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O processo de abertura, como se disse, possibilitou a emergência de vários temas de política exterior cuja discussão era bastante limitada sob o período mais ditatorial, como a posição brasileira em relação a países socialistas ou em processo de revolução, a exemplo de Cuba, Nicarágua e El Salvador.

Se havia forte oposição à política externa brasileira de vários setores à direita, que a consideravam, sobretudo a partir de Geisel, próxima demais do Terceiro Mundo e dos países não-alinhados e distante demais dos Estados Unidos e do Ocidente desenvolvido, havia, por outro lado, setores à esquerda que a consideravam tímida demais e titubeante em assumir

posições mais claras na defesa dos subdesenvolvidos, dos países que passavam por revoluções, como a Nicarágua e El Salvador, ou mesmo dos países socialistas. E o assunto que mais mobilizava esta última corrente era o reatamento de relações com Cuba, interrompidas no governo Castello Branco, em 1964.

Os jornais mais ligados ao universal-independentismo apoiavam a atitude brasileira na América Central ou, em alguns casos, a criticavam por considerá-la reticente no sentido de apoiar a Nicarágua e condenar o intervencionismo norte-americano. Paulo Francis elogiou a postura do governo e do “brilhante chanceler” que “prudentemente (...) não tem endossado essas iniciativas (de Reagan) sempre apresentadas em nome de guerra sagrada contra o comunismo” (FSP, 08/08/1982). O jornalista Clóvis Rossi, em artigo intitulado “A crescente e silenciosa presença brasileira na América Central” (FSP, 11/04/1982), analisava a presença econômica (empresas e automóveis), cultural (convênios com universidades brasileiras, novelas da Rede Globo e músicas de Roberto Carlos) e diplomática (grande prestígio “graças ao bom nível dos diplomatas brasileiros, especialmente das novas gerações itamaratianas”) do Brasil na região. Tal presença, segundo ele, agradava até “irreconciliáveis inimigos políticos”, pois tanto empresários, inimigos dos sandinistas, quanto estes, elogiavam o Brasil:

Os sandinistas, por exemplo, estão encantados com a posição da diplomacia brasileira em relação à conflitiva questão centro-americana, sentimento compartilhado pela guerrilha salvadorenha e até pelos cubanos, quando se dispõem a conversar informalmente (idem).

O jornalista dizia ser fácil entender esse sentimento, pois o Brasil ia entrando no vácuo “das incongruências e bobagens da política norte-americana para a América Latina”. A respeito da atitude low profile da diplomacia brasileira, elogiava:

Pode parecer uma atitude comodista, ficar em cima do muro. Mas é apenas uma postura, porque, na prática, a diplomacia brasileira age na hora certa e com rapidez necessária, sempre em silêncio: logo após o triunfo da revolução sandinista, chegaram a Manágua trinta toneladas de alimentos e 1,5 de remédios, enviados pelo Brasil, gesto que o novo regime não esquece (FSP, 11/04/1982).

Há que se registrar também a menção que fez ao novo comportamento dos diplomatas, de um diálogo mais franco e aberto com os jornalistas, muito diferente, segundo Rossi, do comportamento de cinco ou seis anos antes, caracterizado por conversas puramente sociais e pela exaltação ao regime “no ritmo de ‘pra frente Brasil’”.

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No sentido de considerar vago ou tímido o papel da diplomacia brasileira na região, manifestou-se, por exemplo, um artigo na Folha de S. Paulo (FSP, 1º/12/1981) que, comparando a maneira de falar do chanceler com sua atitude política, atribuía muita “elasticidade” tanto à fala quanto à política de Guerreiro, que “evita comprometer-se com qualquer posição que não seja (...) a solução nacional, pluralista e interna”, e cobrava-lhe “posições diplomáticas muito mais nítidas”.

