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c.10) A História da História Seminário-Espetáculo sobre criatividade em Artes em Contato e Colisão

(2014)

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O projeto é a realização de um seminário-espetáculo no qual a audiência será imersa em um ambiente mediado tecnologicamente que integra dança, mú- 136 Em email para a produtora, Luana Fonteles.

137 Proposto para o prêmio Klauss Vianna, de 2014 e para o FAC, de 2014. Não aprovado no Klauss Vianna, e estranhamente desclassificado em etapa final no FAC-DF, com sumiço da fi- cha de inscrição... Baseava-se na recepção do romance Etiópicas, de Heliodoro. A partir do ro- mance, elaborei o projeto de pós-doutorado “Dramaturgia e Recepção: Elaboração e registro de audiocenas a partir da obra As etiópicas, de Heliodoro”, realizando entre 2014-2015 em Lisboa. Sobre o projeto e seus resultados, publiquei o livro “Audiocenas: Interface entre Cultura Clássica, Dramaturgia e Sonoridades” (Editora UnB, 2020), e as partituras na Revista Dramaturgias, 7 (2018). Com o estranho corte de recursos, tive de reorientar o processo criativo de uma ins- talação multissensorial para a composição orquestral. Essa operação ao fim promoveu um deslocamento em minha carreira: envolvi-me mais com composição musical que obras cêni- cas. Tudo a partir de uma recusa...

sica, atuação. Durante a imersão, sons e imagens ao vivo e previamente grava- dos vão apresentar a discussão de etapas básicas de construção de imaginários a partir de quatro cenas básicas encontradas em obras desde Homero: um ama- nhecer, um grupo que busca algo para possuir, uma mulher estática irradiando beleza, um lamento fúnebre. Todas as cenas são comentadas e reperformadas em seus diversos aspectos linguísticos e sensoriais. Assim, arte e reflexão são justapostas em uma cena expandida e audiovisualmente partilhada.

Serão realizadas pesquisa e análise das cenas apresentada no seminário- -espetáculo, registrando-se simultaneamente em vídeo as análises detalhadas dos aspectos linguísticos dos textos estudados. O projeto tem orientação de Hugo Rodas e atuação colaborativa em quatro equipes: de dança, de drama- turgia, de design sonoro e de multimídia. A ideia é fomentar uma cultura de explicitação e fundamentação dos processos, práticas, pressupostos e diálo- gos que artistas empregam em suas realizações como forma de se dinamizar encontros potenciais entre saberes e fazeres em circulação138.

138 Em meados de 2014 a proposta foi assim divisada em email de 6/09/2014: Caros Marcello e Alexandre, estou organizando um super projeto e conto com a participação de vocês. É o se- guinte: o nome é A história da História. Seminário-espetáculo sobre criação em artes. A ideia é partir de uma mistura entre o discurso que explicita cada processo criativo e o processo criativo mesmo. A cena geral é o uma cena base tipo Steve Jobs e suas famosas apresentações de novos produtos da Apple. Para tanto teremos a convergências entre cenas pré-gravadas projetas ao vivo e músicas performadas ao vivo junto com sons pré-gravados. Em meio a isso, interrompendo o chefe de cerimônias, teremos quatro cenas que serão apresentadas e ana- lisadas para o público.

1- uma amanhecer

2- o que passa nos olhos de um grupo de bandidos buscando do alto de um monte em frente ao mar algo que eles queira se apossar

3- uma mulher divina segurando um homem desmaiado em seus braços (pietá). Em volta nau- frágio e corpos de homens mortos em combate.

4- A mulher canta.

Cada cena dessa é metalinguística, corresponde a etapas do processo criativo interartístico. Isso em quatro partes é:

1- o contexto, o que vem antes da arte, o que já existe, mas que também se organiza, e pode ser recriado.

2-a entrada de alguém para intervir, um horizonte, ver, observar, conectar.

