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Histórias de Famílias de Origem

3.5 Histórias de Famílias Acolhedoras

3.6. Histórias de Famílias de Origem

3.6.1. É muito bom ter minha neta de volta para casa. É uma princesinha!

É assim que Sonia termina sua conversa no processo da entrevista. Ela tem 55 anos, sempre morou em Campinas e é casada com o Sr. Abel. Tiveram 4 filhos. Ela tem a guarda de um neto. Ela trabalha como auxiliar de padaria e há onze meses obteve também a guarda de sua neta Valéria, que esteve acolhida durante um período de um ano e dois meses. Ela relata que ajudou a cuidar de Valéria desde o seu nascimento. Mas, quando ia para o trabalho, ela ficava com a sua filha, que a levava para a creche. Dona Sônia comenta: só que ela foi crescendo, foi

crescendo... minha filha foi se afundando mais nas drogas. Aí, eu fiquei com a Valéria, só que minha filha mora no fundo da minha casa... Ela pegava a Valeria, trocava, dava banho, tudo! Só que, em um certo tempo, quando a Valeria estava com 10 meses e eu ia trabalhar e deixava a menina na creche, e, muitas vezes, ela pegava a menina na creche e ia pra rua. E, então, denunciaram. Só que a gente não sabia que tinha denúncia. Um certo dia, chegaram uns policiais – eu não sei o nome da pessoa que pegou a menina e trouxe nos braços –, levou pro carro e foi para o SAPECA. No outro dia, depois que a menina foi retirada de minha casa – acho que foi retirada numa terça – na quarta-feira, eu já fui na Cidade Judiciária e falei com a assistente social. Então ela me falou que a minha neta já estava no SAPECA. Eu liguei para o SAPECA e falei com a Myrian e com a Ana. E já comecei as visitas – eu fiquei visitando minha neta durante um ano e três meses.

Sonia conta que, quando chegou no SAPECA, sentiu um desespero... ficou muito triste em não encontrar a Valéria lá, não conseguia entender onde ela estava: Eu achei que ia chegar

no SAPECA e ia ver ela lá, num berçário ou em algum lugar. Só que não [foi isso que

aconteceu], ela estava em outro lugar e não me falaram onde. Por uns tempos eu achei que ela

estava num abrigo. Foi bem depois que eu fiquei sabendo que ela estava com uma família acolhedora.

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Ao perguntar para ela o que ela tinha entendido por família acolhedora, ela explicou:

Para mim, família acolhedora era uma família que ia adotar. Então, eu entrei em desespero... e falei: Vão adotar... já está com uma família... Até em minha casa, meu marido, meus filhos, falaram: se está com uma família, mãe, não vai mais adiantar você querer adotar. Aí, eu procurei saber o que era uma mãe acolhedora. E fui entendendo o que era...

Em resposta à pergunta sobre o local em que ela buscou as informações, ela respondeu:

No SAPECA mesmo. Eu perguntei... e elas me explicaram que família acolhedora é um lugar onde a criança fica até o juiz resolver o que vai fazer com ela. Aí, eu fiquei mais tranquila. Logo em seguida eu comecei a visitar minha neta no SAPECA.

Sonia explicou que as visitas aconteciam na sede do SAPECA: Era pouquinho tempo:

era uma hora só... mas já estava bom demais! Porque a gente via... tinha contato... abraçava... tudo! Ao ser indagada se ela entendia que a neta estava sob uma medida protetiva, se, na ocasião,

ela entendia o que estava acontecendo, ela esclareceu que: No começo não. Mas depois sim. Eu

entendi que ela estava sendo cuidada, estava sob proteção de uma família e do juizado.

Procurou-se, então, aprofundar com Sonia o que, para ela, representava esse cuidado. E ela esclareceu: Cuidado é cuidar, dar carinho, sabe? É cuidar mesmo! Porque, antes de eu

conhecer o SAPECA, eu entendia, meus pais e os outros falavam, que o Juizado de Menores pegava a criança, deixava abrigado e não devolvia mais para os pais: ia para adoção ou era criado num abrigo, ficava lá até que tivesse uma certa idade. Eu nunca imaginei que [a criança] ficava com a mãe acolhedora e depois voltava para a própria família. Foi depois que eu entendi.

Perguntou-se para ela qual sentimento ela teve pela família acolhedora, antes de entender o processo todo. E ela explicou: achava que a família acolhedora não estava só cuidando para

devolver, mas sim porque ia adotar, porque pegou [a criança] para ela. Aí, no início eu fiquei ah! Mas essa família acolhedora... Mas, depois, eu entendi que não era nada disso. Foi perguntado o

que a fez mudar de ideia e ela explicou que: foi perguntando e conversando com a Ana, que é a

psicóloga. Ela me ajudou bastante, e a Myrian também. Daí eu entendi que a família acolhedora estava ali para ajudar e não para tirar a criança da gente.

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Foi pedido à Sonia que contasse como ela avaliava o cuidado oferecido à sua neta no acolhimento. E ela afirmou: Ela estava bem cuidada. Quando ela voltou para casa, ela estava

muito bonita, gordinha, bem cuidada e... sempre, nas visitas que ela começou me fazer em minha casa, eu vi isso: que ela estava bem cuidada. Eu não sei explicar bem... para mim, quando o juiz tira a criança é porque onde ela estava, ela estava correndo risco, então, é preciso levar para outro lugar... é alguma coisa assim... que protege a criança. Não sei dizer direito mas, eu entendo assim... entendo que é para proteção – senti que ela ficou protegida na família acolhedora.

E, ao ser questionada se ela própria tinha se sentido respeitada nesse trabalho, ela respondeu que sim: Foi um respeito que foi crescendo. Elas [as profissionais] tratam a gente

muito bem... conversam com a gente, fazem a gente entender o que é uma família acolhedora.

Sonia foi chamada a refletir o que teria feito o SAPECA confiar que poderia devolver a criança para ela e sua família. E ela respondeu: O que eu fiz eu não sei, mas eu fiz tudo o que

pude para ter minha neta de volta! Tudo! Tudo o que elas pediam, eu fazia. E lhe foi perguntado

se, em algum momento, lhe foi pedido algo difícil para ela fazer e ela respondeu: Eu podia

fazer... mas com muito esforço e correria, porque eu trabalho, mas eu consegui! Sonia disse não

saber explicar bem, mas já criava um neto, queria sua netinha e lutou para isso.

Ao lhe ser perguntado como ela explicaria o que era o SAPECA para uma família que estivesse chegando hoje, ela respondeu tranquilamente: Eu ia falar para ela que ficasse tranquila

que o SAPECA ia cuidar bem da criança e, conforme o tempo, assim que o juiz determinasse, a criança voltaria para ela. Eu consegui ter essa confiança. Sonia diz ter entendido que hoje ela

precisa cuidar bem de sua neta: Não deixar que a filha a pegue de volta porque, infelizmente, ela

continua nas drogas e eu acho... eu tenho esperança... que um dia ela largue das drogas. Mas, do jeito que ela vai indo, é impossível! Ela visita a Valéria sempre. Ela mora no quintal e não vai sair dali porque a família dela somos nós. E, quando ela está no quintal, não usa drogas perto da menina. Ela não gosta que a menina vá muito na casa dela... ela sabe que não pode, então, ela evita. Ela vem na porta de casa e fica com a menina. Eu converso bastante com a minha filha e fico falando para ela que se ela ficar pegando a menina, ela pode voltar para o ‘abrigo’. Eu falo bastante isso com ela, e ela entende e fica com medo. Ela fica com bastante medo.

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