Um pouco mais crítica foi a coluna Política Externa (J. de Brasília, 25/05/1983), de Carlos Conde, que, endossando opinião do deputado federal pelo PMDB de Sergipe, Jackson Barreto, julgava inadequado o governo brasileiro manter em Manágua apenas um Encarregado de Negócios, e não um representante no nível mais alto, ou seja, um embaixador. E completava afirmando que o governo acenava com o princípio da não-intervenção, mas não censurava “o intervencionsimo nesse país, realizado com ‘mão de gato’ por ex-somozistas e mercenários, todos eles treinados na Flórida e utilizando o território de Honduras”. Mas o mesmo jornalista, em outro momento11, respaldava a ação do Itamaraty, dizendo que o Brasil manteve sempre “a linha da dignidade que se requer de uma ação diplomática não servil”, seja na questão do Suriname, onde o Brasil, ao contrário de Washington, que “pregava o caminho da punição”, preferiu o da cooperação; seja na invasão de Granada pelos EUA, que, apesar de ter demorado quase quarenta e oito horas para se manifestar, acabou condenando a invasão. Segundo Carlos Conde, a demora se deveu à necessidade de negociar, dentro do governo, a posição brasileira no sentido de conciliar as visões do Itamaraty, da área militar e da área econômica:

A chancelaria entendia que o Brasil não poderia ficar de braços cruzados perante uma clara violação do princípio de não intervenção. Os militares eram muito sensíveis ao dado da influência cubana e soviética na América Central e no Caribe. E a área econômica temia represálias de Washington se o governo adotasse uma postura de clara condenação. Chegou-se a um meio termo. Foi divulgado um comunicado oficial que ‘deplorava o uso da força’, mas incluía como salvaguardas certas ressalvas, dentre elas a complexa situação criada com o assassínio do primeiro-ministro Bishop e a preocupação dos países vizinhos de Granada (J. Brasília, 25/05/1983).

Mas um novo incidente relacionado à Nicarágua, que alcançou enorme repercussão na imprensa, viria a suscitar novamente as críticas de alguns setores à timidez ou falta de independência da política externa brasileira em relação às influências norte-americanas, além

11 J. Brasília, (11/11/1983, p. 12). Quanto ao Suriname, o jornalista referia-se ao golpe de estado ali ocorrido que provocou a perda de apoio da Holanda ao novo governo, o qual buscou ajuda em Cuba. O Brasil, procurando uma posição mediadora que evitasse a entrada do país vizinho no campo das influências socialistas, enviou o ministro Danilo Venturini em 15 de abril para prestar ajuda econômica.

de demonstrar as cisões governamentais. Trata-se da retenção de aviões líbios nos aeroportos de Recife, após um pouso forçado em razão de pane, e, posteriormente em Manaus, aviões estes que declaravam levar medicamentos e material sanitário à Colômbia, mas, após inspeção, comprovou-se que levariam armas à Nicarágua.

O imbroglio colocou o governo brasileiro em posição bastante desconfortável, tendo em vista, por um lado, que a Líbia era grande importadora de armas e aviões brasileiros. Por outro lado, o Brasil declarava neutralidade no conflito centro-americano e a permissão da continuidade da viagem à Nicarágua o situaria em posição de confronto com os Estados Unidos, que atribuíram importância ao evento. Os ministérios militares assumiram posições distintas do Itamaraty, visto que se opuseram mais frontalmente às exigências de Kadhafi, enquanto a chancelaria tentou conciliar. A solução, conforme Vizentini, assim se deu: “Após dois meses de negociações diplomáticas, sob pressão forte das companhias brasileiras, que temiam perder um grande cliente, o impasse foi resolvido com a devolução dos aviões e suas cargas aos líbios, mas o governo brasileiro impediu que os mesmos continuassem sua viagem rumo a Manágua” (VIZENTINI, 2004, p. 355-356).

Até mesmo a ida do Chanceler à Comissão de Relações Exteriores tanto do Senado quanto da Câmara dos Deputados (GM, 25/05/1983), resultou do ocorrido, além de declarações nos jornais enfatizando que não cedera a pressões externas, apenas teria agido de acordo com a Convenção de Chicago, que normatizava o tema, e que não estavam em jogo os princípios, mas apenas os métodos (JB, 20/05/1983). E, na Folha de S. Paulo, um artigo de Osvaldo Peralva questionava a posição do Itamaraty, uma vez que o Ministro Guerreiro havia proferido discurso, na Índia, enfatizando a independência da política externa brasileira e o fato de que o Brasil não tinha mais como referência para suas ações, as atitudes das grandes potências. A esse respeito, o articulista afirmou: “O discurso do chanceler representa a verdade, até certo ponto somente. (...). Mas também é certo que, na questão dos aviões líbios que transportavam armas para a Nicarágua, a política externa de nosso País não revelou toda essa independência de que se gaba o sr. Saraiva Guerreiro. Deu até sinais de que a divisão ideológica havia sido ressuscitada” (FSP, 07/03/1984).

