proposta de Grady é que esta metáfora é uma junção de outras metáforas mais básicas, ou seja, a metáfora entendida como conceitual é classificada como metáfora conceitual complexa, pois a sua estruturação é composta por metáforas conceituais primárias, diretamente motivadas pelas experiências sensório-motoras para conceitualizar experiências mais subjetivas. Para a metáfora em análise, segundo Grady (1997) e Kövecses (2005), as metáforas primárias que a compõem são ORGANIZAÇÃO É ESTRUTURA FÍSICA e PERSISTIR É PERMANECER ERETO.

Grady chama de fonte primária a experiência sensório motora que participa do mapeamento de uma metáfora primária. Outra questão em análise na sua tese foi quanto à unidirecionalidade (da fonte para o alvo, e não o inverso) da metáfora conceitual (complexa ou primária). Para tanto, Grady se baseou na teoria de fusão de Christopher Johnson (1997) e, posteriormente, na teoria neural de Narayanan (1997), as quais serão discutidas nas seções seguintes. Na intenção de esclarecer o processo de formação de metáforas primárias, o autor dispõe o diagrama a seguir:

Figura 16 – De eventos básicos para metáforas primárias

Fonte: GRADY, 1997, p. 20

O homem vive cercado de eventos básicos, e desde os primeiros eventos, as habilidades e estruturas cognitivas, assim como neurais, encarregam-se de associar estes eventos a conceitos mais abstratos, originando uma coativação única entre o sensório-motor e a subjetividade. Esta coativação permanece indistinta durante um

Evento básico Habilidades e estruturas

cognitivas

Cenas primárias (composta de subcenas correlacionadas)

Mescla conceitual

Desconflação

tempo, e quando ocorre a separação destes domínios, a metáfora primária se estrutura, de modo que a coativação ainda aconteça.

A fusão não se dá por analogia, mas por compartilhamento de traços entre os domínios. Considere a metáfora AFEIÇÃO É CALOR, para Grady (2005), os domínios não se correlacionam porque os traços de AFEIÇÃO são similares às características de CALOR; a correlação ocorre porque, ao sentir a emoção, a temperatura corporal se eleva, e quando se está perto de outras pessoas, o corpo também aquece.

Assim, Grady (1997) afirma que a base das metáforas primárias são as cenas primárias, isto é, as impressões na memória de longo prazo da ligação entre uma experiência perceptual e a resposta cognitiva (o conceito). Nas palavras do autor, as cenas primárias são “episódios mínimos (delimitados temporalmente) de experiências subjetivas, caracterizados pelas estreitas correlações entre uma circunstância física e uma reposta cognitiva”17 (GRADY, 1997, p. 24). Por exemplo, quando alguém se aproxima de algum desconhecido, geralmente se mantém uma espécie de distância de “segurança”, respeitando o espaço do outro indivíduo. Mas, quando alguém chega muito próximo de outra pessoa, isto sugere que há um nível de intimidade entre os dois indivíduos, mudando até o comportamento desta pessoa e permitindo o contato físico. Portanto, a proximidade (que é um evento básico) sugere intimidade (a resposta cognitiva). Estas dimensões discretas e individuais da experiência humana – proximidade e intimidade – são denominadas de subcenas (GRADY, 1997).

Vale ressaltar que esquemas imagético-cinestésicos não são cenas primárias e vice-versa. Os esquemas se comportam como uma abstração cognitiva das experiências básicas do ser humano, enquanto as cenas primárias aparentam ser uma conceitualização básica a partir da correlação entre o evento básico e a resposta cognitiva. Na busca da universalidade, Grady (1997) procurou por estruturas que fossem tão simples e contidas em si mesmas, ao ponto de isolar fatores culturais,

17

(…) primary scenes are minimal (temporally-delimited) episodes of subjective experience, characterized by tight correlations between physical circumstance and cognitive response.

históricos e geográficos. Para o mesmo, isto contraria a proposta dos esquemas, que são estruturas cognitivas básicas, simples e maleáveis aos contextos, como já foi apresentado. No entanto, é importante lembrar que por mais básico que seja o evento, ele sempre estará situado em uma cultura, localização e história específicas. O próprio teórico admite que “os esquemas de imagem (...) podem incluir representações de conceitos que são altamente dependentes da cultura, geografia e história”18 (GRADY, 1997, p. 188). Por serem estruturas cognitivas abertas a representações socioculturais, prefere-se aqui trabalhar com os esquemas imagético-cinestésicos como agentes pertencentes a um sistema dinâmico e repleto de conexões com outros agentes, dentre eles culturais.

Para citar as metáforas primárias sugeridas por Grady (1997), aqui estão alguns exemplos:

AFEIÇÃO É CALOR

Motivação: Correlação entre a afeição e a temperatura corporal produzida pela proximidade física.

Exemplo: “Eles me recepcionaram calorosamente”.

“Ela sempre tem sido muito fria comigo”.

INTIMIDADE EMOCIONAL É PROXIMIDADE

Motivação: Correlação de estar íntimo de uma pessoa e estar fisicamente perto desta pessoa.

Exemplos: “Minha irmã e eu somos bem próximos”.

“Nossas discussões sobre dinheiro têm nos afastado”.

18

(…) image-schemas (…) can include representations of concepts which are highly dependent on culture, geography, and history.

STATUS SOCIAL É ELEVAÇÃO VERTICAL

Motivação: Correlação entre posição física mais elevada e ter o controle sobre pessoas, objetos e situações.

Exemplo: “Ela quer ascender socialmente”.

DIFICULDADE É PESO

Motivação: Correlação entre a sensação do peso sobre si e sentir desconforto e tensão.

Exemplo: “Esta situação é difícil de suportar”.

IMPORTÂNCIA É TAMANHO/VOLUME

Motivação: Correlação entre o tamanho/volume dos objetos e o valor, a ameaça, a dificuldade etc. que eles representam quando há a interação com eles.

Exemplo: “Amanhã é um grande dia para esta organização”.

CONHECER/ENTENDER É VER

Motivação: Correlação entre a percepção visual e a ciência de alguma informação.

Exemplo: “Eu vejo o que você quer dizer”.

“Este ponto não está muito claro para mim”.

MUDANÇA É MOVIMENTO

Motivação: Correlação entre a percepção do movimento e da mudança que acontece ao redor.

Exemplo: “Meu carro tem ido de mal a pior ultimamente”.