3-a epifania, a imagem que toma conta do observador, a visão mística, o supera os sentidos e transborda.

4- a obra, o que ser faz com todas essas experiências em informações.

Então alguém conduz o eventos como uma palestra (um ator, um diretor). A narrativa é lida/ falada. Anuncia-se sua decomposição.

Projeta-se um vídeo com uma especialista apresentando uma explicação filológica linguística do original. Uma dança sem música.

Ressoa novamente o trecho 1 (o amanhecer) A orquestra toca o amanhecer. Imagens projeta- das de partos.

Objetivos

1) Consolidar uma cultura de trabalho multidisciplinar e interartístico a partir da troca de experiências entre os integrantes da realização do projeto(artis- tas, técnicos, coordenadores) e público.

2) Consolidar procedimentos de registro de todas as etapas de processo cria- tivo com objetivo de tratar tais registros como material estético, divulgação, capacitação técnico-artística e formação de plateia.

3) Disponibilizar os produtos gerados durante o projeto para que novos em- preendimentos inovadores e diversificados sejam impulsionados.

4) Capacitar artistas e público para realizações multissensoriais, ou sensibili- zação a partir da integração de produção e recepção de eventos em suas várias formas de captação e processamento.

5) Fomentar processos criativos que se valham das diversas possibilidades de mediação tecnológica em todas as etapas de suas produção.

Justif icativa

O conceito de Seminário-Espetáculo faz convergir para um evento multidimen- sional diversas formas de interação e troca de mensagens entre público, ar- tistas e comunicadores. Das aulas-espetáculo de Ariano Suassuna para as apresentações de produtos por Steve Jobs, passando pelas poéticas autorais e análises de processos por pesquisadores, temos uma complexa rede de re- ferências e estímulos sensoriais que não apenas explicitam, comentam como também impulsionam, despertam atos criativos.

Para tanto, convoco vocês a, a partir das planilhas abaixo marcar o que vocês precisam nessa aventura de integrar som e imagem, em criar esse cinema de câmera, essa mistura de arte e conhecimento, um hibridismo de linguagens e de modos de se estabelecer o nexo com a au- diência. É inovação.

Assim, o seminário-espetáculo tem por objetivo fazer com que as pessoas sejam impulsiona- das a coisas criativas.

Uma ideia que tive:

na cena do amanhecer, por exemplo, enquanto a música entra pode haver imagens na tela em forma de partitura que mostram a entrada dos instrumentos. e uma voz que marca, como um regente a entrada desse instrumentos, e um comentário que sintetiza o que se quis com esse combinação de texturas, etc. Ou seja, a ideia é abrir a caixa preta. Por exemplo em um coreografia, isso acontecer também.

Usar gráficos, tabelas, imagens comentários junto com a performance.

Por isso vou precisar muito da música, mais, do design sonoro, em como isso chega na pla- teia, e da imagem.

para tanto, preciso que vocês indiquem dentro das planilhas o que vocês precisam Será um evento único. Garanto.

Preciso disso o quanto antes.

Cada vez mais na contemporaneidade artistas encontram-se na situação de comentar seu próprio trabalho, de dialogar com as mais diversas formas de produção de saberes. Além disso, diante da política de editais de incentivo cultural, cada vez mais o artista precisa explicitar seus pontos de partida, seus pressupostos, suas decisões.

Dessa maneira, fortalece-se a profissionalização do artista, sua relação com contextos concretos, fazendo com que suas ideias e ações dialoguem com o mundo onde mora.

De outro lado, ganha o público ao se defrontar com processos criativos cla- ros, organizados, com equipes de profissionais especializados, com informa- ções bem precisas sobre todos os aspectos da produção. Além disso, a media- ção tecnológica e a justaposição de linguagens e técnicas favorece o debate sobre a construção/fabricação do real, recursos utilizados não apenas nas ar- tes, mas no telejornalismo, dos produtos da cultura de massa (tv, cinema, in- ternet), na política e na educação.