É evidente que a posição dos liberais diante do evento foi oposta à acima citada. O Jornal do Brasil (JB, 19/05/1983), em editorial denominado Mau Epílogo, condenou a atitude brasileira de ceder às pressões do coronel líbio que, conforme se disse, mesmo completamente desacreditado e isolado em seu continente, devido às posturas irresponsáveis que assumira, viu suas bravatas surtirem efeito junto ao governo brasileiro, ainda que este tivesse afirmado anteriormente que não aceitaria tais pressões. O Jornal da Tarde (J. Tarde, 09/05/1983), mais

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exageradamente, afirmou: “(...) o Brasil do pragmatismo responsável, (...) perdeu completamente sua independência externa, em outras palavras, sua soberania, como a solução dada ao caso dos aviões líbios vem mais uma vez demonstrar (grifos originais)”. E ressaltou que, “na hipótese absurda de que os aviões tivessem sido enviados (...) pelo presidente Reagan, [o Brasil] teria sentido seus brios feridos e reagido com toda a energia” contra o “imperialismo norte-americano”.

O Estado de S. Paulo e até mesmo o Jornal de Brasília e o Correio Braziliense12 também criticaram o governo brasileiro pela demora e contradições no curso das negociações em torno do incidente, que, segundo afirmaram, não deveria ter assumido proporções tão grandes. Mas estes dois últimos não criticaram a atitude final, mas apenas as marchas e contramarchas dos setores governamentais em torno do incidente.

Um dos temas mais levantados pela imprensa e parlamentares foi a possibilidade de reatamento das relações diplomáticas entre Brasil e Cuba. Do ponto de vista da inserção econômica internacional, esse reatamento teria pouco significado. No entanto, sob o prisma político-ideológico, as oposições lhe atribuíam uma importância quase crucial.

O próprio chanceler Saraiva Guerreiro afirmou que se impressionou com o interesse da imprensa pelo tema. Em seu livro de memórias relatou: “Depois que cheguei a Brasília (...) em várias ocasiões os repórteres me faziam perguntas. O que me espantou é que as perguntas se referiam quase sempre (e, em alguns casos, exclusivamente) a dois assuntos, Cuba e Flávia Schilling” (1992, p.16)13. E, mais adiante, enfatizando o quanto ficou espantado, completou: “Menciono esses dois assuntos porque me surpreendia, e me parecia uma manifestação de loucura, a insistência deles. Cheguei ao ponto de perguntar a uns dois repórteres se achavam que esses dois assuntos constituíam a prioridade total da política externa brasileira”. Guerreiro afirmou que muitas vezes respondia que a questão não era tempestiva, mas que pesava principalmente o fato daquele país haver praticado intervenções. E opinou: “Achava eu, de todas as formas, que o restabelecimento de relações diplomáticas com Cuba ainda causaria alguma tensão interna não justificada pelas eventuais vantagens econômicas e políticas” (ibidem, p. 117).

Desde o início da gestão de Figueiredo o assunto vinha à tona repetidamente, sobretudo quando repórteres perguntavam aos membros da Chancelaria se o reatamento estava no horizonte. Assim como Tânia Manzur registrou, referindo-se aos governos Quadros e Goulart, era atribuída grande importância às relações com Cuba no debate sobre a política

12 OESP, 11/06/1983; J. Brasília, 19/05/1983; CB, 09/06/1983.

externa: “(...) os embates da opinião nacional em torno das relações com Cuba permaneceram durante o governo João Goulart. Até mesmo na crise da sucessão, quando se discutia se João Goulart tomaria posse ou não, o assunto cubano roubava a cena nos meios de comunicação e no Parlamento” (MANZUR, op.cit. p. 179).

