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3.2 O método histórico

3.2.1 História oral

A história oral é uma metodologia de pesquisa que consiste em realizar entrevistas gravadas com pessoas que podem testemunhar sobre acontecimentos, conjunturas, instituições, modos de vida ou outros aspectos da história contemporânea. Começou a ser utilizada nos anos 1950, após a invenção do gravador, nos Estados Unidos, na Europa e no México, e desde então difundiu-se bastante. Ganhou também cada vez mais adeptos, ampliando-se o intercâmbio entre os que a praticam: historiadores, antropólogos, cientistas políticos, sociólogos, pedagogos, teóricos da literatura, psicólogos e outros.

No Brasil, a metodologia foi introduzida na década de 1970, quando foi criado o Programa de História Oral do CPDOC (O QUE É HISTÓRIA ORAL, [s.d.]).

Segundo Vergara (2008), a história oral visa ao estudo e ao registro de acontecimentos e temas históricos contemporâneos que permitam acessar pessoas que ainda estejam vivas, sendo sua principal técnica de coleta de dados a entrevista. De acordo com Meihy ([20--?], p. 136), este método visa “conceder à voz articulada a qualidade de fonte informativa ou testemunhal”.

Teor das experiências Teor das normas Teor dos sentidos

Heurísitca Crítica Interpretação Exemplar Tradicional Crítica Genética Analítica Hermenêutica Dialética

Critérios para perceber os deslocamentos nas formas de produção do conhecimento histórico Perspectivas Estratégias Narratividade Passos operativos Crise (mudança) Plausibilidade do conhecimento histórico?

Embora seu desenvolvimento tenha sido limitado por fatores políticos e econômicos, bem como pelo paradigma estruturalista que condenava o caráter subjetivo da história oral, esta abordagem do método histórico “permite reconstruir redes de relação, padrões de socialização, trajetórias de instituições, de comunidades e de indivíduos” (VERGARA, 2008, p. 122) e é uma metodologia aplicável à administração.

Meihy (2010, p. 181-184) comenta que a história oral quebrou o paradigma da linearidade temporal. Segundo o autor, nesse método toma-se

o presente como produto de processos ainda em curso [e] é dele que se parte para a observação de acontecimentos, situações, fatos que se explicam sob o índice do que se chama ‘realidade’. [...] O resultado expresso oralmente funciona como ‘realidade’. É, aliás, aí que se realiza a diferença entre História e memória. [Nesse sentido,] Frente à consideração da memória oral narrativa e de suas circunstâncias, nada mais pode ser visto como estático, reto, objetivo, segundo padrão compreensível e provável porque imobilizado em algum lugar hipotético do passado e expresso por documento escrito referencial. [...] Como dimensão da oralidade, a entrevista atua como recurso básico, sem a qual é inviável supor trabalho com história oral. Assim cabe definir que sem entrevista não se faz história oral, ainda que a entrevista, em si, não seja a história oral.

Deve-se, contudo, tomar o devido cuidado para não se banalizar o método. De acordo com Meihy (2011, p. 12-13), “[...] sempre que se fala em história oral, relaciona-se à prática de entrevistas. [...] Não se deve [, contudo,] confundir história oral com entrevistas simples, isoladas, únicas e não gravadas”. Como comenta o autor, a entrevista faz parte do método, mas, para tanto, ela precisa respeitar alguns critérios. Não é toda entrevista que pode ser enquadrada como uma ferramenta de coleta do método da História Oral.

História oral é um conjunto de procedimentos [sistematizados] que se iniciam com a elaboração de um projeto e que continua com a definição de um grupo de pessoas a serem entrevistadas. [...] Um projeto funciona como um mapa da pesquisa e prevê: 1. planejamento da condução das gravações segundo indicações previamente feitas; 2. respeito aos procedimentos do gênero escolhido e adequado de história oral; 3. tratamento da passagem do código oral para o escrito, no caso da elaboração de um texto final para a pesquisa ou escritura de um livro;

4. conferência da gravação e validação; 5. autorização para uso;

6. arquivamento e/ou eventual análise;

7. sempre que possível, publicação dos resultados em: catálogos, relatórios, textos de divulgação, sites, documentários em vídeo ou exames analíticos como dissertações ou teses (MEIHY, 2011, p. 13).

Assim, fica claro que a História Oral é um conjunto de procedimentos que também envolvem a entrevista, mas que não se limitam a esta forma de coleta de dados. A transcrição, a análise do conteúdo e redação de um relatório final são alguns dos procedimentos que integram este método.

Apesar das diversas críticas que o método recebe, Meihy ([20--?], p. 141) o defende e afirma que “a história oral, na eficácia do saber moderno [,] merece ser requalificada em estatuto coerente com o mundo globalizado, midiatizado e capaz de admitir evolução do conhecimento além das grades disciplinares estabelecidas na ‘época das Luzes’”.

Uma vez que o acesso à maior parte dos pioneiros e precursores em Marketing é inviável por questões financeiras, geográficas e mesmo pelo fato de muitos já terem falecido, será feito uso da transmissão oral através de seus discípulos. Autores como Seignobos (1923) e Meihy ([20-- ?]) preveem que sempre que não for possível o acesso à memória do próprio expert ou da pessoa que vivenciou o evento estudado, seja por motivo de seu falecimento, por dificuldade de localização da pessoa, ou por eventuais doenças ou mesmo senilidade, pode-se lançar mão desta técnica sem prejuízos para a validade das informações. Recomenda-se, contudo, o uso de triangulação para se minimizar eventuais distorções dos eventos e fatos ocorridos, técnica que também compõe o método de pesquisa deste trabalho.

Por último, destaca-se a diferença entre a História Oral Instrumental e a História Oral Plena. Como comenta Meihy ([20--?], p. 16), “[...] a história oral instrumental [...] apenas procede aos registros, [enquanto que] a história oral plena exercita a análise fazendo as entrevistas dialogarem. Fala-se, pois de autonomia documental das entrevistas que se relacionam favorecendo debates internos”.

O presente estudo adotou a História Oral Plena em sua pesquisa empírica.