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Históriapode-se selecionar conteúdos significativos para a atual geração Identificar e selecionar

conteúdos significativos são tarefas fundamentais dos professores, uma vez que se constata a evidência de que é impossível ensinar “toda a história da humanidade”, exigindo a escolha de temas que possam responder às problemáticas contundentes vividas pela nossa sociedade, tais como as discriminações étnicas e culturais, a pobreza e o analfabetismo (PCNEM, 1999, pp. 304-305).

Ainda de acordo com os PCN, a formação do estudante como cidadão pode ser favorecida pela apreensão das noções de tempo histórico, pois essas noções têm um importante papel na compreensão que os alunos possam ter sobre os limites e as possibilidades de sua atuação na transformação da realidade em que vive. O tempo histórico utiliza o tempo cronológico, portanto, é importante que os alunos possam situar os acontecimentos temporalmente, tendo como referência o calendário convencionalmente institucionalizado. Porém, uma outra percepção é igualmente importante: a de que os acontecimentos se inscrevem em processos com ritmos próprios que não obedecem os fenômenos físicos ou astronômicos. Essa percepção é fundamental para a compreensão das mudanças e permanências no processo histórico.

A apreensão do tempo histórico bem como dos ritmos da duração, que permite reconhecer a velocidade das mudanças e a permanência de determinadas relações no transcorrer do tempo, se desenvolve no estudo dos acontecimentos, considerada a noção de processo:

Podemos identificar os diferentes ritmos da duração pelo exemplo da escravidão africana brasileira. A Abolição da Escravidão ocorreu no dia 13 de maio de 1888, na capital do Brasil. Trata-se de um acontecimento breve, datado e localizado no espaço, que se explica pela conjuntura econômica da expansão da cafeicultura de exportação, com necessidades urgentes de ampliação de mão-de-obra, e pela conjuntura política e social, que forçava rearticulações no grupo do poder monárquico e criava oposições ao regime, principalmente pelos republicanos. Mas, para compreender a abolição da escravidão e a forma como ela ocorreu, torna-se necessário situá-la no processo estrutural, em temporalidades mais longas: no processo de mudanças do sistema capitalista, desde sua constituição histórica, e na longa duração do racismo. Este explica não só a permanência até hoje de preconceitos e discriminações em relação às populações negras e mestiças, mas também a origem da própria escravidão, baseada em conceitos de raça superior e inferior criados por sociedades que pretendiam dominar e explorar outros grupos humanos. A escravidão não cria o racismo, mas o tem como pressuposto. (PCNEM, 1999, p. 304)

De outro modo, podemos partir da problematização da própria noção de tempo para selecionar e organizar temas ou assuntos para o estudo. A quantidade de perguntas e questões que se podem fazer sobre o tempo é imensa. Esse conceito abre caminhos para estudos interdisciplinares dentro da própria área das ciências humanas (Filosofia, Psicologia, Antropologia etc.) e além dela (Física, Matemática, Biologia, Arte etc.).

Para cada pessoa o tempo possui dimensões fisiológicas e também psicológicas. O tempo pode ser medido por instrumentos mecânicos ou eletrônicos ou pode se

servir de fenômenos naturais como referências (o nascer e o pôr-do-sol, o ritmo das marés, as mudanças das estações ou os batimentos cardíacos).

O tempo pode ser definido em termos de antes, agora e depois: passado, presente e futuro. Mas quase todos os estudantes conhecem as sutilezas do tempo quando têm de aprender os tempos verbais, que especificam diferenças entre passados (o próximo ou distante, o que efetivamente terminou e o que ainda tem ligações com o presente), entre presentes (imediato, condicional, ou o que se dirige ao passado e ao futuro) e futuros (continuação do presente, próximo, distante ou relativo).

Os poetas compreendem o mistério do tempo (“O melhor o tempo esconde, longe, muito longe, mas bem dentro aqui. Meu trabalho é te traduzir”. Caetano Veloso) e demonstram seu respeito e fazem-lhe apelos. (“Tempo rei, ó tempo rei. Transformai as velhas formas do viver”. Gilberto Gil).

As religiões que procuram conectar o ser humano com as forças do invisível e do sobrenatural, reconhecem a existência de um tempo que está além da capacidade de apreensão humana e muito além da finitude de sua vida: a eternidade – o tempo que não termina e que nunca começou.

Na mitologia grega, para que tivesse início a era dos homens, foi preciso que Zeus assassinasse o próprio pai, Chronos. E poderíamos considerar, alegoricamente, o desenvolvimento dos meios de comunicação e transporte como rituais de celebração desse assassinato:

Desde que o homem iniciou a domesticação de animais e os utilizou para reduzir as distâncias até à mais moderna tecnologia de transmissão por satélite, o seu objetivo tem sido a eliminação do binômio tempo–espaço. As distâncias, medidas em anos e meses, foram sendo reduzidas a dias, horas e minutos, até o espaço ser praticamente “eliminado” na “aldeia global” (Pinto, 1995, p. 7).

As diferentes culturas têm construído diferentes maneiras de registrar e contar o tempo (calendários), e com a globalização (considerada um processo na longa duração), podemos dizer que, pela primeira vez na história da humanidade, o calendário único que serve de referência às várias sociedades, ao menos no que diz respeito às relações internacionais, traz o reconhecimento de um tempo universal comum a todo o planeta, independentemente dos marcos referenciais de cada cultura. Trata-se do reconhecimento de um destino também comum.

Se em cada cultura as famílias se preocupavam com a herança que deixariam a seus filhos, no mundo contemporâneo podemos falar de um legado para as futuras gerações em termos globais. Esse legado nos remete aos problemas ecológicos e também ao problema das desigualdades entre populações. Para a construção dessa noção de tempo planetária, devemos considerar as contribuições da Astronomia e da Geologia.

Ao situarmos a idade da Terra em aproximadamente 4,5 bilhões de anos, podemos entender que a história das sociedades humanas corresponde a uma pequena fração de tempo da história do planeta. A compreensão da escala de tempo pode situar o

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