Poucos meses após o início de sua gestão, Guerreiro já se deparou com a pergunta, feita por um repórter de O Globo (O Globo, 27/05/1979), sobre o reatamento. O repórter, que antes havia perguntado sobre a possibilidade de reconhecimento da OLP (Organização para a Libertação da Palestina), emendou: “Já que o reconhecimento de um país ou de um movimento como a OLP não significa a aprovação de seus métodos ou ideologias, quais são os motivos que ainda não permitem um reatamento com Cuba e como se justificam dentro da doutrina da política externa brasileira?”. Perguntas como esta se tornariam rotina.

Ao longo dos anos, esse assunto passou a ser cada vez mais discutido, inclusive por parlamentares do PMDB, PDT e PT. A maioria dos jornais pesquisados, em seus editoriais, lugar onde expressam sua opinião oficial, não defendia com ênfase o reatamento, mas os jornais mais próximos à corrente universal-independentista abriam espaço com freqüência para manifestações nesse sentido. E aqueles contrários ao reatamento argumentavam que a insignificância econômica do país, aliada a sua posição política de ingerência em assuntos estrangeiros, sobretudo em Angola e Nicarágua, não aconselhava a reaproximação.

O argumento costumeiramente divulgado pelo Itamaraty era que, enquanto Cuba exportasse a revolução, o reatamento não seria efetuado, mas, o que se dizia, na imprensa, era que ainda havia muita resistência entre os militares, e não no corpo diplomático, em relação a tal decisão. Assim, Guerreiro procurava desconversar, alegando, por exemplo, que o reatamento não constava das prioridades brasileira e que era um assunto que evoluiria com o tempo (O Globo, 28/12/1980). Já o presidente Figueiredo, menos conciliador, se irritou diante de um repórter lhe perguntou quando o Brasil iria acabar com essa “paranóia em relação a Cuba”. E respondeu-lhe: “Não é paranóia, não é paranóia. Enquanto Cuba decidir que regime que vai prevalecer no mundo, nós não aceitamos, porque Fidel fala em autodeterminação e ele fala da boca para fora, mas não faz” (GM, 09/11/1979).

No primeiro ano de governo, um artigo no Correio Braziliense (28/10/1979, p. 17) caracterizava a posição brasileira na América Latina como se quisesse “manter um relacionamento ‘de bem com todos’”, procurando “agradar a gregos e troianos” e “fazer o jogo dos que se põem ‘em cima do muro’”.

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Anos depois, na Folha de S. Paulo14, em tom bem mais crítico, o professor da USP (Universidade de São Paulo) Emir Sader, publicou um artigo intitulado “Política externa: pragmática ou provinciana?”, no qual reivindicava que a abertura brasileira se estendesse às decisões de política exterior, para que “as relações com os outros povos do mundo” fossem decididas “pelas forças políticas e institucionais que representam os interesses do povo brasileiro”. Nesse sentido, acusava o Brasil de não participar dos consensos importantes que se haviam formado na América Latina, uma vez que “não teve nenhuma presença na sua constituição e depois se somou passivamente à maioria”. Por isso, considerando que o País não havia assumido responsabilidades importantes no contexto regional, como o haviam feito, por exemplo, as diplomacias mexicana, panamenha e venezuelana, perguntava:

Mas como o Brasil poderia desempenhar um papel importante dessa ordem, no continente ou na África ou em qualquer zona do Terceiro Mundo, se, por exemplo, é um dos países latino-americanos que não mantêm relações com Cuba (...)? Como se pode levar a sério o argumento de que (...) esse país intervém nos assuntos internos de outras nações, quando isso não afeta as relações com os EUA, que tem hoje tropas na Coréia do Sul, no Líbano, em Honduras, em Granada entre outros países? Ou com a URSS, que tem tropas no Afeganistão? Ou com a França, com suas tropas estacionadas no Chad e no Líbano? (FSP, 05/11/1983).

