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Levantamento Nacional das Crianças e Adolescentes em Serviços de Acolhimento /MDS realizado pela CLAVES/FIOCRUZ-

CAPÍTULO 2: Proteção Social Especial de Alta Complexidade Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes

2.1. Cenário nacional dos serviços de acolhimento de crianças e adolescentes 1 Levantamento Nacional de Abrigos para Crianças e Adolescentes da Rede

2.1.3. Levantamento Nacional das Crianças e Adolescentes em Serviços de Acolhimento /MDS realizado pela CLAVES/FIOCRUZ-

No Levantamento Nacional de Crianças e Adolescentes em Serviços de Acolhimento, foram visitados 1.229 municípios, nos quais foram identificados 2.624 serviços de acolhimento institucional e 144 serviços de acolhimento em família acolhedora. Nos serviços de acolhimento institucional havia 36.929 crianças e adolescentes acolhidos, e, nos serviços de acolhimento em família acolhedora, foram identificados 932 crianças e adolescentes.

2.1.3.1 Serviços de Acolhimento Institucional para crianças e adolescentes no país

Na modalidade de acolhimento institucional destacaram-se: na região Centro-Oeste, 180 serviços e 2.114 crianças e adolescentes; na região Nordeste, 264 serviços e 3.710 crianças e adolescentes; na região Norte, 97 serviços e 1.051 crianças e adolescentes; na região Sudeste, 1.419 serviços e 21.730 crianças e adolescentes; e, na região Sul, 664 serviços e 8.324 crianças e adolescentes.

Conforme dados obtidos nessa pesquisa, nos serviços de acolhimento institucional verificou-se que: 65,3% são unidades privadas sem fins lucrativos e 34,7% são unidades públicas; 64,2% dos serviços de acolhimento institucional foram denominados como abrigos institucionais.

Esses dados reafirmam a história da institucionalização de crianças no Brasil, que se caracteriza pela forte adesão da igreja nesses cuidados, seguida pela presença de obras filantrópicas. Isso evidencia a marcante responsabilidade da sociedade civil na execução e no custeio de grande parte da manutenção desses serviços. A presença do Estado sempre foi recuada nessa proteção; no presente cenário da política, com os dados mais visíveis, já é possível redirecionar ações, de forma a fazer com que o Estado assuma o lugar que lhe cabe.

Para tanto, a gestão do Estado deve se fazer presente, construindo coletivamente estratégias de ações, respeitando a história de atendimento construída até aqui, bem como a sobrecarga de responsabilidades que essas ações representam. Outra questão é assumir as responsabilidades de repasses financeiros inerentes ao processo de trabalho realizado. Junto a

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tudo isso, destaca-se a presença do controle social, reafirmando a corresponsabilidade da família, da sociedade e do Estado no atendimento de crianças e adolescentes no país.

Dentre os serviços de acolhimento, alguns possuíam critérios para admissão de crianças e adolescentes: em 19,3% o critério era por sexo; em 55,9% o critério era por idade, e em apenas 25,6%, não havia critério definido para esse acolhimento. Sobre o acolhimento de grupos de irmãos, 84,6% afirmaram receber sempre que há demanda, 14,4% recebiam alguma vezes e apenas 0,9% afirmaram não receber. Sobre a quantidade de crianças e adolescentes acolhidos no momento das entrevistas, 47,8% acolhiam até 10 crianças/adolescentes; 30,4% de 11 a 20 crianças/adolescentes; 12,9% de 21 a 30; 4,2% de 31 a 40; 3,2% de 41 a 60; e, 1,5% atendiam mais de 60.

De acordo com o documento ‘Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes’, o número recomendado de atendimento é, no máximo, de 20 crianças/adolescentes por unidade, representando, do total pesquisado, 78,2% dos serviços. Nesses dados, deve-se levar em consideração que no Brasil existe um grande número de municípios65 de pequeno porte, com histórico de acolhimentos em menor número. Nesta análise, precisa-se colocar o foco de atenção nos municípios de grande porte e nas metrópoles, onde ainda se encontram acolhidos um grande número de crianças e adolescentes em abrigos, e que merecem, portanto, um plano de metas para cumprir o necessário reordenamento das ações locais, atendendo a lógica da necessidade de cada criança e cada adolescente.