Dessa forma, há a formação conjunta de artistas e plateia, mostra-se o que acontece, mostra-se como as coisas são feitas, a imagem e a palavra não se excluem, antes se reenviam.

Assim, temos, a partir do conceito e experiência do Seminário-Espetáculo, a consolidação de propostas inovadoras não apenas na experimentação es- tética: a cadeia toda de produção é atingida, com a aproximação entre fruição e informação. O lado ‘seminário’ da proposta é um deslocamento dessa di- mensão de esclarecimento partilhado, de abrir a caixa preta da criação, de mostrar que a criatividade não é um mistério ou algo inato a indivíduos ex- cepcionais, e sim presente no trabalho colaborativo de pessoas com habilida- des específicas em contato, tensão e negociação.

A produção de um gênero híbrido de seminário-espetáculo tem uma história recente no campo da Cultura. Tradicionalmente vigora a separação entre o discurso de quem faz e o discurso de quem analisa. Essa abstrata oposição entre ação e co- nhecimento é comumente associada na pretensa distinção entre academia e arte. Contudo, cada vez mais na contemporaneidade artistas encontram-se na situação de comentar seu próprio trabalho, de dialogar com as mais diversas formas de produção de saberes. Além disso, diante da política de editais de incentivo cultural, cada vez mais o artista precisa explicitar seus pontos de partida, seus pressupostos.

Logo, a democratização dos bens culturais passa por bens culturais que democratizem o acesso a seus processos criativos.

Produção

A realização da pesquisa e análise das cenas será o material para a elaboração do seminário-espetáculo. Neste momento, uma das maiores especialistas internacio-

nais em narrativas, professora Marília Futre Pinheiro, da Universidade de Lisboa, registra em vídeos as análises detalhadas dos aspectos linguísticos dos textos es- tudados (Ilíada, de Homero, Tragédia grega, Peças finais de Shakespeare). Este ma- terial em vídeo é distribuído para as quatro equipes do projeto: de dança, coorde- nada por Cinthia Nepomuceno, coreógrafa e professora no Instituto Federal de Brasília, a de dramaturgia, coordenada por Marcus Mota, professor do Departamentos de Artes Cênicas da UnB; a de design sonoro, coordenada por Marcello Dalla, mú- sico e compositor de trilhas para cinema e televisão; a de multimídia, coordenada por Alexandre Rangel, artista e pesquisador multimidiático139. Em conjunto e sob a

orientação de Hugo Rodas, os coordenadores discutem as opções de transformar o material em um roteiro audiovisual que integra as atividades, técnicas e lingua- gens que organizam o Seminário-Espetáculo e sua recepção.

Após a construção desse roteiro colaborativo, cada coordenador parte para realizar suas específicas tarefas, como a elaboração dos textos que serão fala- dos, das músicas, sonoridades, imagens, vídeos e recursos gráficos que serão utilizados, e da construção e treinamento dos movimentos pelos agentes cêni- cos. Durante todo este processo, temos um blog de produção que acompanha com textos, imagens e vídeos as decisões criativas. Parte desse material será utilizada na elaboração dos programas do Seminário-Espetáculo, na divulgação, nas cartilhas que serão posteriormente elaboradas, contendo os conceitos e as ideias discutidas neste projeto, e mesmo durante o Seminário-Espetáculo.

Após o trabalho específico e integrado das coordenações, temos os ensaios de ajustes das diferentes linguagens e técnicas. Um mestre de cerimônias na figura de um apresentador/performer costura a sucessão das quatro cenas bá- sicas, entremeadas por intervenções dos sons digitalizados, imagens projeta- das, recursos audiovisuais, um grupo de dança e atores e cantores em cena.

Os materiais do Seminário-espetáculo, como as cartilhas, programa, vídeos de pré-produção, entrevistas com os integrantes do projeto, vídeos do espe- táculo podem ser baixados no blog do projeto.