Sader ponderou, ainda, que a crise financeira servia pelo menos “para repor o País no seu verdadeiro marco de nação latino-americana e do Terceiro Mundo, prisioneira do círculo de ferro dos grandes bancos privados internacionais e do FMI”, e, criticando o que denominou de provincianismo do Itamaraty, atacou: “Em lugar de desempenhar um papel de liderança no Terceiro Mundo, a política exterior brasileira parece preferir ser lanterninha sem esperança no Primeiro Mundo, humilhada e esquecida” (idem).

Já no momento da sucessão presidencial, um artigo no Jornal de Brasília (17/03/1985), abordando possíveis mudanças na política externa, advertia, utilizando-se de uma expressão muito costumeira à época para designar os resquícios ditatoriais que se deveriam extirpar da política brasileira:

Nem tudo é entulho autoritário (grifo original) no quadro político deixado pelo movimento de 64. A política externa brasileira, embora limitada em sua ação, por questões de segurança interna, no que diz respeito às relações com o Leste, e, sobretudo, com Cuba, criou um saudável distanciamento a respeito dos Estados Unidos e nos aproximou bastante do Terceiro Mundo (J. Brasília, 17/03/1985).

14 FSP, 05/11/1983. Como se observou, este jornal, em editorial de 13/03/1982, justificava o não reatamento pelo fato de Cuba “exportar” a revolução.

Apesar do elogio, afirmando inclusive que essa política estava ao lado dos interesses econômicos brasileiros, o que se demonstrava com a diversificação de operações de comércio e venda de serviços na África, criticava a diplomacia por ter desenvolvido uma retórica muito mais forte do que a ação, fato este comprovado, segundo se afirmou, pela existência de “mais embaixadores estacionados nos Estados Unidos do que em Toda a África”. E voltava ao tema da ilha de Fidel: “(...) enquanto o Itamaraty, por covardia tática, finge que Cuba não existe, a própria classe empresarial brasileira fura bloqueios” e defende a ampliação de relações com aquele país15.

Em tempos de fim de mandato, se espalhavam “balanços” sobre a gestão de Guerreiro na imprensa. Em um deles, Carlos Conde (J. Brasília, 11/10/1984, p. 12), mesmo a considerando uma boa gestão, atribuía ao ministro uma auto-avaliação que demonstrava a crítica em relação a esse tema, embora sem citá-lo expressamente. Dizia que o ministro esperaria “o reconhecimento” por seu empenho em manter uma política externa que atendeu ao interesse nacional, embora não chegasse “a ser tão universalista como apregoam os que a elaboram (...)”. E, conforme o jornalista, o chanceler sabia que constituiu “uma falha imperdoável não ter restabelecido relações diplomáticas com Cuba, mas espera que a História o perdoe ao verificar que cometeu esse pecado diplomático para não sacrificar todo o restante da política voltada par ao Terceiro Mundo”.

Quanto aos candidatos à sucessão, Tancredo Neves, coerente com sua moderação, afirmou não pretender restabelecer relações com a ilha, talvez por temer assustar os militares. Conforme se disse, o político mineiro “não pretenderia se aventurar em temas polêmicos” (J. Brasília, 04/09/1984). Paulo Maluf, embora alegando motivos comerciais para optar pelo não restabelecimento, lançava mensagens ambíguas sobre esse tema, como no momento em que seu candidato a vice-presidente, o deputado Flávio Marcílio, afirmou a intenção de restabelecer tais relações bilaterais, e, por isso, cogitou-se o fato de que ele estaria “ensaiando alguma jogada com as esquerdas” (J. Brasília, 04/09/1984).

Assim, prosseguiu-se a polêmica até que, no governo seguinte, de José Sarney, em 14 de julho de 1986, procedeu-se ao reatamento das relações. Esse reatamento, embora ocorrido na gestão de Abreu Sodré, foi fortemente influenciado pelas pressões anteriores de setores da opinião pública e, particularmente, pela ida do chanceler anterior, Olavo Setúbal, ao Congresso Nacional onde tal decisão foi cobrada com veemência por parlamentares.

15 O jornalista (que assinou apenas as iniciais O.B.) referia-se à visita a Cuba que o empresário Ruy Barreto, presidente da Federação Brasileira de Associações Comerciais, realizou e que foi objeto de vários comentários na imprensa.

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