Os dados também revelam o distanciamento entre a realidade e a aplicabilidade dos princípios do ECA. Os municípios, obedecendo às diretrizes da descentralização, precisariam se organizar para atender às crianças e os adolescentes de acordo com as necessidades de cada situação, garantindo, em um mesmo espaço, o acolhimento de grupos de irmãos, seja qual for o sexo ou a faixa etária; priorizando o trabalho com as famílias de origem e discutindo com elas os

65 Conforme as informações contidas na PNAS/2004:20 os municípios brasileiros estão assim classificados dentro da política nacional de assistência social: Pequenos I (até 20.000 habitantes); Pequenos II (de 20.001 a 50.000 habitantes); Médios (de 50.001 a 100.000 habitantes) Grandes (de 100.001 a 900.000 habitantes) Metrópoles (mais de 900.000 habitantes).

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planos individuais de atendimento; arregimentando a rede de proteção social para a garantia da proteção integral; oferecendo espaços qualificados, com equipe profissional preparada, para o atendimento às demandas. Precisa ser efetivado um espaço físico adequado e acolhedor, que garanta a privacidade do atendimento e uma atenção individual que desperte o sentimento de pertencimento e de competência. Nesse processo, é importante lembrar que a provisoriedade e a excepcionalidade da atenção deve ser assumida em relação à medida protetiva e não ao cuidado, que deve ser permanente, como garantem os direitos de toda criança e de todo adolescente.

Os dados obtidos da pesquisa realizada pela Fiocruz revelam o seguinte o perfil de crianças/adolescentes usuários dos serviços de acolhimento institucional: 52,3% são do sexo masculino e 47,7% do sexo feminino; 24,7% têm até 5 anos de idade, 35,7% de 6 a 11 anos, 28,9% de 12 a 15 anos e 10,1% de 16 a 17 anos; 41,1% são da cor/raça/etnia branca, 38,7% são pardas, 18,9% são pretas, 0,4% são indígenas e 0,3% são amarelas; 19,2% das crianças e adolescentes possuem trajetória de rua, sendo que, desse total, 74% possuem vínculo familiar.

A média de tempo de acolhimento das crianças/adolescentes pesquisadas é de 24,2 meses. Sobre o encaminhamento de relatórios para a Justiça, 80,4% haviam-nos encaminhado nos 6 (seis) meses que antecederam a pesquisa.

Em relação aos motivos do acolhimento, de acordo com as informações coletadas, os 6 (seis) principais motivos que ocasionaram o acolhimento das crianças e adolescentes foram: negligência por parte da família (37,6%); pais/responsáveis dependentes químicos/alcoolistas (20,1%); abandono por parte da família (19%); violência doméstica física (10,8%); situação de rua (10,1%); carência de recursos materiais da família/responsáveis (9,7%). Ressalta-se que, nesse quesito, era possível capturar simultaneamente mais de um motivo relacionado ao acolhimento de uma mesma criança/adolescente.

A situação familiar das crianças/adolescentes no momento da entrevista, de acordo com os dados obtidos, era de que: 46,4% estavam em processo de reintegração familiar; 11,1% estavam com a destituição do poder familiar em tramitação; 9,9% com a destituição do poder familiar concluída; 9,4% com suspensão de poder familiar; 7,1% estavam legalmente encaminhados para adoção; 2,7% estavam em processo de efetivação de guarda/tutela; e, 2% em processo de efetivação de adoção.

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Nos dados apresentados, verificou-se que as três principais razões para o desligamento das crianças e adolescentes desses serviços foram o retorno para a família de origem, a adoção nacional e a transferência para outro serviço de acolhimento.

2.1.3.2. Serviços de Acolhimento em Família Acolhedora para crianças e adolescentes no país

Na modalidade de acolhimento familiar foram destacados: na região Centro-Oeste, seis serviços e 31 crianças e adolescentes; na região Nordeste, sete serviços e 29 crianças e adolescentes; na região Norte, cinco serviços e sete crianças e adolescentes; na região Sudeste, 39 serviços e 373 crianças e adolescentes; e, na região Sul, 87 serviços e 492 crianças e adolescentes. O que totalizou 932 atendimentos em 144 serviços.

Nos 144 Serviços de Acolhimento em Família Acolhedora identificados no levantamento, 79,2% já estavam implantados, 11,1% estavam em processo de implantação e 9,7% estavam implantados, contudo ainda não estavam em funcionamento. Observou-se que 66,7% possuem inscrição no CMDCA e 42,4% possuem inscrição no CMAS.

De todos os serviços, 90,3% repassam subsídio às famílias acolhedoras e 10,4% repassam subsídio às famílias de origem. 82,7% dos serviços possuem prontuários individualizados, sendo que, desses, 80,7% possuem modelo padronizado.

