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O hipotálamo é uma pequena região situada na base do cérebro e que pode ser vista também em cortes sagitais medianos, já que está situado na pare­ de do 3 ventrículo cerebral (Figura 10). É uma região complexa, formada por muitos grupamentos neuronais, os núcleos hipotalâmicos, com características citoarquiteturais e conexões específicas.

Pode-se afirmar que a principal função do hipotálamo é a manutenção da homeostase, ou seja, a manutenção do meio interno dentro dos limites compatí­ veis com as funções vitais.

P ara executar suas funções, o hipotálamo recebe informações sobre as condições dos órgãos internos do corpo, além de outras, geralmente indiretas, referentes ao meio externo. Com base nessas informações, o hipotálamo irá exer­ cer suas funções, através de conexões com o sistema nervoso visceral periférico (simpático, parassimpático e sistema nervoso entérico), com o sistema límbico e com o sistema endócrino.

O hipotálamo é o principal centro regulador da atividade visceral. Há muito se sabe que estimulações no hipotálamo podem desencadear respostas simpáticas ou parassimpáticas, dependendo da região estimulada. O hipotálamo é também importante no fenômeno das emoções, particularmente nas suas ma­ nifestações periféricas. É uma região nodal do chamado sistema límbico e tem relações com áreas como o complexo amigdalóide, a região septal e o hipocampo, que são importantes para a regulação emocional (ver o item 9).

Além disso, é no hipotálamo que se dá a interação entre os dois principais sistemas reguladores do organismo, ou seja, entre o sistema nervoso e o sistema endócrino. Em neurônios hipotalâmicos (particularmente aqueles dos núcleos de­ nominados paraventricular e supra-óptico), ocorre o fenômeno da neurossecreção, pois eles produzem os hormônios oxitocina e vasopressina (hormônio antidiuréti- co), que são liberados em capilares sangüíneos na neurohipófise (também chamada de pituitária posterior). Outros núcleos hipotalâmicos produzem polipeptídeos que são conduzidos à adeno-hipófise por via sangüínea e aí regulam a secreção de cada um dos hormônios desta glândula. Como a adeno-hipófise (pituitária anterior) exerce um papel regulador sobre as demais glândulas endócrinas, resulta que o hipotálamo pode influenciar o funcionamento do sistema endócrino em geral. Con­ tudo, a secreção dos hormônios de liberação ou inibição pelo hipotálamo é regu­ lada, por sua vez, pela de retroalimentação, pois o nível sangüíneo dos hormônios produzidos pelas diferentes glândulas influencia o ritmo de sua produção.

No hipotálamo, ocorre a regulação de processos importantes para a sobre­ vivência, como a manutenção da tem peratura corporal, a ingestão de alimentos e a ingestão e eliminação de água pelo organismo. Outro fenômeno importante aí integrado é o dos ritmos biológicos circadianos (cujo ciclo tem cerca de um dia de duração). O núcleo supraquiasmático do hipotálamo é o principal relógio bio-

lógico do organismo e recebe informações diretas vindas da retina, que servem para acoplar os ritmos internos com o ritmo claro/escuro da natureza.

M ais recentemente, têm-se tornado mais conhecidas as relações do sistema imunológico e o sistema nervoso. Sabe-se que substâncias liberadas no primeiro podem atuar no segundo, que, por sua vez, pode ter uma atividade regulatória nas respostas imunológicas. O hipotálamo é um centro importante da interação neuroimunológica.

NÚCLEOS DA B A Ü

Os principais componentes dos núcleos da base3 são o corpo estriado e suas extensões ventrais. O corpo estriado é formado pelos núcleos: caudado, putamen e globo pálido (Figura 11). M ais recentemente, vem sendo considerada uma extensão ventral desses núcleos, representada pelo núcleo acumbente e o pálido ventral.

O corpo estriado recebe conexões de várias áreas do córtex cerebral e, por sua vez (por intermédio do tálam o), envia fibras que retornam, fechando o circuito e dirigindo-se, preferencialmente, às regiões do córtex frontal que têm funções motoras. Essas vias têm um importante papel no planejamento e no controle da motricidade corporal. Lesões nessas áreas e circuitos provocam o aparecimento de alterações posturais, distúrbios do tônus muscular e movimen­ tos anormais. Sabe-se que na Doença de Parkinson desaparecem neurônios da substância negra, que utilizam a dopamina como neurotransmissor. A falta dessa substância nos terminais axonais no corpo estriado é responsável pelos sintomas dessa doença.

BASES ESTRUTURAIS D O SISTEM A N ER VO SO

Fig. 11

Os Núcleos da Base, vistos 'p o r transparência", no interior do en- céfalo. (Reproduzido de Cosenza, R.M. (1 9 9 8 ). Fundamentos de Neuroanatom ia, 2" ed. Editora Guanabara Koogan, RJ.)

3 Os núcleos da base (ou gânglios da base) são grupam entos neuronais encontrados n a região basal dos hem is­ férios cerebrais e neles se incluem , tradicionalm ente, o corpo estriado e o complexo am igdalóide, ou am ígdala cerebral. Este último, por ter funções muito diversas, m erece sér considerado à parte. Por outro lado, muitos autores incluem ainda entre os núcleos d a base o núcleo subtalâm ico e a substância negra, estruturas que têm conexões im portantes com o corpo estriado, em bora se situem em regiões à parte.

NEUROPSICOLOGIA HOJE

Existem evidências de que o corpo estriado não participe apenas do con­ trole motor, mas possa ter um papel mais amplo no controle do comportamento. Pacientes com a Síndrome de Tourette ou o transtorno obsessivo-compulsivo apresentam alterações no funcionamento do corpo estriado, que podem ser res­ ponsáveis pelas dificuldades no controle comportamental por eles exibidas.

O núcleo acumbente (ou accumbens) é uma extensão ventral da porção anterior do núcleo caudado, e tem merecido atenção porque recebe uma via dopaminérgica vinda do mesencéfalo (área tegmental ventral), que faz parte de um circuito cuja estimulação causa sensação de euforia e de bem-estar. Esse cir­ cuito é estimulado pelas drogas que causam dependência, como a cocaína ou a heroína. O núcleo acumbente, juntamente com o chamado pálido ventral, que é um a extensão do globo pálido, participa de um circuito que tem origem no córtex pré-frontal e em regiões límbicas (como o hipocampo e o complexo am igdalóide). Esse circuito tem analogia com o que é observado no corpo estriado, pois re­ torna, via tálamo, principalmente às regiões pré-frontais. Admite-se que ele seja importante como uma interseção límbico-motora, que regularia comportamentos com forte influência emocional e motivacional.

Ainda na base dos hemisférios cerebrais, abaixo da região onde se encon­ tra o estriado e o pálido ventrais, observa-se a substância inominada, uma região rica em grupamentos neuronais, entre os quais se encontra o núcleo basal de M eynert. Esse núcleo possui uma ampla projeção para o córtex cerebral, sendo a principal aferência cortical que utiliza a acetilcolina como neurotransmissor. Os neurônios desse núcleo tendem a desaparecer precocemente na Doença de Alzheimer, e a perda da inervação colinérgica do córtex tem sido implicada nos déficits cognitivos encontrados nessa patologia.