Das ações desenvolvidas com as famílias candidatas, 93,8% realizavam entrevistas e visitas domiciliares, 79,9% consultavam documentos dos membros maiores de 18 anos das famílias acolhedoras. Das atividades realizadas para preparação das famílias candidatas a acolhedoras, 63,9% realizavam atividades em grupo, 79,9% faziam identificação do perfil da criança/adolescente a ser acolhido; 55,6% apresentavam experiências de outras famílias acolhedoras; 78,5% prestavam orientações jurídicas e 72,9% discutiam com as famílias temas considerados relevantes.

A média de tempo de acolhimento das crianças/adolescentes pesquisados era de 21,2 meses. Sobre o encaminhamento de relatórios para a Justiça, a informação colhida foi que em 80,7% dos casos foram encaminhados relatórios nos últimos 6 (seis) meses. Observou-se que a situação das crianças/adolescentes, no momento da entrevista, era: 36,5% das crianças e

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adolescentes acolhidas estavam em processo de reintegração familiar; 12,2% estavam com o processo de destituição do poder familiar em tramitação; 8,9% já estavam com a destituição do poder familiar concluída; 16% já haviam recebido a suspensão do poder familiar; 4,2% estavam legalmente encaminhados para adoção; 21,8% estavam com processo de tramitação de guarda/tutela; e, 4,3% estavam em processo de adoção.

De acordo com as informações coletadas, os seis principais motivos do acolhimento de crianças/adolescentes são: negligência da família (54,9%); pais ou responsáveis dependentes químicos/alcoolistas (26,6%); abandono dos pais ou responsáveis (21,8%); violência doméstica física (12,6%); orfandade (11,6%) e violência doméstica sexual (9,1%). Ressalta-se que, nesse quesito, era possível capturar simultaneamente mais de um motivo relacionado ao acolhimento de uma mesma criança. Portanto, os motivos do acolhimento acima citados estão, muitas vezes, associados entre si.

Das 932 crianças/adolescentes acolhidas nos serviços de acolhimento em família acolhedora, 50,8% são do sexo masculino e 49,2% do sexo feminino. A média de idade das crianças/adolescentes atendidos nos programas é de 9,5 anos. Das crianças e adolescentes acolhidos, 43,2% são da cor/raça/etnia branca, 38,7% são pardas, 16,8% são pretas e 1,2% são indígenas.

No Levantamento, os dados mostram que 60% das famílias acolhedoras acolhem no máximo duas crianças e/ou adolescentes, mas há 8,1% de famílias com mais de cinco meninos e meninas. Na região norte observa-se uma média próxima a sete crianças e adolescentes atendidos em uma mesma família.

Outro dado importante nessa região diz respeito ao subsídio financeiro. A maioria dos serviços (90,3%) informa que há repasse de subsídios para as famílias acolhedoras, sendo o menor percentual encontrado nas regiões Norte (60%) e Nordeste (71,4%). Na região Centro- Oeste todos os serviços em funcionamento mencionam realizar esse repasse66.

66 Em média, no país, o valor mínimo repassado é de R$341,70 (DP= R$150,00) e o máximo de R$419,20 (DP= R$171,80) por criança ou adolescente acolhido. O valor é ligeiramente maior em caso de crianças ou adolescentes com deficiência (R$396,90 - R$461,80, valores mínimo e máximo repassado às famílias

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A Secretaria Municipal de Assistência Social aparece na pesquisa como o órgão que executa diretamente a política de acolhimento familiar (88,2%). As organizações não governamentais são responsáveis por 9% da execução. Interessante notar que o restante dos serviços fica ‘a cargo do Ministério Publico e do Poder Judiciário’. Na região Sudeste, 5,1% dos serviços é executado pelo Poder Judiciário e, na região Nordeste, o Ministério Público executa 14,3% dos serviços. Esses dados mostram que alguns órgãos de defesa que compõem o Sistema de Garantia de Direitos ainda não têm clareza das suas competências no que refere às garantias de direitos.

Acertadamente, a PNAS/2004, na execução de Serviços de Famílias Acolhedoras, não se refere a esses órgãos67 como executores. O fato de eles, eventualmente, assumirem a gestão ou a execução de serviços, configura uma ação que está sendo realizada ‘fora de lugar’. Contudo, é importante assinalar que os profissionais dessas instâncias são parceiros decisivos do poder público municipal no desenvolvimento desses serviços. Tanto o Ministério Público como a Vara da Infância e da Juventude, além da competência de aplicar a medida de proteção, são responsáveis pela realização da fiscalização da execução das mesmas. Ao Judiciário cabe ainda emitir o termo de guarda para as famílias acolhedoras e autorizar, no momento do desligamento da criança e do adolescente do serviço, a reintegração familiar ou a guarda em família extensa, ou a adoção.

2.2 - Cenário dos serviços de acolhimento de crianças e adolescentes da região

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